20 de nov. de 2009

Um conto de Natal - As Três Marias

Um conto de Natal_ As Três Marias


Lá, do alto do céu, as Três Marias observavam a Terra, quando viram que, sorrateiramente, alguém tentava acabar com a alegria do Natal.
- O Natal é só comércio... O Natal virou uma porcaria... Não tem mais peru... Não tem mais presentes... Nem bolinhas, no pinheiro, tem...! Ou melhor, nem pinheiro... Que bobagem esse tal Natal... Natal!!! Natal!!...
Em muitos lugares diferentes do Planeta, eram ouvidos estes resmungos...
- O que podemos fazer? - Conversaram as estrelas, entre si.
Natal, sem alegria, não é Natal!
Órion , o grande guerreiro da constelação, resolveu ajudar! Autorizou as estrelas a descerem, até a Terra, para procurar a alegria perdida. Por alguns dias, ficaria sem seu cinturão. Pelo poder de sua constelação, transformou as três estrelas em três anjos: Maria da Paz, Maria do Amor e Maria da Compaixão.
Mas o encanto terminaria, no dia 24 de dezembro, à meia noite. Porém, se as Três Marias não encontrassem a alegria, este seria o último Natal de todos.
O tempo começou a correr e elas desceram, com muito cuidado...! Cada uma foi parar , num canto diferente do mundo.
Percorreram cidades, florestas, praias, desertos... Sempre perguntando: - O que é o Natal?
As respostas eram as mais variadas possíveis... Mas, uma que sempre se repetia, deixou as estrelas preocupadas... – Não sei! Ninguém mais sabia!
Pois é! As pessoas haviam esquecido a história do Natal... E Vocês amiguinhos ainda lembram?
Maria do Amor resolveu, então, começar contando a história de um menino, chamado Jesus de Nazaré. Um menino que veio ao mundo, para trazer uma mensagem, Maria da Paz continuou, falando de paz, amor e compaixão. Ele tinha nascido, em uma pequena estrebaria, aquecido pelo amor de Maria e José e na companhia de muitos animaizinhos. Maria da Compaixão contou que a Estrela de Belém guiou os pastores e três reis, de lugares distantes, até o menino.
Elas contaram esta história, muitas vezes, para muitas crianças, jovens e adultos...
E, no dia vinte e quatro de dezembro, à meia noite, quando o grande guerreiro Órion apareceu, o mundo estava em festa; a alegria retornara, em todos os lares da Terra...!! Não importavam os presentes, as luzes e nem as fartas ceias... A alegria do Natal estava no sorriso de um menino, chamado Jesus de Nazaré...!!

Viamão, 24 de novembro de 2008.
Autoria: Fernanda Blaya Figueiró
Revisão: Angelita Soares

20 de set. de 2009

20 de setembro de 2009- Viamão

Vinte de setembro em Viamão!!!

Foi mais ou menos assim:
Fogo na churrasqueira, música gaudéria no rádio e.... Um visitante mui guapo! Cheio de razão, um pouco apoquentado por ter sua casa invadida,acho que temos um ninho no telhado, mas: mui cordial... Enquanto o churrasco ficava pronto aproveitou para tirar uma pequena soneca.
Além disso a vida continuava sem preocupação com todo o resto.
Olha só!!!!!!!!!! Vida em todas as direções... Nem precisa contar mais nada...

Fernanda Blaya Figueiró





16 de set. de 2009

As Fantásticas Histórias de Sibile


Bom dia!

Estou publicando novamente os textos de Sibile em ordem.

Beijos

Fernanda Blaya Figueiró


AS FANTÁSTICAS HISTÓRIAS DE SIBILE


Autoria: Fernanda Blaya Figueiró

Revisão: Angelita Soares


1 - A serpente amiga.
Sibile, um filhotinho de cobra coral, morava no tronco oco de uma velha árvore que ficava perto de um mato, uma estrada e algumas casas.
Durante o dia costumava ficar escondidinha e a noite saía para passear e caçar. As cobras tinham poucos amigos, já que as pessoas não gostavam delas, uma verdadeira injustiça, e os outros animais tinham medo, por que algumas cobras tinham veneno. Sibile era muito bonita! Seu corpo era todo desenhado nas cores: vermelho, preto e branco. Ela não era muito grande e: - “Não tinha veneno!”.
Um dia estava tirando uma sonequinha e um barulho chamou sua atenção. Com muito cuidado resolveu olhar o que era. Encrenca! - pensou. Um menino havia prendido, em um dos galhos de sua casa, um cavalo crioulo. Cavalos morrem de medo das cobras!
Sibile não sabia o que fazer, estava a poucos metros dele. O menino amarrou tanto a corda, que ele nem conseguia comer. Ela queria ajudar, mas não sabia como. Pensou que se falasse com o cavalo seria a maior confusão do mundo... Resolveu então fingir que era a árvore.
- Olá! – disse de dentro do tronco – Como você se chama?
O cavalo olhou para um lado, para o outro e não viu ninguém. Começou a bater as patas no chão, relinchar e empinar o corpo.
- Brumm!- Devo estar com febre! - resmungou – Brrmm! Brrmm!
Sibile notou que ele ficou nervoso e assustado, resolveu ficar quietinha, esperando que o menino voltasse. Logo o sol baixou e ele apareceu, levando o cavalo pela estrada. - “Vem, Pinhão!” – ele dizia, puxando a corda. – E aí? Como passou à tarde?...
Sibile esticou bem o corpo, estava cansada de ficar parada. Desceu pelo tronco da árvore e foi passear. O famoso lagarto Adroaldo retornava de seu habitual banho de sol. Ele havia assistido a tudo e perguntou:
- Sibile! – Você sabe que não deve falar com os outros animais?
- Sei – respondeu encabulada – Mas, eu não tenho quase amigos e o menino deixou o cavalinho sem comer, achei muito feio isso. Sabe que ele se chama Pinhão?
- Homens e Cavalos vivem juntos há muito tempo, se dão muito bem... Ele prendeu o cavalo para perder a barriga e correr mais... São coisas deles, não devemos nos meter. Entendido, mocinha?
A serpente fez um sinal de que havia sim entendido.
- Agora vá brincar! – ordenou o lagarto. – E, prepare-se! Se eles passarem a usar sua árvore, você vai ter que se mudar...
- Mudar!!! Oh! Oh! – isso não fazia parte dos seus planos.
Por quê? Mais uma injustiça, sua casa era tão quentinha e aconchegante. Isso não era justo, pensou. Precisava achar um jeito de ficar amiga do cavalo e do menino. Só que isso era totalmente proibido.
Sibile precisava pensar...


Viamão, dia 15 de agosto de 2008.


2 - Verdadeira!Falsa!
Chovia! Chovia! Chovia!
Sibile, a cobra mais legal do mundo, estava cansada de tanta chuva...! Todos os animais sabiam o quanto a chuva era importante, para a manutenção da vida. Então, o jeito mesmo era achar coisas bacanas para fazer.
Ela aproveitou, que quase não tinha movimento na estrada, para andar um pouquinho pela vizinhança. Resolveu visitar Pinhão, o cavalinho crioulo que, no dia anterior, tinha sido preso, perto de sua casa.
Deslizou até a baia; a casa de Pinhão ficava dentro de um galpão enorme...! Sibile espiou, bastante, antes de entrar, já que aquele lugar parecia assustador...! Subiu, pelo cantinho da parede, para observar bem. O menino, que havia prendido Pinhão, estava sentado, perto da janela, olhando para a rua e parecia entediado... De longe, veio um grito que chamou sua atenção.
- Oto! – Uma mulher entrou, trazendo um prato coberto, com um paninho - Vem lanchar... Fiz bolinhos...
- Já vou mãe! – Ele respondeu, levantando-se. –Hum, bolinhos!
Sibile estava pendurada na janela. A mãe do menino virou e deu de cara com ela.
- Oto! Olha uma cobra... Socorro!!!- A mulher saiu correndo e gritando. Não se mexa! Vou pegar o facão e já volto. Não chega perto; é uma coral e verdadeira... Verdadeira.
Sibile ficou congelada de medo. Sabia que vinha chumbo grosso pro seu lado.. Pinhão entrou em pânico, dentro da baia, e o galpão virou a maior confusão!
Oto não tinha medo e foi olhar de perto
-Oh!Oh! – Sibile viu que estava encrencada. Usou a velha tática de fingir que estava morta. Ficou parada, sem respirar. Oto era esperto e, logo, notou que ela estava viva.
- Ok, cobrinha! Você tem poucas chances!. – Disse, olhando bem em seus olhos – Aproveite e vá embora... Não quero que ela mate você...
Sibile viu, no olhar do menino, que podia confiar nele, abandonou a velha tática e relaxou. Oto pegou um graveto e jogou-a bem longe. Sibile aproveitou, para voltar, voando, para casa. Só que, no meio da confusão, acabou mudando de pele!
Quando a mãe de Oto voltou, armada de facão, vassoura, botas e luvas; ela só encontrou o couro abandonado de Sibile.
- Calma mãe! – É só um pedaço do couro de uma cobra...
Ela respirou aliviada. Sentou no banco e ficou resmungando
- Mas parecia que tava viva! Imagina! Uma coral verdadeira. Isso é um perigo.
- Não sei! Pelo que eu estudei, acho que era uma cobra falsa – Disse o menino tentando acalmar a mãe.
Oto sabia que sua mãe tinha um pouco de razão. Mas também sabia que as cobras só atacam, quando se sentem ameaçadas. Resolveu recolher o couro, para descobrir se Sibile era mesmo uma coral verdadeira ou se era falsa.
- Acho que era falsa! Concluiu.
- Que nada! – Retrucou sua mãe, enquanto comia um bolinho atrás do outro. – Era verdadeira.
Sibile decidiu que chegava de tentativas de aproximação com Pinhão! Para sua sorte, o lagarto Adroaldo estava escondido da chuva e não viu nada.
Agora, puxa, ficar dizendo que eu sou falsa...! Não gostei, não! – Pensou emburrada. Ora falsa... Eu sou cobra, sim. Só não tenho veneno. Mas paciência tem limite...!Falsa!!! – Resmungou, chateada, olhando para chuva que não parava de cair.
Viamão, 18 de agosto de 2008.
Fernanda Blaya Figueiró


3 -Que encrenca!


Sol! Calor e céu limpo, sem nenhuma nuvem. Sibile estava louca para passear, o campo estava repleto de pequenas flores e o pasto tinha crescido, depois da chuvarada, como um pão cheio de fermento.
A forte chuva da semana anterior havia formado um valão, entre o chão e o asfalto, bem perto da árvore em que a cobrinha morava, fazendo com que os carros desviassem. Sibile não estava gostando muito das manobras então, subiu pelo tronco até a copa da árvore, para ver melhor o movimento. Estava sem fome, pois havia comido um camundongo. Não era exatamente seu prato preferido, mas foi o que caçou durante a noite.
Quando chegou no topo da árvore um caminhão de carga fez uma manobra radical para desviar do buraco, sacudindo a árvore. Sibile acabou caindo dentro do caminhão... Adivinhem que estava lá??? Oto e Pinhão! Por sorte ela caiu num cantinho cheio de serragem, ficou a poucos centímetros das potentes patas de Pinhão. Para sua sorte ele usava alguma coisa tapando os olhos e Oto conversava com ele de uma janelinha que ligava a parte da frente e a de trás do caminhão.
- Então campeão! Tudo bem ai?- perguntou sorrindo – Calma que foi só um buraco na estrada...
Pinhão ficou quieto, logo em seguida disse baixinho: - Será que esse parque de exposições fica longe... Detesto viajar! - Esse ano o Freio de Ouro vai ser meu de Oto, eu to sentindo...
Sibile gelou! Parque de exposições, viagem, Freio de Ouro. Onde estaria indo? Como voltaria para casa? Tenho que anotar a placa deste negócio pensou, assim que descer, senão adeus minha casa.

Viamão, 26 de agosto de 2008.
Autoria Fernanda Blaya Figueiró

4 -Exposição de animais peçonhentos.

A cobrinha Sibile estava encrencada mesmo. Sem querer tinha ido parar no Parque de Exposições de Esteio, onde acontecia a famosa feira Expointer. Assim que desceu do caminhão onde estava Pinhão, o cavalo crioulo que morava próximo a sua casa, já se meteu em uma enorme confusão.
Sibile desceu perto das patas de um outro cavalo que empinou o corpo, assim que a viu e saiu em disparada, correndo pelo parque. Enquanto isso vários peões, armados de facas, esporas e canivetes, correram para capturá-la. Por sorte encontrou uma fenda em uma das paredes e foi parar dentro de um galpão.
Catarina, uma jovem que estava toda vestida de branco, fazia a inspeção sanitária dos galpões. Ela viu Sibile e viu os peões chegando alvoroçados. Sibile entrou disfarçadamente em uma maletinha, cheia de frascos. A garota fingiu que não viu e acabou salvando sua pele...
Só que aquele não era um lugar seguro para uma cobra, então Catarina levou nossa amiguinha para o local onde estavam os animais peçonhentos. Sibile inicialmente ficou super chateada, afinal quantas vezes teria que dizer que não tinha veneno.
Acabou passando a exposição inteira dentro de uma caixa, vê se pode??? Tudo bem! A comida era boa, tinha bastante água e muita música. As pessoas passavam e olhavam admiradas para ela. Só não gostou da plaqueta de identificação: Falsa Coral. E daqui? Para onde seria levada???
Ela precisava achar um jeito de voltar junto com Pinhão e Oto. Para sua sorte os dois foram muito bem na prova do Freio de Ouro e ficariam no parque até o último dia: 07 de setembro.
Independência ou Morte! A cobrinha, precisava achar uma forma de sair da caixa e voltar para o caminhão. A celebre frase de Dom Pedro I serviria de inspiração para sua vontade de voltar a ser livre.
Uma noite percebeu que Oto passava na volta daquele corredor. Espichava os olhos, abria um sorriso meio envergonhado e parecia nas nuvens quando Catarina se aproximava.
Sibile sentiu que precisava chamar sua atenção. Será que ele a reconheceria?
Pensou muito e resolveu bancar a cobra doente. Começou a pular e se retorcer, fingindo que tinha dor de barriga. Catarina caiu direitinho na sua conversa. Mas, chamou foi um veterinário, para examiná-la. E agora?
Oto estava perto quando abriram à tampa da caixa e a recolheram. Percebeu de cara que era Sibile, e perguntou:
- Essa coral é falsa??
- Sim! – respondeu amavelmente Catarina. Nós a achamos no galpão dos cavalos crioulos, estava fazendo a maior bagunça.
Oto aproveitou a oportunidade para se aproximar da garota. E Sibile? Estava em apuros. O veterinário estava pronto para sedá-la, com uma agulha enorme, cheia de um líquido viscoso.
Oto imaginou que ela fazia fita e perguntou inocentemente.
- Ela não parece melhor??
Sibile demonstrou calma e tranqüilidade. Ficando livre da injeção. Só que voltando para a caixa. Porém, a tampa ficou levemente solta.
Que alívio!!!
Sibile esperou todo mundo dormir e fugiu! Entrou no caminhão em que Oto dormia e de lá só sairia quando voltasse para o sossego de sua casa na árvore oca.
A vida de “Estrela” não era para ela!!



Viamão, 04 de setembro de 2008.
Autoria Fernanda Blaya Figueiró

5- O amor é mesmo lindo!!
A cobrinha Sibile conseguiu voltar, sã e salva, para sua casa. Problemas! Quando retornou, havia uma aranha, alojada em sua toca, só que ela foi muito esperta e deu no pé, ou melhor, pegou o primeiro fio e sumiu, assim que Sibile se aproximou..
Pinhão voltou, por cima da carne seca; foi tão bem no torneio que ganhou uma medalha...! Todos os cavalos e animais da redondeza passaram a admirá-lo, cada vez mais.
É bom ter o reconhecimento dos humanos, pensou Sibile. As competições esportivas e artísticas ajudavam muito a aprimorar a sociedade. As cobras acompanham as pessoas, há muito tempo, como todos os outros animais e plantas, e essa parceria modificava a forma de vida das pessoas e dos animais e plantas. Para ela, o sentido da vida era viver e aprender.
Oto trouxe Pinhão para descansar, próximo a casa de Sibile. Ela, como já sabia que não deveria falar com cavalos, ficou quietinha, em seu canto, só ouvindo a conversa dos dois.
- E aí, campeão!! – Disse, orgulhoso, o garoto – Hoje, vou te soltar um pouco, você merece!
O cavalo balançou a cabeça, em sinal de orgulho; Oto era seu melhor amigo e isso não tinha preço. O garoto soltou o buçal e largou no chão. Pinhão estava solto, podia correr e brincar, mas, antes, encostou a cabeça no ombro do amigo.
- Obrigado!! – Disse Oto – Agora, aproveita e vai correr um pouco.
Pinhão bateu com as patas no chão, empinou levemente o corpo e saiu a galope, pelo campo. Oto sentou encostado no tronco da árvore.
- Vai lá, Pinhão!...
Oto brincava com uma pedrinha e falava sozinho, Sibile notou que algo nele estava diferente, como se houvesse um brilho nos seus olhos.
- Catarina!!! Será que ela vai aceitar meu convite?
Pinhão corria, pulava, brincava, enquanto Oto sonhava acordado.
Catarina, pensou Sibile, estou encrencada...! Desde Eva, que as cobras eram vistas, como más conselheiras. Preciso manter a boca fechada. Ainda bem, que não moro, em uma macieira, pensou aliviada. Oto estava no paraíso...!

Viamão, 13 de setembro de 2008.

6-Cavalgada de Vinte de Setembro!!!
Vinte de Setembro. Todos na chácara acordaram cedo, um lindo sol brindava os gaúchos. Oto usava pilcha completa, uma roupa típica do povo gaúcho, que inclui: botas, bombachas, camisa, lenço da cor partidária e chapéu. Pinhão estava com sua melhor montaria, o pêlo bem escovado e as crinas aparadas. Os dois participariam do Desfile Farroupilha, uma homenagem do povo gaúcho aos revolucionários que lutaram durante dez anos pelos ideais de: Liberdade, Igualdade e Humanidade.
Sibile acompanhou todo o movimento de sua árvore, antes das sete horas já haviam vários cavaleiros reunidos, todos bem trajados e orgulhosos.
Oto e Pinhão partiram na frente do grupo levando a bandeira do Rio Grande do Sul.
Catarina estava no grupo, montando a égua Bolinha, uma das filhas de Pinhão. Sibile adorou o vestido que ela usava, era verde escuro, bordado com uma renda branca muito delicada. O encanto que Catarina exercia sobre Oto era visível, e, correspondido.
Quando passaram por sua árvore a cobrinha não agüentou e sacudiu os jasmins de poeta, que cresciam junto ao tronco, perfumando o ar e criando uma providencial chuvinha de flores... Catarina sorriu e Oto percebendo colheu as flores para ela. Bolinha se aproximou do pai e o jovem casal liderou a cavalgada.
Depois tudo voltou a calma e o dia prometia ser longo e feliz... Sibile aproveitou o silencio para dormir mais um pouquinho... Como será que era viver naquele tempo??? Sua árvore devia saber, já que era muito antiga... A cobrinha sonhou com os guerreiros, as batalhas, mas acordou satisfeita com a Paz. E, com o som do violão e da gaita.
A chácara estava em festa: chimarrão, carreteiro, churrasco, saladas e mandioca. Como sobremesa cucas, compotas e muitos doces.
- Viva o Vinte de Setembro!!!
-Viva!!
Sibile comemorou comendo uma perdiz... Pinhão, bolinha e os outros animais acompanharam tudo atentamente. A vida fluía com paz e tranqüilidade.


Viamão, 20 de setembro de 2008.
Autoria: Fernanda Blaya Figueiró

7 -Será que era??
Sibile estava comodamente instalada, em sua árvore, quando sentiu um estrondo...!! Curiosa, espiou, com cuidado, e, para sua surpresa, um enorme palco estava sendo descarregado, do interior de uma jamanta. Isso mesmo! Um palco! Armações de ferro, tablado de madeira e toldo de lona...!!
- Ora, vejam só! _A cobrinha pensou. – O que será que está acontecendo?
O dia prometia ser movimentado. O lagarto Adroaldo interrompeu, correndo, seu habitual banho de sol. Na correria, passou por ela e comentou:
- Sibile!_Chamou baixinho_ Ouvi comentários de que vai vir um montão de gente para cá... Para um show!
- Um show? De música?
O lagarto olhou para ela, sem entender a pergunta.
- Não sei se é de música, mas precisamos sair daqui. Urgente!
Adroaldo era um pouco alarmista; ficou falando sobre os carros chegando, as pessoas construindo barracas, estendendo panos no chão e pisando em tudo.. Algo meio parecido com o “Apocalipse da estrada”. Para Sibile, um negócio sem muito sentido.
- Nunca acontece nada, aqui - Ponderou ela - Não vou sair de casa; quero ver tudinho... !
- Ah! Sei! – Respondeu o lagarto – Depois, não vai ficar aí bancando a serpente mal entendida. Eu tô sumindo, tchau! Mania que vocês cobras tem de se meter com gente...
Adroaldo saiu, resmungando, e com ele, foram os pássaros, as borboletas, os coelhos e_ até_ as aranhas. Sibile ficou bem quietinha! Não perderia aquilo, por nada do mundo!
Vários trabalhadores começaram uma barulheira danada. Sibile não conseguia dormir. Os homens discutiam, soltavam gargalhadas e comiam... Muitas latas de refrigerante. Algum tempo depois, o palco estava pronto, com iluminação, enormes caixas de som e dois telões.
De uma hora para outra, tudo aquilo que Adroaldo falou, aconteceu... À frente do palco ficou tomada de gente. E, pelo jeito, de várias tribos! Uns usavam cabelos coloridos, outros não usavam cabelos, uns tinham tatuagens, outros ferros nos dentes.
Churrasco de gato, maçã doce, tapioca e cachorro quente pareciam se misturar no vento. Era tanta gente fumando, comendo, bebendo, que Sibile chegou a enjoar. Mas ficou firme em seu posto!
Em pouco tempo, não havia mais lugar para uma mosca, de tão cheio que o campo ficou.
A noite já ia longe, quando um estranho silêncio tomou conta do ar. As luzes iluminaram, só o centro do palco; todos ficaram imóveis, como que hipnotizados, esperando algo.
Sibile prendeu a respiração, fixou o olhar, no centro do palco. Uma fumaça branca começou a aparecer, a cortina subia lentamente, até que uma guitarra rompeu o silêncio e levou o público á loucura. Sem saber por que, Sibile gritava junto com a multidão, que pulava, freneticamente, sacudindo a cabeça para frente e para trás...
- Que energia! Que vibração!
Sibile estava tomada por um tipo de torpor... Mas, estava contente, mesmo assim.
O show levou muito menos tempo, do que toda a preparação...
Assim que as luzes se apagaram, todos foram embora, deixando o chão imundo e pisoteado.
Sibile estava exausta! Uma frase que foi repetida várias vezes retumbava em sua mente: - O Deus do Rock!
Sibile era uma serpente de sorte!Enfim, havia conhecido Deus! Um carinha bem legal, pensou.


Viamão, 28 de setembro de 2008.
Fernanda Blaya Figueiró


8 -Oráculo

Na manhã seguinte ao show a mesma equipe de homens veio desmontar o palco. Sibile ainda estava exausta, o silêncio foi rompido pelo barulho da jamanta que chegava. A cobrinha, que era muito curiosa, resolveu ir ver de perto o local onde o Deus do Rock havia estado pessoalmente.
O campo estava coberto de copos, papeis e restos de comida. Sibile deslizou por aquela sujeira toda, aproximando-se com cuidado, subiu a enorme montanha de ferro e chegou até o palco, só que não havia nenhum vestígio de Deus.
Da jamanta desceram os mesmos trabalhadores do dia anterior. Sibile achou que estava segura, pois imaginou que eles recolheriam o lixo. Só que eles começaram imediatamente a desmontar a grande armação. Ela estava bem no meio do palco, sem ter como se esconder.
- Uma cobra! – gritou um dos homens – Mata! Mata!
- Cuidado! – disse um outro – È uma coral e verdadeira...
Todos os trabalhadores resolveram se armar e investir contra Sibile... Para sua sorte, o palco desabou com o peso deles. Sibile foi jogada para longe, bateu a cabeça perdendo os sentidos.
Acordou horas mais tarde, com a visão turva e o corpo dolorido, estava no meio do mato. Havia anoitecido e a luz da lua iluminava uma grande fonte esculpida em pedra. Da boca de um poderoso oráculo corria um filete de água pura.
- A Fonte da Sabedoria! – exclamou Sibile.
No outro lado estava esculpida a figura da rainha das cobras, a Naja Sofia.
Sibile endireitou o corpo, baixou os olhos e bebeu um pouco da água sagrada, purificando o espírito. A escultura contava a história do encontro de Sofia com o grande oráculo.
Segundo a lenda tudo aconteceu nas montanhas geladas da Índia, cansada de viver com um encantador de serpentes a grande Naja subiu o pico mais alto em busca de resposta as sua angustias. Na reclusão encontrou a magnífica escultura de um oráculo coberto de neve e esmeraldas. Ao aproximar-se sentiu, vindo das entranhas da terra, a força do oráculo. – Quem ousa se aproximar da Fonte da Sabedoria? Sofia não respondeu, demonstrando respeito. Em seguida ergueu o corpo e a cabeça em sinal de força e coragem. Fitou os olhos do oráculo, como fazia com o encantador de serpentes, demonstrando superioridade. – O que desejas saber! Oh grande Naja! – Indagou o Oráculo. – Porque os homens não gostam das cobras? – Respondeu imediatamente. O oráculo silenciou por alguns instantes e logo projetou na neve uma sucessão de imagens: Agar, Eva, encantadores de serpentes, navegadores assustados, adoradores e adorados. Cobras e serpentes de todos os tempos. – O Homem teme aquilo que não domina. – respondeu o grande oráculo. Uma nevasca cobriu tudo e Sofia retornou para contar ao mundo o que descobriu. O segredo foi transmitido de geração para geração, chegando a Sibile.
A cobrinha retornou tranquilamente para sua árvore, não precisava temer os homens e nem idolatrar seus Deus do Rock.

Viamão, 29 de setembro de 2008.
Fernanda Blaya Figueiró.

9 -A Cobra Fumou!

A cobrinha Sibile estava doida da vida, por muito pouco não virou uma bolsa de festa! Isso mesmo que vocês ouviram. Pois é! Ela vinha pela estrada, de madrugada, sem incomodar ninguém, quando viu uma enorme caminhonete vindo a toda a velocidade em sua direção. Não teve nem tempo de se esconder.
De dentro do carro saíram um garoto e uma garota. Sibile ficou no meio da estrada usando a velha tática de fingir que estava morta. Eles chegaram bem perto e começaram a cutucá-la com uma vareta, ela agüentou firme, sem se mexer. O garoto voltou para pegar um saco dentro do carro e a garota ficou ali de olho nela. Enquanto isso eles falavam bem alto, para todo mundo ouvir, que ganhariam uma nota preta, fazendo uma bolsa com o couro de Sibile.
O seqüestro foi muito rápido, colocaram Sibile no saco e jogaram no chão do banco do motorista. Ela era forte e ficou quietinha esperando a melhor hora para salvar seu couro. Os dois riam e faziam planos de como gastariam o dinheiro, enquanto corriam feito loucos.
O garoto acelerou mesmo! Quando Sibile sentiu que ele ia usar o freio deu um bote em sua perna, sem dó nem piedade... Os dois viram foi um muro e bem de perto. A caminhonete explodiu logo em seguida, largando uma fumaceira. Sibile escapou sã e salva voando pelo vidro.
De longe viu os bombeiros ajudando os dois patetas, que choravam como crianças e tentavam explicar o que havia acontecido.
- A cobra!! Foi a cobra... – Eles diziam. Mas, os bombeiros não pareciam acreditar muito.
Também, quem mandou ficar cutucando cobra? Depois daquela noite ninguém mais se atreveu a cruzar seu caminho. Sibile não tinha veneno, mas sabia se defender.
Na chácara o boato que se espalhou foi de que a cobra tinha fumado cachimbo. O que era uma grande bobagem, já que Sibile sabia que o fumo é que era um veneno.
Bolsa de festa... Imagina!!!

Viamão, 06 de outubro de 2008.
Fernanda Blaya Figueiró

10- Dicas de Sibile para manter o couro

A cobrinha Sibile estava muito preocupada com sua segurança. Também, né? Por pouco, que não virou uma bolsa de festa...!1 Pensando nisso, resolveu criar uma lista de precauções, para manter seu lindo couro_ intacto.
Daquele dia em diante, fixaria, na porta de sua toca, a seguinte lista de precauções:
1. Nunca falar com estranhos, mesmo que pareçam bonzinhos.
2. Sempre informar a alguém aonde vai e quando retorna.
3. Manter o celular ligado.
4. Ligar o alarme da toca, toda a vez que sair.
5. Em caso de seqüestro, manter a calma. Não reagir! Você é uma cobra e tem uma excelente mordida, mesmo assim tome muito cuidado.
6. Evitar lugares com pouco movimento.
7. Telefonar aos seus amigos, antes de visitá-los. Não chegar de surpresa.
8. Levar somente o necessário.
9. Evitar fazer sempre o mesmo caminho.
10. Ficar “ligado!” Se achar necessário, gritar e chamar a polícia.
Sibile gostou de fazer a lista; assim não relaxaria com sua segurança, já que não queria passar novamente por aquele sufoco. Só que o mais importante era lembrar como a vida era bonita e cheia de coisas boas...!!
Pensando nisso, resolveu sair, para caçar; seu estômago estava coladinho e precisava repor as energias. Avisou o lagarto Adroaldo que faria um passeio, até a fonte. Lá devia ter algo para comer... Depois, pretendia voltar para sua toca e dormir um bom sono reparador. Com o alarme ligado!

Viamão, 20 de outubro de 2008.
Fernanda Blaya Figueiró


11 -Enfeite.

Chovia e a cobrinha Sibile estava literalmente entocada! Não tinha nada para fazer. Nas chácaras, tudo estava calmo.
Sibile resolveu deixar a preguiça, de lado, e ir procurara algo para fazer. Viu que Oto e seu pai preparavam o carro para sair. O garoto abriu o porta-malas e colocou vários objetos dentro. Onde eles estariam indo?
Logo em seguida, a mãe dele entrou no carro e o caseiro acenou do galpão.
Sibile fechou a sua toca, ligou o alarme, um antigo chocalho de uma prima cascavel. Deixou um bilhete, para o lagarto Adroaldo, onde dizia: - Fui passear com a família de Oto! E esperou no topo da árvore. Quando o carro passou, pulou para dentro, entrando pela janela de trás, que estava aberta. Uma manobra um tanto arriscada, já que a mãe de Oto detestava cobras e nem fazia segredo disso!
Ficou quietinha, escondida entre vários Cd´s e uma bela caixa que havia, no chão do carro. Pena que as cobras são surdas, pensou Sibile, tinha vontade de ouvir as músicas, mas como era muito sensível, encostou a barriga no chão e ficou sentindo a vibração.
Em pouco tempo, chegaram a um lugar muito legal. A família toda desceu. Sibile estava pronta, para descer, quando entrou, no carro, um motorista. E agora? Um outro homem abriu o porta-malas e pegou tudo o que estava dentro. Sibile sentiu que ficaria presa no carro. Resolveu então entra na caixa. Para sua sorte, a embalagem era muito folgada!
A caixa foi colocada com as malas em um carinho. Só que no elevador, foi trocada de lugar. As malas seguiram o corredor e a caixa ficou junto com muitas outras, em uma outra, enorme onde estava escrito: Presentes dos Noivos.
Tudo foi tão rápido que, quando Sibile se deu conta, já estava na frente de uma jovem muito bonita, toda vestida de branco. Ela estava muito nervosa e, para se acalmar, resolveu abrir os presentes.
Adivinhem qual foi o primeiro que ela abriu?? – Isso mesmo! O presente da família de Oto. Sibile congelou de medo e de frio. Quando viu que a moça desembrulhava o pacote, colou o cartão na boca e ficou imóvel. A noiva deu um grito que todo o hotel ouviu. – Uma cobra!!! .
A camareira entrou correndo e disse: - Calma! É só um enfeite. Sibile nem piscava! Muito menos, respirava!
A noiva relaxou e soltou um longo suspiro. Um copo de água com açúcar foi servido para acalmá-la. Olhou o Cartão e disse: Só podia ser coisa do primo Oto. Na caixa, havia uma linda peça de prata, que ela adorou.
- Quer guardar o enfeite? Perguntou a camareira. Deixa aí, que depois eu vejo! - respondeu – Agora, estou pronta pra qualquer coisa, até meu nervosismo passou. Uma cobra! Disse rindo. No dia do meu casamento! Por essa peça eu não esperava...
Sibile desmaiou assim que as duas saíram. Vocês acham que terminou aqui??? Que nada! Amanhã eu conto o resto! Sibile precisa respirar.

Viamão, 22 de outubro de 2008.
Fernanda Blaya Figueiró

12- Tobogã de Açúcar
Sibile passou um sufoco, tendo que fingir ser um enfeite no pacote do presente dos noivos. Para sua sorte a camareira deixou a porta do quarto aberta, ela aproveitou! Bebeu um pouco da água com açúcar que a noiva deixou sobre a mesa e saiu de fininho, um longo corredor levava até o elevador... Sibile olhou bem e preferiu as escadas... Não queria mais se meter em confusão.
A água com açúcar acalmava mesmo... Sibile estava se sentindo leve e tranqüila, subiu os degraus da escada até terminar. Passou por uma janela e chegou até um terraço fantástico. Já anoitecia e o pôr do sol era um espetáculo ao alcance de qualquer um. Sibile aproveitou a vista... Podia ver muito longe, mais do que de sua árvore. Via a serra a cidade e o mar. Pássaros voando e muita vida acontecendo.
Do terraço podia ver a agitação no salão, tudo estava impecavelmente organizado para esperar a chegada dos noivos. Sibile viu quando o carro estacionou e eles desceram, sob uma chuvinha de arroz. Logo em seguida os convidados começaram a chegar e o salão foi ficando cheio de vida... Música, comida, bebida e muita alegria!!! Um ritual muito legal - pensou a cobrinha - Oto dançou a noite toda com Catarina, que pegou o buquê da noiva.
Sibile adormeceu num cantinho e quando acordou a festa já havia terminado. Entrou pela mesma janela, que tinha só uma frestinha aberta, acabou caindo sobre o bolo dos noivos. Escorregou como se estivesse num tobogã de açúcar, achou tudo tão divertido que ficou horas brincando...
Mas, precisava dar um jeito de voltar para o carro do pai de Oto, se quisesse rever sua casa... Desceu as escadas, deixando uma trilha de merengue por onde passava. Seu corpo foi ficando pegajoso e assim que chegou no térreo viu uma fonte com água bem limpinha, não pensou duas vezes antes de mergulhar. Neste instante o sol já estava alto. Sibile ficou no jardim aguardando, logo o motorista trouxe o carro e enquanto Oto se despedia de Catarina, ela aproveitou e entrou pela porta.
Quando voltaram para a chácara a chuva tinha parado, Pinhão pastava solto e o caseiro tratava os cachorros. Sibile voltou com um monte de histórias para contar.


Viamão, 28 de outubro de 2008.
Fernanda Blaya Figueiró

13-A arca


A cobrinha Sibile voltou, exausta, da festa de casamento! Comeu um filhote de preá e dormiu por um longo período de tempo, aconchegada, no interior do tronco da árvore em que morava.
Quando acordou havia um cartaz preso, em sua porta, que dizia assim:
Noite de Estréia “As Fantásticas histórias de Sibile!” – Não perca! Uma história narrada pelo Lagarto Adroaldo.
Sibile piscou os olhos! Não via nada de fantástico, em suas histórias. No cartaz, ela aparecia coberta de merengue, em meio ao bolo de casamento, tinha os olhos pintados e usava batom vermelho. O bolo estava sobre uma antiga arca entreaberta, de lá saia um pergaminho, no formato do corpo de uma cobra, que virava uma flauta e depois fumaça... Que sinistro! Quanto tempo teria dormido? Lembrava que tinha comido uma pequena preá. Normalmente, levaria algumas horas digerindo...
Já era noite e o silêncio dominava a chácara. Nem um grilo cricrilava... A estrada estava deserta e seca. O Ar? Parado! O coração dela acelerou e todo o seu corpo entrou em estado de alerta.
Sibile desceu o tronco de sua árvore, olhando, atentamente, para os lados. Por instinto, decidiu ir até o mato. Ao se aproximar da fonte, tudo estava escuro e quieto... A grande Naja Sofia continuava imóvel, diante do Oráculo, coberto de neve e esmeraldas: “O Homem teme aquilo que não domina.” A frase, com a grande sabedoria do oráculo, aparecia gravada na pedra.
Um eclipse escondia, momentaneamente, a lua. A cobrinha percebeu que nada poderia ser mais assombroso, surpreendente e fantástico, do que a experiência que estava tendo: Sibile era um ser dotado de vida.
Adroaldo passou correndo por ela: - Venha Sibile! O espetáculo já vai começar...
Está todo mundo esperando... Ele usava um manto vermelho e preto, imitando o seu couro e escondendo as patas. Com a voz séria e o olhar severo, o lagarto começou a contar inúmeras histórias de cobras célebres e anônimas que foi tirando, de dentro da arca. O povo riu, chorou, cantou, embraveceu, vaiou, aplaudiu e a noite foi passando... Quando tudo terminou o vento soprava, os sons eram os mesmos de sempre. Adraldo recolocou, cuidadosamente, todos os pequenos papeis, dentro da Arca, e fechou a caixa.

Sibile tinha adorado tudo, mas esperava uma explicação... O lagarto olhou para ela e falou, como se lesse seus pensamentos: - Essa Arca? É velha... Muito velha...
De Tempos em Tempos alguém abre e solta as histórias. Afinal, quem conta um conto aumenta um ponto...!! Agora, as Fantásticas Histórias de Sibile estão lá... Perdidas! Ou, seriam Achadas???

Viamão, 30 de outubro de 2008.
Fernanda Blaya Figueiró

25 de mar. de 2009

Poema infantil

Olá!

Estou me dedicando mais a poesia. Mas sinto falta de atualizar este blog, então escrevi este poema.Depois retorno aos contos.

Um abraço,
Fernanda

A menina que não dizia
Todo mundo perguntava e ela não respondia
Todo mundo comentava e ela calava
Todo mundo falava e ela ouvia

Não dizia

.....
Um dia

A língua da menina destravou!

Deus nos acuda!

Ela disse:

Coisa com coisa! Tim tim por tim tim.

Uma palavra emendada na outra

Nem adiantava colocar ponto.

...

Reunidos, na sala de reuniões,
Todos se perguntavam
De onde essa menina tirou tudo isso?



Viamão, 25 de março de 2009

Fernanda Blaya Figueiró

4 de fev. de 2009

A poção de Osten

Um novo conto!

Beijos,
Fernanda.

A poção de Osten

A felicidade tem o cheirinho...De bafo de filhotinho!

É isso mesmo! Bafo de filhotinho é capaz de encantar qualquer um. Talvez só seja superado pelo olhar que os filhotinhos usam para hipnotizar, um olhar de quem precisa de cuidados. Por isso, quando um filhotinho nasce, a primeira coisa que ele faz é hipnotizar a própria mãe, depois, os outros seres que vivem ao seu entorno, para que cuidem dele até que consiga se virar sozinho.
Sabendo disso, o terrível e mal humorado Osten, um ratão do esgoto viciado em sofrimento, queria fazer uma poção contra bafo de filhotinho. Como seu mundo era escuro, sujo e pegajoso, ele queria que todo o mundo fosse assim.

Usando seus conhecimentos, da alquimia do esgoto, faria uma poção que, misturada ao reservatório de água, contaminaria toda a população. Seu plano era perfeito, só precisava colher um bafo de filhotinho, o que devia ser muito fácil de conseguir.

Naquele entardecer quente de verão, saiu de sua toca, levando, em um saquinho de farmácia, um pequeno vidro, vazio, de perfume. Bastava que um filhotinho soltasse uma baforada e seria o fim da felicidade, na cidade inteira...!!

Osten atravessou a rua correndo, muitos carros passavam em alta velocidade, pessoas andavam, de um lado para o outro, muito ocupadas. A vida de um rato, fora da toca, vale muito pouco. Ele precisava se esconder, coisa que não era muito fácil para um ratão. Com muito cuidado, entrou no pátio de uma velha casa abandonada. O portão estava caído e seu faro não se enganava: havia, no ar, um cheiro de filhotinhos...! Correu, pelos cantos de um muro, tomado de capim e montanhas de lixo. Embaixo de um tanque, viu Droca, uma autentica SRD, em pleno trabalho de parto. O som, inconfundível, de choro de recém nascido, tomava conta do lugar. Como todo malandro, ele sabia que precisava esperar a melhor hora para atacar. A noite foi passando e o ratão ficou imóvel, mas acordado.

Quando as primeiras gotas de orvalho começaram a cair, Osten percebeu que Droca dormia, com todos os filhotes aninhados, junto ao seu corpo. Em absoluto silêncio, aproximou-se do ninho, com agilidade, puxou, para fora, um dos pequeninos. O ratão separou o filhote da mãe e, com o rabo, fez cócegas, em sua barriguinha.... Então, o pequenino abriu bem a boca e soltou o seu primeiro bafo. Osten conseguiu o que queria.

A gata Noite não gostou nada de ver Osten, perto dos filhotes, mesmo que fossem de sua rival, e pulou do telhado para um latão. Com o barulho, Droca acordou, resgatando seu pequeno filhote e pulando, como uma fera, na direção do ratão, que fugiu apavorado.

Osten correu, desesperadamente, para fora da casa, Droca ficou junto a sua ninhada e Noite perseguiu Osten, atravessando a rua vazia, até a porta do imundo esgoto, em que ele morava. O sol já começava a iluminar a cidade, Noite precisava voltar para o telhado.

Droca agradeceu a ajuda da gata Noite... Os filhotes estavam salvos e dormindo como anjos.

No escuro esgoto, Osten sentou, para recuperar as energias gastas... Estava exausto! Mas muito contente. Em poucas horas, sua poção estaria pronta!

Respirou fundo e começou: Água de poça de chuva, lodo de beira de asfalto, lixo de mercearia... Palmilha de sapato de velho resmungão ... Pena de urubu... Bigode de ratão. Tudo fervido e refervido, no motor do exaustor, formando um óleo escuro e grudento.

Fazia um calor horrível, que anunciava a hora do meio dia. O ratão colocou um pano, no nariz, e abriu, cuidadosamente, o pote de perfume, com o bafo de filhotinho, misturando-o, na sua nojenta poção. Tapou tudo e deixou esfriar. Um sorriso de vencedor invadiu a sua face e uma alegria malvada brilhou_ nos seus olhos. Os sons da cidade começavam a diminuir, uma brisa, de chuva de fim de tarde, chegava ao esgoto. Perfeito para o que ele queria.

Osten comeu um resto de hambúrguer, bebeu um pouco da pinga do santo, pitou um toco de cigarro e esperou a melhor hora para sair.

O pote, com a poção, era muito pesado; resolveu amarrar ao corpo, como se fosse um burrinho de carga. Quando o último ônibus passou - o da meia noite -, decidiu que era hora de sair. Olhou bem para os lados e se esgueirou pelos cantos, subindo as escadas, sem problemas. O reservatório de água ficava bem próximo, bastava subir, por um dos pilares, e a felicidade acabaria de vez... Só que, ao pé da escada, a gata Noite esperava por ele. Osten foi surpreendido pelo ataque da gata, que, com uma patada, o jogou contra uma parede. Encurralado correu, atravessando a rua, e voltando a casa abandonada. Noite observou tudo, mas manteve a distância.

No pátio, Droca esperava por ele. Queria saber o que ele queria com seus filhotes. Osten ficou preso entre a cachorra e a gata.

- Eu queria o bafo de um filhotinho, para usar em uma poção! – Disse, em sua própria defesa.

As duas não acreditaram em suas palavras e diminuíram o cerco. Osten achou que estava perdido, só que um estrondo desviou a atenção deles. Um carro bateu em outro, em plena madrugada...!

O ratão aproveitou e fugiu correndo para sua toca... Quando estava entrando, escorregou e o pote, com a poção, caiu sobre ele...! Desmaiou...

O odor da poção misturava alegrias e tristezas, sofrimentos e felicidades. Osten sonhou _com muitas coisas belas e assustadoras. O bafo de filhotinhos o levou a sonhar com um lugar diferente.

Acordou, com um galo na cabeça, um gosto estranho na boca e uma enorme alegria por ainda estar vivo.

Naquela manhã, pegou carona ,numa carroça que passava pela cidade, e foi morar em um banhado, onde tudo era bonito e tranqüilo.

Nunca mais soube noticia dos filhotes e nem da gata Noite. Mas, encontrou a felicidade, banhado em sua poção, e uma vez que a encontrou, nunca mais quis saber de sofrimentos...!!!



Viamão, 4 de fevereiro de 2009.



Autoria Fernanda Blaya Figueiró
Revisão: Angelita Soares

23 de jan. de 2009

Florida e as irmãs bruxas



Comprei estas bonequinhas e depois montei a história. Acho que ficou legal!

beijos,
Fernanda


Florida e as irmãs bruxas


Florida era uma bela menina que não acreditava em bruxas. Iriel e Frela eram duas irmãs bruxas, que não acreditavam em “não bruxas”.
- Todas as mulheres são bruxas! – Elas diziam. Algumas muito poderosas! Outras menos.
Do topo do mundo mágico, elas ficaram sabendo de Florida, por uma nuvem que passou, levando a notícia.
- Como pode? – Perguntavam-se - Essa menina acha que não existimos! Tão bonita, tão fofinha e tão sem imaginação!! Será que acredita pelo menos em fadas? Ou duendes e unicórnios?
Não! O caso era muito mais grave do que elas imaginavam. Florida era totalmente descrente do mundo mágico...!
As duas irmãs decidiram que isso não podia continuar assim.
- Essa menina envelheceu muito rápido! - disse Iriel, montada em sua vassoura – E tudo pode acabar acelerado: as estações do ano, os nascimentos, as felicidades, as angústias... Tudo mesmo!
Iriel e Frela tinham razões para tanta preocupação.
- Criança tem que ser: criança!... – Disse Frela – E toda a criança acredita em bruxas! Não é verdade?
Elas precisavam encontrar um jeito de fazer com que Florida acreditasse que elas existiam. Mas, como?
- Quem sabe, nós a trazemos para o nosso mundo? – indagou Iriel.
- Acho que não vai funcionar... – disse Frela – Florida vai achar que está sonhando. Acho que devemos ir até o mundo dela.
Iriel olhou assustada para a irmã, ir ao mundo real era um grande perigo... O mundo real enfraquecia qualquer ser mágico, até que ele deixasse de existir. Neste caso, Florida acabaria tendo razão, não existiriam mais bruxas, encantamentos, feitiços grandes ou, pequenos. Aos poucos, o mundo mágico terminaria e o mundo real ficaria muito assustador.
Retirando uma receita de um velho livro encantador, elas partiram. Com as seguintes palavras: Sim, Sim, Sala Bim, Bim Bim, as bruxas existem, Sim!*
Só que havia um recado muito importante, que dizia que: o encantamento não podia ser quebrado. Para isso, as duas bruxinhas precisavam manter viva a lembrança do mundo mágico. Deveriam repetir essa frase para lembrar de onde vinham.
- Sim, Sim, Sala Bim, Bim Bim, as bruxas existem, Sim!
Tudo correu muito bem; em poucos minutos, as duas irmãs estavam na cozinha da casa de Florida.
A menina estava sentada, brincando com sucata. Fazia o seu tema de casa, que era criar uma fantasia de carnaval.
Um alívio para as irmãs, já que uma fantasia não deixava de ser um pouco de magia. Só que Florida acha que fantasias também eram bobagens!!!
Com alguns palitos fez uma boneca. Sem nada! Só palito.
- Mãeeeeeeee! – Terminei o tema! – ela disse.
A mãe da menina estava muito ocupada. Não disse nada. A boneca ficou muito chateada! Como brincaria o carnaval, assim, desbotada e sem fantasia?
As irmãs resolveram entrar em ação:
- Sim, Sim, Sala Bim, Bim Bim, as bruxas existem, Sim!
Com o encantamento, a boneca ganhou uma voz:
- Florida! – Ela chamou – Olha pra mim.
Primeiro, a menina ficou assustada. Mas, logo entrou na brincadeira.
- Bonecas de palito não falam! – Disse, autoritária.
A boneca já ia perder a voz, quando as irmãs repetiram o encantamento.
- Sim, Sim, Sala Bim, Bim Bim, as bruxas existem, Sim!
- Eu queria uma fantasia de bruxa! – disse a boneca.
As irmãs adoram a idéia! Florida pegou papel dobrado, fez um grande chapéu e colocou nela. Depois, com um guardanapo, fez um vestido comprido. Gostou tanto de brincar que fez uma vassoura e uma estrela de cinco pontas. Marca registrada das bruxas. Um copinho virou um caldeirão; e uma bolita, virou uma bola de vidro encantada.
Os olhos de Florida brilharam! A boneca ficou linda!
As irmãs achavam que tudo corria muito bem, já estavam pensando em voltar. Quando, sem mais, nem menos, a menina jogou a boneca no chão.
E disse: Bruxas não existem.
As irmãs não se deram por vencidas:
- Sim, Sim, Sala Bim, Bim Bim, as bruxas existem, Sim!
Florida abriu a portinha do fogão a lenha. Estava pronta, para queimar a sua bonequinha.
Neste momento, sua avó chegou na cozinha e disse para ela, bem baixinho:
- Que linda sua bonequinha! Como ela se chama?
Ela não havia pensado em nenhum nome. Então, contou para avó que não acreditava em bruxas... Nem em fadas, unicórnios, ou anjos. Sua avó sussurrou, ao seu ouvido:
- Sim, Sim, Sala Bim, Bim Bim, as bruxas existem, Sim!
A boneca ganhou um nome: Bim Bim. Então, dançou! Pulou! E, festejou!Junto com a menina e sua avó.
Florida descobriu que existe um mundo mágico e encantador, que só as crianças e seus avós conhecem.
Iriel e Frela voltaram para casa num piscar de olhos. E tudo terminou muito bem, com uma nova marchinha de carnaval... - Sim, Sim, Sala Bim, Bim Bim, as bruxas existem, Sim!

* Brincadeira popular.
Viamão, 23 de janeiro de 2009
Autoria: Fernanda Blaya Figueiró
Revisão Angelita Soares

20 de jan. de 2009

O Monstro do Mar

Um novo conto!

Beijos,
Fernanda


O Monstro do Mar


O peixinho Veloz vivia numa enseada, perto de uma linda praia.Seu melhor amigo era Raridade, um golfinho rosa.
Na enseada existia um enorme jardim de corais, que tornava tudo muito bonito e colorido. Além de muito, mas muito! Divertido!
Só que, perto dali, havia uma caverna marítima, sombria e assustadora. Os moradores da enseada diziam que lá vivia um terrível e assustador monstro. Azul! Com olhos que brilhavam no escuro e uma cauda potente que destruía tudo por onde passava.
Raridade convidou Veloz para ir até a caverna e destruir o monstro.
- Você não tem medo? – perguntou o peixinho.
- Tenho! – respondeu o golfinho - Quando a gente tem um grande medo, o melhor é olhar para ele bem de perto.
- Mas! – continuou Veloz – O monstro nunca nos atacou!
Veloz tinha razão. Eles não sabiam se o monstro existia mesmo, nem que tamanho tinha, muito menos se ele era uma ameaça. Os dois amigos resolveram que, primeiro, tinham que conhecer o monstro e saber do que ele era capaz.
Juntos nadaram até a entrada da caverna. De lá vinha um barulho muito forte e assustador. Veloz entrou primeiro. Ele era menor do que Raridade e poderia fugir mais rápido, se fosse preciso.
O peixinho foi entrando e chamando:
- Seu Monstro!!! – Olá!!
A caverna devolvia as palavras do peixinho... Seu mooooooooonstro... Olá!!!, Olá... Veloz voltou correndo para a porta. Só viu a cauda do monstro, que era azul, como o mar e enorme...
- Então! – perguntou o golfinho.
- Ele existe! – disse o peixinho. E é enorme!!! Sua voz é potente e repete o que é dito. E agora?
- Agora?
- Nós já sabemos que ele existe... E, está em casa! E, acordado!
As coisas estavam feias para os nossos amiguinhos.
- A caverna é bem grande?- perguntou Raridade.
- Sim! – respondeu Veloz.
- Então vamos entrar juntos e enfrentar esse monstro.- Respondeu muito determinado.
O peixinho estava um pouco nervoso. O monstro devia ser muito grande. Mas, ele não queria passar por covarde, então respondeu:
- Eu lembrei que tenho que... Ir para a escola de peixes.
Raridade não aceitou a desculpa do amigo. Os dois foram entrando na caverna... Desta vez, bem quietinhos. Lá no fundo aparecia só a cauda do terrível monstro. Eles tremiam de medo!
Raridade esbarrou em uma lata velha, com o barulho o monstro resolveu aparecer...
- Quem está aí? – perguntou.
Os dois perderam a fala e tentaram fugir... Só que, era tarde de mais.
Do fundo da caverna o monstro apareceu! Era enorme!!Só que... Nem um pouco assustador.
Veloz e Raridade disseram, ao mesmo tempo:
- Um Cavalo Marinho Gigante!!!
O monstro do mar era, olhando de perto, muito dócil e gentil.
Ele contou que vivia feliz com sua família, no jardim de corais. Mas, começou a crescer, crescer! Além do normal! Os outros animais começaram a achar que ele era um tipo de monstro, só por que era diferente! Assim foi morar na caverna e nunca mais voltou para o coral.
Para a surpresa dos amigos, o monstro não queria sair da caverna. Por que lá era um bom lugar para viver: bonito e seguro.
Veloz e Raridade voltaram para o coral e não contaram nada para ninguém.Descobriram que o monstro era um Amigão!
Hoje! Eles quase morrem de rir das histórias sobre o: Terrível Monstro do Mar.

Viamão, 20 de janeiro de 2009.
Autoria: Fernanda Blaya Figueiró

14 de jan. de 2009

A espiga de milho

Olá!

Nesta nova fase do blog estou desenvolvendo pequenas histórias,tendo como personagens animais e plantas.

Espero que vocês gostem!

Fernanda
A espiga de milho

O burrico Alarico era um sujeito muito quieto, vivia comendo e descansando na sombra. Ou seja, levava uma vida mansa!
Um dia! Estava sentado, tranquilamente, comendo uma espiga de milho... Quando o pato Pacato, muito malandro, chegou perto dele e disse: que o coelho Valente estava de olho na sua espiga. Alarico odiava fofoca! Então, resolveu ir falar com o coelho. Só que deixou a sua espiga sob os cuidados do pato.
O pato Pacato, sem nenhum constrangimento, comeu todinho o milho. Ficando com a barriga inchada. Depois, soltando um suspiro, sentou para descansar. Só que ficou imaginando o que diria ao burrico Alarico.
-O que eu faço? – perguntava para si mesmo. O Alarico vai voltar e vai querer a sua espiga. E agora? O que eu faço?
Pacato já estava quase chorando de arrependimento... Quando ouviu um terrível estrondo...
- Que barulho medonho! – disse assustado – Será que é algum... fantasma?
Ficou bem quietinho, com o sabugo na mão e tremendo de medo...
- Pacato! – ouviu alguém chamar - Pacato!
O pato não queria nem se virar, de tanta aflição... Quando viu o barulho tinha vindo de uma caixa, que o burrico Alarico puxava, com a ajuda do coelho Valente.
Alarico ficou assustado com a cara de Pacato: ele estava inchado, branco e tremendo.
- O que aconteceu? – Perguntou.
Pacato precisava pensar ligeiro...
- Foi um... uma nuvem
- Nuvem?
- Isso! Uma nuvem de gafanhotos... Passou por aqui, e... E comeu todo o milho da espiga... Pode perguntar para quem quiser. Foi uma nuvem. É.
Pacato respirou aliviado, parou de tremer e escondeu a barriga. Valente e Alarico não duvidaram de nada, já que ele parecia tão calmo.
- Mas! Disse o burrico.- Você disse que o coelho Valente estava de olho no meu milho, não foi isso?
Pacato precisava sair de mais essa.
- Isso! Ele estava “cuidando” do seu milho... Cuidando...
- Ah! - Valente e Alarico não desconfiaram de nada. Pacato respirou aliviado novamente, já que sua história tinha “colado”.
Valente então abriu a caixa que estava cheia de espigas novinhas de milho.
- Nem te conto... – disse para Pacato – Foi uma sorte o Alarico não ter comido aquela espiga...
Pacato arregalou os olhos, o aroma das espigas era delicioso.
- Pois, como eu ia dizendo, - continuou Valente – aquele milho estava mofado... Podia ter dado uma dor de barriga nele, como deu na vaca Malhada. Coitada, anda de um lado para o outro...
Alarico, muito gentil, ofereceu milho para o pato, que não pode aceitar e saiu de fininho... Com uma dor de barriga danada.
O burrico Alarico e o coelho Valente sentaram e comeram calmamente. A vaquinha Malhada emagreceu e virou miss. Os gafanhotos nunca apareceram.
E o Pato Pacato nunca mais fez fofoca, nem futrica.

Viamão, 14 de janeiro de 2009
Autoria: Fernanda Blaya Figueiró

12 de jan. de 2009

O Segredo da Teia


O Segredo da Teia


Murthy era uma aranha pequenina e faceira, que passava todo o tempo fiando e tecendo, em um antigo prédio abandonado e sombrio. Muitas aranhas e insetos viviam lá, mas nenhum tecia tão bem quanto ela.
Ela vivia em paz e harmonia, até que a sua teia acendeu: ao meio dia era banhada por uma luz dourada. E, à meia noite, por uma luz prateada. O estranho acontecimento chamou a atenção dos outros insetos. Alguns acharam bonito, outros, que era feitiçaria. O boato se espalhou pelo prédio inteiro! Todos queriam descobrir qual era o segredo da teia.
Murthy acabou sendo condenada a não mais fiar e nem tecer, enquanto o mistério não fosse resolvido. O dia foi passando e ninguém descobria o que provocava aquele estranho brilho.
Com medo, os insetos decidiram que a teia deveria ser destruída. E, assim foi feito! A meia noite, de um dia de agosto, a teia veio ao chão.
Naquele lugar sombrio, tudo voltou a ficar sem brilho, como era antes.
A aranha não ficou nem um pouco chateada, pois faria uma nova teia. Só que primeiro precisava saber o que havia acontecido.
Usando um fio bem longo, subiu ao topo do prédio. Lá encontrou uma velha e sábia aranha.
- Eu estava esperando por você. - disse muito amável - Sente-se.
A aranha morava em uma caixinha de música, muito delicada, que servia de palco para uma bailarina solitária.
- Quem é a senhora? - perguntou. Observando que algumas plumas de pássaros, presas por um cordão , penduradas em um espelho , balançavam muito.
- Eu? Sou uma velha aranha solitária... Murthy, o brilho prateado da teia era o raio de luz de uma estrela e o brilho dourado - um raio do sol.
- Raios de luz? - indagou curiosa - Como eles entram?
A aranha mostrou para ela que havia um pequeno furo no telhado, os raios entravam por ele e refletiam no espelho, onde estavam presas as plumas.
- Se você tecer sua teia, em outro lugar, ela não vai mais brilhar. É isso o que você quer?
- Eu ainda não sei.
A aranha precisava descansar e deu corda na caixinha, a bailarina dançou delicadamente, ao som de uma melodia muito suave.
Murthy achou melhor ficar no topo e tecer sua nova casa, lá mesmo. Assim, não assustaria mais ninguém. A velha aranha informou que ali ventava e chovia. Mas, que mesmo assim, era um bom lugar para morar.
Murthy teceu a noite inteira. Como as condições eram precárias, fez um fio muito forte e resistente.
No outro dia, ao meio dia, por força do hábito, todos olharam para o lugar da antiga teia... E lá viram... Um longo fio dourado que subia até o telhado, onde uma bailarina brilhava e dançava, ao som de uma música misteriosa. As gotas de chuva penduradas na teia formavam um belo arco colorido, que, balançando com o vento, lembrava uma bandeira. E à noite um brilho, prateado e silencioso, iluminava uma aranha que tecia.
Assim, de simples tecedeira Murthy, foi passando por poderosa feiticeira. Essa história virou lenda e todo mundo descobriu que nunca se apaga o brilho de uma estrela, nem tampouco a luz do sol!

Viamão, 12 de janeiro de 2009.
Autoria: Fernanda Blaya Figueiró
Revisão: Angelita Soares

9 de jan. de 2009

SOS Samambaia

Um novo conto
beijos,
Fernanda



SOS Samambaia

Tudo fazia parte de um tempo meio doido! As mulheres queriam ser belas como: as samambaias, os melões e as melancias, e os homens achavam isso maravilhoso. Tudo fruto_ ou seria fruta?_ Sei lá _ de uma especulação comercial, um tipo de "negócio da china".
Bom, as plantas, aproveitando a grande publicidade siliconizada, resolveram começar um movimento de transformação (adivinhem só) das casas e mesas dos humanos...
O sal, o café e o açúcar, acostumados com a mídia, resolveram alertar os novos, ¨pop star¨, que isso seria muito passageiro. O café mesmo andava sofrendo, com oscilações da bolsa; uma hora, era o grande salvador da saúde humana; na outra, um vilão dos mais odiados. Sua cotação subia e, depois, caia. Assim, uma hora, era a salvação da lavoura, na outra, uma vergonha nacional.
Os vegetais queriam levar, para as casas das pessoas, paz, harmonia e alegria. O plano era fazer com que olhassem com mais cuidado tudo o que tinham, e não o que não tinham. Por exemplo: ficar feliz em cuidar de uma samambaia, aguando e afofando a terra. Ou ser alegrado por tomar um bom suco de mamão e uma fatia suculenta de melancia,das verdadeiras, ao invés de ficar se lastimando que faltava suco de caju, fatias de fruta do conde, ou ainda, tulipas vermelhas. Isso sem falar, é lógico, que podiam começar a olhar mais para o espelho e tentar encontrar beleza e harmonia, sem querer virar uma melancia. Nada contra dona melancia! Que isso fique bem claro!
Para conseguir seu intento, os vegetais resolveram falar com o seu Agenor, da quitanda. Isso aconteceu, num domingo, dos mais lindos. Ele chegou, como sempre, muito cedinho e foi, logo, levantando as cortinas e, antes que abrisse a porta, o melão falou baixinho:
-Ô, seu Agenor!
O homem colocou a mão nos ouvidos e fingiu que não ouviu nada. Adivinhem só a quem recorreu: Café, com açúcar, mas sem esquecer de colocar um pingo de sal sob a língua. Sentou, perto da máquina registradora, e disse:
- Preciso de férias... Isso! Semana que vem, vou pescar com o compadre....
Logo, em seguida, foi a vez da melancia:
- Calma, a gente queri...
Nem conseguiu terminar e seu Agenor saltou da cadeira.
- Quem está aí? - Perguntou, muito bravo- Apareça! E, com essas palavras, foi indo, em direção a porta, que ainda estava trancada, mas que ele abriu de supetão . A Samambaia nem tentou contato, viu que o homem não tava de brincadeira! Não deu dois minutos para ele voltar, acompanhado de um pai de santo, e dos bons! Foi quando a samambaia teve uma idéia, balançou seu vaso, até que caiu no chão. O pai de santo, usando um ramo de arruda, benzeu as frutas, verduras e plantas da quitanda.
A samambaia, coitadinha, acabou hospitalizada! Isso rendeu um caldo! As pessoas começaram a comentar a inusitada história, que virou paginas de jornal. Daquele dia em diante, foi criado o “SOS Samambaia”, um movimento de proteção às plantas ornamentais. Ter plantas em casa virou a maior sensação, sem falar em consumir sucos e fatias de mamão e melancia.
Já o seu Agenor_ largou tudo e foi pescar. Só que notícia corre mundo! O pessoal do mar está preparando um musical., só para ele, chamado assim:
“O que foi feito das sereias?”


Viamão, 09 de janeiro de 2009
Autoria: Fernanda Blaya Figueiró
Revisão: Angelita Soares

7 de jan. de 2009

Julieta, a borboleta.



Oi, Gente!

Esta foto tirei aqui em casa, então escrevi a história,

Beijos

Fernanda

Julieta, a borboleta.

Julieta, a borboleta, amava as flores de uma violeta. Elas eram pequenas, delicadas e perfumadas, vestiam um azul, violeta, com pequenas bordas brancas, como uma renda sofisticada, e um adereço, no miolo, amarelo como o sol e doce como o mel.
Todas as manhãs, ela passava pela janela, onde ficavam as pequenas, e sorvia um pouco do seu adocicado néctar, depois, muito apressada, seguia seu caminho, visitando outras flores e janelas.
Um dia, sem mais, nem menos, as flores desapareceram. Surpreendida, pelo inesperado acontecimento, Julieta parou, por alguns segundos, nas folhas adormecidas. Eis que: a janela fechou!... Mantendo a borboleta prisioneira, dentro de um vasto salão de festas. Seu coração pulou na garganta. Olhou desesperada, para o lado de fora; as outras borboletas seguiram a diante. Julieta precisava encontrar uma saída...!! Bateu, com força, suas pequenas patas, contra o grosso vidro, mas seu esforço foi em vão. Acabou caindo, exausta, no chão de pedras...!! Achou que seria seu fim; uma borracha amarela, que parecia uma pá móvel, colocou sobre seu corpo, uma redoma de vidro.
– Calminha, borboleta – Ouviu uma melodiosa e harmônica cantiga. Baixou a cabeça, para poupar energia. De dentro da redoma, presenciou uma barbaridade: - a luva de borracha estava recheada, por uma mão, que, sem dó, nem piedade, arrancou a violeta de dentro da terra e colocou-a em uma bandeja. Logo em seguida, preparou um outro recipiente, com uma terra muito escura e fofa, e ali, cavoucando um buraco, enterrou a violeta. Julieta quase desmaio; a mão, terminada a maldade, saiu de dentro da luva. Um olho, muito grande e arregalado, fitou a redoma com cuidado.
- Agora é você! Borboletinha... – Disse, de uma forma quase angelical.
Julieta petrificou de medo!
Mas, nem tudo estava perdido, a mão puxou, com cuidado, a redoma, e junto o corpo da borboleta, que, sem alternativa, teve que pular, para aquela palma aberta. Já se imaginava espremida e amassada, pelo menos, seria enterrada junto, com a sua amada violeta...! Até que um sorriso iluminou o olhar aterrador. A janela abriu e a redoma caiu, a palma aberta libertava a borboleta. Ar puro, sol meigo, água abençoada. Julieta voou para muito longe.
Os dias passaram e a lembrança se foi, Julieta passeava distraída, quando viu estava, frente a frente, com a janela. O encontro repentino trouxe lembranças de sua amada violeta. Julieta alçou vôo e, lá do alto, vislumbrou um milagre: as folhas da violeta estavam mais verdes e viçosas. Haviam crescido e tomado todo o vaso. Entre elas aparecia um pendão que, na ponta, trazia um botão. O botão, naquele momento, abriu e libertou as pétalas de uma linda flor violeta, com uma renda sofisticada e um perfume adocicado. Julieta não continha a alegria – ouviu, entre as nuvens, uma cantiga:
- Olá, borboletinha. Viu! Que amor é esta flor!
Depois daquele dia, Julieta entendeu que todos os amores são, na verdade, um só amor.

Viamão, 08 de janeiro de 2009.

Autoria: Fernanda Blaya Figueiró
Revisão: Angelita Soares

4 de jan. de 2009

O Grande Graxaim do Pampa

O Grande Graxaim do Pampa

Um bom contador de causos prende o olhar, suspende a respiração, hipnotiza o interlocutor e faz de conta que a vida é algo muito maior do que ela é.
Uma vez conheci um, são raros, e se denunciam num olhar que brilha, e num tipo de sorriso que mente e não se incomoda com isso. Num trejeito dos músculos da face escondia todos os segredos do mundo. Eu era muito pequena e nem tinha ainda este pêlo longo e grosso, propício para dias de inverno. Andava protegida pela sombra de minha mãe, disputando leite com meus irmãos.
Um dia, nunca esqueço, brincávamos de lutar, quando o chão tremeu... Mamãe ficou alerta e silenciosamente nos puxou para o tronco oco de um velho Umbu. O tremor, que todos os animais sentiram, foi provocado pelas patas potentes de um belo e pesado cavalo. Em seu lombo encilhado vinha este tal contador. Decidiu acampar justamente ao pé do Umbu. Mamãe foi para o fundo da árvore oca e mandou que ficássemos quietos e dormíssemos. Fazia muito frio e seu pêlo servia para aquecer-nos. De dentro da toca sentíamos o bafo quente do cavalo, e os movimentos grotescos do homem, que tratou de juntar gravetos e iniciar uma pequena fogueira. Meus olhos já não conseguiam ficar fechados, a fogueira era simplesmente linda, nela uma chama quente e cheia de vida dançava e crescia. Com muito cuidado, atraída pela beleza da fogueira, fui chegando até a porta da toca. Mamãe e os outros dormiam, como manda o bom senso. Encostei minha boca na raiz do Umbu e fiquei observando tudo. Depois, foram chegando mais cavalos, cada um com um homem. Barulhentos e desengonçados largavam coisas pelo chão e riam de qualquer bobagem.
Pedaços de comida, espetada em taquaras compridas, soltavam um aroma tentador. Eles comeram tudo! Um pequeno osso caiu bem perto de mim. Puxei com muito cuidado, nunca mais esqueci daquele gostinho, que colava no céu da boca.
A noite, uma das mais escuras de que me lembro, foi longa. Num determinado momento a cantoria parou e só se ouvia o estalar do fogo e o uivo do vento. O tal contador bateu com a ponta da faca no estribo do cavalo e todos olharam para ele. Minhas orelhas ficaram em pé e o meu pêlo arrepiou.
- Os amigos souberam da última aparição? – indagou olhando nos olhos dos outros. Um silêncio, seguido de pigarros e tossidinhas, indicava que todo mundo sabia, mas ninguém admitiria.
Que aparição será essa? – perguntei para mim mesma e logo em seguida vi na face do homem um sorriso, que não põe todos os dentes a mostra. Como ninguém se pronunciou ele continuou:
- Pois dizem que nestes campos, mais precisamente nestes matos e capões vivem os maiores Graxains dos Pampas. Semana passada, uma fêmea, muito linda, de pêlo cinza e patas brancas, foi vista, com cinco filhotes. Há uma recompensa, de muitas moedas, para quem trouxer a bichana... Pois, diz que... O pai das crias derrubou um rebanho de ovelhas... Só que... Foi a tiro... Graxaim malvado não é mesmo. - Todo os homens caíram na risada e um novo silêncio acalmou a noite.
Derrubar um rebanho de ovelhas era um crime muito grave, eu sabia disso, podia ser o fim dos Graxains do Pampa, naquela região. A fogueira havia apagado, os homens dormiam e os cavalos continuavam amarrados. Eu estava com medo e começando a congelar quando senti o calor de mamãe, ela nos convidava para partir em silêncio.
Passávamos bem no meio do acampamento quando o contador abriu os olhos e num movimento rápido colocou a mão na faca, que trazia na cintura. Minha mãe olhou bem dentro dos seus olhos, sem medo e sem baixar a cabeça, rosnou mostrando todos os dentes. Meus irmãos e eu nos escondemos entre suas patas traseiras e ela foi andando, vagarosamente, para trás. O homem baixou a mão e disse baixinho: - Vai!
Até hoje não entendi essa história, mas, fugimos dali e de longe ouvimos o uivo mais assustador de todos: O Grande Graxaim do Pampa saudava a lua e a liberdade.
Depois fiquei sabendo que quem derrubou o rebanho de ovelhas foi um daqueles homens. E quem descobriu tudo foi o tal contador de causos.
Agora ando sempre atenta e evito acampamentos e ovelhas... No mais, a vida segue tranqüila por estes caminhos do pampa.

Fernanda Blaya Figueiró
Viamão, 03 de janeiro de 2009