12 de fev. de 2011

Conto - Nem tudo no mundo é laranja.

Nem tudo no mundo é laranja.


Laranjinha era uma bonequinha que vivia num lindo jardim repleto de flores, seu mundo era alegre e iluminado, só que todinho laranja. Laranja é uma cor muito bonita, mas também cansa. O sonho da bonequinha era de conhecer um lugar com outras cores. Como era uma boneca de jardim, nunca saia do lugar, assim como as flores. Durante o dia Laranjinha recebia a visita de muitas crianças e também de passarinhos, borboletas,gatos, cachorros... Mas, ela tinha dois amigos muito especiais, Vitória e Miguel, um casal de namoradinhos. Todos os dias depois da aula eles se encontravam no jardim. Miguel não se separava de seu skate por nada e Vitória estava sempre com um livro de historinhas de baixo do braço. Laranjinha ouvia tudo o que eles conversavam, seus planos, suas promessas, suas brincadeiras. Um dia ela resolveu falar com os amigos sobre seu “problema” laranja.

- Vitória! - ela chamou – Por que aqui tudo é laranja?
- Como assim? - respondeu a menina- Nem tudo no mundo é laranja.
- Eu sei! - respondeu a bonequinha- Vejo as outras cores nas roupas de vocês, nas asas das borboletas, nas penas dos passarinhos, nos pêlos dos cachorros... Mas, aqui no jardim, só vejo laranja.

Vitória não entendeu direito o problema de Laranjinha, estava muito ocupada com o tema de casa. Miguel treinava uma nova manobra, muito complicada, só quando caiu no chão é que percebeu o problema da bonequinha.
- Já sei! - ele disse- Você está virada para o muro do jardim!
- Muro? - Laranjinha não entendeu nada- O que é um muro?
- Um muro é uma cerca... Algo que separa um lugar do outro, ou que protege de ladrões, da chuva... Entendeu?
- Entendi! - A bonequinha entendeu seu problema, mas não ficou satisfeita. Como poderia ver as outras cores?

O sol veio, foi embora, as borboletas vieram, foram embora, o mesmo aconteceu com todos os seus amigos. Antes da noite chegar o holofote laranja acendeu e iluminou o jardim. Pela manhã ela ouviu o sino da igreja e soube que era domingo, um dia em que o jardim ficava cheio de gente, menos quando chovia. Bem! Estava pronta para mais um dia igualzinho a todos os outros... Miguel e Vitória chegaram com uma novidade.
- Bom dia, Laranjinha! - eles disseram juntos.
- Bom dia- ela respondeu, educadamente, mesmo que seu dia não estivesse nada bom.

Pelo barulho ela sabia que o jardim já estava cheio de gente, podia imaginar como estava colorido e animado. Sentia no ar o doce cheirinho de pipoca e de maçã do amor.
- Hoje é domingo? - ela perguntou só para puxar conversa.
- É – respondeu Vitória – E nós temos uma novidade... Falamos com o Jardineiro e ele nos deixou trocar você de lugar. -Continuou Miguel. Você está pronta para a mudança?
- Sim... - respondeu ela com um aperto no peito. Queria a mudança, mas... E se ficasse com saudade de seu mundo laranja? E se ficasse com frio longe do muro? E se as borboletas não a visitassem mais?
- Calma! - disse Vitória- Se você não gostar do novo lugar pode voltar...

A Bonequinha sentiu um imenso alívio, sua roupa já estava molhada se suor só de pensar em sair do seu cantinho. Vitória, de brincadeira, tapou os olhos dela durante a mudança. Miguel ria das duas, pois parecia que iriam para muito longe.

- Um, dois, três... Três passos! - disse ele- Pode abrir os olhos, Laranjinha!!

Minha nossa... respondeu ela espantada...

Três passinhos adiante e o mundo era todinho colorido. Verde nas árvores, vermelho nas flores, amarelo nos pimentões, branco nas nuvens, azul no céu, marrom na terra, preto nas sombras, lilas nos bancos. Estava a três passinhos do gira-gira e do balanço, da gangorra e do escorregador. Agora podia ver tudo. Até as flores, que ficavam bem ao seu lado. Laranjinha estava se sentindo a boneca mais feliz do mundo, quando uma chuvinha caiu bem de mansinho e logo em seguida apareceu no céu um imenso arco-íris... Vitória e Miguel adoram a cara de espanto da bonequinha... Que ficou de “queixo caído” diante da beleza das cores. E tudo isso aconteceu a apenas três passinhos!

Fernanda Blaya Figueiró
12 de fevereiro de 2011