20 de set. de 2009

20 de setembro de 2009- Viamão

Vinte de setembro em Viamão!!!

Foi mais ou menos assim:
Fogo na churrasqueira, música gaudéria no rádio e.... Um visitante mui guapo! Cheio de razão, um pouco apoquentado por ter sua casa invadida,acho que temos um ninho no telhado, mas: mui cordial... Enquanto o churrasco ficava pronto aproveitou para tirar uma pequena soneca.
Além disso a vida continuava sem preocupação com todo o resto.
Olha só!!!!!!!!!! Vida em todas as direções... Nem precisa contar mais nada...

Fernanda Blaya Figueiró





16 de set. de 2009

As Fantásticas Histórias de Sibile


Bom dia!

Estou publicando novamente os textos de Sibile em ordem.

Beijos

Fernanda Blaya Figueiró


AS FANTÁSTICAS HISTÓRIAS DE SIBILE


Autoria: Fernanda Blaya Figueiró

Revisão: Angelita Soares


1 - A serpente amiga.
Sibile, um filhotinho de cobra coral, morava no tronco oco de uma velha árvore que ficava perto de um mato, uma estrada e algumas casas.
Durante o dia costumava ficar escondidinha e a noite saía para passear e caçar. As cobras tinham poucos amigos, já que as pessoas não gostavam delas, uma verdadeira injustiça, e os outros animais tinham medo, por que algumas cobras tinham veneno. Sibile era muito bonita! Seu corpo era todo desenhado nas cores: vermelho, preto e branco. Ela não era muito grande e: - “Não tinha veneno!”.
Um dia estava tirando uma sonequinha e um barulho chamou sua atenção. Com muito cuidado resolveu olhar o que era. Encrenca! - pensou. Um menino havia prendido, em um dos galhos de sua casa, um cavalo crioulo. Cavalos morrem de medo das cobras!
Sibile não sabia o que fazer, estava a poucos metros dele. O menino amarrou tanto a corda, que ele nem conseguia comer. Ela queria ajudar, mas não sabia como. Pensou que se falasse com o cavalo seria a maior confusão do mundo... Resolveu então fingir que era a árvore.
- Olá! – disse de dentro do tronco – Como você se chama?
O cavalo olhou para um lado, para o outro e não viu ninguém. Começou a bater as patas no chão, relinchar e empinar o corpo.
- Brumm!- Devo estar com febre! - resmungou – Brrmm! Brrmm!
Sibile notou que ele ficou nervoso e assustado, resolveu ficar quietinha, esperando que o menino voltasse. Logo o sol baixou e ele apareceu, levando o cavalo pela estrada. - “Vem, Pinhão!” – ele dizia, puxando a corda. – E aí? Como passou à tarde?...
Sibile esticou bem o corpo, estava cansada de ficar parada. Desceu pelo tronco da árvore e foi passear. O famoso lagarto Adroaldo retornava de seu habitual banho de sol. Ele havia assistido a tudo e perguntou:
- Sibile! – Você sabe que não deve falar com os outros animais?
- Sei – respondeu encabulada – Mas, eu não tenho quase amigos e o menino deixou o cavalinho sem comer, achei muito feio isso. Sabe que ele se chama Pinhão?
- Homens e Cavalos vivem juntos há muito tempo, se dão muito bem... Ele prendeu o cavalo para perder a barriga e correr mais... São coisas deles, não devemos nos meter. Entendido, mocinha?
A serpente fez um sinal de que havia sim entendido.
- Agora vá brincar! – ordenou o lagarto. – E, prepare-se! Se eles passarem a usar sua árvore, você vai ter que se mudar...
- Mudar!!! Oh! Oh! – isso não fazia parte dos seus planos.
Por quê? Mais uma injustiça, sua casa era tão quentinha e aconchegante. Isso não era justo, pensou. Precisava achar um jeito de ficar amiga do cavalo e do menino. Só que isso era totalmente proibido.
Sibile precisava pensar...


Viamão, dia 15 de agosto de 2008.


2 - Verdadeira!Falsa!
Chovia! Chovia! Chovia!
Sibile, a cobra mais legal do mundo, estava cansada de tanta chuva...! Todos os animais sabiam o quanto a chuva era importante, para a manutenção da vida. Então, o jeito mesmo era achar coisas bacanas para fazer.
Ela aproveitou, que quase não tinha movimento na estrada, para andar um pouquinho pela vizinhança. Resolveu visitar Pinhão, o cavalinho crioulo que, no dia anterior, tinha sido preso, perto de sua casa.
Deslizou até a baia; a casa de Pinhão ficava dentro de um galpão enorme...! Sibile espiou, bastante, antes de entrar, já que aquele lugar parecia assustador...! Subiu, pelo cantinho da parede, para observar bem. O menino, que havia prendido Pinhão, estava sentado, perto da janela, olhando para a rua e parecia entediado... De longe, veio um grito que chamou sua atenção.
- Oto! – Uma mulher entrou, trazendo um prato coberto, com um paninho - Vem lanchar... Fiz bolinhos...
- Já vou mãe! – Ele respondeu, levantando-se. –Hum, bolinhos!
Sibile estava pendurada na janela. A mãe do menino virou e deu de cara com ela.
- Oto! Olha uma cobra... Socorro!!!- A mulher saiu correndo e gritando. Não se mexa! Vou pegar o facão e já volto. Não chega perto; é uma coral e verdadeira... Verdadeira.
Sibile ficou congelada de medo. Sabia que vinha chumbo grosso pro seu lado.. Pinhão entrou em pânico, dentro da baia, e o galpão virou a maior confusão!
Oto não tinha medo e foi olhar de perto
-Oh!Oh! – Sibile viu que estava encrencada. Usou a velha tática de fingir que estava morta. Ficou parada, sem respirar. Oto era esperto e, logo, notou que ela estava viva.
- Ok, cobrinha! Você tem poucas chances!. – Disse, olhando bem em seus olhos – Aproveite e vá embora... Não quero que ela mate você...
Sibile viu, no olhar do menino, que podia confiar nele, abandonou a velha tática e relaxou. Oto pegou um graveto e jogou-a bem longe. Sibile aproveitou, para voltar, voando, para casa. Só que, no meio da confusão, acabou mudando de pele!
Quando a mãe de Oto voltou, armada de facão, vassoura, botas e luvas; ela só encontrou o couro abandonado de Sibile.
- Calma mãe! – É só um pedaço do couro de uma cobra...
Ela respirou aliviada. Sentou no banco e ficou resmungando
- Mas parecia que tava viva! Imagina! Uma coral verdadeira. Isso é um perigo.
- Não sei! Pelo que eu estudei, acho que era uma cobra falsa – Disse o menino tentando acalmar a mãe.
Oto sabia que sua mãe tinha um pouco de razão. Mas também sabia que as cobras só atacam, quando se sentem ameaçadas. Resolveu recolher o couro, para descobrir se Sibile era mesmo uma coral verdadeira ou se era falsa.
- Acho que era falsa! Concluiu.
- Que nada! – Retrucou sua mãe, enquanto comia um bolinho atrás do outro. – Era verdadeira.
Sibile decidiu que chegava de tentativas de aproximação com Pinhão! Para sua sorte, o lagarto Adroaldo estava escondido da chuva e não viu nada.
Agora, puxa, ficar dizendo que eu sou falsa...! Não gostei, não! – Pensou emburrada. Ora falsa... Eu sou cobra, sim. Só não tenho veneno. Mas paciência tem limite...!Falsa!!! – Resmungou, chateada, olhando para chuva que não parava de cair.
Viamão, 18 de agosto de 2008.
Fernanda Blaya Figueiró


3 -Que encrenca!


Sol! Calor e céu limpo, sem nenhuma nuvem. Sibile estava louca para passear, o campo estava repleto de pequenas flores e o pasto tinha crescido, depois da chuvarada, como um pão cheio de fermento.
A forte chuva da semana anterior havia formado um valão, entre o chão e o asfalto, bem perto da árvore em que a cobrinha morava, fazendo com que os carros desviassem. Sibile não estava gostando muito das manobras então, subiu pelo tronco até a copa da árvore, para ver melhor o movimento. Estava sem fome, pois havia comido um camundongo. Não era exatamente seu prato preferido, mas foi o que caçou durante a noite.
Quando chegou no topo da árvore um caminhão de carga fez uma manobra radical para desviar do buraco, sacudindo a árvore. Sibile acabou caindo dentro do caminhão... Adivinhem que estava lá??? Oto e Pinhão! Por sorte ela caiu num cantinho cheio de serragem, ficou a poucos centímetros das potentes patas de Pinhão. Para sua sorte ele usava alguma coisa tapando os olhos e Oto conversava com ele de uma janelinha que ligava a parte da frente e a de trás do caminhão.
- Então campeão! Tudo bem ai?- perguntou sorrindo – Calma que foi só um buraco na estrada...
Pinhão ficou quieto, logo em seguida disse baixinho: - Será que esse parque de exposições fica longe... Detesto viajar! - Esse ano o Freio de Ouro vai ser meu de Oto, eu to sentindo...
Sibile gelou! Parque de exposições, viagem, Freio de Ouro. Onde estaria indo? Como voltaria para casa? Tenho que anotar a placa deste negócio pensou, assim que descer, senão adeus minha casa.

Viamão, 26 de agosto de 2008.
Autoria Fernanda Blaya Figueiró

4 -Exposição de animais peçonhentos.

A cobrinha Sibile estava encrencada mesmo. Sem querer tinha ido parar no Parque de Exposições de Esteio, onde acontecia a famosa feira Expointer. Assim que desceu do caminhão onde estava Pinhão, o cavalo crioulo que morava próximo a sua casa, já se meteu em uma enorme confusão.
Sibile desceu perto das patas de um outro cavalo que empinou o corpo, assim que a viu e saiu em disparada, correndo pelo parque. Enquanto isso vários peões, armados de facas, esporas e canivetes, correram para capturá-la. Por sorte encontrou uma fenda em uma das paredes e foi parar dentro de um galpão.
Catarina, uma jovem que estava toda vestida de branco, fazia a inspeção sanitária dos galpões. Ela viu Sibile e viu os peões chegando alvoroçados. Sibile entrou disfarçadamente em uma maletinha, cheia de frascos. A garota fingiu que não viu e acabou salvando sua pele...
Só que aquele não era um lugar seguro para uma cobra, então Catarina levou nossa amiguinha para o local onde estavam os animais peçonhentos. Sibile inicialmente ficou super chateada, afinal quantas vezes teria que dizer que não tinha veneno.
Acabou passando a exposição inteira dentro de uma caixa, vê se pode??? Tudo bem! A comida era boa, tinha bastante água e muita música. As pessoas passavam e olhavam admiradas para ela. Só não gostou da plaqueta de identificação: Falsa Coral. E daqui? Para onde seria levada???
Ela precisava achar um jeito de voltar junto com Pinhão e Oto. Para sua sorte os dois foram muito bem na prova do Freio de Ouro e ficariam no parque até o último dia: 07 de setembro.
Independência ou Morte! A cobrinha, precisava achar uma forma de sair da caixa e voltar para o caminhão. A celebre frase de Dom Pedro I serviria de inspiração para sua vontade de voltar a ser livre.
Uma noite percebeu que Oto passava na volta daquele corredor. Espichava os olhos, abria um sorriso meio envergonhado e parecia nas nuvens quando Catarina se aproximava.
Sibile sentiu que precisava chamar sua atenção. Será que ele a reconheceria?
Pensou muito e resolveu bancar a cobra doente. Começou a pular e se retorcer, fingindo que tinha dor de barriga. Catarina caiu direitinho na sua conversa. Mas, chamou foi um veterinário, para examiná-la. E agora?
Oto estava perto quando abriram à tampa da caixa e a recolheram. Percebeu de cara que era Sibile, e perguntou:
- Essa coral é falsa??
- Sim! – respondeu amavelmente Catarina. Nós a achamos no galpão dos cavalos crioulos, estava fazendo a maior bagunça.
Oto aproveitou a oportunidade para se aproximar da garota. E Sibile? Estava em apuros. O veterinário estava pronto para sedá-la, com uma agulha enorme, cheia de um líquido viscoso.
Oto imaginou que ela fazia fita e perguntou inocentemente.
- Ela não parece melhor??
Sibile demonstrou calma e tranqüilidade. Ficando livre da injeção. Só que voltando para a caixa. Porém, a tampa ficou levemente solta.
Que alívio!!!
Sibile esperou todo mundo dormir e fugiu! Entrou no caminhão em que Oto dormia e de lá só sairia quando voltasse para o sossego de sua casa na árvore oca.
A vida de “Estrela” não era para ela!!



Viamão, 04 de setembro de 2008.
Autoria Fernanda Blaya Figueiró

5- O amor é mesmo lindo!!
A cobrinha Sibile conseguiu voltar, sã e salva, para sua casa. Problemas! Quando retornou, havia uma aranha, alojada em sua toca, só que ela foi muito esperta e deu no pé, ou melhor, pegou o primeiro fio e sumiu, assim que Sibile se aproximou..
Pinhão voltou, por cima da carne seca; foi tão bem no torneio que ganhou uma medalha...! Todos os cavalos e animais da redondeza passaram a admirá-lo, cada vez mais.
É bom ter o reconhecimento dos humanos, pensou Sibile. As competições esportivas e artísticas ajudavam muito a aprimorar a sociedade. As cobras acompanham as pessoas, há muito tempo, como todos os outros animais e plantas, e essa parceria modificava a forma de vida das pessoas e dos animais e plantas. Para ela, o sentido da vida era viver e aprender.
Oto trouxe Pinhão para descansar, próximo a casa de Sibile. Ela, como já sabia que não deveria falar com cavalos, ficou quietinha, em seu canto, só ouvindo a conversa dos dois.
- E aí, campeão!! – Disse, orgulhoso, o garoto – Hoje, vou te soltar um pouco, você merece!
O cavalo balançou a cabeça, em sinal de orgulho; Oto era seu melhor amigo e isso não tinha preço. O garoto soltou o buçal e largou no chão. Pinhão estava solto, podia correr e brincar, mas, antes, encostou a cabeça no ombro do amigo.
- Obrigado!! – Disse Oto – Agora, aproveita e vai correr um pouco.
Pinhão bateu com as patas no chão, empinou levemente o corpo e saiu a galope, pelo campo. Oto sentou encostado no tronco da árvore.
- Vai lá, Pinhão!...
Oto brincava com uma pedrinha e falava sozinho, Sibile notou que algo nele estava diferente, como se houvesse um brilho nos seus olhos.
- Catarina!!! Será que ela vai aceitar meu convite?
Pinhão corria, pulava, brincava, enquanto Oto sonhava acordado.
Catarina, pensou Sibile, estou encrencada...! Desde Eva, que as cobras eram vistas, como más conselheiras. Preciso manter a boca fechada. Ainda bem, que não moro, em uma macieira, pensou aliviada. Oto estava no paraíso...!

Viamão, 13 de setembro de 2008.

6-Cavalgada de Vinte de Setembro!!!
Vinte de Setembro. Todos na chácara acordaram cedo, um lindo sol brindava os gaúchos. Oto usava pilcha completa, uma roupa típica do povo gaúcho, que inclui: botas, bombachas, camisa, lenço da cor partidária e chapéu. Pinhão estava com sua melhor montaria, o pêlo bem escovado e as crinas aparadas. Os dois participariam do Desfile Farroupilha, uma homenagem do povo gaúcho aos revolucionários que lutaram durante dez anos pelos ideais de: Liberdade, Igualdade e Humanidade.
Sibile acompanhou todo o movimento de sua árvore, antes das sete horas já haviam vários cavaleiros reunidos, todos bem trajados e orgulhosos.
Oto e Pinhão partiram na frente do grupo levando a bandeira do Rio Grande do Sul.
Catarina estava no grupo, montando a égua Bolinha, uma das filhas de Pinhão. Sibile adorou o vestido que ela usava, era verde escuro, bordado com uma renda branca muito delicada. O encanto que Catarina exercia sobre Oto era visível, e, correspondido.
Quando passaram por sua árvore a cobrinha não agüentou e sacudiu os jasmins de poeta, que cresciam junto ao tronco, perfumando o ar e criando uma providencial chuvinha de flores... Catarina sorriu e Oto percebendo colheu as flores para ela. Bolinha se aproximou do pai e o jovem casal liderou a cavalgada.
Depois tudo voltou a calma e o dia prometia ser longo e feliz... Sibile aproveitou o silencio para dormir mais um pouquinho... Como será que era viver naquele tempo??? Sua árvore devia saber, já que era muito antiga... A cobrinha sonhou com os guerreiros, as batalhas, mas acordou satisfeita com a Paz. E, com o som do violão e da gaita.
A chácara estava em festa: chimarrão, carreteiro, churrasco, saladas e mandioca. Como sobremesa cucas, compotas e muitos doces.
- Viva o Vinte de Setembro!!!
-Viva!!
Sibile comemorou comendo uma perdiz... Pinhão, bolinha e os outros animais acompanharam tudo atentamente. A vida fluía com paz e tranqüilidade.


Viamão, 20 de setembro de 2008.
Autoria: Fernanda Blaya Figueiró

7 -Será que era??
Sibile estava comodamente instalada, em sua árvore, quando sentiu um estrondo...!! Curiosa, espiou, com cuidado, e, para sua surpresa, um enorme palco estava sendo descarregado, do interior de uma jamanta. Isso mesmo! Um palco! Armações de ferro, tablado de madeira e toldo de lona...!!
- Ora, vejam só! _A cobrinha pensou. – O que será que está acontecendo?
O dia prometia ser movimentado. O lagarto Adroaldo interrompeu, correndo, seu habitual banho de sol. Na correria, passou por ela e comentou:
- Sibile!_Chamou baixinho_ Ouvi comentários de que vai vir um montão de gente para cá... Para um show!
- Um show? De música?
O lagarto olhou para ela, sem entender a pergunta.
- Não sei se é de música, mas precisamos sair daqui. Urgente!
Adroaldo era um pouco alarmista; ficou falando sobre os carros chegando, as pessoas construindo barracas, estendendo panos no chão e pisando em tudo.. Algo meio parecido com o “Apocalipse da estrada”. Para Sibile, um negócio sem muito sentido.
- Nunca acontece nada, aqui - Ponderou ela - Não vou sair de casa; quero ver tudinho... !
- Ah! Sei! – Respondeu o lagarto – Depois, não vai ficar aí bancando a serpente mal entendida. Eu tô sumindo, tchau! Mania que vocês cobras tem de se meter com gente...
Adroaldo saiu, resmungando, e com ele, foram os pássaros, as borboletas, os coelhos e_ até_ as aranhas. Sibile ficou bem quietinha! Não perderia aquilo, por nada do mundo!
Vários trabalhadores começaram uma barulheira danada. Sibile não conseguia dormir. Os homens discutiam, soltavam gargalhadas e comiam... Muitas latas de refrigerante. Algum tempo depois, o palco estava pronto, com iluminação, enormes caixas de som e dois telões.
De uma hora para outra, tudo aquilo que Adroaldo falou, aconteceu... À frente do palco ficou tomada de gente. E, pelo jeito, de várias tribos! Uns usavam cabelos coloridos, outros não usavam cabelos, uns tinham tatuagens, outros ferros nos dentes.
Churrasco de gato, maçã doce, tapioca e cachorro quente pareciam se misturar no vento. Era tanta gente fumando, comendo, bebendo, que Sibile chegou a enjoar. Mas ficou firme em seu posto!
Em pouco tempo, não havia mais lugar para uma mosca, de tão cheio que o campo ficou.
A noite já ia longe, quando um estranho silêncio tomou conta do ar. As luzes iluminaram, só o centro do palco; todos ficaram imóveis, como que hipnotizados, esperando algo.
Sibile prendeu a respiração, fixou o olhar, no centro do palco. Uma fumaça branca começou a aparecer, a cortina subia lentamente, até que uma guitarra rompeu o silêncio e levou o público á loucura. Sem saber por que, Sibile gritava junto com a multidão, que pulava, freneticamente, sacudindo a cabeça para frente e para trás...
- Que energia! Que vibração!
Sibile estava tomada por um tipo de torpor... Mas, estava contente, mesmo assim.
O show levou muito menos tempo, do que toda a preparação...
Assim que as luzes se apagaram, todos foram embora, deixando o chão imundo e pisoteado.
Sibile estava exausta! Uma frase que foi repetida várias vezes retumbava em sua mente: - O Deus do Rock!
Sibile era uma serpente de sorte!Enfim, havia conhecido Deus! Um carinha bem legal, pensou.


Viamão, 28 de setembro de 2008.
Fernanda Blaya Figueiró


8 -Oráculo

Na manhã seguinte ao show a mesma equipe de homens veio desmontar o palco. Sibile ainda estava exausta, o silêncio foi rompido pelo barulho da jamanta que chegava. A cobrinha, que era muito curiosa, resolveu ir ver de perto o local onde o Deus do Rock havia estado pessoalmente.
O campo estava coberto de copos, papeis e restos de comida. Sibile deslizou por aquela sujeira toda, aproximando-se com cuidado, subiu a enorme montanha de ferro e chegou até o palco, só que não havia nenhum vestígio de Deus.
Da jamanta desceram os mesmos trabalhadores do dia anterior. Sibile achou que estava segura, pois imaginou que eles recolheriam o lixo. Só que eles começaram imediatamente a desmontar a grande armação. Ela estava bem no meio do palco, sem ter como se esconder.
- Uma cobra! – gritou um dos homens – Mata! Mata!
- Cuidado! – disse um outro – È uma coral e verdadeira...
Todos os trabalhadores resolveram se armar e investir contra Sibile... Para sua sorte, o palco desabou com o peso deles. Sibile foi jogada para longe, bateu a cabeça perdendo os sentidos.
Acordou horas mais tarde, com a visão turva e o corpo dolorido, estava no meio do mato. Havia anoitecido e a luz da lua iluminava uma grande fonte esculpida em pedra. Da boca de um poderoso oráculo corria um filete de água pura.
- A Fonte da Sabedoria! – exclamou Sibile.
No outro lado estava esculpida a figura da rainha das cobras, a Naja Sofia.
Sibile endireitou o corpo, baixou os olhos e bebeu um pouco da água sagrada, purificando o espírito. A escultura contava a história do encontro de Sofia com o grande oráculo.
Segundo a lenda tudo aconteceu nas montanhas geladas da Índia, cansada de viver com um encantador de serpentes a grande Naja subiu o pico mais alto em busca de resposta as sua angustias. Na reclusão encontrou a magnífica escultura de um oráculo coberto de neve e esmeraldas. Ao aproximar-se sentiu, vindo das entranhas da terra, a força do oráculo. – Quem ousa se aproximar da Fonte da Sabedoria? Sofia não respondeu, demonstrando respeito. Em seguida ergueu o corpo e a cabeça em sinal de força e coragem. Fitou os olhos do oráculo, como fazia com o encantador de serpentes, demonstrando superioridade. – O que desejas saber! Oh grande Naja! – Indagou o Oráculo. – Porque os homens não gostam das cobras? – Respondeu imediatamente. O oráculo silenciou por alguns instantes e logo projetou na neve uma sucessão de imagens: Agar, Eva, encantadores de serpentes, navegadores assustados, adoradores e adorados. Cobras e serpentes de todos os tempos. – O Homem teme aquilo que não domina. – respondeu o grande oráculo. Uma nevasca cobriu tudo e Sofia retornou para contar ao mundo o que descobriu. O segredo foi transmitido de geração para geração, chegando a Sibile.
A cobrinha retornou tranquilamente para sua árvore, não precisava temer os homens e nem idolatrar seus Deus do Rock.

Viamão, 29 de setembro de 2008.
Fernanda Blaya Figueiró.

9 -A Cobra Fumou!

A cobrinha Sibile estava doida da vida, por muito pouco não virou uma bolsa de festa! Isso mesmo que vocês ouviram. Pois é! Ela vinha pela estrada, de madrugada, sem incomodar ninguém, quando viu uma enorme caminhonete vindo a toda a velocidade em sua direção. Não teve nem tempo de se esconder.
De dentro do carro saíram um garoto e uma garota. Sibile ficou no meio da estrada usando a velha tática de fingir que estava morta. Eles chegaram bem perto e começaram a cutucá-la com uma vareta, ela agüentou firme, sem se mexer. O garoto voltou para pegar um saco dentro do carro e a garota ficou ali de olho nela. Enquanto isso eles falavam bem alto, para todo mundo ouvir, que ganhariam uma nota preta, fazendo uma bolsa com o couro de Sibile.
O seqüestro foi muito rápido, colocaram Sibile no saco e jogaram no chão do banco do motorista. Ela era forte e ficou quietinha esperando a melhor hora para salvar seu couro. Os dois riam e faziam planos de como gastariam o dinheiro, enquanto corriam feito loucos.
O garoto acelerou mesmo! Quando Sibile sentiu que ele ia usar o freio deu um bote em sua perna, sem dó nem piedade... Os dois viram foi um muro e bem de perto. A caminhonete explodiu logo em seguida, largando uma fumaceira. Sibile escapou sã e salva voando pelo vidro.
De longe viu os bombeiros ajudando os dois patetas, que choravam como crianças e tentavam explicar o que havia acontecido.
- A cobra!! Foi a cobra... – Eles diziam. Mas, os bombeiros não pareciam acreditar muito.
Também, quem mandou ficar cutucando cobra? Depois daquela noite ninguém mais se atreveu a cruzar seu caminho. Sibile não tinha veneno, mas sabia se defender.
Na chácara o boato que se espalhou foi de que a cobra tinha fumado cachimbo. O que era uma grande bobagem, já que Sibile sabia que o fumo é que era um veneno.
Bolsa de festa... Imagina!!!

Viamão, 06 de outubro de 2008.
Fernanda Blaya Figueiró

10- Dicas de Sibile para manter o couro

A cobrinha Sibile estava muito preocupada com sua segurança. Também, né? Por pouco, que não virou uma bolsa de festa...!1 Pensando nisso, resolveu criar uma lista de precauções, para manter seu lindo couro_ intacto.
Daquele dia em diante, fixaria, na porta de sua toca, a seguinte lista de precauções:
1. Nunca falar com estranhos, mesmo que pareçam bonzinhos.
2. Sempre informar a alguém aonde vai e quando retorna.
3. Manter o celular ligado.
4. Ligar o alarme da toca, toda a vez que sair.
5. Em caso de seqüestro, manter a calma. Não reagir! Você é uma cobra e tem uma excelente mordida, mesmo assim tome muito cuidado.
6. Evitar lugares com pouco movimento.
7. Telefonar aos seus amigos, antes de visitá-los. Não chegar de surpresa.
8. Levar somente o necessário.
9. Evitar fazer sempre o mesmo caminho.
10. Ficar “ligado!” Se achar necessário, gritar e chamar a polícia.
Sibile gostou de fazer a lista; assim não relaxaria com sua segurança, já que não queria passar novamente por aquele sufoco. Só que o mais importante era lembrar como a vida era bonita e cheia de coisas boas...!!
Pensando nisso, resolveu sair, para caçar; seu estômago estava coladinho e precisava repor as energias. Avisou o lagarto Adroaldo que faria um passeio, até a fonte. Lá devia ter algo para comer... Depois, pretendia voltar para sua toca e dormir um bom sono reparador. Com o alarme ligado!

Viamão, 20 de outubro de 2008.
Fernanda Blaya Figueiró


11 -Enfeite.

Chovia e a cobrinha Sibile estava literalmente entocada! Não tinha nada para fazer. Nas chácaras, tudo estava calmo.
Sibile resolveu deixar a preguiça, de lado, e ir procurara algo para fazer. Viu que Oto e seu pai preparavam o carro para sair. O garoto abriu o porta-malas e colocou vários objetos dentro. Onde eles estariam indo?
Logo em seguida, a mãe dele entrou no carro e o caseiro acenou do galpão.
Sibile fechou a sua toca, ligou o alarme, um antigo chocalho de uma prima cascavel. Deixou um bilhete, para o lagarto Adroaldo, onde dizia: - Fui passear com a família de Oto! E esperou no topo da árvore. Quando o carro passou, pulou para dentro, entrando pela janela de trás, que estava aberta. Uma manobra um tanto arriscada, já que a mãe de Oto detestava cobras e nem fazia segredo disso!
Ficou quietinha, escondida entre vários Cd´s e uma bela caixa que havia, no chão do carro. Pena que as cobras são surdas, pensou Sibile, tinha vontade de ouvir as músicas, mas como era muito sensível, encostou a barriga no chão e ficou sentindo a vibração.
Em pouco tempo, chegaram a um lugar muito legal. A família toda desceu. Sibile estava pronta, para descer, quando entrou, no carro, um motorista. E agora? Um outro homem abriu o porta-malas e pegou tudo o que estava dentro. Sibile sentiu que ficaria presa no carro. Resolveu então entra na caixa. Para sua sorte, a embalagem era muito folgada!
A caixa foi colocada com as malas em um carinho. Só que no elevador, foi trocada de lugar. As malas seguiram o corredor e a caixa ficou junto com muitas outras, em uma outra, enorme onde estava escrito: Presentes dos Noivos.
Tudo foi tão rápido que, quando Sibile se deu conta, já estava na frente de uma jovem muito bonita, toda vestida de branco. Ela estava muito nervosa e, para se acalmar, resolveu abrir os presentes.
Adivinhem qual foi o primeiro que ela abriu?? – Isso mesmo! O presente da família de Oto. Sibile congelou de medo e de frio. Quando viu que a moça desembrulhava o pacote, colou o cartão na boca e ficou imóvel. A noiva deu um grito que todo o hotel ouviu. – Uma cobra!!! .
A camareira entrou correndo e disse: - Calma! É só um enfeite. Sibile nem piscava! Muito menos, respirava!
A noiva relaxou e soltou um longo suspiro. Um copo de água com açúcar foi servido para acalmá-la. Olhou o Cartão e disse: Só podia ser coisa do primo Oto. Na caixa, havia uma linda peça de prata, que ela adorou.
- Quer guardar o enfeite? Perguntou a camareira. Deixa aí, que depois eu vejo! - respondeu – Agora, estou pronta pra qualquer coisa, até meu nervosismo passou. Uma cobra! Disse rindo. No dia do meu casamento! Por essa peça eu não esperava...
Sibile desmaiou assim que as duas saíram. Vocês acham que terminou aqui??? Que nada! Amanhã eu conto o resto! Sibile precisa respirar.

Viamão, 22 de outubro de 2008.
Fernanda Blaya Figueiró

12- Tobogã de Açúcar
Sibile passou um sufoco, tendo que fingir ser um enfeite no pacote do presente dos noivos. Para sua sorte a camareira deixou a porta do quarto aberta, ela aproveitou! Bebeu um pouco da água com açúcar que a noiva deixou sobre a mesa e saiu de fininho, um longo corredor levava até o elevador... Sibile olhou bem e preferiu as escadas... Não queria mais se meter em confusão.
A água com açúcar acalmava mesmo... Sibile estava se sentindo leve e tranqüila, subiu os degraus da escada até terminar. Passou por uma janela e chegou até um terraço fantástico. Já anoitecia e o pôr do sol era um espetáculo ao alcance de qualquer um. Sibile aproveitou a vista... Podia ver muito longe, mais do que de sua árvore. Via a serra a cidade e o mar. Pássaros voando e muita vida acontecendo.
Do terraço podia ver a agitação no salão, tudo estava impecavelmente organizado para esperar a chegada dos noivos. Sibile viu quando o carro estacionou e eles desceram, sob uma chuvinha de arroz. Logo em seguida os convidados começaram a chegar e o salão foi ficando cheio de vida... Música, comida, bebida e muita alegria!!! Um ritual muito legal - pensou a cobrinha - Oto dançou a noite toda com Catarina, que pegou o buquê da noiva.
Sibile adormeceu num cantinho e quando acordou a festa já havia terminado. Entrou pela mesma janela, que tinha só uma frestinha aberta, acabou caindo sobre o bolo dos noivos. Escorregou como se estivesse num tobogã de açúcar, achou tudo tão divertido que ficou horas brincando...
Mas, precisava dar um jeito de voltar para o carro do pai de Oto, se quisesse rever sua casa... Desceu as escadas, deixando uma trilha de merengue por onde passava. Seu corpo foi ficando pegajoso e assim que chegou no térreo viu uma fonte com água bem limpinha, não pensou duas vezes antes de mergulhar. Neste instante o sol já estava alto. Sibile ficou no jardim aguardando, logo o motorista trouxe o carro e enquanto Oto se despedia de Catarina, ela aproveitou e entrou pela porta.
Quando voltaram para a chácara a chuva tinha parado, Pinhão pastava solto e o caseiro tratava os cachorros. Sibile voltou com um monte de histórias para contar.


Viamão, 28 de outubro de 2008.
Fernanda Blaya Figueiró

13-A arca


A cobrinha Sibile voltou, exausta, da festa de casamento! Comeu um filhote de preá e dormiu por um longo período de tempo, aconchegada, no interior do tronco da árvore em que morava.
Quando acordou havia um cartaz preso, em sua porta, que dizia assim:
Noite de Estréia “As Fantásticas histórias de Sibile!” – Não perca! Uma história narrada pelo Lagarto Adroaldo.
Sibile piscou os olhos! Não via nada de fantástico, em suas histórias. No cartaz, ela aparecia coberta de merengue, em meio ao bolo de casamento, tinha os olhos pintados e usava batom vermelho. O bolo estava sobre uma antiga arca entreaberta, de lá saia um pergaminho, no formato do corpo de uma cobra, que virava uma flauta e depois fumaça... Que sinistro! Quanto tempo teria dormido? Lembrava que tinha comido uma pequena preá. Normalmente, levaria algumas horas digerindo...
Já era noite e o silêncio dominava a chácara. Nem um grilo cricrilava... A estrada estava deserta e seca. O Ar? Parado! O coração dela acelerou e todo o seu corpo entrou em estado de alerta.
Sibile desceu o tronco de sua árvore, olhando, atentamente, para os lados. Por instinto, decidiu ir até o mato. Ao se aproximar da fonte, tudo estava escuro e quieto... A grande Naja Sofia continuava imóvel, diante do Oráculo, coberto de neve e esmeraldas: “O Homem teme aquilo que não domina.” A frase, com a grande sabedoria do oráculo, aparecia gravada na pedra.
Um eclipse escondia, momentaneamente, a lua. A cobrinha percebeu que nada poderia ser mais assombroso, surpreendente e fantástico, do que a experiência que estava tendo: Sibile era um ser dotado de vida.
Adroaldo passou correndo por ela: - Venha Sibile! O espetáculo já vai começar...
Está todo mundo esperando... Ele usava um manto vermelho e preto, imitando o seu couro e escondendo as patas. Com a voz séria e o olhar severo, o lagarto começou a contar inúmeras histórias de cobras célebres e anônimas que foi tirando, de dentro da arca. O povo riu, chorou, cantou, embraveceu, vaiou, aplaudiu e a noite foi passando... Quando tudo terminou o vento soprava, os sons eram os mesmos de sempre. Adraldo recolocou, cuidadosamente, todos os pequenos papeis, dentro da Arca, e fechou a caixa.

Sibile tinha adorado tudo, mas esperava uma explicação... O lagarto olhou para ela e falou, como se lesse seus pensamentos: - Essa Arca? É velha... Muito velha...
De Tempos em Tempos alguém abre e solta as histórias. Afinal, quem conta um conto aumenta um ponto...!! Agora, as Fantásticas Histórias de Sibile estão lá... Perdidas! Ou, seriam Achadas???

Viamão, 30 de outubro de 2008.
Fernanda Blaya Figueiró