26 de mai. de 2008


Esta foto eu tirei aqui em casa dia 20/05/2008. Ás 6:20. Tudo a ver com o final do texto da Guabiju

Pi-ju

Oi!

Estes novos capítulos completam os dois últimos posts.
Autoria: Fernanda Blaya Figueiró
Co-autoria: Angelita Soares

Tem alguém aí?

Pi- ju voava, rápido, e sabia exatamente o caminho que deveria seguir; o ponto de luz estava cada vez mais próximo.
- Temos: galinha feliz, ovos frescos, leite puro, mel de abelha, própolis natural, queijo de cabra! – Informava a placa.
Pi-ju pousou,em uma goiabeira.Estava cansado e com fome...!!O aroma adocicado dos frutos maduros convidava para um “lanchinho”! Enquanto comia, avistou uma enorme guabiju, com muitos pássaros pousados, em seus troncos e ramos. As sementes da árvore cobriam o solo,formando um espesso tapete.
-Olá! – Disse, encabulado – Este é o Sítio do Tércio?
- Não! – Respondeu um Bem-te-vi – Aqui é uma granja..Este sítio, que você fala, fica na beira da Lagoa dos Patos.
- Lagoa dos Patos?! O que é isso??
- Uma grande aguada que fica naquela direção. Aquele pontinho brilhante é a luz do sol refletida na lagoa. Mas, porque você quer ir para lá?
- Eu morava na cidade, no pátio de uma casa, que tinha uma guabiju, bem novinha, e muito linda...!Mas os homens derrubaram a minha árvore e a aranha me contou que existe um lugar...
- ... Onde as aranhas tecem teias e os pássaros voam livres, as árvores crescem e a água brilha., o solo é fértil e a gente, mais humana?
- Isso! – respondeu alegremente – Você já esteve lá?
- Não... Eu não acredito nisso!
O sol começava a baixar..!!!Pi-ju precisava completar sua jornada; não queria perder o ponto que o estava guiando... A resposta amargurada do bem-te-vi não tirou sua energia. Com um salto preciso, retornou ao céu aberto.
Bem vindo ao Sítio do Tércio!
Pi-ju estufou o peito de alegria, saudou a todos, com um magnífico trinado. Aparentemente,era apenas mais um lugar com árvores, plantações, gado, ovelha, galinhas, uma casinha com chaminé e antena... Galpões e tratores..Voou até o alpendre e observou o homem que chegava, trazendo uma pequena muda de figueira.Usava calças jeans claras, alpargatas e camiseta. Assoviava uma melodia que lembrava um trinadinho alegre e curto..De dentro da casa, saiu uma mulher de cabelos presos e abrigo esportivo. Pela porta, sentiu um perfume convidativo, com cuidado, entrou pela janela e descobriu uma enorme torta de amores sobre o balcão...!!Estava quase lá, quando alguém acendeu uma luz muito forte e perguntou: - Tem alguém aí?

Fluxo de energia
Pi-ju bateu, com força, a cabeça,contra a porta do armário...Caindo, já desmaiado.
- Pai!! Tem um passarinho quase morto aqui, corre...
Tércio e Eudora correram para a cozinha. Melissa estava com Pi-ju desmaiado, em sua pequena mão. Júnior também correu para a cozinha, jogou um pouco de água na cabeça do passarinho, que logo despertou.
Pi-ju acordou tonto; a luz ofuscava seus olhos, a imagem da família parecia trêmula e ameaçadora! Tércio pegou-o, com muito cuidado.
- Um cardealzinho! – exclamou olhando bem para ele. Perdido, meu amiguinho?
- Que lindo! Posso ficar com ele? – indagou Melissa.
- Cardeais não gostam do cativeiro – respondeu, carinhosamente, Eudora – Mas, acho que, hoje, ele vai ter que dormir aqui...
- Fraco assim, vira uma presa fácil – completou Tércio, colocando o cardeal numa gaiola desativada. Júnior providenciou água e comida para o hóspede.
Pi-ju não entendeu nada, lembrou da aranha e do bem-te-vi. Passou uma noite muito triste, enjaulado...!! As sementes que lhe ofereceram eram gostosas e a água limpinha; aproveitou para restabelecer suas forças.
Com a chegada do sol, a alegria tomou conta dele, novamente, soltou seu canto, como nunca... Tércio apareceu de pijamas, olhos esbugalhados e sem entender nada.
- Calma! Não são seis horas ainda... Domingo, todo mundo dorme até mais tarde.
Pi-ju conseguiu o que queria. Tércio levou a gaiola até a janela da cozinha e abriu a pequena porta. A liberdade esperava por ele, mas Pi-ju não saiu, imediatamente.
Melissa apareceu carregando um gato de pelúcia pelo rabo.
- Pai! Que passarinho barulhento – Eu tô com fome!
- Aham! Vou colocar água para fazer café... Você põe a mesa... Por que será que ele ainda não saiu?
- Acho que ele quer um pedaço de torta - disse a menina, colocando uma migalha pela grade da gaiola.- Viu?
Pi-ju bicou, com cuidado, a iguaria oferecida por Melissa; ainda não tinha voado, pois não queria parecer mal agradecido. Cardeais são muito orgulhosos. Estufou o peito e agradeceu, com uma cantoria que acordou a lagoa inteira... Só Junior continuou dormindo; tinha voltado da festa, no meio da noite, e nada abalaria seu sono.
Eudora preferia suco no desjejum.
Depois da cantoria, Pi-ju fez um voou de reconhecimento. O sítio existia e o ponto iluminado também! Estava muito feliz!
Tércio sorriu. Agora, Piju poderia comer suas sementes e continuar o ciclo vital, tão necessário para a preservação da Vida.Na natureza, tudo se permutava e se perpetuava, em perfeita harmonia. Tércio também estava feliz. Linna e Acauã chegaram, um pouco antes do meio dia. Júnior foi buscá-los na parada do ônibus. Eles tinham adorado receber o convite para auxiliar no plantio da figueira. Em pleno outono, fazia um domingo, de muito calor.
Eudora preparava espaguete caseiro, saladas variadas e um molho todo especial, receita de família, enquanto isso, Tércio jogava dominó com Melissa.
- Que lugar! – Exclamou Acauã.
- Olá! – disse Tércio – Sejam bem vindos... !!!Está é minha esposa, Eudora. E, essa é Melissa, nossa caçulinha.
- Muito prazer! –responderam os dois, ao mesmo tempo.
Acauã trouxe “tijolinhos” de banana, um doce produzido em Maquiné e amplamente comercializado. Seu município tinha sido duramente castigado, no último vendaval. Mas, aos poucos, a vida estava normalizando.
- Estes doces parecem as pedras de dominó... – comentou Melissa. Vocês nem sabem o que aconteceu aqui em casa...!! Ontem , um passarinho entrou na cozinha, bateu a cabeça e acabou desmaiando... !
- Pobrezinho! – disse Linna – E ele ficou bem?
- Ficou ótimo! Tirou todo mundo da cama, de madrugada, cantando como um louco...!
O almoço foi muito tranqüilo; Linna e Acauã se deram muito bem, com todo mundo. Assim como Pi-ju, que passou a manhã inteira batendo papo...!!
Mais, á tardinha, escolheram uma bela coxilha, para plantar a mudinha. O outono era uma época muito boa para plantar. Pi-ju acompanhou toda a movimentação.
- Linna- disse baixinho – Aqui! Na árvore...
-Oi! – respondeu afastando-se um pouco dos amigos. Você é o passarinho que entrou na cozinha? Como você se chama?
- Pi-ju! – Porque vocês estão plantando essa árvore? Ela é especial?
- Sim! Eu ganhei a semente de uma amiga muito querida que já faleceu, Josefina.
- Eu morava em uma guabiju, mas foi derrubada. Por isso, vim morar aqui. Todos dizem que este é um lugar mágico. Mas eu ainda sinto falta de casa...!!
- Eu sinto falta de minha amiga Josefina, mas, ela já tinha mais de cem anos; sua hora chegou. Na natureza, é assim.
- Mas olha lá !!– disse o passarinho apontando para um montinho no chão. – Aquele montinho é o resto do corpo de uma lebre... Algum cachorro do mato comeu só um pedacinho...!!Isso não é certo.
- A gente fica com pena da lebre, mas toda a energia de seu corpo será aproveitada.Além do cachorro, os urubus vão se alimentar, depois as larvas, assim por diante, sucessivamente. A sua guabiju, também, vai ser decomposta, fertilizando o solo, doando energia, para que uma nova vegetação nasça e sirva de alimento para outras lebres, ou insetos. Ou sua madeira será utilizada para fazer papel, servir de combustível... Nada se perde. A energia se transforma, desde sempre.
- Aqui é um lugar legal para morar!- disse Pi-ju com convicção.- A lagoa é uma das imagens mais belas que eu já vi!
- É realmente muito linda! – Você canta muito bem Pi-ju; acho que logo você terá muitos amigos, aqui...!
- Eu já escolhi uma namorada e um bom lugar para montar um ninho... Você me ajudaria a plantar uma semente de guabiju?
- Claro! – Só que precisamos falar com o Tércio. Pois, não adianta plantar, em um lugar que ela não possa crescer.
- Não! Aqui, já existem muitas... Eu queria que fosse na cidade.
- Na cidade! É mais complicado...!!! Mas, posso levar a semente e ver se consigo alguém que tenha um bom pátio. Mas, por que na cidade?
- Por que senão, um dia, as cidades vão acabar ficando sem energia boa...
Pi-ju tinha razão, Linna coletou algumas sementes no chão. A energia que mais fluía na cidade era de dejetos...Uma coisa para ser pensada...
A figueira teria muito espaço para se desenvolver, Pi-ju, uma longa e divertida vida, afinal, a magia da natureza acontecia silenciosamente; um fluxo constante de energia, que Linna identificou, no brilho da lua que aparecia no horizonte...

21 de mai. de 2008

A mudança

A mudança

Autoria: Fernanda Blaya Figueiró
Co-autoria: Angelita Soares

Tum! Tum! Tum...
Pi-ju observava, atento: o machado, a serra, o sal. - O que será que a Guabiju fez?- pensava. Seu pequeno ninho tombou, antes da árvore...! O sal era para que nem um broto renascesse, nem um sinal; mataria as raízes e esterilizaria o solo.
Não tinha mais o que fazer; os boatos eram de que todas as outras árvores seriam derrubadas com o tempo. No lugar delas, os homens plantariam tijolos, cimento e pedras. Os passarinhos deles morariam, em enormes gaiolas, ou seriam, belamente, esculpidos em madeira, ou gesso.
Ygua-pi-ju_seu nome significava fruto-da-casca-rija, a comida predileta de Pi-ju e toda a sua família. – O que tá feito, tá feito...! Disse uma aranha que morava no tronco da árvore. – Dizem que há um sítio, onde as aranhas tecem teias e os pássaros voam livres, as árvores crescem e a água brilha... O solo é fértil e a gente, humana.
A aranha ficaria por ali mesmo. Mas Pi-ju resolveu arriscar, seguiu um ponto longínquo de luz...Em poucos minutos, chegaria ao Sítio de Tércio.

20 de mai. de 2008

Um bom problema

Um bom problema!
Autoria: Fernanda Blaya Figueiró
Co-autoria: Angelita Soares

Linna estava com um bom problema para resolver; a semente que ganhou de Josefina estava se transformando numa bela muda de figueira..!!Em breve, não poderia ficar no apartamento por muito tempo.
Mas? Onde plantar?
Pensou, inicialmente, em levar para Viamão, lá havia muitas figueiras.Logo, a mudinha se adaptaria bem. Mas, no pátio da casa de seus pais, já existiam duas, enormes; são árvores que precisam de muito espaço, apesar de sobreviverem nas condições mais absurdas, como numa fresta, nos galhos de outras árvores, nos leitos dos rios...!
Para plantar, no parque, precisaria de uma autorização bem complicada de conseguir. Nas calçadas e canteiros, era impossível...!!
Resolveu colocar um anúncio no jornal: Precisa-se de alguém interessado em adotar uma muda de figueira. Adverte-se que a muda necessita de cuidados, espaço e, como parte da flora nativa, é protegida pelas leis ambientais, não podendo mais ser removida. Além de muita atenção e carinho! Interessados contatar...
O inusitado anúncio causou a maior polêmica!Inicialmente, todos riram e Linna virou motivo de chacota. Mas, aos poucos, a idéia ganhou uma conotação diferente. As pessoas poderiam, sim, adotar plantas...!!
Uma semana inteira se passou, com Linna recebendo e-mail engraçadinhos e piadas. Ela era muito esperta, não rebateu, nem esquentou a cabeça...!!
Estava começando a pensar em novas alternativas, quando chegou o recadinho. Oi! Meu nome é Tércio, moro em uma chácara e tenho como adotar sua mudinha.
Marcaram encontro, na tradicional feirinha de sábado; Linna levou a mudinha e, junto com Acauã, esperaram pelo novo amigo. Tércio chegou, na hora combinada, era calmo e bem humorado. Conhecia tudo sobre plantas, ervas medicinais, cultivo orgânico. Conversaram, trocaram experiências e endereços.
Tércio convidou o casal para visitá-lo; Linna e Acauã estavam ocupadíssimos e não puderam aceitar o convite. Mas deixaram tudo combinado, para um outro dia.
Linna ficou um pouco triste, em se separar da mudinha, mas, era preciso. Quem planta uma árvore tem que pensar no futuro, no seu desenvolvimento, na alteração que vai trazer ao local em que foi plantada. Assim, como quem adota um cãozinho, um gatinho. Qualquer ser vivo. Afinal, de contas, Vida é Vida...!!!!