13 de abr. de 2011

Conto de Páscoa

De quem são estas pegadas?

Dedico este conto a Jane Peixoto e sua coelha Felícia e ao Clube de mães do Capão da Porteira.

Fifi estava muito intrigada no Domingo de Páscoa ,enquanto procurava o seu melhor vestido, encontrou algumas pegadas bem pertinho da janela. Tudo estava muito bem fechado, então ela não agüentou e berrou:
- Mãeeeeeeee!Mãe!! - E de longe ouviu:
- O que foi Fifi??- Você está pronta?... Os convidados já estão chegando...
- Estou quase pronta- respondeu Fifi. Só que tem umas pegadas perto da minha janela...
- Pegadas Fifi!!!
- Pegadas, mamãe!!! - disse sem muita paciência, os adultos estavam sempre correndo de um lado para o outro, então resolveu que ela mesma iria descobrir este mistério.
- Fifi!- Gritou do pátio o papai – O Coelhinho da Páscoa passou por aqui esta manhã... Ele deve ter deixado algo para você!
- O Coelhinho da Páscoa?
- Ele mesmo – disse o papai- Agora vista-se e desça!
Fifi colocou o vestido, escovou e prendeu o cabelo e resolveu seguir as pegadas. Ao lado do pé da sua cama estava um lindo ninho cheio de ovinhos e chocolates. Ela adorou , mas continuou muito invocada: como o coelhinho teria entrado no seu quarto se tudo estava tão bem fechado? A mamãe corria para preparar as saladas, o papai varria o pátio e seus irmãos estavam na frente da TV jogando vídeo game. Essa história está mal contada, pensou: três crianças, três cestinhas, pegadinhas só nos quartos. Como o coelhinho conseguia? Fifi resolveu fazer a volta e olhar sua janela de fora , bem que ela pensava, não tinha uma só pegadinha! Nem na varanda, nem no corredor da sala. Que coelhinho malandrinho!! As visitas já iam chegar e Fifi queria resolver este problema. Foi olhando cuidadosamente a cercado pátio, cantinho por cantinho e nada de pegadas. Quando menos esperava ouviu um barulhinho vindo do fundo do quintal...Tictictic!!! Tictictic!! Foi até lá bem devagarinho e sabem o que ela encontrou? Quem vai adivinhar? Deixa eu ver: O enorme cachorro do vizinho cavando? Ou um velho rádio quebrado? Não mesmo! Fifi encontrou uma toquinha!! Quem sabe o que é uma toquinha? Isso mesmo, uma casa de pequenos bichinhos. Seria do Coelhinho da Páscoa? Fifi ficou plantada olhando para a porta da toca. O barulhinho imediatamente parou....
Fifi queria porque queria descobrir quem morava ali. Sua mãe, lá de dentro da casa, chamava por ela. As visitas estavam chegando. Fifi ouviu um sussurro:
- Essa não!
- Quem está ai´?? – perguntou.
- Sou eu! E de dentro da toquinha saiu um lindo coelhinho...
- Você é o Coelhinho da Páscoa?
- Não! Sou Leléco um dos ajudantes dele e estou muito encrencado.
- Encrencado?
- Sim! Seus primos chegaram e não consegui colocar os ninhos... Agora vou ficar de castigo.
- Quem sabe eu posso ajudar, o que preciso fazer?
- Convide todo mundo para ir para a sala e eu entro pela cozinha, que tal?
Uma boa idéia e como vou fazer isso?
- Sei lá... Isso é com você ! Só posso deixar um pequeno rastro de pegadas... Se não perco pontos na minha carteira e perco o passe de coelhinho ajudante.
- Então vamos logo!
Fifi chamou todo mundo na sala, desligou a televisão e disse.
- Eu quero...
- Quer??? Fale logo Fifi! - disse seu irmão muito emburrado. Ele queria voltar a jogar.
- Quero desejar uma Feliz Páscoa para todos vocês e cantar uma musiquinha!Todo mundo olhou para ela, Fifi viu no fundo só a sombra de Leléco passando.
- Bem disse! Vocês vão ter que me ajudar... Todo mundo conhece a música do coelhinho?
- Que bobagem! – disse a sua tia - Claro é muito conhecida.
- Então vamos lá: “Coelhinho da Páscoa que trazes para mim... "
Enquanto todo mundo cantava Leléco cumpria sua tarefa. Fifi piscou para ele e sabia que deveria guardar bem seu segredo. Logo em seguida os primos a suas cestas acharam. E para Fifi, Leléco deixou uma carteirinha carimbada de ajudante de Coelhinho da Páscoa. Será que também serviria para o Papai Noel? Pensou. Mas, logo desistiu da idéia. A festa da Páscoa foi muito linda, passou até um filme com a história de Jesus, para quem quisesse assistir!!!


13 de abril de 2011
Fernanda Blaya Figueiró

Olha nosso amigo Leléco em sua toca e ganhando um abraço de sua amiga Fifi


12 de abr. de 2011

Histórias e mais histórias - Coletânea


Queridos leitores!

Organizei a coletânea "Histórias e mais histórias" , de textos infanto-juvenis, em duas partes: a primeira com contos e poemas e a segunda com pequenos ensaios de dramaturgia. Estes textos foram escritos desde 2006. São os textos que não são da persoangem Linna Franco, mas que fazem parte do blog ou que foram escritos em oficinas e trabalhos voluntários. De Linna Franco tenho os seguintes coletâneas "O Caso Araucária", "Lago Tarumã e Rota Náutica Cultural" e
"As Aventuras de Linna Franco!" todos publicados no blog e com registro junto a Biblioteca Nacional, além do texto "As Fantásticas histórias de Sibile". Minha produção para adultos, do mesmo período, está no blog www.fernandablaya.blogspot.com

Fernanda Blaya Figueiró
12 de abril de 2011

Agradeço a minha grande amiga Angelita Soares, que revisou grande parte dos textos, a Carmem Henke, que tem alguma parceria, a Jane Peixoto, que produziu o banner da Laranjinha e escreveu um poema, a Cataventus, muitos contos escrevi quando participava mais ativamente da Ong, ao pessoal do Viandantes , do ICV, muitas das histórias contei aqui em Viamão representando o movimento... a minha família que aguenta ouvir as histórias...A Zaira Cantarelli e a AGEI... São tantos os agradecimento que não quero esquecer de ninguém, então agradeço ao Universo.



Direitos autorias pertencem a Fernanda Blaya Figueiró e é proibida a cópia total ou parcial dos mesmos

Adcionei duas histórias que havia esquecido Lenço de Vinte e Quem criou as margaridas ( minha preferida).

Histórias e mais histórias – Primeira Parte
Coletânea de Contos e poemas de autoria de Fernanda Blaya Figueiró publicados no blog da personagem Linna Franco.

PátioNews - Cultural

O dia dos bobos!!!


Bum!Bum!Bum!...Bobo! Bobo!!
Bum!Bum!Bum!...Bobo! Bobo!!

No mundo da fantasia este é um grande dia
Bum!Bum!Bum!... Bobo Bobo!!
Bum!Bum! Bum!... Bobo Bobo!!

É o dia dos corações baterem forte de tanta alegria
Bobo é quem se acha sempre sorrindo... Todo arrumadinho
Bem penteadinho... Bobo é quem sabe brincar e dançar

É o dia de rir sem medo
De soltar a emoção e fazer brincadeira
Tomar banho de chuva, andar de pé no chão,
Comer pipoca colorida, jogar peteca e furar balão!!!

É dia de ouvir um pouco o próprio coração

Não tem expediente só sonho e
Fantasia
Muito antigamente era hoje que o ano
Começava!!! No fundo o ano gira.

Aproveite e ria com
A criança escondida ou o velhinho
Que perdeu o guarda-chuva !!!

Pobre moço que se acha!!
Cuidado com o andaime!! Cuidado com a escada!!
Cuidado com esse poema que ele logo desaba
Numa louca chuvarada!!!

É preciso ser criança
Criança ser para nesta chuva brincar?


Fernanda Blaya Figueiró
1 de abril de 2011



Quem disse?

O Pelicano Solito

Itapuã? Um refúgio?
Não! É muito mais...
É.
Itapuã É...

Uma realidade.

Aqui os sonhos deixam de ser sonho...
Aqui os projetos saíram do papel e as idéias da inércia...
O grito retumbou, a natureza respondeu.

Todas as perguntas tolas encontraram respostas sábias e tangíveis.

Há um futuro e ele é majestoso e sólido como o granito
A Natureza nunca perde nada.

Basta ouvir sem medo
Ver sem limites
Tocar com cuidado
Inalar a mata
Provar a água pura

A verdadeira homenagem que Viamão pode
fazer ao Lutz é
Amar incondicionalmente a "Criação"
 
 
03 de maio de 2008
Para o Sarau da Semana do Meio Ambiente (que não aconteceu)
Fernanda Blaya Figueiró


O Brincante


O Brincante vinha na perna-de-pau,
Não tinha olho de vidro, nem cara de mau.
Não era sonho nem brincadeira!
Trazia alegria para a sala inteira.

Vinha de muito longe,
Fazendo música com qualquer bonde...
De um mundo distante
Onde tudo era alegria.

Menina tristonha ganhava uma fronha!
Menino cansado um saco furado.
Cachorro sem banho?
O Brincante era ligeiro!
Tirava da manga um leque de cheiros.
Gato escaldado? Virava um bom soldado...

Doces ele trazia
Na sua lembrança
Balas de açúcar e uma lambança.

Assim ele seguia
Na perna de pau... Na rua sem sal...
Brinquedos não eram segredos,
Só fantasia e alegria

E assim partia a apatia na
Melodia do Brincante faceiro
E do seu pandeiro...

09/07/2008
Fernanda Blaya Figueiró


Poema Dedicado ao Tio Marquinho e ao Grupo Viandantes


Família Primata


Prima Primata
É dengosa e vaidosa

Sobe árvore, canta,
dança
Brinca, pula
Bate palma
Faz firula

Torce o rabo
Põe a língua
Nunca se cansa
Tudo na natureza está em
Constante mudança


Ganhou uma tiara colorida da
Prima Princesa
Já de sua saúde quem cuida
É a prima veterinária

Esse poema descabido ganhou da
Prima escritora


Bata palma, pule e dance
Que você também dessa família..


Fernanda Blaya Figueiró
10 de abril de 2011

A menina que não dizia


Todo mundo perguntava e ela não respondia
Todo mundo comentava e ela calava
Todo mundo falava e ela ouvia

Não dizia

.....

A língua da menina destravou...

Deus nos acuda!

Ela disse:

Coisa com coisa! Tim tim por tim tim.

Uma palavra emendada na outra

Nem adiantava colocar ponto.

...

Reunidos na sala de reuniões
Todos se perguntavam
De onde essa menina tirou tudo isso?



Viamão, 25 de março de 2009

Fernanda Blaya Figueiró


Primeiro Poema - O desafio


Quatro
quatro são as estações do ano
O verão, o outono, o inverno e a …
Primavera

Quatro
quatro são os elementos da natureza
O ar, a água , o fogo e a ...
Terra

Quatro
quatro são os pontos cardeais
O norte, o leste, o oeste e o ...
Sul

Quatro
Quatro são os personagens da nossa estória
O Leão Baio, a Gralha Azul, o Jacaré e a …
Grande Araucária

Um
O sol é apenas um como a
É uma a Lua
Já as estrelas são incontáveis

Pois bem!
Tinha a Gralha Azul uma grande missão
A de guardar os mistérios da Mata Atlântica.

Humhumhumhum.... humhumhum... humhumhum
Humhumhum!!!

25 de março de 2010
Fernanda Blaya Figueiró




Segundo poema – Um segredo


Um
Segredo a Gralha Azul guardou
Bem fechado na sua cachola
Só você vai ouvir o que ela sabia

Foi no topo da Grande Araucária que
Tudo isso aconteceu o
Conselho dos Anciãos lá em cima se formou

Feche bem os olhos e
Ouça os sons da mata
sinta o bater do
do seu próprio coração

O Leão Baio viu na terra o grupo se formando,
enquanto o Jacaré escondido da água a tudo assistia

A Grande Araucária de uma verde luz se iluminou
Sinta a força da floresta
o chamado do tambor dos Tamoios
São os lideres dos povos reunidos em paz e harmonia
todo mundo lá esteve numa outra dimensão


O segredo revelo agora muito fácil de saber
Contamos com vocês para combater a destruição do Planeta
para que a Natureza chegue até o Futuro
Todos estão unidos pelas forças do bem fazer

Tadeu o Jovem Guerreiro Tamoio o Conselho despertou
Ao olhar o arco-íris
sua missão se tornou
encontrar o equilíbrio das forças da natureza.




Terceiro poema – O amor

O conselho dos Anciões convocou a Assembléia
para ajudar a mata atlântica e recuperar sua força

A Gralha Azul assim falou:
O Homem precisa se integrar novamente com a natureza

Eu evoco
Acauã: A ave que ataca serpentes
Linna Franco: A força Branca,
Gi, A Força dos Lanceiros Negros
Tadeu : O Jovem Guerreiro Tamoio
E
Josefiana: O Feiticeira Centenária

Juntos vão combater
O malvado Carceiro
Um ganancioso caçador que por feitiço
aprisionou uma ambiciosa serpente

O chá de pinhões por Josefina preparado
Forças deu aos nosso guerreiros e
O malvado feitiço anulou


No céu a Ave e a Serpente uma batalha travaram
A Ave do cárcere a Serpente libertou

Assim a Grande Araucária não corria mais perigo
O Conselho dos Anciãos ficou seguro e a mata
Protegida com seus segredos
Ouça bem preste a atenção no que você vai agora descobrir
O amor é a força mais potente do Universo

E quem quiser saber toda a história
Na rede é só buscar

Linna Franco e o Caso da Araucária
52 são as páginas para quem tudinho quiser saber
essa história foi por mim contada em 10/10/2006
desde então é recontada e
Na rede livre navega para quem quiser neste
Barco entrar

Humhumhumhum.... humhumhum... humhumhum
Humhumhum!!!

25/03/2010

Fernanda Blaya Figueiró
www.linnafranco.blogspot.com



Quem criou as margaridas?

A pergunta ecoou pelo vale, numa voz terna e infantil. Ninguém soube exatamente de onde partiu, mas, uma vez enunciado, o problema exigia uma resposta.
Jean Baptiste, o mico pintor, assim batizado em registro e devidamente identificado por um chip, descendente de uma linhagem muito antiga, como se houvessem linhagens que não fossem antigas, achou a pergunta um pouco vaga. O vale era selvagem, entregue totalmente a natureza, logo não havia um cultivador de margaridas, elas apareciam com o vento, ou trazidas por pássaros. A verdade é que a pergunta lançou luzes sobre uma querela antiga, mais do que a linhagem de Jean Baptiste... Para encurtar caminhos respondeu ao vento: Foi Deus.
Porém, sentiu uma incontrolável vontade de pintá-las, imortalizando, assim, a bela criação. Seu olhar de artista observou atentamente as pequenas flores que formavam um grande tufo branco, amarelo e verde. Uma combinação perfeita de cores e de volume.
Nhandu a velha ema gaúcha, que passeava, placidamente, pelo vale, não deixou de notar a perfeição da reprodução.
- Parabéns! – disse, dirigindo-se a Jean Baptiste. - Seu quadro espelha com perfeição a beleza das margaridas... Uma perfeição, mais do que perfeita, até, eu diria.
- O sonho dos artistas, obrigada minha senhora, mas nada pode ser mais perfeito do que a natureza. O homem tendeu a intensificar as cores, a transformar os aromas, a redesenhar os espaços e olha o que aconteceu? Agora busca a pureza das coisas, a matriz... Quer beber a água na fonte, cristalina e pura.
- Não importa quem criou as margaridas. – sentenciou o mico pintor – Importa é que elas estão aqui, perfeitas e ao nosso alcance.
A ema raspou o chão com as patas e encontrou uma saborosa minhoca. O mico quebrou a casca de um coquinho de butiá. O vento soprou forte, balançando as margaridas, que absortas a tudo, sugavam água do solo. O sol começou a descer e a lua a aparecer timidamente. Nuvens coloridas instigaram a atenção do pintor. E as margaridas ganharam um contorno delicado no quadro. A ema procurou abrigo e o mico guardou as tintas. As nuvens mandaram água... As margaridas contaram a história de um mico e uma ema, que pintaram um belo quadro que refletia o mundo perfeito imaginado há muito tempo.
Viamão, 9 de dezembro de 2008.
Autoria: Fernanda Blaya Figueiró


Julieta, a Borboleta.

Julieta, a borboleta, amava as flores de uma violeta. Elas eram pequenas, delicadas e perfumadas, vestiam um azul, violeta, com pequenas bordas brancas, como uma renda sofisticada, e um adereço, no miolo, amarelo como o sol e doce como o mel.
Todas as manhãs, ela passava pela janela, onde ficavam as pequenas, e sorvia um pouco do seu adocicado néctar, depois, muito apressada, seguia seu caminho, visitando outras flores e janelas.
Um dia, sem mais, nem menos, as flores desapareceram. Surpreendida, pelo inesperado acontecimento, Julieta parou, por alguns segundos, nas folhas adormecidas. Eis que: a janela fechou!... Mantendo a borboleta prisioneira, dentro de um vasto salão de festas. Seu coração pulou na garganta. Olhou desesperada, para o lado de fora; as outras borboletas seguiram a diante. Julieta precisava encontrar uma saída...!! Bateu, com força, suas pequenas patas, contra o grosso vidro, mas seu esforço foi em vão. Acabou caindo, exausta, no chão de pedras...!! Achou que seria seu fim; uma borracha amarela, que parecia uma pá móvel, colocou sobre seu corpo, uma redoma de vidro.
– Calminha, borboleta – Ouviu uma melodiosa e harmônica cantiga. Baixou a cabeça, para poupar energia. De dentro da redoma, presenciou uma barbaridade: - a luva de borracha estava recheada, por uma mão, que, sem dó, nem piedade, arrancou a violeta de dentro da terra e colocou-a em uma bandeja. Logo em seguida, preparou um outro recipiente, com uma terra muito escura e fofa, e ali, cavoucando um buraco, enterrou a violeta. Julieta quase desmaio; a mão, terminada a maldade, saiu de dentro da luva. Um olho, muito grande e arregalado, fitou a redoma com cuidado.
- Agora é você! Borboletinha... – Disse, de uma forma quase angelical.
Julieta petrificou de medo!
Mas, nem tudo estava perdido, a mão puxou, com cuidado, a redoma, e junto o corpo da borboleta, que, sem alternativa, teve que pular, para aquela palma aberta. Já se imaginava espremida e amassada, pelo menos, seria enterrada junto, com a sua amada violeta...! Até que um sorriso iluminou o olhar aterrador. A janela abriu e a redoma caiu, a palma aberta libertava a borboleta. Ar puro, sol meigo, água abençoada. Julieta voou para muito longe.
Os dias passaram e a lembrança se foi, Julieta passeava distraída, quando viu estava, frente a frente, com a janela. O encontro repentino trouxe lembranças de sua amada violeta. Julieta alçou vôo e, lá do alto, vislumbrou um milagre: as folhas da violeta estavam mais verdes e viçosas. Haviam crescido e tomado todo o vaso. Entre elas aparecia um pendão que, na ponta, trazia um botão. O botão, naquele momento, abriu e libertou as pétalas de uma linda flor violeta, com uma renda sofisticada e um perfume adocicado. Julieta não continha a alegria – ouviu, entre as nuvens, uma cantiga:
- Olá, borboletinha. Viu! Que amor é esta flor!
Depois daquele dia, Julieta entendeu que todos os amores são, na verdade, um só amor.

Viamão, 08 de janeiro de 2009.
Autoria: Fernanda Blaya Figueiró
Revisão: Angelita Soares

A bruxinha que não sabia ler.

Dedico este conto a Lelé , pelo belo tempo que passamos na Cataventus e suas histórias de bruxinhas

Sneed era uma bruxinha muito esperta e querida, ela vivia num pedaço da mata atlântica brasileira, um lugar mágico e encantador, que estava sendo destruído por homens gananciosos e sem consciência.
A pequena tentava proteger a mata da destruição, fazendo encantamentos e feitiços de lua nova. Sneed não são sabia ler! Quer dizer, não sabia a linguagem daqueles homens. Só ouvia o lamento da Mãe Natureza. Via o assombro dos animaizinhos, que fugiam sem saber bem pra onde.
Os homens traziam papéis com muitas coisas escritas. Cheios de razão, ateavam fogo na mata. Jogavam veneno nos rios. Escalavravam a terra com pesadas máquinas. Largavam sementes estranhas nos sulcos. E as pobres plantas? Se não dessem o que eles queriam... Foice no pé.
Um dia estava preparando uma oferenda de lua cheia e encontrou um filhote de homem. Assustada ela se escondeu no tronco de uma grande árvore. O menino sentou pertinho dela, tinha nas mãos um livro cheio de coisas escritas e desenhadas.
Sneed tirou o chapéu, o lenço que usava no pescoço e fingiu ser uma menina. Aproximou-se dele e, como quem não queria nada, foi logo perguntando:
- O que você está fazendo?
- Lendo! – respondeu intrigado – O meu nome é Francisco, e o seu?
Ela precisava pensar rápido, um humano nunca pode saber o verdadeiro nome de uma bruxa. Lembrou da mata.
- Atlântica! – disse com firmeza.
Francisco não agüentou e desatou a rir. Logo pediu desculpas, disse que nunca tinha conhecido alguém que tivesse o nome da mata.
Sneed mostrou a ele toda a beleza e riqueza que havia bem a sua frente. Francisco leu para ela uma parte do livro que falava sobre a preservação da natureza. Os dois ficaram muito amigos. A bruxinha aprendeu a ler e descobriu que muitos homens estavam preocupados com a mata, com a vida dos animais e das águas.
Numa noite de lua crescente ela leu uma oração de um outro Francisco, que pedia proteção para os animais. Como a lua a oração cresceria no coração das pessoas.
Mas, foi numa lua minguante que a grande mágica aconteceu! Como encantamento a mata foi cercada e protegida. Francisco sorria com um papel na mão, onde tudo foi bem escrito. Sneed viu um círculo mágico de luz se formando e do papel surgiram às palavras: Reserva Nacional da Biodiversidade. E Francisco nem precisou explicar...
Hoje quem caminha pela mata fica encantado... Em qualquer lua!
Fernanda Blaya Figueiró
30/12/2007

A Dama

A nobreza de um ser não reside em sua origem, nem em sua raça ou posição social, mas na natureza de suas ações. Ao longo dos tempos as histórias vão se repetindo e se cruzando, nobres e avarentos agem e interagem.
Essa é a história de uma bela égua chamada Dama que, por circunstâncias do destino, foi abandonada, já na velhice. Vagava pelas ruas de uma cidade, sem nada, além de um coração generoso e um meigo olhar, procurando pasto e fugindo dos carros.
Cavalos e homens sempre viveram grandes histórias de amor e de ódio. Dama continuava meiga e bela, apesar do abandono. Seu pêlo era totalmente branco e sua crina longa e macia.
Um dia sua história cruzou com a de ser humano avarento... Nem nome o tal homem tinha... Atendia por velho, traste, carroceiro, ou ainda bêbado. Magro e maltrapilho vivia num amontoado de tábuas velhas cobertas com um pedaço de lona que chamava de casa. Ocupava seus dias recolhendo lixo, bebendo e futricando sobre a vida alheia.
Ao cruzar com Dama seu olhar de malandro logo viu que a égua ainda servia para puxar carroça. Com este perverso intento passou uma corda de nylon em seu pescoço e levou-a consigo. O porte altivo e a elegante pelagem levaram o homem a adivinhar seu nome... O que a induziu a segui-lo sem resistência.
A vida nas ruas era muito cruel e degradante, a égua achou que sua sorte havia mudado, sem imaginar a crueldade que a esperava: pouca água, pouca comida, o confinamento, marcado por uma corda envolvendo o pescoço e a árdua labuta de puxar a pesada carroça.
Seus dias viraram tormentos, suas noites solidão e medo. O homem passou a ganhar melhor, com o fruto do trabalho do animalzinho. Mas, desperdiçava tudo bebendo... Não melhorou sua casa, não cuidou de Dama, nem de si mesmo.
Perto dali vivia um jovem que a tudo observava, enternecido, acompanhava seu sofrimento. Nas prolongadas ausências do homem, passou a alimentar e tratar da égua.
Dama reconhecia o esforço do novo amigo e retribuía ao tratamento com a única coisa que possuía: um meigo olhar.
Passaram dias, noites, ventanias... Muito peso Dama carregou! O homem perdia a paciência com facilidade e, a pouca razão que tinha, por qualquer coisa.
Um dia quando voltavam de um longo frete... Dama estava exausta e a rua enlameada, escorregadia. A carroça atolou enquanto o homem, furioso, esbravejava e batia na égua... O jovem, indignado, saiu de sua oficina e conteve a bestialidade do homem.
Ao descobrir que a égua era, pelo jovem, amada... O homem foi tomando por um ciúme doentio e destruidor. Seus olhos explodiam de ódio e seu coração amargo foi tomado por rancor... Sozinho, sob a lona e escondido atrás das tábuas, bebia e amaldiçoava: - Com que direito aquele... – Essa maldita égua branca... – Dama? – Bicho ruim... Peste dos quintos dos infernos...
A égua sentiu, por instinto, que sua sorte ficaria ainda pior...
Ao amanhecer os pássaros não cantaram... O silêncio dominou as ruas...
O homem acordou com o sol do meio dia batendo na cabeça. Queria água. A carroça estava no mesmo lugar de sempre. E, ao lado dela, Dama dormia um sono eterno e reparador. Sua longa crina esvoaçava ao vento. Havia marcas de desumanidade por todas as partes, nas paredes, no chão, no machado cravado no tronco da árvore.
De sua oficina o jovem viu o último e libertador trote de Dama rumo ao infinito... Guardou no peito o seu olhar leve e meigo e teve a certeza de que tudo estava como tinha que ser.
O homem foi condenado a viver atormentado pelas lembranças de haver matado um anjo... Aquele que havia sido envido para libertá-lo dos sofrimentos.

Viamão, 23 de fevereiro de 2009
Fernanda Blaya Figueiró

A espiga de milho

O burrico Alarico era um sujeito muito quieto, vivia comendo e descansando na sombra. Ou seja, levava uma vida mansa!
Um dia! Estava sentado, tranquilamente, comendo uma espiga de milho... Quando o pato Pacato, muito malandro, chegou perto dele e disse: que o coelho Valente estava de olho na sua espiga. Alarico odiava fofoca! Então, resolveu ir falar com o coelho. Só que deixou a sua espiga sob os cuidados do pato.
O pato Pacato, sem nenhum constrangimento, comeu todinho o milho. Ficando com a barriga inchada. Depois, soltando um suspiro, sentou para descansar. Só que ficou imaginando o que diria ao burrico Alarico.
-O que eu faço? – perguntava para si mesmo. O Alarico vai voltar e vai querer a sua espiga. E agora? O que eu faço?
Pacato já estava quase chorando de arrependimento... Quando ouviu um terrível estrondo...
- Que barulho medonho! – disse assustado – Será que é algum... fantasma?
Ficou bem quietinho, com o sabugo na mão e tremendo de medo...
- Pacato! – ouviu alguém chamar - Pacato!
O pato não queria nem se virar, de tanta aflição... Quando viu o barulho tinha vindo de uma caixa, que o burrico Alarico puxava, com a ajuda do coelho Valente.
Alarico ficou assustado com a cara de Pacato: ele estava inchado, branco e tremendo.
- O que aconteceu? – Perguntou.
Pacato precisava pensar ligeiro...
- Foi um... uma nuvem
- Nuvem?
- Isso! Uma nuvem de gafanhotos... Passou por aqui, e... E comeu todo o milho da espiga... Pode perguntar para quem quiser. Foi uma nuvem. É.
Pacato respirou aliviado, parou de tremer e escondeu a barriga. Valente e Alarico não duvidaram de nada, já que ele parecia tão calmo.
- Mas! Disse o burrico.- Você disse que o coelho Valente estava de olho no meu milho, não foi isso?
Pacato precisava sair de mais essa.
- Isso! Ele estava “cuidando” do seu milho... Cuidando...
- Ah! - Valente e Alarico não desconfiaram de nada. Pacato respirou aliviado novamente, já que sua história tinha “colado”.
Valente então abriu a caixa que estava cheia de espigas novinhas de milho.
- Nem te conto... – disse para Pacato – Foi uma sorte o Alarico não ter comido aquela espiga...
Pacato arregalou os olhos, o aroma das espigas era delicioso.
- Pois, como eu ia dizendo, - continuou Valente – aquele milho estava mofado... Podia ter dado uma dor de barriga nele, como deu na vaca Malhada. Coitada, anda de um lado para o outro...
Alarico, muito gentil, ofereceu milho para o pato, que não pode aceitar e saiu de fininho... Com uma dor de barriga danada.
O burrico Alarico e o coelho Valente sentaram e comeram calmamente. A vaquinha Malhada emagreceu e virou miss. Os gafanhotos nunca apareceram.
E o Pato Pacato nunca mais fez fofoca, nem futrica.

Viamão, 14 de janeiro de 2009
Autoria: Fernanda Blaya Figueiró

A Lua e o Ratinho

Esta história foi contada por Áurea a seus filhos.

Era uma vez um Ratinho, muito pequeninho, que achava que a Lua era um Grande Queijo.
Toda a noite ele sentava em uma sacada e ficava olhando para a Lua e imaginando: um dia iria comer um pedacinho daquele grande queijo.
Ele construiu uma escada e cada noite tentava, sem sucesso, se aproximar. As noites iam passando e a escada crescendo.
Um dia cansado de tanto subir as escadas ele pediu as estrelas para chegar até o queijo. Com peninha dele uma estrelinha desceu até a Terra e contou para o ratinho que aquela era a Lua, não um grande queijo.
Muito triste ele não quis acreditar e foi para um cantinho chorando. As estrelinhas vendo seu sofrimento pediram ajuda para a Mãe Estrela.
- Podemos fazer uma cadeirinha e levar o ratinho até a Lua?
A Mãe Estrela deixou, mas avisou que elas deveriam contar para ele a verdade.
Naquela mesma noite as estrelas levaram o ratinho, numa cadeirinha, até a Lua. E lá ele teve uma grande surpresa: perto da caverna do Dragão de São Jorge, as estrelinhas deixaram um enorme queijo amarelo, todo furadinho!
O ratinho ficou muito feliz e voltou para a Terra trazendo da Lua o seu presente. As Estrelinhas brilharam como nunca naquela noite e todos viveram felizes para sempre. Isso é a mais pura verdade.

Para Áurea (Autora da história original) com um beijo,
Viamão , 20 de outubro de 2008
Fernanda Blaya Figueiró

Uma Tourada em Alvorada 
Produção coletiva fruto de uma atividade desenvolvida durante oficina de Contação de Histórias da Ong Cataventus. Autoria Fernanda Blaya Figueiró, co-autoria Vanessa, Franciele,Michele, Valeria, Eduardo Camargo,Eduardo Rosa, Mailson,Eder, Kelly,Eva Vitória,Bruno, Matheus,Paula,Franciele, Miriam,Nathaly,Fernanda,Amanda, Duane, Fabiana e Edna.  
 Esta é uma história para aqueles que têm o coração forte, bom! Ou, um bom coração!
Era meia noite. Tudo corria na maior paz do mundo, uma lua enorme enfeitava o céu. Todos dormiam tranquilamente em Alvorada, sem imaginar o que estava para acontecer.
Rick Filipe sonhava com aventuras e histórias, que estava aprendendo a contar, ele queria ser um grande contador de histórias. Lá pelas seis horas o despertador tocou. A lua já havia se escondido e o sol brilhava no céu. Meio tonto de sono o garoto acordou, se espreguiçou, lavou o rosto, tomou um bom banho, vestiu a primeira roupa que encontrou. Depois de tomar um café com biscoito estava pronto para começar o dia.
Rick Filipe, muito charmoso, vinha caminhando distraidamente pela avenida. Muitas pessoas passavam apresadas, indo para o trabalho ou para a escola. Ele passou por quatro mercados e pelo arroio. Tudo parecia muito normal, quando de repente... No meio do Parque Central, encontrou um Touro! 500 quilos de pura força. Meia tonelada de músculos. Frente a frente ficaram Rick Filipe e o Touro. Só neste momento foi que o menino se deu conta que usava uma calça vermelha. Aquele pano vermelho em movimento irritou o Touro para valer. Problemas! Dentro do pano estava : Rick Filipe. O touro bateu com as potentes patas no chão, ele se achava o dono do pedaço! Ou, quem sabe até o prefeito da rua. Correu com toda energia para cima de Rick, que apavorado, subiu em uma moto 1300 cilindradas e fugiu!!!
Muitas testemunhas presenciaram esta tourada para lá de atrapalhada. Há quem diga que o Touro acertou uma chifrada, bem no meio das calças vermelhas de nosso herói, que teria resistido bravamente. Outros contam que a tourada foi campo afora, no meio do Matagal; sendo que, Rick Filipe parou só nas praias do Rio de Janeiro e o Touro pegou prisão perpétua em regime fechado... Outros garantem com todas as letras que Rick Filipe comprou o touro, aposentou a calça vermelha e os dois ficaram muito amigos.
Essa história foi contada pra muitas crianças, num banco da praça da 48. E não esqueça de nunca desistir de seus sonhos... O de Rick Filipe se realizou hoje ele é um contador de Histórias. Agora se você não for nenhum toureiro espanhol e for andar por aquela avenida, tenha muito cuidado e nunca use uma calça vermelha. Pois em qualquer lugar você pode encontrar... O Touro de Alvorada.

A nuvenzinha brincalhona!(criei este título)
Livre adaptação de uma história infantil de autor não conhecido.

Essa é a história de uma nuvenzinha branca e fofa, que vivia no céu azul. Só que ela achava isso uma coisa muito da sem graça. Por que havia milhões de nuvens brancas e fofas vivendo no céu azul!! E ela queria ser especial, diferente! Quem sabe até uma vedete. Então resolveu brincar de imitar tudo o que cruzava o céu. Um avião... Brincalhona apertava daqui, esticava dali e: Poim! Virava um avião. Mas, logo cansava. Pipa? Ela adorava podia ser quadrada, bordada ou turbinada. Brincalhona virava revirava e desvirava. Um dia virou até uma linda estrela banhada de raios dourados de sol... Um espetáculo. Só que o tempo mudou! Ela estava se sentindo irradiante e enfim uma beleza de estrela. Massa de ar polar do sul esbarrando em massa de ar tropical vindo do norte. Brincalhona logo percebeu, sua festa estava acabando. Ficou triste e sentida e entre raios e trovões foi aquele aguaceiro. Cinco minutos de muita chuva de verão e uma enorme alagação. Brincalhona não era mais grandona. Estava triste reduzida lá no céu, de tanto chorar. Quando viu lá na terra uma festa: as sementes brotando e tudo crescendo. E as gotinhas que sobraram evaporando, com a ajuda de seu melhor amigo: o sol. Aos pouquinhos Brincalhona foi de novo enchendo.  Cruzou o céu, adivinhem só: uma pombinha... Brincalhona não agüentou, com um sorriso logo mudou. Agora! Toda a vez que você olhar para o céu preste bastante atenção, aquela nuvem branca e fofa, que parece um... É Brincalhona! Com toda a certeza!
beijos

Escrito a pedido de Erica Mylius, presidente da ONG Cataventus, segundo seu relato de uma história baseada em um antigo livro infantil.

06/11/2008
Fernanda Blaya Figueiró


O rio e a rua
Projeto Conte Outra vez- Cataventus
Oficina Novo Lar de Menores – Viamão

Em uma pequena cidadezinha tinha um rio e uma rua.
Na rua passavam cavalos, cachorros, pessoas, carros, carroças e muitos animais.
No rio havia flores, árvores, barcos, pescadores e muitos peixes.
O tempo foi passando a cidade crescendo, a rua ficando lotada, o rio poluído.
Na rua as crianças não podiam mais brincar, nem os carros andar. As carroças foram banidas, os animais desapareceram.
No rio as árvores secaram, as flores murcharam, os barcos encalharam, os peixes desapareceram e os pescadores enlouqueceram.
Até que um dia...
Se essa rua Se essa rua fosse minha Eu mandava Eu mandava ladrilhar...
Se esse rio Se esse rio fosse meu. Eu mandava Eu mandava drenar...
Só para ver o amor o amor retornar...
Com essa cantiga as crianças olharam para,
O rio da rua
A rua do rio
Aconteceu que um anjo apareceu...
Essa rua, essa rua, ela é minha,
Mas é sua, ela é sua também.
Quando chegou o fim do
Dia a rua brilhava e o rio também.

Produção Textual Coletiva dos alunos e da escritora Fernanda Blaya Figueiró
Glosa do poema Paraíso – José Paulo Paes – livro Poesia Fora da Estante – Editora Projeto. E na cantiga popular...
15/06/200

A paisagem

Faia entrou pela fresta da janela, o ateliê estava uma bagunça! Havia telas por toda a parte, potes cheios de tinta. E, muito material: folhas secas, flores desidratadas, sementes, fibras naturais, tecidos. Com agilidade percorreu as estantes, subiu na poltrona estampada com pequenas flores rosa mergulhadas no verde. O espelho refletiu sua imagem e a armação de madeira coberta com linho branco. Curiosa resolveu ver do que se tratava. Sem fazer barulho se colocou entre o objeto e a parede, mas, acabou derrubando a enorme tela no chão. Com o estrondo levou tamanho susto que acabou derramando todas as tintas...
Como se não bastasse a confusão, o vento entrou pela mesma fresta da janela... Esparramando tudo... Faia precisava fazer alguma coisa. Pulou sobre a tela... Estava com as patas cobertas de tinta quando a maçaneta da porta girou.
- Faia! … Miau! Respondeu girando a cabeça em direção a porta..
Lilibel soltou os ombros, tinha planos para todo aquele material. O espelho refletiu o sorriso murcho dela, a parede vazia, a gatinha manchada e... A tela no chão!
A garota lavou as suas patinhas e limpou seu pêlo, o sol entrou pela fresta da janela. Os passarinhos cantavam alegrando a vida.
Com o olhar atento e a ajuda de um pincel, Lilibel aproveitou tudo. Levou muitos dias para pintar um mundo diferente, com cores por toda a parte, sementes e fibras... Pegadas, assopro de vento, sol e música de passarinhos...
O espelho refletiu o sorriso da menina, a meiguice da gatinha. A paisagem mudou e o povo gostou...
Fernanda Blaya Figueiró
10/05/2008

A porta do fim do mundo.
Estava á procura da porta do fim do mundo, para passar-lhe uma tramela. Não era nenhum herói ou guerreiro, nem bruxo ou feiticeiro. Era pequenino e peludo. Tinha garras afiadas... dentes pontudos... e olhos brilhantes. Mas ,antes de partir, bateu a porta de Dona Bruxa, para pedir um conselho. Ouviu um rangido medonho e viu levantar muita poeira. A porta abriu, com dificuldade! E, lá, no fundo do corredor, Dona Bruxa apareceu. Usava um vestido comprido, muito bonito e esverdeado. Estava sentada perto de um poço, que refletia a luz da lua.
- Venha cá, bichano – Disse sem sair do lugar. - Como você se chama?
- Digo? Ou não digo meu nome a Dona Bruxa? – Pensou, assustado.
Foi chegando de mansinho e se aninhou, como para tirar um soninho.
- Que nome você acha que eu tenho? –Perguntou, como quem não queria nada.
- Gato angorá, laranja e branco, com um olho de cada cor... - Resmungou ela. – Que procura a porta do fim do mundo? Hum! Vejamos... Mitho? – Do poço, saia uma fumaça estranha – Então, meu pequeno, diga por que bateu em minha porta?
- Ouvi dizer que o fim do mundo se aproxima, vou passar uma tramela, na porta para que assim ela nunca se abra. Só que preciso chegar até ela. Dona Bruxa entendeu o problema.
- O mundo finda onde inicia. –Respondeu sem demora – Para achar a porta que abre o fim, tem que encontrar a porta que abriu o começo. Mitho, a viagem pode ser muito longa...
- Gato tem sete vidas – Ele respondeu, cheio de orgulho.
- Pois bem... Preste bastante atenção: a porta do início do mundo deve permanecer sempre aberta. O fim começa, quando a porta do começo se fecha. Entendeu?
Mitho entendeu tudo, direitinho. Deixou Dona Bruxa e seguiu, por um longo caminho. Até que chegou, em uma linda porta aberta, ornamentada, com um arco de flores... Mitho descobriu que o mundo não tem uma porta de fim, só de começo!
Seus temores acabaram e jogou, fora, a tramela!!

Autoria: Fernanda Blaya Figueiró Revisão: Angelita Soares
Viamão, 15 de novembro de 2008
Publicado no meu livro Arquivo Poético

Um conto de Natal - As Três Marias
Lá, do alto do céu, as Três Marias observavam a Terra, quando viram que, sorrateiramente, alguém tentava acabar com a alegria do Natal.
- O Natal é só comércio... O Natal virou uma porcaria... Não tem mais peru... Não tem mais presentes... Nem bolinhas, no pinheiro, tem...! Ou melhor, nem pinheiro... Que bobagem esse tal Natal... Natal!!! Natal!!...
Em muitos lugares diferentes do Planeta, eram ouvidos estes resmungos...
- O que podemos fazer? - Conversaram as estrelas, entre si.
Natal, sem alegria, não é Natal!
Órion , o grande guerreiro da constelação, resolveu ajudar!  Autorizou as estrelas a descerem, até a Terra, para procurar a alegria perdida. Por alguns dias, ficaria sem seu cinturão. Pelo poder de sua constelação, transformou as três estrelas em três anjos: Maria da Paz, Maria do Amor e Maria da Compaixão.
Mas o encanto terminaria, no dia 24 de dezembro , à meia noite. Porém, se as Três Marias não encontrassem a alegria, este seria o último Natal de todos.
O tempo começou a correr e elas desceram, com muito cuidado...! Cada uma foi parar ,  num canto diferente do mundo.
Percorreram cidades, florestas, praias, desertos...  Sempre perguntando: - O que é o Natal?
As respostas eram as mais variadas possíveis... Mas, uma que sempre se repetia, deixou as estrelas preocupadas... – Não sei! Ninguém mais sabia!
Pois é! As pessoas haviam esquecido a história do Natal... E Vocês amiguinhos ainda lembram?
Maria do Amor resolveu, então, começar contando a história de um menino, chamado Jesus de Nazaré. Um menino que veio ao mundo, para trazer uma mensagem, Maria da Paz continuou, falando de paz, amor e compaixão. Ele tinha nascido, em uma pequena estrebaria, aquecido pelo amor de Maria e José e na companhia de muitos animaizinhos. Maria da Compaixão contou que a Estrela de Belém  guiou os pastores e três reis, de lugares distantes, até o menino.
Elas contaram esta história, muitas vezes, para muitas crianças, jovens e adultos...
E, no dia vinte e quatro de dezembro, à meia noite, quando o grande guerreiro Órion apareceu, o mundo estava em festa; a alegria retornara, em todos os lares da Terra...!! Não importavam os presentes, as luzes e nem as fartas ceias... A alegria do Natal estava no sorriso de um menino, chamado Jesus de Nazaré...!!
Viamão, 24 de novembro de 2008.
Autoria: Fernanda Blaya Figueiró
Revisão: Angelita Soares

Colar de contasAutoria: Fernanda Blaya Figueiró
Co-autoria: Angelita Soares
Foi, num dia, em que o sol atravessou as gotinhas que molhavam o jardim, espalhando no ar um mundão de cores...!!Isso que era paraíso, sim!!!Um imenso jardim de flores...!!!
Elin usava um chinelo de seda e um vestido de flores... E parecia até...Uma fada de Amores...!!!
No alto de uma montanha bem alta, ela morava. E fazia  colares de contas, com pequenas sementes de abóbora que juntava.
Naquele dia, quis fazer um colar de contas coloridas, com muitas sementes diferentes... De todas as formas de vida...!!!
Um saquinho de algodão ela pegou e na casa dos vizinhos foi passando pra mudar sua criação.
Seu João tinha feijão, dona Ricota: pipoca. E, assim, ela foi enchendo o saquinho, com arroz, milho, lentilha, girassol, tudo bem  miudinho...!!!
Não faltou nem alfafa.
Com tudo aquilo, ela fez um lindo colar de coloridas contas... De uma a outra ponta.O tempo foi passando, as cidades foram crescendo e as sementes, pouco a pouco,  escasseando.
Elin contava as sementes que iam sumindo... Arroz? Não dá dinheiro e... Sumia o arroz... O ano inteiro...!
Feijão? Ninguém mais gosta... Lá se foi o feijão... Trigo? Dá praga... O pãozinho desaparecia... Nem um grãozinho nas padarias...!!
No alto da montanha, ela via que faltava o laranja da abóbora, o verde do abacate, o vermelho da maçã, o azulado da berinjela, e o encarnado do tomate...!!!
 Até o amarelo do girassol...Faltava em dias de sol!!!
Preocupada, foi buscar seu saquinho e, com a ajuda dos vizinhos, criaram vários pequenos jardins coloridos... Um só faz, mas faz pouco...Muito é feito, quando todos são unidos...!!!
A idéia virou moda e todos  queriam um jardim em casa...Formando uma grande e colorida roda...!!!
Os passarinhos adoraram, as sementes se multiplicaram e o sol pintou o céu de todas as cores...Como um formoso jardim de flores...!!!
Hoje, é assim, o colar de Elin, não tem mais fim...
Fernanda Blaya Figueiró
28/04/2008


Florida e as irmãs bruxas

Florida era uma bela menina que não acreditava em bruxas. Iriel e Frela eram duas irmãs bruxas, que não acreditavam em “não bruxas”.
- Todas as mulheres são bruxas! – Elas diziam. Algumas muito poderosas! Outras menos.
Do topo do mundo mágico, elas ficaram sabendo de Florida, por uma nuvem que passou, levando a notícia.
- Como pode? – Perguntavam-se - Essa menina acha que não existimos! Tão bonita, tão fofinha e tão sem imaginação!! Será que acredita pelo menos em fadas? Ou duendes e unicórnios?
Não! O caso era muito mais grave do que elas imaginavam. Florida era totalmente descrente do mundo mágico...!
As duas irmãs decidiram que isso não podia continuar assim.
- Essa menina envelheceu muito rápido! - disse Iriel, montada em sua vassoura – E tudo pode acabar acelerado: as estações do ano, os nascimentos, as felicidades, as angústias... Tudo mesmo!
Iriel e Frela tinham razões para tanta preocupação.
- Criança tem que ser: criança!... – Disse Frela – E toda a criança acredita em bruxas! Não é verdade?
Elas precisavam encontrar um jeito de fazer com que Florida acreditasse que elas existiam. Mas, como?
- Quem sabe, nós a trazemos para o nosso mundo? – indagou Iriel.
- Acho que não vai funcionar... – disse Frela – Florida vai achar que está sonhando. Acho que devemos ir até o mundo dela.
Iriel olhou assustada para a irmã, ir ao mundo real era um grande perigo... O mundo real enfraquecia qualquer ser mágico, até que ele deixasse de existir. Neste caso, Florida acabaria tendo razão, não existiriam mais bruxas, encantamentos, feitiços grandes ou, pequenos. Aos poucos, o mundo mágico terminaria e o mundo real ficaria muito assustador.
Retirando uma receita de um velho livro encantador, elas partiram. Com as seguintes palavras: Sim, Sim, Sala Bim, Bim Bim, as bruxas existem, Sim!1
Só que havia um recado muito importante, que dizia que: o encantamento não podia ser quebrado. Para isso, as duas bruxinhas precisavam manter viva a lembrança do mundo mágico. Deveriam repetir essa frase para lembrar de onde vinham.
- Sim, Sim, Sala Bim, Bim Bim, as bruxas existem, Sim!
Tudo correu muito bem; em poucos minutos, as duas irmãs estavam na cozinha da casa de Florida.
A menina estava sentada, brincando com sucata. Fazia o seu tema de casa, que era criar uma fantasia de carnaval.
Um alívio para as irmãs, já que uma fantasia não deixava de ser um pouco de magia. Só que Florida acha que fantasias também eram bobagens!!!
Com alguns palitos fez uma boneca. Sem nada! Só palito.
- Mãeeeeeeee! – Terminei o tema! – ela disse.
A mãe da menina estava muito ocupada. Não disse nada. A boneca ficou muito chateada! Como brincaria o carnaval, assim, desbotada e sem fantasia?
As irmãs resolveram entrar em ação:
- Sim, Sim, Sala Bim, Bim Bim, as bruxas existem, Sim!
Com o encantamento, a boneca ganhou uma voz:
- Florida! – Ela chamou – Olha pra mim.
Primeiro, a menina ficou assustada. Mas, logo entrou na brincadeira.
- Bonecas de palito não falam! – Disse, autoritária.
A boneca já ia perder a voz, quando as irmãs repetiram o encantamento.
- Sim, Sim, Sala Bim, Bim Bim, as bruxas existem, Sim!
- Eu queria uma fantasia de bruxa! – disse a boneca.
As irmãs adoram a idéia! Florida pegou papel dobrado, fez um grande chapéu e colocou nela. Depois, com um guardanapo, fez um vestido comprido. Gostou tanto de brincar que fez uma vassoura e uma estrela de cinco pontas. Marca registrada das bruxas. Um copinho virou um caldeirão; e uma bolita, virou uma bola de vidro encantada.
Os olhos de Florida brilharam! A boneca ficou linda!
As irmãs achavam que tudo corria muito bem, já estavam pensando em voltar. Quando, sem mais, nem menos, a menina jogou a boneca no chão.
E disse: Bruxas não existem.
As irmãs não se deram por vencidas:
- Sim, Sim, Sala Bim, Bim Bim, as bruxas existem, Sim!
Florida abriu a portinha do fogão a lenha. Estava pronta, para queimar a sua bonequinha.
Neste momento, sua avó chegou na cozinha e disse para ela, bem baixinho:
- Que linda sua bonequinha! Como ela se chama?
Ela não havia pensado em nenhum nome. Ela contou par a avó que não acreditava em bruxas... Nem em fadas, unicórnios, ou anjos. Sua avó sussurrou, ao seu ouvido:
- Sim, Sim, Sala Bim, Bim Bim, as bruxas existem, Sim!
A boneca ganhou um nome: Bim Bim. Então, dançou! Pulou! E, festejou!Junto com a menina e sua avó.
Florida descobriu que existe um mundo mágico e encantador, que só as crianças e seus avós conhecem.
Iriel e Frela voltaram para casa num piscar de olhos. E tudo terminou muito bem, com uma nova marchinha de carnaval... - Sim, Sim, Sala Bim, Bim Bim, as bruxas existem, Sim!


Viamão, 23 de janeiro de 2009
Autoria: Fernanda Blaya Figueiró
Revisão Angelita Soares

Fronteira da Paz

Essa é a história de uma vovó muito querida. Adivinhem só, ela era BrasiUruguaia. O que é isso?? Pois é! Vovó Castilhena nasceu no meio da rua, que une e não que separa, o Brasil e o Uruguai. Num dia lindo e maravilhoso...
Pai: Brasileiro! Mãe: Uruguaia! A menina foi chamada de Ana Riveira, mas o tempo foi passando e o apelido pegou: Castilhena.
Feliz da vida! Ela era muito alegre e animada. Desde pequena adorava contar histórias e fazer Palhaçadas.
Isso mesmo! Vovó Castilhena aprendeu tudo no circo. Pois um dia passou por lá uma Trupe Errante. O que é isso? Uma companhia de artistas do circo. Que só tinha uma pequena barraca, uma charrete e um belo cavalo estropiado. Há e também um coelho de cartola. E a cartola, isso nem preciso contar.
Ana Rivera tinha menos de vinte anos e já era a Vovó Castilhena. A criançada adorava as suas atrapalhadas. Uma dentadura que sempre caia. Uma dor nas costas que nunca sumia. Um reumatismo tinhoso e uma bengala sempre pronta para bater na cabeça de um e de outro.
No circo era adorada e invejada. Adivinhem logo por quem: O Coelho da Cartola.
Como nasceu na Fronteira da Paz, ela sempre relevava e o coelho adulava. Até que um dia o ciúme foi tanto, mas, tanto que o Coelho, cego de raiva, resolveu mandar Vovó Castilhena embora. Fez mexerico, fofoca e fiasco.
Vovó Castilhena estava pronta para por o pé na estrada, quando da Cartola saiu uma linda Pomba Branca e da Bengala um raio de Luz.
O Coelho entendeu tudinho e hoje o número mais famoso da Trupe Errante é o da vovó que tira um Coelho da Cartola.

Viamão , 20 de outubro de 2008
Autoria: Fernanda Blaya Figueiró
Para Luz Querida Esta história escrevi para a amiga contadora de histórias da Ong Cataventus Luz.


O Grande Graxaim do Pampa
Um bom contador de causos prende o olhar, suspende a respiração, hipnotiza o interlocutor e faz de conta que a vida é algo muito maior do que ela é.
Uma vez conheci um, são raros, e se denunciam num olhar que brilha, e num tipo de sorriso que mente e não se incomoda com isso. Num trejeito dos músculos da face escondia todos os segredos do mundo. Eu era muito pequena e nem tinha ainda este pêlo longo e grosso, propício para dias de inverno. Andava protegida pela sombra de minha mãe, disputando leite com meus irmãos.
Um dia, nunca esqueço, brincávamos de lutar, quando o chão tremeu... Mamãe ficou alerta e silenciosamente nos puxou para o tronco oco de um velho Umbu. O tremor, que todos os animais sentiram, foi provocado pelas patas potentes de um belo e pesado cavalo. Em seu lombo encilhado vinha este tal contador. Decidiu acampar justamente ao pé do Umbu. Mamãe foi para o fundo da árvore oca e mandou que ficássemos quietos e dormíssemos. Fazia muito frio e seu pêlo servia para aquecer-nos.
De dentro da toca sentíamos o bafo quente do cavalo, e os movimentos grotescos do homem, que tratou de juntar gravetos e iniciar uma pequena fogueira. Meus olhos já não conseguiam ficar fechados, a fogueira era simplesmente linda, nela uma chama quente e cheia de vida dançava e crescia. Com muito cuidado, atraída pela beleza da fogueira, fui chegando até a porta da toca. Mamãe e os outros dormiam, como manda o bom senso.
Encostei minha boca na raiz do Umbu e fiquei observando tudo. Depois, foram chegando mais cavalos, cada um com um homem. Barulhentos e desengonçados largavam coisas pelo chão e riam de qualquer bobagem.
Pedaços de comida, espetada em taquaras compridas, soltavam um aroma tentador. Eles comeram tudo! Um pequeno osso caiu bem perto de mim. Puxei com muito cuidado, nunca mais esqueci daquele gostinho, que colava no céu da boca.
A noite, uma das mais escuras de que me lembro, foi longa. Num determinado momento a cantoria parou e só se ouvia o estalar do fogo e o uivo do vento. O tal contador bateu com a ponta da faca no estribo do cavalo e todos olharam para ele.
Minhas orelhas ficaram em pé e o meu pêlo arrepiou.
- Os amigos souberam da última aparição? – indagou olhando nos olhos dos outros. Um silêncio, seguido de pigarros e tossidinhas, indicava que todo mundo sabia, mas ninguém admitiria.
Que aparição será essa? – perguntei para mim mesma e logo em seguida vi na face do homem um sorriso, que não põe todos os dentes a mostra. Como ninguém se pronunciou ele continuou:
- Pois dizem que nestes campos, mais precisamente nestes matos e capões, vivem os maiores Graxains dos Pampas. Semana passada, uma fêmea, muito linda, de pêlo cinza e patas brancas, foi vista, com cinco filhotes. Há uma recompensa, de muitas moedas, para quem trouxer a bichana... Pois, diz que... O pai das crias derrubou um rebanho de ovelhas... Só que... Foi a tiro... Graxaim malvado não é mesmo. - Todo os homens caíram na risada e um novo silêncio acalmou a noite.
Derrubar um rebanho de ovelhas era um crime muito grave, eu sabia disso, podia ser o fim dos Graxains do Pampa, naquela região. A fogueira havia apagado, os homens dormiam e os cavalos continuavam amarrados. Eu estava com medo e começando a congelar quando senti o calor de mamãe, ela nos convidava para partir em silêncio.
Passávamos bem no meio do acampamento quando o contador abriu os olhos e num movimento rápido colocou a mão na faca, que trazia na cintura. Minha mãe olhou bem dentro dos seus olhos, sem medo e sem baixar a cabeça, rosnou mostrando todos os dentes. Meus irmãos e eu nos escondemos entre suas patas traseiras e ela foi andando, vagarosamente, para trás. O homem baixou a mão e disse baixinho: - Vai!
Até hoje não entendi essa história, mas, fugimos dali e de longe ouvimos o uivo mais assustador de todos: O Grande Graxaim do Pampa saudava a lua e a liberdade.
Depois fiquei sabendo que quem derrubou o rebanho de ovelhas foi um daqueles homens. E quem descobriu tudo foi o tal contador de causos.
Agora ando sempre atenta e evito acampamentos e ovelhas... No mais, a vida segue tranqüila por estes caminhos do pampa.

Fernanda Blaya Figueiró
Viamão, 03 de janeiro de 2009

A poção de Osten
A felicidade tem o cheirinho...De bafo de filhotinho!

É isso mesmo! Bafo de filhotinho é capaz de embriagar qualquer um. Talvez só seja superado pelo olhar que os filhotinhos usam para hipnotizar, um olhar de quem precisa de cuidados. Por isso, quando um filhotinho nasce, a primeira coisa que ele faz é hipnotizar a própria mãe, depois, os outros seres que vivem ao seu entorno, para que cuidem dele até que consiga se virar sozinho.

Sabendo disso, o terrível e mal humorado Osten, um ratão do esgoto viciado em sofrimento, queria fazer uma poção contra bafo de filhotinho. Como seu mundo era escuro, sujo e pegajoso, ele queria que todo o mundo fosse assim.

Usando seus conhecimentos, da alquimia do esgoto, faria uma poção que, misturada ao reservatório de água, contaminaria toda a população. Seu plano era perfeito, só precisava colher um bafo de filhotinho, o que devia ser muito fácil de conseguir.

Naquele entardecer quente de verão, saiu de sua toca, levando, em um saquinho de farmácia, um pequeno vidro, vazio, de perfume. Bastava que um filhotinho soltasse uma baforada e seria o fim da felicidade, na cidade inteira...!!

Osten atravessou a rua correndo, muitos carros passavam em alta velocidade, pessoas andavam, de um lado para o outro, muito ocupadas. A vida de um rato, fora da toca, vale muito pouco. Ele precisava se esconder, coisa que não era muito fácil para um ratão. Com muito cuidado, entrou no pátio de uma velha casa abandonada. O portão estava caído e seu faro não se enganava: havia, no ar, um cheiro de filhotinhos...! Correu, pelos cantos de um muro, tomado de capim e montanhas de lixo. Embaixo de um tanque, viu Droca, uma autentica SRD, em pleno trabalho de parto. O som, inconfundível, de choro de recém nascido, tomava conta do lugar. Como todo malandro, ele sabia que precisava esperar a melhor hora para atacar. A noite foi passando e o ratão ficou imóvel, mas acordado. Quando as primeiras gotas de orvalho começaram a cair, Osten percebeu que Droca dormia, com todos os filhotes aninhados, junto ao seu corpo. Em absoluto silêncio, aproximou-se do ninho, com agilidade, puxou, para fora, um dos pequeninos. O ratão separou o filhote da mãe e, com o rabo, fez cócegas, em sua barriguinha.... Então, o pequenino abriu bem a boca e soltou o seu primeiro bafo. Osten conseguiu o que queria.
A gata Noite não gostou nada de ver Osten, perto dos filhotes, mesmo que fossem de sua rival, e pulou do telhado para um latão. Com o barulho, Droca acordou, resgatando seu pequeno filhote e pulando, como uma fera, na direção do ratão, que fugiu apavorado.
Osten correu, desesperadamente, para fora da casa, Droca ficou junto a sua ninhada e Noite perseguiu Osten, atravessando a rua vazia, até a porta do imundo esgoto, em que ele morava. O sol já começava a iluminar a cidade, Noite precisava voltar para o telhado.
Droca agradeceu a ajuda da gata Noite... Os filhotes estavam salvos e dormindo como anjos.
No escuro esgoto, Osten sentou, para recuperar as energias gastas... Estava exausto! Mas muito contente. Em poucas horas, sua poção estaria pronta!
Respirou fundo e começou: Água de poça de chuva, lodo de beira de asfalto, lixo de mercearia... Palmilha de sapato de velho resmungão ... Pena de urubu... Bigode de ratão. Tudo fervido e refervido, no motor do exaustor, formando um óleo escuro e grudento.
Fazia um calor horrível, que anunciava a hora do meio dia. O ratão colocou um pano, no nariz, e abriu, cuidadosamente, o pote de perfume, com o bafo de filhotinho, misturando-o, na sua nojenta poção. Tapou tudo e deixou esfriar. Um sorriso de vencedor invadiu a sua face e uma alegria malvada brilhou_ nos seus olhos. Os sons da cidade começavam a diminuir, uma brisa, de chuva de fim de tarde, chegava ao esgoto. Perfeito para o que ele queria.
Osten comeu um resto de hambúrguer, bebeu um pouco da pinga do santo, pitou um toco de cigarro e esperou a melhor hora para sair.
O pote, com a poção, era muito pesado; resolveu amarrar ao corpo, como se fosse um burrinho de carga. Quando o último ônibus passou - o da meia noite -, decidiu que era hora de sair. Olhou bem para os lados e se esgueirou pelos cantos, subindo as escadas, sem problemas. O reservatório de água ficava bem próximo, bastava subir, por um dos pilares, e a felicidade acabaria de vez... Só que, ao pé da escada, a gata Noite esperava por ele. Osten foi surpreendido pelo ataque da gata, que, com uma patada, o jogou contra uma parede. Encurralado correu, atravessando a rua, e voltando a casa abandonada. Noite observou tudo, mas manteve a distância.
No pátio, Droca esperava por ele. Queria saber o que ele queria com seus filhotes. Osten ficou preso entre a cachorra e a gata.

- Eu queria o bafo de um filhotinho, para usar em uma poção! – Disse, em sua própria defesa.
As duas não acreditaram em suas palavras e diminuíram o cerco. Osten achou que estava perdido, só que um estrondo desviou a atenção deles. Um carro bateu em outro, em plena madrugada...!
O ratão aproveitou e fugiu correndo para sua toca... Quando estava entrando, escorregou e o pote, com a poção, caiu sobre ele...! Desmaiou...
O odor da poção misturava alegrias e tristezas, sofrimentos e felicidades. Osten sonhou _com muitas coisas belas e assustadoras. O bafo de filhotinhos o levou a sonhar com um lugar diferente.
Acordou, com um galo na cabeça, um gosto estranho na boca e uma enorme alegria por ainda estar vivo.
Naquela manhã, pegou carona ,numa carroça que passava pela cidade, e foi morar em um banhado, onde tudo era bonito e tranqüilo.
Nunca mais soube noticia dos filhotes e nem da gata Noite. Mas, encontrou a felicidade, banhado em sua poção, e uma vez que a encontrou, nunca mais quis saber de sofrimentos...!!!



Viamão, 4 de fevereiro de 2009.
Autoria Fernanda Blaya Figueiró
Revisão: Angelita Soares

Chegou o dia de celebrar!
Preste muita atenção na história que hoje eu vou contar. Era uma vez um lugar de clima muito árido, meio deserto. O povo apelidou a região de desertão. Com o tempo a palavra foi minguando, como a lua, e virou Sertão.
Um Sertão muito brasileiro. Foi lá que tudo começou. Havia uma sementinha, muito bonitinha, pequeninha, pequeninha, se chamava Minguadinha. Ela morria de medo de viver no sertão, pois, as histórias que ouvia não eram muito boas não. Falavam em seca, em falta de água e muito trabalho, para pouco resultado.
Minguadinha queria ser uma bela planta, sonhava em fartas colheitas. Então se escondia toda a vez que alguém no silo chegava. Ficava quietinha, num cantinho. As pás enchiam os sacos de sementes grandes e corajosas. Minguadinha ficava sozinha.
Só que um dia veio para o sertão uma nova família e o silo já estava quase vazio, com poucas sementes. Então foi a sua vez. Uma mão muito calejada encontrou nossa amiguinha bem num cantinho e lá ela se foi pra dentro de um saquinho...!!! Seu coração  disparou. Estava saindo em direção ao sertão. Aquele lugar sem água e sem esperança, que sempre ouvira falar.
A viagem nem foi muito longa... Nas costas de Vô Januário todo mundo se acomodou: muito feijão, muito milho e Minguadinha. Essa tratou de se segurar numa felpinha de sisal, matéria de que era feito o saquinho.
Pois bem, chegando a casa, Vô Januário tratou de virar o saquinho sobre uma enorme lona. As sementes estavam um pouco amarrotadas, de ficarem lá no fundo do armazém.
Ele reuniu todo mundo e disse:
- Olha! Agosto vai terminando e é hora de plantar. Vocês tão voltando agora da cidade, ainda lembram como se faz??
Josué ainda lembrava, passou muito tempo nestas terras, antes de buscar trabalho. Sua esposa, Deise, sabia fazer costura como ninguém, mas plantar?? Já, Vitor Batista, era especialista em computador e a caçulinha Dodô só conhecia feijão no prato. Eles haviam volta para a pequena cidade por saudade do avô e da vó.
Com um rastel ele foi ventilando as sementes. Enquanto isso, Dodô sacudiu bem o saquinho e ouviu um barulhinho assim: pim, pim, pim. Adivinhem! Minguadinha deu três pulinhos antes de parar. E, como tremia de medo! A mãozinha delicada da menina foi logo lhe segurando com carinho.
- Vô Januário? E essa aqui??
- Hum! Hum! Minguadinha! Deve de tá perdida, pois é uma semente de jerimum.
- Dá pra plantar jerimum no Sertão?
Vô Januário coçou a barbicha, tirou o chapéu e disse:
- Dá pra plantar de quase um tudo no sertão, mas, tem que saber cuidar. Deixa ver... Você quer ficar com ela?
Os olhos pretos da menina brilharam, teria sua própria plantação.
Vô Januário escolheu um lugar bem perto da casa, ali tinha uma caminha de palha seca, sob ela a terra estava fresquinha. Muitas minhocas pulavam e faziam buracos, afofando bem a terra. Vô Januário foi mostrando bem as coisas para a netinha, como fazer o buraco, como colocar a semente e principalmente como cuidar. A lua era boa.
Minguadinha primeiro ficou muito assustada, estava escuro embaixo da terra e de toda aquela palha.. Só que com a água que Dodô colocou, matou a sede. As minhocas eram muito queridas e logo vieram conversar com ela.
A noite foi a maior festança, todo mundo veio receber a nova família. Vó Belina preparou muitas guloseimas, jerimum recheado, bolo de fubá e cocadinha. Vó Januário tocou violão e todo mundo ficou brincando e dançando. Dodô conheceu um monte de gente, Vitor Batista foi convidado para virar: Professor. O Padre foi quem fez o convite, ele ensinaria computação pra toda a molecada... Foi tudo tão tranqüilo que Minguadinha adormeceu como um anjo.
Na manhã seguinte sentiu umas cócegas bem no umbigo. Quando menos viu, um broto começou a crescer e se esticar. Seu grande medo havia acabado, com a luz do sol, a terra fofa e a água limpa ela crescia. E crescia. E crescia. Vieram folhas verdes e viçosas. Flores laranja e belas e frutos enormes. Minguadinha se espalhava pela palha, pelo pátio inteiro. Foi crescendo, crescendo e tendo muitos frutos.
Hoje o dia é de celebrar, Minguadinha, quem diria ganhou até uma medalha : O maior pé de Jerimum do Sertão.
Acredite se quiser... Foi bem assim que aconteceu!
Viamão, dois de setembro de dois mil e oito.
Fernanda Blaya Figueiró
Para minha nova amiga Dadau e sua comunidade. Com votos de que dê uma boa contação de histórias e muitos frutos. Escrito a pedido de Dadau e Taís Fonseca.

O ladrão de sonhos.
Tinha um furtivo andar e um olhar preciso...Para aquilo que podia levar. Mas não era um ladrão comum, destes que batem carteiras e roubam senhas. Era um ladrão de sonhos!
Não usava capa e nem máscaras de meias, para ocultar a face, mas, sim, um outro disfarce, o de Sabichão. Suas vítimas preferidas não traziam grandes posses, mas eram ricas em esperança e alegria... A alegria de sonhar, quem sabe, com uma festa na praça, ou uma tarde de poesia. Um banho de cachoeira! Uma bela refeição por fadas preparada. Uma corrida num camelo, nos desertos da Arábia. Subir o topo de uma grande montanha, ou colocar o pé, no oceano, e sentir como a terra respira.
O Sabichão, por trás de óculos redondos, chegava, destruindo tudo:
 - Ah! Que besteira! Festa na praça, coisa mais brega!  Festa tem que ser em “club”! Poesia se lê à noite, nunca, à tarde! Banho de cachoeira é ultrapassado! Fadas, cruz credo, coisa mais antiga!  Camelo, queridinha, não tem coisa mais sem graça! Topo de montanha! Pé no oceano! Faça-me o favor! Tudo isso já foi feito!! A Terra respira? Oh, imagenzinha mais gasta!
E, assim, ele ia, roubando sonho por sonho. Destruindo e engolindo as alegrias de um povo simples e trabalhador, que só queria sonhar, um pouquinho. O Sabichão não media esforços, para acabar com a fantasia. Só que não sabia que afiava a própria guilhotina. O povo foi se cansando de tanta danação e ninguém mais ouvia o falso Sabichão.
E essa nossa breve história terminou, assim:O povo continuou sonhando e trabalhando e o Sabichão acabou  preso, numa rede de desgostos, que ele mesmo teceu.
Quem cruza a praça mal vê a agonia do resmungão: - Mas, eu sei! Eu Li! Eu disse... Eu, eu é que sei... Sabia? Sabichão, o ladrão de sonhos, perdeu seu andar e seu olhar, junto com sua alegria.

Viamão, 11 de novembro de dois mil e oito
 
Autoria: Fernanda Blaya Figueiró
Revisão: Angelita Soares

O Monstro do Mar


O peixinho Veloz vivia numa enseada, perto de uma linda praia. Seu melhor amigo era Raridade, um golfinho rosa.
Na enseada existia um enorme jardim de corais, que tornava tudo muito bonito e colorido. Além de muito, mas muito! Divertido!
Só que, perto dali, havia uma caverna marítima, sombria e assustadora. Os moradores da enseada diziam que lá vivia um terrível e assustador monstro. Azul! Com olhos que brilhavam no escuro e uma cauda potente que destruía tudo por onde passava.
Raridade convidou Veloz para ir até a caverna e destruir o monstro.
- Você não tem medo? – perguntou o peixinho.
- Tenho! – respondeu o golfinho - Quando a gente tem um grande medo, o melhor é olhar para ele bem de perto.
- Mas! – continuou Veloz – O monstro nunca nos atacou!
Veloz tinha razão. Eles não sabiam se o monstro existia mesmo, nem que tamanho tinha, muito menos se ele era uma ameaça. Os dois amigos resolveram que, primeiro, tinham que conhecer o monstro e saber do que ele era capaz.
Juntos nadaram até a entrada da caverna. De lá vinha um barulho muito forte e assustador. Veloz entrou primeiro. Ele que era menor do que Raridade e poderia fugir mais rápido, se fosse preciso.
O peixinho foi entrando e chamando:
- Seu Monstro!!! – Olá!!
A caverna devolvia as palavras do peixinho... Seu mooooooooonstro... Olá!!!, Olá... Veloz voltou correndo para a porta. Só viu a cauda do monstro, que era azul, como o mar e enorme...
- Então! – perguntou o golfinho.
- Ele existe! – disse o peixinho. E é enorme!!! Sua voz é potente e retruca que é dito. E agora?
- Agora?
- Nós já sabemos que ele existe... E, está em casa! E, acordado!
As coisas estavam feias para os nossos amiguinhos.
- A caverna é bem grande?- perguntou Raridade.
- Sim! – respondeu Veloz.
- Então vamos entrar juntos e enfrentar esse monstro.- Respondeu muito determinado.
O peixinho ficou um pouco nervoso! O monstro devia ser muito grande, mas ele não queria passar por covarde, então respondeu:
- Eu lembrei que tenho que... Ir para a escola de peixes.
Raridade não aceitou a desculpa do amigo, e os dois foram entrando na caverna... Desta vez, bem quietinhos. Lá no fundo aparecia só a cauda do terrível monstro. Raridade e Veloz tremiam de medo!
Raridade esbarrou em uma lata velha, que soltou um forte ruído. E o monstro resolveu aparecer...
- Quem está aí? – perguntou.
Os dois perderam a fala e tentaram fugir... Só que, era tarde de mais.
Do fundo da caverna, o monstro apareceu! Era enorme!!Só que... Nem um pouco assustador.
Veloz e Raridade disseram, ao mesmo tempo:
- Um Cavalo Marinho Gigante!!!
O monstro do mar era, olhando de perto, muito dócil e gentil. Ele contou que vivia feliz com sua família, no jardim de corais. Mas, começou a crescer, crescer! Além do normal! Os outros animais começaram a achar que ele era um tipo de monstro, só por que era diferente! Ele foi morar na caverna e nunca mais voltou para o coral.
Para a surpresa dos amigos, o monstro não queria sair da caverna. Por que lá era um bom lugar para viver: bonito e seguro.
Os dois apelidaram o monstro de Amigão.
Depois, voltaram para o coral e, não contaram nada para ninguém.
Amigão quase morre de rir, das histórias que eles contam, sobre o: terrível Monstro do Mar.

Viamão, 20 de janeiro de 2009.
Autoria: Fernanda Blaya Figueiró

Nem tudo no mundo é laranja.

Laranjinha era uma bonequinha que vivia num lindo jardim repleto de flores, seu mundo era alegre e iluminado, só que todinho laranja. Laranja é uma cor muito bonita, mas também cansa. O sonho da bonequinha era de conhecer um lugar com outras cores. Como era uma boneca de jardim, nunca saia do lugar, assim como as flores. Durante o dia Laranjinha recebia a visita de muitas crianças e também de passarinhos, borboletas,gatos, cachorros... Mas, ela tinha dois amigos muito especiais, Vitória e Miguel, um casal de namoradinhos. Todos os dias depois da aula eles se encontravam no jardim. Miguel não se separava de seu skate por nada e Vitória estava sempre com um livro de historinhas de baixo do braço. Laranjinha ouvia tudo o que eles conversavam, seus planos, suas promessas, suas brincadeiras. Um dia ela resolveu falar com os amigos sobre seu “problema” laranja.
Vitória! - ela chamou – Por que aqui tudo é laranja?
Como assim? - respondeu a menina- Nem tudo no mundo é laranja.
Eu sei! - respondeu a bonequinha- Vejo as outras cores nas roupas de vocês, nas asas das borboletas, nas penas dos passarinhos, nos pêlos dos cachorros... Mas, aqui no jardim, só vejo laranja.
Vitória não entendeu direito o problema de Laranjinha, estava muito ocupada com o tema de casa. Miguel treinava uma nova manobra, muito complicada, só quando caiu no chão é que percebeu o problema da bonequinha.
Já sei! - ele disse- Você está virada para o muro do jardim!
Muro!Laranjinha não entendeu nada- O que é um muro?
Um muro é uma cerca... Algo que separa um lugar do outro, ou que protege de ladrões, da chuva... Entendeu?
Entendi! - A bonequinha entendeu seu problema, mas não ficou satisfeita. Como poderia ver as outras cores?
O sol veio, foi embora, as borboletas vieram, foram embora, o mesmo aconteceu com todos os seus amigos. Antes da noite chegar o holofote laranja acendeu e iluminou o jardim. Pela manhã ela ouviu o sino da igreja e soube que era domingo, um dia em que o jardim ficava cheio de gente, menos quando chovia. Bem! Estava pronta para mais um dia igualzinho a todos os outros... Miguel e Vitória chegaram com uma novidade.
Bom dia, Laranjinha! - eles disseram juntos.
Bom dia- ela respondeu, educadamente, mesmo que seu dia não estivesse nada bom.
Pelo barulho ela sabia que o jardim já estava cheio de gente, podia imaginar como estava colorido e animado. Sentia no ar o doce cheirinho de pipoca e de maçã do amor.
Hoje é domingo? - ela perguntou só para puxar conversa.
É – respondeu Vitória – E nós temos uma novidade...
Falamos com o Jardineiro e ele nos deixou trocar você de lugar. -Continuou Miguel. Você está pronta para a mudança?
Sim... - respondeu ela com um aperto no peito. Queria a mudança, mas... E se ficasse com saudade de seu mundo laranja? E se ficasse com frio longe do muro? E se as borboletas não a visitassem mais?
Calma! - disse Vitória- Se você não gostar do novo lugar pode voltar...
A Bonequinha sentiu um imenso alívio, sua roupa já estava molhada se suor só de pensar em sair do seu cantinho. Vitória, de brincadeira, tapou os olhos dela durante a mudança. Miguel ria das duas, pois parecia que iriam para muito longe.
Um, dois, três... Três passos! - disse ele- Pode abrir os olhos, Laranjinha!!
Minha nossa... respondeu ela espantada...
Três passinhos adiante e o mundo era todinho colorido. Verde nas árvores, vermelho nas flores, amarelo nos pimentões, branco nas nuvens, azul no céu, marrom na terra, preto nas sombras, lilas nos bancos. Estava a três passinhos do gira-gira e do balanço, da gangorra e do escorregador. Agora podia ver tudo. Até as flores, que ficavam bem ao seu lado. Laranjinha estava se sentindo a boneca mais feliz do mundo, quando uma chuvinha caiu bem de mansinho e logo em seguida apareceu no céu um imenso Arco-íris... Vitória e Miguel adoram a cara de espanto da bonequinha... Que ficou de “queixo caído” diante da beleza das cores. E tudo isso aconteceu a apenas três passinhos!

Fernanda Blaya Figueiró
12 de fevereiro de 2011

O sapato furado.
Sapato é uma mistura de sapo com pato? Não!Nada disso! Sapatos são coisas que as pessoas usam para proteger os pés.
O sapato da nossa história não tinha nada de especial. Era feito de couro de vaca, tinha solado e palmilha de borracha e cordinhas de amarrar. Ah! Era do tamanho 22, para meninos pequenos.
Como era muito bonito, ficou pouco tempo na prateleira...! Daniela passou pela loja e ficou encantada com ele, comprou para seu filhinho, Bruno, usar, no dia de seu aniversário. O garoto adorou o presente. Usou, na sua festa. Usou, para ir à escola. Usou,  para jogar bola. Usou, para andar de bicicleta. Usou tanto, mas tanto, que o sapato acabou furando, bem na pontinha do dedão...!!
Daniela, então, comprou um novo sapato para Bruno, já que aquele não servia mais. E colocou o sapato furado bem arrumado no lixo reciclado.
Naquela mesma tarde, passou por lá, uma moça chamada Carlinda, ela olhou bem para o sapato e lembrou do Vitor, um menino que morava, ao lado de sua casa, e que precisava de sapatos. Inicialmente, ela pensou em levar o sapato, mas ficou com medo que ele não gostasse e desistiu. Já tinha andado uma quadra inteira, quando resolveu voltar e pegar a caixinha.
Chegando em casa, Carlinda não sabia como fazer para entregar para Vítor o sapato...!Por que estava furado. Será que ele não vai ficar chateado? Pensou.
A primeira coisa que ela fez foi limpar bem o sapato e recolocar na caixinha. Depois, colocou uma água, para esquentar para tomar um chimarrão. Fazia muito frio, naquele dia. Estourou uma bacia de pipocas e foi para o quintal, olhar o sol se pôr.
Neste instante, o Vitor chegou, na porta de sua casa. Carlinda, que não era gulosa, ofereceu pipocas para o menino. Ele, que como toda a criança adorava pipocas, aceitou.
O sol tingia as nuvens brancas de um rosa, meio alaranjado. Vítor estava com o nariz escorrendo, por causa do frio, mesmo assim, seu sorriso era muito meigo e seus olhos brilhavam, olhando as nuvens. Ele adorava brincar com o formato das pipocas. 
- Olha, Carlinda! – Essa parece um coelho!... E essa! Parece uma flor.
Os dois ficaram brincando, com o formato do milho estourado. Até que uma pipoca caiu, perto da caixinha do sapato. Vitor foi juntar e acabou virando a caixinha. O sapato caiu e ele perguntou para Carlinda de quem era aquele sapato, já que na casa dela não tinha nenhuma criança.
- Esse é um sapato sem dono. – Ela respondeu, um pouco sem graça – Alguém o deixou nessa caixinha. Você acredita?
Vitor não teve a menor dúvida, calçou os sapatos, na mesma hora. Serviram direitinho.
- Tem até ventilador para o dedão! Se não tem dono posso ficar com ele?
- Pode! – respondeu Carlinda – Se sua mãe deixar.
O sol saiu e a noite veio. Vitor deu um beijão em Carlinda, chamou a sua mãe e pediu para ficar com o sapato. Ela não deu muito ouvido pro menino. Quem cala...? Consente!
No outro dia, ele foi brincar, na pracinha, muito faceiro, e usando o sapato que, antes, era sem dono. Chegando lá, encontrou seu melhor amigo que brincava de construir castelos.
- Oi, Vitor – Ele disse – Vamos fazer um mundo novo?
Vitor ficou super curioso.
- Um mundo novo? Como assim? Mundo novo??
Mesmo sem entender direito, ele gostou da idéia. Os dois construíram um grande castelo com a areia da praça. Deu muito trabalho, mas ficou muito bonito.
- Como vai se chamar nosso mundo?? – perguntou o menino.
Bruno pensou bem e olhando para o seu sapato com ventilador para o dedão, respondeu:
Um mundo sem dono!! Bruno adorou a idéia de Vitor e os dois amigos brincaram, juntos, a tarde toda...!
Viamão, 14 de setembro de 2008

Autoria Fernanda Blaya Figueiró
Revisão Angelita Soares
Aos olhos da sapa
O sapo parecia um príncipe. Pobre sapo_Tão difícil ser príncipe! Um belo e imponente cavalo branco, uma promessa de grandes feitos e beleza infinda. O problema maior  foi que o sapo acreditou nisso tudo, mais até do que a sapa, que não era nenhuma princesa de longos e lisos cabelos loiros, enfeitados com tiara de diamantes...
- A vida é só isso? – Exclamou um dia, olhando para ela.
Os olhos dela não queriam acreditar no que os ouvidos haviam escutado. O nariz sentiu um ranço... A pele, um frio glacial e a boca, um gosto de charco mofado.
Pula, pula, pula. Daqui pra lá, de lá pra cá... Numa pedra, escorrega. Noutra, tropeça. Bate cabeça, come poeira.
Quando o sapo voltou... Onde estava a sapa?
Busca daqui, busca dali. Pergunta e ninguém responde... Desce noite, sobe dia.
Que agonia!Coaxou a saparia! O charco inteiro respondeu,
Pulando de alegria,
Na maior cantoria: A sapa tá, na lagoa, lavando a pata... !!
E o sapo descobriu: O sapo não lava o pé, por que não quer... !
Autoria:  Fernanda Blaya Figueiró
Co-autoria: Angelita Soares

O Segredo da Teia

Murthy era uma aranha pequenina e faceira, que passava todo o tempo fiando e tecendo, em um antigo prédio abandonado e sombrio. Muitas aranhas e insetos viviam lá, mas nenhum tecia tão bem quanto ela.
Tudo corria muito bem, até que a sua teia acendeu: ao meio dia era banhada por uma luz dourada. E, à meia noite, por uma luz prateada.  O estranho acontecimento chamou a atenção dos outros insetos. Alguns acharam bonito, outros, que era feitiçaria. O boato se espalhou pelo prédio inteiro! Todos queriam descobrir qual era o segredo da teia.
Murthy acabou sendo condenada a não mais fiar e nem tecer, enquanto o mistério não fosse resolvido. O tempo foi passando e ninguém descobria o que provocava aquele estranho brilho.
Com medo, os insetos decidiram que a teia deveria ser destruída. E, assim foi feito! Numa meia noite de agosto, a teia veio ao chão.
Naquele lugar sombrio, tudo voltou a ficar sem brilho, como era antes.
A aranha não ficou nem um pouco  chateada, pois faria uma nova teia. Só que primeiro precisava saber o que havia acontecido.
Usando um fio bem longo, subiu ao topo do prédio. Lá encontrou uma velha e sábia aranha.
- Eu estava esperando por você. - disse muito amável - Sente-se.
A aranha morava em uma caixinha de música, muito delicada, que servia de palco para uma bailarina solitária.
- Quem é a senhora? - perguntou. Observando que algumas plumas de pássaros, presas por um cordão , penduradas em um espelho , balançavam muito.
- Eu? Sou uma velha aranha solitária... Murthy, o brilho prateado da teia era o raio de luz de uma estrela e o brilho dourado - um raio do sol.
- Raios de luz? - indagou curiosa - Como eles entram?
A aranha mostrou para ela que havia um pequeno furo no telhado, os raios entravam por ele e refletiam no espelho, onde estavam presas as plumas.
- Se você tecer sua teia, em outro lugar, ela não vai mais brilhar. É isso o que você quer?
Eu ainda não sei.
A aranha precisava descansar e deu corda na caixinha, a bailarina dançou delicadamente, ao som de uma melodia muito suave.
Murthy achou melhor ficar no topo e tecer sua nova casa, lá mesmo. Assim, não assustaria mais ninguém. A velha aranha informou que ali ventava e chovia. Mas, que mesmo assim, era um bom lugar para morar.

Murthy teceu a noite inteira. Como as condições eram precárias, fez um fio muito forte  e resistente.
No outro dia, ao meio dia, por força do hábito, todos olharam para o lugar da antiga teia... E lá viram... Um longo fio dourado que subia até o telhado, onde uma bailarina brilhava e dançava, ao som de uma música misteriosa. As gotas de chuva penduradas na teia formavam um belo arco colorido, que, balançando com o vento, lembrava uma bandeira. E à noite um brilho, prateado e silencioso, iluminava uma aranha que tecia.
Assim, de simples tecedeira Murthy, foi passando por poderosa feiticeira. Essa história virou lenda e todo mundo descobriu que nunca se apaga o brilho de uma estrela, nem tampouco a luz do sol!

Viamão, 12 de janeiro de 2009.
Autoria: Fernanda Blaya Figueiró
Revisão: Angelita Soares

Olha a bola! Não amola!

Esta é a história de um menino, de sua mãe e de uma bola. O menino sonhava em tocar violino. Sua mãe sonhava em vê-lo jogando bola. A bola não sonhava nada, mas gostava de uma boa partida.
De que matéria são feitos os sonhos? Depende os que se vendem nas padarias são feitos com farinha, açúcar, leite, ovos e fermento, podem ser fritos ou assados. Já os sonhos da gente são feitos de esperança.
A mãe do menino ralava muito, o dia inteiro, para ganhar um pouquinho de dinheiro, assim seu sonho tinha uma explicação, queria fazer do menino um grande jogador de futebol. Os jogadores além de serem muito famosos, aparecerem na televisão, ainda ganhavam muito bem. No sonho da mãe o menino aparecia dando entrevistas, na beira da piscina, rodeado de gente bonita e tomando um sorvetão.
O menino adorava o som do violino. No seu sonho ele usava um fraque e encantava a platéia tocando o instrumento com maestria.
A mãe e o menino não se entendiam e a bola vivia perdida, abandonada num canto do jardim, meio murcha.
Um dia o menino conheceu um amigo. E olhem só como os sonhos funcionam, o amigo queria muito jogar bola, mas o seu pai queria que ele tocasse, adivinhem? ... Violino.
Com a nova amizade parece que tudo foi pro lugar, o menino aprendeu a tocar violino com o pai do amigo. O amigo aprendeu a jogar bola com a mãe do menino. Os dois cresceram, brilharam e todos os sonhos se realizaram, meio as avessas.
A bola ganhou um lugar no museu do esporte, o violino foi parar no museu de artes.
E o pai do amigo casou com a mãe do menino. E isso ninguém sonhava.

Olha o sonho! Todo risonho


Fernanda Blaya Figueiró
Porto alegre, 28 de janeiro de 2009

Escrito Para Carmem Henke, durante o Forinho
SOS Samambaia

Tudo fazia parte de um tempo meio doido! As mulheres queriam ser belas como: as samambaias, os melões e as melancias, e os homens achavam isso maravilhoso. Tudo fruto_ ou seria fruta?_ Sei lá _ de uma especulação comercial, um tipo de "negócio da china".
Bom, a plantas, aproveitando a grande publicidade siliconizada, resolveram começar um movimento de transformação (adivinhem só) das casas e mesas dos humanos... O sal, o café e o açúcar, acostumados com a mídia, resolveram alertar os novos, ¨pop star¨, que isso seria muito passageiro. O café mesmo andava sofrendo, com oscilações da bolsa; uma hora, era o grande salvador da saúde humana; na outra, um vilão dos mais odiados. Sua cotação subia e, depois, caia. Assim, uma hora, era a salvação da lavoura, na outra, uma vergonha nacional.
Os vegetais queriam levar, para as casas das pessoas, paz, harmonia e alegria. O plano era fazer com que olhassem com mais cuidado tudo o que tinham, e não o que não tinham. Por exemplo: ficar feliz em cuidar de uma samambaia, aguando e afofando a terra. Ou ser alegrado por tomar um bom suco de mamão e uma fatia suculenta de melancia, das verdadeiras, ao invés de ficar se lastimando que faltava suco de caju, fatias de fruta do conde, ou ainda, tulipas vermelhas. Isso sem falar, é lógico, que podiam começar a olhar mais para o espelho e tentar encontrar beleza e harmonia, sem querer virar uma melancia. Nada contra dona melancia! Que isso fique bem claro!
Para conseguir seu intento, os vegetais resolveram falar com o seu Agenor, da quitanda. Isso aconteceu, num domingo, dos mais lindos. Ele chegou, como sempre, muito cedinho e foi, logo, levantando as cortinas e, antes que abrisse a porta, o melão falou baixinho:
-Ô, seu Agenor!
O homem colocou a mão nos ouvidos e fingiu que não ouviu nada. Adivinhem só a quem recorreu: Café, com açúcar, mas sem esquecer de colocar um pingo de sal sob a língua. Sentou, perto da máquina registradora e disse:
- Preciso de férias... Isso! Semana que vem, vou pescar com o compadre....
Logo, em seguida, foi a vez da melancia:
- Calma, a gente queri...
Nem conseguiu terminar e seu Agenor saltou da cadeira.
- Quem está aí? - Perguntou, muito bravo- Apareça! E, com essas palavras, foi indo, em direção a porta, que ainda estava trancada, mas que ele abriu de supetão .
A Samambaia nem tentou contato, viu que o homem não tava de brincadeira! Não deu dois minutos para ele voltar, acompanhado de um pai de santo, e dos bons! Foi quando a samambaia teve uma idéia, balançou seu vaso, até que caiu no chão. O pai de santo, usando um ramo de arruda, benzeu as frutas, verduras e plantas da quitanda. A samambaia, coitadinha, acabou hospitalizada!
Isso rendeu um caldo! As pessoas começaram a comentar a inusitada história, que virou paginas de jornal. Daquele dia em diante, foi criado o “SOS Samambaia”, um movimento de proteção às plantas ornamentais. Ter plantas em casa virou a maior sensação, sem falar em consumir sucos e fatias de mamão e melancia.
Já o seu Agenor_ largou tudo e foi pescar. Só que notícia corre mundo! O pessoal do mar está preparando um musical., só para ele, chamado assim:
“O que foi feito das sereias?”

Viamão, 09 de janeiro de 2009
Autoria: Fernanda Blaya Figueiró
Revisão: Angelita Soares

Um conto sem fadas?
 
 
            Julieta guardou com carinho suas sapatilhas douradas. Ela acreditava que, um dia,uma bela fada sairia delas e resolveria todos os problemas do mundo...!
- As fadas se alimentam dos bons pensamentos das crianças. – Foi o que seu Antônio, o Senhor dos Sacos,  um dia, havia lhe dito - Só que as crianças de hoje, tem poucos bons pensamentos.
            Seu Antônio não tem casa... - Coitadinho! Ele dizia, e no seu mundo colorido ia juntando, um papelzinho, uma embalagem, a foto de uma bela casa, na calçada da Caixa. Ganhava um churrasquinho e contava histórias.
            Julieta falou das fadas para as crianças que brincavam de pula;r as poças formadas pela chuva.
            - Fadas não existem! - Dizia um.
            E o outro:Só nos grandes castelos, onde vivem príncipes e princesas, onde tem dragões e espadas. Ou, nas florestas,escondidas, nas flores.
            A roda pesada do ônibus atravessou a poça, jogando água e barro, para a alegria da criançada.
            Algumas mães voltavam do trabalho e pisavam, com todo o cuidado, nas ruas descalçadas, para não sujarem as botas. E, com olhos severos, recolhiam a criançada.
            -Julieta! - chamou um menino gordinho, de olhos vivos e brilhantes- Como são as fadas?
            Ela não sabia, mas precisava de uma resposta rápida.
            - As fadas... São invisíveis...!! Elas se escondem nas palavras e nos cantos dos becos... Quer ver? Fa - Vê - La - Uma fada que se esconde numa vela. Vi- La - Uma fada que Vi lá. Fa Do , um fado, que dança desengonçado.
            -Fado?
            As crianças riram das maluquices de Julieta. Passaram a procurar fadas por todos os lados. Dr. Fiodor devia ter uma fada_Para a dor. Dona Ana, uma fada bacana! Seu João, uma fada do Pão! Dr. Clemente_ uma fada que consertava os dentes...!
            As frestas das casas de madeira precisavam de fadas tecedeiras... Nos corredores_Fadas de cores...!! Imagina a rua_Toda colorida com fitas...E uma fada bonita!! E, para o banheiro  , uma fada de cheiro...!!
            A brincadeira durou a semana inteira. Escondidas, as crianças procuravam ver fadas e duendes...
            No domingo, Julieta calçou suas sapatilhas douradas.A fada adorada apareceu...No meio da calçada.!Seu Pedro sentava pedras com a ajuda de toda a vila, o beco brilhava, com as fadas encantadas...Escondidas!!! E o conto ganhou amadas fadas!As mais variadas!!


Um vento forte passou pelo Rio Grande!

Seria este o velho e famoso Minuano? Se perguntou Roy, o belo ovelheiro negro.
Muito ouvira falar nele, um vento poderoso e frio, que sempre assolava estes pagos. Varrendo a chuva e a umidade. Roy era um andarilho urbano, vivia no centro de uma cidade do interior gaúcho. Seus ancestrais eram todos do campo, mas, ele havia sido trazido para a cidade, ainda filhotinho, por um menino muito querido.
O problema dos dois começou quando Roy ficou grandinho e o apartamento, ficou pequeno, apertado. A mãe do menino passava reclamando: “ Esse cachorro solta pêlos por todo o lado!”. Ou, “ Menino, leva o cachorro para passear!” “Se continuar assim, mando esse cachorro embora!”
E os visinhos? “Esse cachorro não para de latir!”, ou “Eu vou contar pro síndico!”... Roy não sabia quem era esse tal de síndico, nem que a mãe do menino tinha um pouco de razão. Cachorros grandes não combinam com apartamentos pequenos.
O menino cuidava bem dele e os dois se gostavam muito. Só as reclamações que não paravam. Foram tantas que o menino acabou tendo que levar Roy para morar num abrigo... Aos se despedirem eles sabiam que nunca mais se veriam, mas isso não fez com que ficassem tristes, pois os dois eram muito amigos. E amigos de verdade nunca mais se separam.
A sala do abrigo era menor que o apartamento. Acreditem se quiser! Roy mal conseguia esticar as canelas. Correr solto, muito menos.
Um dia aproveitou uma porta aberta e fugiu.
No inicia sua vida ficou muito complicada, ele sempre recebia ração na hora certa, remedinho e banho. Mas, com o tempo aprendeu os truques da cidade. Dormia numa toquinha, em baixo da ponte do chafariz, ali a água era sempre fresquinha.
Café da manhã, almoço e janta? Cada dia era em um lugar: Segunda, sobras do açougue. Terça visitava a feira. Quarta, a lancheria. Quinta, o mercadinho. Sexta, Mocotó no bar. Sábado, dividia marmita com os vendedores ambulantes. Domingo era uma festa: galeto, ossos e salsichão. Roy ficava o dia plantado na porta da churrascaria.
Banho? De chuva!
Só que quando o vento era forte, assim. Como este que passou! Ele sentia uma falta danada do pastoreio, de arrebanhar a tropa e seguir viagem. Correr solto e faceiro. Então, pra não ficar chateado, Roy organizava o trânsito. Corria de um lado para o outro, latindo e ordenando. Sabia tudo de roda, pneu e de sinais.
Só uma coisa ele nunca entendeu: - Pra onde vai toda essa gente?
Será que seguem o vento?

12 de junho de 2008
Fernanda Blaya Figueiró

Uma gota de Luz – I versão

Autoria: Fernanda Blaya Figueiró
Co- autoria: Angelita Soares
Direitos autorais do texto uma gota de Luz cedidos para a  ONG Cataventus para contação de histórias em evento da CEEE Contato Erica  Mylius
 Tuga é uma gota de orvalho muito esperta que adora tomar banho de sol e contar histórias. Ela vive de um lado para o outro, viajando por muitos lugares.
 Já visitou as geleiras, onde foi cristalizada pelo frio. Foi ao mar, onde ficou salgada. Mas, depois tomava um banho de sol evaporava e pronto! Lá ia Tuga. Novamente. Para uma nuvem passageira...!! Até que o vento vinha e carregava a nuvem.
Uma vez, Tuga viveu uma aventura e tanto! A nuvem, na qual ela viajava, encontrou uma frente fria, num rio que tinha suas águas represadas. Foi um encontro com raios e trovões... Ela desceu...Correndo! As águas do rio corriam, mais rápido ainda, como se estivessem num grande tobogã.
Sem saber, a gotinha estava dentro de uma usina hidrelétrica; um lugar enorme cheio de equipamentos que serviam para produzir energia elétrica, aproveitando o movimento da água do rio. Tudo, lá, era muito controlado..! Da usina, a energia seguia por uma rede enorme de fios, transformadores, geradores, etc... Até chegar à casa das pessoas...!
A gotinha tinha o maior orgulho de ter ajudado a produzir energia. Mas, andava preocupada; a mesma luz que servia para tanta coisa boa, também podia machucar...!!
Tuga não imaginava o mundo de hoje sem energia elétrica Parece mágica, ela pensava, a gente aperta um botão e ilumina um grande salão. Com outro, liga a televisão. ..O aparelho de som, o computador...
Mas só passarinho é que  pode pousar em fio de eletricidade. Gota de orvalho, não! Fica torradinha!! Pipa_ muito menos! Balão de São João, nem pensar...!
Como ela era muito esperta, resolveu ler a cartilha que ensinava como evitar acidentes. Assim, ficou sabendo um montão de coisas boas. Como, por exemplo: nunca devemos empinar pipa, perto dos fios de luz; os adultos devem evitar consertar antena em dia de chuva; casa, que tem criança deve ter também protetor de tomadas; eletrodomésticos devem ser consertados pela oficina autorizada. Que mais? Gato é um bichinho fofinho que mia e ronrona, mas existe outro tipo de gato que é perigoso e ilegal. Também não devemos cortar a grama quando está molhada...
Com esses cuidados, todo mundo pode se divertir e fazer a festa, evitando o desperdício e aproveitando a energia...!!!
Tuga tomou um banho de sol...E evaporou!  Pegou a primeira nuvem que passava pelo céu...
Uma gota de luz  II Versão
Meu nome é Tuga, sou uma pequena gota de orvalho, banhada pela luz do sol. Eu vim aqui contar pro vocês que já andei no mar, já fui às geleiras, já cai como chuva... Há muito tempo vivo por aqui.
Adoro a luz. Ela me faz brilhar! Tem a luz do sol, das lamparinas, do fogo. Tem também a luz criada pelos homens:  luz elétrica.
A eletricidade é uma coisa maravilhosa. Fechem os olhos e tentem imaginar o mundo de hoje sem esta energia. Loucura!
Parece mágica, aperto um botão e ilumino um grande salão. Com outro ligo a televisão. E aquele que traz a música até o meu ouvido? Sim, senhores... E não é magia é pura energia.
Mas! Só passarinho que pode pousar em fio de eletricidade. Gota de orvalho! Não! Fica torradinha. Pipa muito menos. Balão, nem pensar.
O fio de energia que traz alegria deve ser conservado, para não machucar ninguém. Solte pipa, sim! Em campo aberto. Balão, de São João, só se o bombeiro deixar.
E faça a festa! Com gelo prontinho e com luz no caminho. Ouça a sua balada preferida. Mande mensagens de seu E-mail e preste atenção.
 Evite acidentes: - Nunca ponha o dedão na tomada; mãe que tem criança compre protetores... São pequenos e baratinhos. Em dia de temporal não chegue perto do telefone. Eletrodoméstico estragado tem que ser consertado, pelo autorizado.
Fio emendado??? Nem por brincadeira. Se ouvir um estrondo, não chegue nem perto... Espere o socorro.
Gato é o bichinho que mia e ronrona... Não aceite outro.
Amiguinhos o sol está esquentando e eu estou evaporando. Até a próxima chuva... Ou a próxima garoa...
Tchau

Anjo Ardu

Em uma época em que poucas pessoas ainda acreditavam em anjos Ardu, ao se desequilibrar durante uma festa, caiu do céu. Seu descuido o levou ao abrigo Renascer, na longínqua cidade de Canoas. De asa quebrada escondeu-se entre as folhas da ameixeira, ele era do tamanho de um pequeno cacho de ameixas e só podia ser visto por aqueles que tivessem o coração repleto de esperança. Lá não havia nem rio, nem canoa, só imensos aviões que cruzavam o céu, Ardu não sabia como sair dali e nem se sobreviveria entre os seres humanos. Ele estava com sede, precisava beber água limpa para recompor suas energias, mas as folhas da ameixeira estavam secas e empoeiradas. Ardu não sabia para onde ir, até que sentiu toda a árvore estremecer com o impacto de uma esfera de couro branca, que o fez cair do galho para o chão. Um gigante se aproximou dele, segurando-o com uma mão suja de terra e gotas de suor. O Anjo achou que seria seu fim, mas uma gigante, que também estava por ali disse:
- Cuidado!! Parece um anjinho!! Ardu ficou imóvel, como se fosse uma estatua, para não assustar os gigantes. Mas, manteve os ouvidos bem abertos.
- Vamos levá-lo para dentro, ele pode enfeitar o quarto que acabamos de pintar. – disse a gigante.
- Não! – respondeu o gigante – Vamos deixá-lo na quadra de futebol, ele será nosso mascote.
Ardu viu que sua presença poderia criar muita confusão, os gigantes se reuniram todos na quadra de pedra e resolveram julgar o que seria feito com ele... Sozinho no meio da roda ele olhou para cada um dos gigantes, bem dentro de seus olhos e descobriu que na verdade eram crianças cheias de esperança, uma música suave começou a tocar, todos ouviam e uma luz dourada emanou de seu corpo. As crianças não sabiam exatamente o que estava acontecendo, mas não tiveram medo. Fortalecido pela esperança dos olhos deles o anjo se recuperou e pediu um gole de água. Mesmo espantados com a inusitada fala do anjo as crianças atenderam seu pedido, um deles foi até a cozinha, onde a cozinheira batia ameixas no liquidificador e pediu um pouco de água mineral.
- Água mineral??? – indagou a mulher- Essas crianças, inventam cada coisa – Toma – disse entregando uma garrafinha de plástico com o precioso líquido. – Em uma hora a janta fica pronta – disse – Ainda não vi ninguém indo pro banho...
O banho teria que esperar, não era todo o dia que um anjo aparecia por lá, eles queriam saber dele como era o céu.
- Não posso dizer!!! – Ardu falou encabulado, nenhum anjo podia contar como era o céu.
- E o amor? – perguntou uma menina – Existe amor no céu?
- O amor é o sentimento mais nobre dos seres humanos, ele está em toda a parte e cada pessoa dele encontrá-lo dentro de seu próprio coração... Cada pessoa deve aprender a amar a si mesmo e então vai encontrar o amor nos outros, como eu encontrei nos olhos de vocês... - Mas, acho que já falei de mais. – interrompeu e pediu a todas as crianças que parecem e ouvissem, por alguns minutos, o som das coisa... A música que havia espalhada pelo ar...
Alguns minutos depois Ardu disse que estava pronto para partir, mas que jamais esqueceria deles e que sempre habitaria seus pensamentos.
Uma golfada de vento ergueu o anjo do chão,ele usou uma folha da ameixeira como se fosse uma canoa e navegou no ar para bem longe.
A cozinheira chegou na quadra, com a colher de pau nas mãos, e não entendeu nada, as crianças estavam sentadas em círculo, olhando para o céu e ouvindo o vento...
- O que foi agora? – perguntou sem entender nada – Vocês estão olhando para onde?
As crianças se entreolharam e responderam sorrindo?
- Pro Céu!!!


Viamão, 2 de setembro de 2009-09-02
Fernanda Blaya Figueiró

Texto baseado na produção coletiva dos jovens do Abrigo Municipal de Canoas, pela Ong Cataventus. Atividade de interação com o poema Reversibilidade de Charles Baudelaire.



Um conto de Natal
Desenvolvido para a  Ong de contação de histórias Cataventus.
Autoria: Fernanda Blaya Figueiró  domingo, 7 de outubro de 2007
Revisão: Angelita Soares

O Natal diferente.

Nossa história começa dois mil e sete anos antes deste. Quando a humanidade ganhou um presente: um menino chamado Jesus de Nazaré.
Ele veio ao mundo para trazer uma mensagem de paz. Todos os anos, pessoas do mundo inteiro fazem uma grande festa, chamada Natal, para comemorar o seu nascimento.
Nessa época, as casas e ruas são enfeitadas com bolinhas coloridas e luzes. E as pessoas trocam presentes e preparam  deliciosos banquetes .
Joaquim morava no centro da cidade e adorava o Natal. Para ele, esta era a melhor época do ano. Ele percorria todos os shoppings, para ver a decoração e os presentes. No seu quarto, tinha uma montanha enorme de brinquedos, jogos, livros... Ele ganhava presentes do pai, da mãe, da avó, da dinda, dos tios e dos amigos.
Mas este ano ele queria uma coisa diferente...!! Queria dividir seus brinquedos com as outras crianças. Ninguém entendia o menino...!! Joaquim, dizia a avó, fui eu que comprei este urso gigante para você. O pai dizia: Quando eu era pequeno, tudo o que eu queria era ter uma miniatura como essa, vermelha, com bancos de couro, portas que abrem, igual a um carro de verdade.? A mãe disse que pensaria no assunto: o quarto dele estava mesmo precisando de espaço.
O tempo foi passando e os adultos esqueceram a idéia dele. Só que Joaquim não desistiu. Pegou um saco grande e colocou dentro vários brinquedos, deixou a miniatura e o urso gigante.
No dia do Natal, saiu, pelas ruas do centro, entregando pequenos pacotinhos que ele mesmo tinha feito. As crianças não entendiam direito.  Joaquim recebeu muitos sorrisos.
Entregou muitos presentes naquele dia, sem se importar em saber quem estava recebendo.
O garoto entrou numa rua estreita calçada com paralelepípedos; nela, um grande arco guardava a entrada de uma casa de cultura enorme...Parecia um castelo iluminado...!! Ele viu que, lá, no fundo,  estavam sentados uma moça e um rapaz. Chegou perto e viu que, no colo dela, dormia um menino. O vento do rio soprava forte. A cidade começava a esvaziar.
 Já anoitecia e Joaquim precisava voltar pra casa...Pegou o seu saco e procurou um pacotinho: não havia mais. Vasculhou o bolso das calças e nada. A jaqueta estava  vazia...!!
Uma canção: era só o que ele tinha. Noite Feliz...? Joaquim cantou e sua voz espalhou o Espírito do Natal pelo pequeno beco. 
A rua virou uma estrebaria, com ovelhas, vacas, uma manjedoura. Três reis magos pisaram as pedras em busca do Menino Deus. O casal sorriu para Joaquim que, feliz, voltou para casa. Uma estrela correu o Céu e dois mil e sete anos passaram.


1 ª Versão - A Terra e o Tempo

Eu vinha sozinho caminhando por uma longa estrada quando encontrei com ela. Parecia cansada! Usava uma túnica azul, tinha pequenas flores coloridas no cabelo, chagas nas mãos e no rosto. Mesmo assim, sorria. Pediu-me:
- Senhor! Por favor, preciso de ajuda.
Não era exatamente um problema meu, pensei em seguir. Mas, seus olhos! Seus olhos despertavam compaixão... Aproximei-me dela e pude ver melhor a gravidade de suas feridas.
- Preciso atravessar o rio. – dizia com a voz fraca
Suas feridas eram profundas e ameaçadoras, imaginei que poderiam contaminar-me. Eu trazia uma importante encomenda, um documento oficial, protocolado, uma carta de intenções generosas.
- Claro! – ela respondeu fitando o chão - Desculpe-me por interromper sua jornada.
Aquele olhar perdido e o sorriso constrangido tocaram meu coração. Olhei o relógio e resolvi acompanhá-la.
 O rio era raso, a água pura e doce, ela parou na margem e calmamente foi entrando. Segurei sua cintura e juntos nós iniciamos a travessia. O lodo tornava a marcha lenta e pesada. Cada passo podia ser sentido. A força da correnteza tornava ainda mais difícil a travessia. Mas, em seu rosto eu via serenidade, em seus movimentos leveza.
A água tocou seus cabelos e deles levou as flores. Tocou seu rosto levando as chagas... Em mim tocou o coração, enchendo de alegria, de paz e ternura.
Quando nós chegamos à outra margem eu havia perdido meu precioso documento. Ela havia perdido as dores... Vendo minha aflição, sorriu:
- Amigo! Obrigada.
Desci então o leito do rio. Ela subiu em direção a vertente.
Achei que havia falhado em minha missão. Os sábios que esperavam o documento estavam todos reunidos em volta da fogueira. A lua e as estrelas ornavam o céu. Diminui a marcha, encabulado, os risos deles eram como o murmúrio do rio, que há pouco atravessara. Os olhos de todos estavam em mim. O mais velho dos mestres perguntou-me o que acontecera. Respondi, receoso, que trazia as mãos vazia. Contei tudo sem omitir detalhes. Eles compreenderam e responderam com o silêncio. Aliviado adormeci.
O sol lentamente apareceu no firmamento, seus primeiros raios iluminaram o Ancião. Estava sentado ao meu lado. Juntos nós olhamos para o rio, que estava calmo e corria lentamente, a luz refletia a magia daquele lugar.
- Amigo! Suas intenções chegaram ao coração da Terra, ao recebê-la no rio da vida; ela fez com que todos nós sentissemos o que ela sabia. E que era só o que ela esperava, o reconhecimento no fundo do nosso coração.
-     Os olhos do Ancião encontraram-se com os meus e eu pude finalmente compreender.
-     O dia passou, o rio correu. Eu fiquei ali.

A terra girou sem chagas e com flores nos cabelos.


O Tempo e a Terra

Terra e o Tempo 2ª versão – Oficial

Ao longo de uma estrada andavam, lado a lado, a Terra e o Tempo. Ela parecia cansada! Usava uma túnica azul, tinha pequenas flores coloridas no cabelo, chagas nas mãos e no rosto. Mesmo assim, sorrindo. Pediu-lhe:
- Senhor! Por favor, preciso de ajuda.
Não era exatamente um problema dele, seguiu intangível em sua complexidade enigmática. Mas, os olhos dela! Aqueles olhos despertavam compaixão... Aproximou-se e viu melhor a gravidade de suas feridas.
- Preciso atravessar o rio. – dizia com a voz fraca.
- Eu estou atrasado. – respondeu – Não posso ajudá-la, espero que compreenda.
Suas feridas eram profundas e ameaçadoras, imaginou que poderiam contaminá-lo. Trazia uma importante encomenda, uma carta de intenções generosas da humanidade.
- Claro! – ela respondeu fitando o chão - Desculpe-me por interromper sua jornada.
Aquele olhar perdido e o sorriso constrangido tocaram seu coração. Resolveu acompanhá-la.
 O rio era raso, a água pura e doce, ela parou na margem e calmamente foi entrando. Juntos iniciaram a travessia. O lodo tornava a marcha lenta e pesada. Cada passo podia ser sentido. A força da correnteza pesava. Mas, em seu rosto o Tempo via serenidade, em seus movimentos leveza.
A água tocou os cabelos dela levando as flores. Tocou seu rosto levando as chagas... No Tempo tocou o coração, enchendo de alegria, de paz e ternura.
Quando chegaram à outra margem ele havia perdido seu precioso documento. Ela havia perdido as dores... Vendo sua aflição, sorriu:
- Amigo! Obrigada.
O Tempo desceu então o leito do rio. Achando que havia falhado em sua missão. Os sábios que esperavam o documento estavam todos reunidos em volta da fogueira. A lua e as estrelas ornavam o céu. Diminuiu a marcha, encabulado, os risos deles eram como o murmúrio do rio, que há pouco atravessara. Os olhos de todos dirigiram-se para ele. O mais velho dos mestres perguntou o que acontecera. Respondeu, receoso, que trazia as mãos vazias. Contou tudo sem omitir detalhes. Eles compreenderam e responderam com o silêncio. Aliviado adormeceu.
O sol lentamente apareceu no firmamento, seus primeiros raios iluminaram o Ancião. Estava sentado ao lado dele. Juntos olharam para o rio, que estava calmo e corria lentamente, a luz refletia a magia daquele lugar.
- Amigo! As intenções da Carta da Terra chegaram ao coração dela, ao recebê-la no rio da vida; fez com que todos nós sentíssemos o que ela sabia. E que era só o que ela esperava o reconhecimento no fundo do nosso coração.
Os olhos do Ancião encontraram-se com os do Tempo e a humanidade enfim compreendeu. O dia passou, o rio correu. O tempo mudou. A terra girou sem chagas e com flores nos cabelos.
O Tempo da Terra
Fernanda Blaya Figueiró 20/08/2007

Escrito especialmente para o encontro Budismo e ecologia e dedicado a Ilson e Taís Fonseca e as crianças da Comunidade Castelinho

O Jardim do Castelinho. Era uma vez um lugar mágico e encantado, que ficava no topo de uma montanha, na beira de uma estrada, num longo caminho: O Castelinho.
Lá tinha uma clareira com água limpa e árvores pequenas, onde morava um lagarto, de rabo longo e patas curtinhas. Ele vivia nas pedras e se chamava Tagarlo.
Um dia acordou cedo, esticou as patas e foi procurar o seu café da manhã. Caminhou um pouco e logo encontrou algumas cascas de frutinhas. Elas eram muito gostosas e Tagarlo comeu com calma. Mas, não notou que acabou engolindo junto uma sacolinha.
Todos os dias, depois do café da manhã ele sentava nas pedras para tomar banho de sol. Só que naquele dia, sentiu uma dor de barriga!
Dr. Bem-te-vi voou para saber o que estava acontecendo. Perguntou:
- O que você comeu Tagarlo?
- Frutas. Como sempre.- ele respondeu.
- Frutas? Mas, frutas fazem bem para a saúde. – respondeu intrigado - Onde você conseguiu?
- No Jardim do Castelinho, onde eu moro... Aí, ai, minha barriga.
Dr. Bem-te-vi examinou cuidadosamente o lagarto. Deu-lhe um remédio amargo e fez uma massagem em sua barriga. Tagarlo correu para o banheiro e soltou um pum fedorento, junto saiu a sacolinha.
Depois disso os animais e as crianças resolveram limpar o jardim, recolhendo todo lixo das ruas, da praça, das casas. Plantaram grama para diminuir o barro, onde ficavam presas as sacolinhas . Para que ninguém mais tivesse dor de barriga.
Na clareira construíram uma praça bonita, onde todo mundo brinca e canta. Os adultos plantaram muitas árvores frutíferas, para alimentar os passarinhos, os lagartos e as crianças. Fizeram uma horta e um lugar só para por o lixo.
Hoje quem passa na estrada e olha paro o Castelinho vê um lindo Jardim encantado.

Fernanda Blaya Figueiró


21/08/2007O Lenço de Vinte

Tem uma gurizada aqui querendo saber que história é essa de lenço de vinte... Vinte reais? Um me perguntou. Já o outro queria saber se era de vinte metros. Oh! Gurizada de mente fértil. Vinte metros seria uma cortina e das grandes, não um lenço. Buenas! Deixa que eu me apresente: sou Vinte, o jacaré mais papudo desses pagos. Como? Não vinte não é de vinte centavos, nem abreviatura internetesca de “vim te ver” é de Vinte de Setembro. Pois é isso! Me chamam de Vinte porque eu sou o único jacaré que herdou um Lenço Farroupilha. Tem gurizada achando que eu to mentindo, cuidado! Olha que tive uns primos que não entraram no céu porque tinham a boca grande e ficavam rindo dos outros e contando lorota. Pois este lenço aqui, que está amarrado no meu pescoço, está na minha família desde 20 de setembro de 1835, aviso que quem duvidar vai acabar tomando uma mordida! 175 anos! Pode puxar a maquininha e fazer as contas. Pois então aí vai a história. Segundo aviso quem for meio fraco de estômago pode ir perguntando pra professora onde fica o banheiro...
Era vinte de setembro de mil oitocentos e trinta e cinco e Dente Afiado, minha trisavô, guardava seu ninho sob a ponte da Azenha, nele estavam seus filhotes recém descascados. O lugar era lindo a água do riacho tinha fartura de peixes e naquela época do ano ficava cheio como um Dilúvio. Havia um grande acampamento de homens, que mais tarde ela soube que se tratavam dos Farrapos. A noite se aproximava e tudo parecia muito calmo... Um Azulão, chamado César, cantava a proximidade da primavera e uma ratazana, que ninguém sabe bem o nome, espiava a movimentação. Os humanos estavam exaltados e isso não era bom sinal. A ratazana desceu a ponte correndo e contou que o cheiro do ar era de encrenca. O Azulão de cima de uma árvore confirmou, algo estava para acontecer. Dente Afiado observou que os homens que estavam acampados usavam roupas gastas e tinham armas. Pediu a ratazana que fosse até lá e descobrisse com os cavalos o que afinal estava se passando. Ela foi e voltou correndo para não ser descoberta. Ofegante trouxe consigo um lenço vermelho que estava no acampamento. Os cavalos sabem pouca coisa, disse a ratazana enquanto recuperava o fôlego, mas parece que vai começar uma Revolução... O Azulão confirmou que outro grupo de homens marchava naquela direção. A ratazana evitava chegar muito perto, pois os jacarés são muito brabos e quando estão com fome não poupam ninguém, então jogou o lenço perto da senhora. Dente Afiado puxou o lenço com a boca e tapou o ninho, em sinal de amizade. Pois se os jacarés são brabos mais ainda são os homens. Se por acaso passassem por perto veriam que se tratava de um ninho Farroupilha. Não que ela soubesse exatamente o que isso significava, mas numa “peleia” é preciso escolher um lado. E naquela noite começou uma longa briga que durou dez anos! Desde então o lenço passa de geração em geração

Fernanda Blaya Figueiró
08/09/2010
Escrito especialmente para a contação de histórias das atividades da Semana Farroupilha do Colégio do CESI de Viamão dedico a amiga professora Márcia Barck que solicitou uma contação de história.


De quem são estas pegadas?
Dedico este conto a Jane Peixoto e sua coelha Felícia e ao Clube de mães do Capão da Porteira.

Fifi estava muito intrigada no Domingo de Páscoa ,enquanto procurava o seu melhor vestido, encontrou algumas pegadas bem pertinho da janela. Tudo estava muito bem fechado, então ela não agüentou e berrou:
- Mãeeeeeeee!Mãe!! - E de longe ouviu:
- O que foi Fifi??- Você está pronta?... Os convidados já estão chegando...
- Estou quase pronta- respondeu Fifi. Só que tem umas pegadas perto da minha janela...
- Pegadas Fifi!!!
- Pegadas, mamãe!!! - disse sem muita paciência, os adultos estavam sempre correndo de um lado para o outro, então resolveu que ela mesma iria descobrir este mistério.
- Fifi!- Gritou do pátio o papai – O Coelhinho da Páscoa passou por aqui esta manhã... Ele deve ter deixado algo para você!
- O Coelhinho da Páscoa?
- Ele mesmo – disse o papai- Agora vista-se e desça!
Fifi colocou o vestido, escovou e prendeu o cabelo e resolveu seguir as pegadas. Ao lado do pé da sua cama estava um lindo ninho cheio de ovinhos e chocolates. Ela adorou , mas continuou muito invocada: como o coelhinho teria entrado no seu quarto se tudo estava tão bem fechado? A mamãe corria para preparar as saladas, o papai varria o pátio e seus irmãos estavam na frente da TV jogando vídeo game. Essa história está mal contada, pensou: três crianças, três cestinhas, pegadinhas só nos quartos. Como o coelhinho conseguia? Fifi resolveu fazer a volta e olhar sua janela de fora , bem que ela pensava, não tinha uma só pegadinha! Nem na varanda, nem no corredor da sala. Que coelhinho malandrinho!! As visitas já iam chegar e Fifi queria resolver este problema. Foi olhando cuidadosamente a cercado pátio, cantinho por cantinho e nada de pegadas. Quando menos esperava ouviu um barulhinho vindo do fundo do quintal...Tictictic!!! Tictictic!! Foi até lá bem devagarinho e sabem o que ela encontrou? Quem vai adivinhar? Deixa eu ver: O enorme cachorro do vizinho cavando? Ou um velho rádio quebrado? Não mesmo! Fifi encontrou uma toquinha!! Quem sabe o que é uma toquinha? Isso mesmo, uma casa de pequenos bichinhos. Seria do Coelhinho da Páscoa? Fifi ficou plantada olhando para a porta da toca. O barulhinho imediatamente parou....
Fifi queria porque queria descobrir quem morava ali. Sua mãe, lá de dentro da casa, chamava por ela. As visitas estavam chegando. Fifi ouviu um sussurro:
- Essa não!
- Quem está ai´?? – perguntou.
- Sou eu! E de dentro da toquinha saiu um lindo coelhinho...
- Você é o Coelhinho da Páscoa?
- Não! Sou Leléco um dos ajudantes dele e estou muito encrencado.
- Encrencado?
- Sim! Seus primos chegaram e não consegui colocar os ninhos... Agora vou ficar de castigo.
- Quem sabe eu posso ajudar, o que preciso fazer?
- Convide todo mundo para ir para a sala e eu entro pela cozinha, que tal?
Uma boa idéia e como vou fazer isso?
- Sei lá... Isso é com você ! Só posso deixar um pequeno rastro de pegadas... Se não perco pontos na minha carteira e perco o passe de coelhinho ajudante.
- Então vamos logo!
Fifi chamou todo mundo na sala, desligou a televisão e disse.
- Eu quero...
- Quer??? Fale logo Fifi! - disse seu irmão muito emburrado. Ele queria voltar a jogar.
- Quero desejar uma Feliz Páscoa para todos vocês e cantar uma musiquinha!Todo mundo olhou para ela, Fifi viu no fundo só a sombra de Leléco passando.
- Bem disse! Vocês vão ter que me ajudar... Todo mundo conhece a música do coelhinho?
- Que bobagem! – disse a sua tia - Claro é muito conhecida.
- Então vamos lá: “Coelhinho da Páscoa que trazes para mim... "
Enquanto todo mundo cantava Leléco cumpria sua tarefa. Fifi piscou para ele e sabia que deveria guardar bem seu segredo. Logo em seguida os primos a suas cestas acharam. E para Fifi, Leléco deixou uma carteirinha carimbada de ajudante de Coelhinho da Páscoa. Será que também serviria para o Papai Noel? Pensou. Mas, logo desistiu da idéia. A festa da Páscoa foi muito linda, passou até um filme com a história de Jesus, para quem quisesse assistir!!!

*adicionado posteriormente a primeira publicação

13 de abril de 2011
Fernanda Blaya Figueiró



Histórias e mais Histórias – Segunda Parte Coletânea de Pequenos textos infanto-juvenis de dramaturgia de autoria de Fernanda Blaya Figueiró


A vaca caiu na lama!


Esta história surgiu de uma contação de histórias da Cataventus no Espaço Viandantes em Viamão. As crianças escolheram alguns animais do livro: O Menino Mestre e o Rei Zumbi, de Mestre Klaity e Cássia Luz. Começamos uma nova história e fiz esta pequena esquete.
22 de novembro de 2008

Macaco-
Coelho –
Tatu bola –
Arraia –
Caranguejo-
Vaquinha –
Leão –
Zebra –
Girafa –
Coruja –

Roteiro Fernanda Blaya Figueiró.

Sinopse: Os animaizinhos estão brincando na praia, quando o Macaco entra e diz que a vaca caiu na lama e precisa de ajuda. Eles passam a decidir como vão ajudar.

Cenário: Uma praia próxima a uma floresta

Sugestão: Pode ser feita uma mistura de contação e interpretação. Um adulto ( ou um dos adolescentes) vai contando a história e algumas falas são interpretadas pelas crianças. A caracterização pode ser feita com crachás com o desenho dos personagens, para facilitar a produção.
1ª Cena

Coruja
- Bom Dia( tarde?) !
Eu sou, como vocês podem ver, uma??? Coruja!!
E esta é a árvore que eu moro... Pois bem! Tudo começou em um lindo dia de sol, lembro bem! Os animaizinhos brincavam tranquilamente: o coelho ( entra o coelho) comia uma enorme folha de couve( ou uma fruta); o tatu bola ( entra o tatu ) brincava de alongar o casco; na areia o caranguejo ( entra o caranguejo) dançava de um lado para o outro e, na água, a arraia nadava e pulava.
Tudo estava muito calmo! Até que o macaco Kako ( entra o macaco) chegou muito afobado contando que a Vaca tinha caído na lama. Não foi assim Kako?

Kako
- Isso mesmo! A Vaca caiu na Lama!

Coruja ( olhando para os animaizinhos)
- E agora? A vaca caiu na lama, o que vamos fazer?

O macaco senta e come um pedaço da cove ( pode ser uma fruta) do coelho. Os outros personagem olham para a coruja e a narrativa passa para tempo real.

Coelho
- Eu tenho que cuidar da horta...

Arraia
- Eu não posso sair do mar.

Tatu bola

- Eu tenho que fazer meus buracos!! Tenho muitos buracos e túneis para fazer... Não posso ajudar vaca nenhuma...

Caranguejo
- Que tamanho é essa vaca??

Coruja
- Então Kako? Que tamanho é a vaca...

O macaco abre bem os braços.

Kako
- Deste tamanho...

Coelho
- Xiiiiiiiii! Deste tamanho! Como é que a gente vai ajudar??

Coruja
- E agora? Quem sabe pedimos ajuda para a girafa, o leão e a zebra. Eles moram na floresta.

Coelho
- O leão??? Sei não! ( o coelho pode ficar se escondendo do leão) Leão!!! Será que ele vai se comportar?

Tatu bola
- O Leão é gente boa! Quando não está com fome ( para o público) Eu vou lá chamar eles....

O tatu sai.

Coruja
- Kako! É muito longe o lugar onde a vaca caiu na lama?

Kako
- É... Pra lá! ( aponta para uma direção)

O tatu volta acompanhado pelo leão, a zebra e a girafa.

Tatu
- Aqui estão eles!

Leão
- O tatu disse que a vaca caiu na lama. O que vocês querem que a gente faça?

Coelho
- Acho que eu vou desmaiar! ( olhando para o público e se afastando do leão)

Coruja
- O Kako disse que a vaca é deeeeeeeeeesse tamanho! E nós somos todos assim( faz um gesto indicando que são todos pequenos) ...

Girafa
- Um bando de baixinhos... E onde está a vaca???

Kako
- Lá!

A girafa estica o pescoço e diz:

Girafa
- Lá está ela! Coitada... No meio da lama...

Zebra
- Eu posso puxar ela, se todo mundo ajudar...

Coruja
- Quem sabe jogamos uma corda para ela e puxamos... Pode ser uma corda com muitos nós. Cada um de nós pega um nó e puxa...

Todos
- Pode ser...

O macaco sai e volta trazendo uma corda...

Coruja
- Quem vai levar a corda até ela?

Coelho
- Deixa comigo...
O coelho sai levando a corda

Leão
- Fazer força me deixa com uma fome...

Coelho
- E essa agora...

Coruja
- Vamos gente! No três puxamos juntos... Um, dois e três

Todos os personagens pegam na corda e puxam

Coruja
- Força! Força!

Depois de alguns minutos o coelho retorna. A vaca entra toda suja segurando a corda.

Coruja
- Bem vinda dona vaca!!

Vaca
- Obrigada!! Muuuuuuuuuu! Mas, Muuuuuuuuuuuu ... Eu só estava tomando um bom banho de lama...

Coruja
- E assim termina a nossa história... Palmas para nossos amigos!!!

A História pode terminar com uma coreografia.
Fernanda Blaya Figueiró 22/11/2008
Fiz uma pequena paródia da Música Verão em Caucutá. Mas, o Tio Marquinho achou que não funcionaria musicalmente, além de termso que pedir autorização para o autor. Mesmo assim deixo a brincadeira aqui registrada
Fernanda Blaya Figueiró
Original:

Verão em Calcutá
Nei Lisboa

Paródia- Verão em Viamõa
Fernanda Blaya Figueiró
A vaca caiu na lama e se esbaldou
O coelho com medo do leão escapou

Ea velha coruja tudo contou
para o tatu que muito aprontou

Dançando na beira da praia
o caranguejo e a arraia

kako o charmoso macaco,
virou o novo rei do hu, hu, hu...

Mas foi uma corda de muitos nós
que a girafa e a zebra puxaram
A vaca ficou ali pensando
O couro com a lama amaciar...

Venha, vaquinha... Vamos passar
Um bom verão... Em Viamão!!!

Ao som de muuuuuuu Hu, hu,hu!!!

Tudo acaba num bom verão
no calor de Viamão...

“ESTRELA DE JURITI”


Um ROTEIRO

DE

Fernanda Blaya Figueiró


EXT – TORRES – PARQUE DA GUARITA LITORAL GAÚCHO


JURITI (mulher, mais de sessenta anos, cabelos longos lisos) aparece no parque da Guarita observando o mar. Dia de vento moderado, sol forte.


ADA
(V. O.)

No alto das torres lapidadas pelo vento e pela força do mar Juriti acordou de um longo sono...
Juriti observa atentamente a paisagem, sente a pele ardendo. Levanta e desce a trilha que leva até a praia.
ADA
(continuação)
Rente ao mar pisou o chão com firmeza... Observava o rochedo que respondia ao estrondo das ondas devolvendo a água com força.
EXT. BEIRA DA PRAIA
Juriti chega a beira da praia, brinca com as ondas e entra no mar, com as roupas que está vestindo.
ADA
(continuação)
Vestindo roupas comuns entrou no mar. Neste momento nos encontramos.
Juriti brinca nas ondas e uma mulher aproxima-se é Ada Blomm ( veste um maio preto, uma canga de seda e um elegante chapéu de palha). Ela perde um brinco ao entrar no mar. Juriti encontra e devolve o objeto. As duas conversam.
JURITI
É um brinco de coral?
ADA
Isso! Eu adoro este brinco! Muito obrigada! Foi muita sorte a senhora ter encontrado.
JURITI
A senhora está no céu! Juriti. Muito prazer!
ADA
O prazer é meu! Ada Blomm!... Você gosta muita da água, não é?
JURITI
Adoro! Eu me criei nessa praia brincando, catando conchinhas, pescando... Isso aqui mudou muito...

ADA
Mudou... Mas, continua bonito!
JURITI
No meu sonho era tudo mais perfeito ainda...
Ada aproxima-se curiosa. Juriti fala com calma e continua brincando com a água
ADA
Sonho?
Juriti cata conchinhas e encontra uma Estrela do Mar... Mostra para Ada na palma de sua mão.
JUTITI
Eu estava lá em cima olhando a praia e acordei de um longo sonho... Olha só que maravilha essa estrela... É perfeita! Você percebe a beleza disso tudo?

ADA
Nem sempre! Quer dizer, eu adoro estética... Principalmente na moda. Meu passatempo é desenhar e imaginar vestidos, acessórios... Mas são criações humanas...
JURITI
Você trabalha com isso?

ADA
Não! Pesquiso moda por prazer.... Participo de desfiles, escrevo pequenos comentários... Mas, não vivo disso... Não trabalho. Não no sentido que... Deixa pra lá.
A praia aos poucos esvazia, as duas caminham pela areia. Juriti pára e olha mais uma vez pro mar.
JURITI
As pessoas trabalham por que precisam! Trabalhei trinta e dois anos na secretaria de uma escola: vendo, ouvindo, esperando... Crie meus filhos... Agora estou aqui: aposentada... Não sei ainda o que fazer com tanto tempo sobrando...
Juriti entrega para Ada a estrela do mar.
ADA
Obrigada, Juriti. Foi muito bom conversar com você... Você é uma pessoa muito bonita, eu tenho que ir... Até uma próxima...
JURITI
Até mais!
As duas se despedem, Ada vai embora e Juriti continua olhando o mar até escurecer.
Corta para
INTERIOR – SACADA DE APARTAMENTO NA BEIRA DA PRAIA – NOITE.
Ada entra ( usa vestido e sandália “rasteira”) senta no sofá ( branco) e liga a televisão. Levanta serve um cálice de vinho e observa a rua pela janela da sacada... Usa o telefone... Desliga... Volta para a sacada... Atende a porta... Recebe uma refeição pronta ( casquinhas de siri) . Arruma um lugar. Senta, agradece a refeição e janta.
Corta para
INTERIOR – COZINHA – NOITE
Juriti entra ( usa vestido e sandália rasteira) molha as plantas, seca e guarda a louça, organiza compras na geladeira. ... Liga a televisão. Prepara casquinhas de siri. Serve um copo de suco. Abre a porta da cozinha e observa a rua enquanto toma o suco e as casquinhas estão no forno. Prepara a mesa, senta, agradece a refeição e janta.
Corta Para
IMAGENS DA PRAIA E DA CIDADE... Movimento nos bares, lojas, trânsito.
JURITI
(V. O.)
No meu sonho não havia pobreza! De nenhum tipo! Não havia fome, desrespeito, humilhações... Nem devastação, destruição... Guerras e ódio. As pessoas sorriam e gostavam de viver... A natureza oferecia aos homens tudo o que precisavam... O pão era repartido! Partido e repartido... Ninguém precisava salvar a natureza... Nem temer por nada... Mas, era um sonho!
Corta para
EXTERIOR – BEIRA DO MAR – ALVORADA
ADA
(V. O.)

Juriti sonhou um mundo diferente e ele aconteceu! Olhe o mundo! Está totalmente iluminado.
Ada passeia na beira da praia com a estrela do mar na mão, aos poucos o sol ilumina a praia.
ADA
(continuação)
Guardarei a Estrela do Mar de Juriti como quem guarda um tesouro. A sabedoria de suas palavras simples como a mensagem de um grande mestre.
IVAN um pescador ( calção, camisa, leva uma vara de pesca e um balde) e VIOLA um menino ( calção, camiseta, leva uma pequena rede de pesca) aproximam-se dela.
IVAN
Madrugou vizinha?
ADA

Bom dia, Ivan! Viola!
VIOLA
Bom dia, dona Ada! Uma estrela do mar?
ADA
Ganhei ontem! De uma pessoa maravilhosa...
IVAN
De Juriti!
ADA
Isso! O senhor conhece Juriti?
Ivan joga a linha no mar e prende o caniço em um cano.
IVAN
Juriti é a mãe da água! Dizem que é uma pombinha que às vezes se transforma em uma mulher e vem falar com as pessoas... Há muitas histórias sobre ela...
VIOLA
Você já viu?
IVAN
Nunca! Juriti só aparece para quem ela escolhe...
VIOLA
Pai! Está puxando!

IVAN
Opa! Deve ser dos grandes! Prepare o balde filho.
Viola prepara o balde.
ADA
Não deve ser a mesma! Ela era uma mulher da minha idade, tinha longos cabelos lisos. Feições indígenas... Falava calmamente...
IVAN
Sobre um sonho?
ADA
É! Ela contou um sonho.
IVAN
Com um mundo mais bonito! Sem fome, sem miséria, sem sofrimento?
VIOLA
Como você sabe?
Ada observa bem o pescador, Viola olha para ele. Ivan recolhe a linha, que vem com um grande peixe preso.
IVAN
O povo conta que Juriti aparece de tempos em tempos... Contando de um sonho... Ela entrega para a pessoa escolhida uma Estrela do Mar e junto traz um pouquinho de paz pro mundo...
ADA
E seria essa a Estrela?
IVAN
Essa mesma! O que a senhora vai fazer com ela?
ADA
Tinha pensado em guardar... É muito bonita! O que o senhor acha que eu devo fazer com ela?
IVAN
Não me meto nessas coisas... Faz o que seu coração mandar.
VIOLA
Se fosse minha...
ADA
Viola! Você quer a Estrela de Juriti?
Ada oferece a Estrela ao menino. Ele olha e pega.
VIOLA
Eu sei o que fazer! Vem comigo?
Viola puxa Ada pela mão.
ADA
Você não ia pescar?
VIOLA
Depois!
Os dois sobem o penhasco. Ivan fica pescando.
ADA
Como está lindo o mar! Que paz!
VIOLA
Foi aqui que ela disse que acordou do sonho?
ADA
Foi! Esse lugar é um sonho!
VIOLA
Posso jogar a estrela?
ADA
Jogar?
VIOLA
Assim ela fica livre e volta pro mar, e a Paz se esparrama pela praia.
ADA
Pode! Acho que pode...
Viola joga a Estrela no mar. Os dois ficam em pé observando o pequeno objeto caindo. Ada dá um abraço e um beijo em Viola e os dois descem para a praia.
Corta para
EXT. – PRAIA - DIA
Juriti passeia pela praia deserta. Encontra a Estrela e sorri.
EXT – AVENIDA – DIA
Ada ajuda uma moça a atravessar a rua, ela está com uma criança pequena no colo e um bebê num carrinho.
Juriti observa de longe.
INT. – PEIXARIA – DIA
Viola guarda os peixes. Ivan vende seu produto e no fim do dia reparte o que sobrou com algumas crianças e uma senhora: Juriti.
JURITI
Obrigada! A pesca foi boa!
VIOLA
A senhora nem imagina! Foi ótima!
IVAN
Também! Juriti apareceu na praia!
VIOLA
Ela deu uma Estrela do Mar para dona Ada. Dizem que a paz vem junto com a estrela.
JURITI
Vai ver que vem mesmo... O que é a Paz?
VIOLA
É todo mundo viver bem!
Corta para
EXT – BEIRA DO MAR – PLATAFORMA DE PESCA
Juriti ( Moça, cabelos longos e lisos) se aproxima de um surfista e entrega uma Estrela do Mar...


Este texto foi um exercício baseado no livro Manual do Roteiro de Syd Field, na época eu estava pensando em escrever um novo roteiro de Rádio Novela e fiz esta pesquisa para aprimorar a ideia. Inicialmente escolhi a palavra pocema, mas fui pesquisar seu significado e vi que se tratava de um grito de guerra então eliminei o termo e passei a buscar no texto a paz, o nome do arquivo acabou ficando Pocema.
05/02/2008
Fernanda Blaya Figueiró


João e Maria na cidade grande


Um roteiro de Fernanda Blaya Figueiró e Carmem Henck

Personagens
Joãozinho – Menino que mora com a família em uma casa antiga no centro de uma violenta cidade.
Mariazinha – Irmã mais nova de João
Dona Maria – Mãe das crianças
Seu João- Pai das crianças

Casca Vel – Vizinha que quer ficar com a casa.

1ª Cena

O galo canta, amanhece num dia muito quente de verão. Joãozinho vai lavar o rosto e escovar os dentes e dá de cara com Casca.

Joãozinho
- Bom dia, Casca!

Casca
- Bom? O que que tem de bom, neste calor dos infernos???

Joãozinho
- Sei lá? Pelo menos não está frio, isso já é bom... Deixa eu passar?

Casca
- Não! Faz a volta, pestinha... Essa parte do pátio e da minha casa...

Joãozinho
- Não é não!... Mas, eu vou fazer a volta, pode deixar... Casca... vel ... Essa parte é nossa.

Casca
- Ce tá muito magrinho, menino, devia comer mais um pouquinho, pra ficar mais fortinho... Quer um pedacinho de bolo de fubá?

Joãozinho
- Nem morto!!! Comer algo da sua mão... Só pode estar envenenada!!!

Casca
- Não faz assim, que Deus castiga... Tua mãe já saiu??

Joãozinho
Minha mãe não é preguiçosa que nem certas pessoas... Mas não fica animada, porque o meu pai está em casa.


Casca
- O meu pai!!! Grande coisa!!!... Tu acha que eu não tive pai, oh coisinha!! Então diz pro teu Pai que hoje eu vou receber umas visitas, muito especiais... Um pessoal que tem interesse em comprar a casa.

Joãozinho
- Oh, dona Casca! A Casa não está a venda.... Como a senhora bem sabe! E que eu saiba cobra nasce de ovo nem sei se tem pai.

Casca
- Deixa de ser mal criado... Isso é o que nós veremos, vai e dá o recado pro teu papai... Essa parte é minha e se eu quiser vendo e pronto.

Casca sai de cena resmungando sozinha, Joãozinho finge que está fazendo a volta e escovando os dentes... Penteia o cabelo e olha no espelho, se achando muito magro. Seu João entra.

João
- Bom dia!

Joãozinho
- Nem tão bom assim...

João
- O que é isso, menino!!

Joãozinho
- Acordei na maior alegria e dei de cara com a Casca Vel!!! Isso acaba com o bom humor de qualquer um!!! E hoje ela tá que tá!

João
- Deixa pra lá... Isso aí encostou aqui, que nem carrapato pega no gado... Não sei como tua mãe agüenta, por mim já tinha mandado embora! E a inhaca?

Joãozinho
- Pior do que nos outros dias, parece que comeu uma cabeça de alho com molho de carniça e bebeu água da privada... Acredita que queria que eu comesse bolo de fubá!

João
- Mas, tu não comeu, né?

Joãozinho
- De jeito nenhum... Oh! Pai tu acha que eu to muito magrinho?

João
- Que nada!! Porque?

Joãozinho
- A Casca ficou me zoando...

João
- Essa é do tempo que criança pra ter saúde tinha que ter as bochechas grandes ...

Entra Mariazinha

Mariazinha
- Bom dia!... Vamos Joãozinho, a aula começa daqui a pouco. Vocês viram que a Casca tá de faxina? Vai chover!

Joãozinho
- Ela disse que hoje vai receber uma visita muito importante... Um pessoal que quer comprar a casa.

João
- Como assim??? Ela endoidou de vez, foi? Como se a casa estivesse a venda... Ah! Mas eu vou lá tirar esta história a limpo.... Essa maluca me paga.

Mariazinha
- Calma pai!!!! Espera a mamãe chegar, a Casca só pode estar de brincadeira... Até parece que ela conhece alguém importante... Mas esse cherinho... Até que está bom... Parece de doce de leite

Joãozinho
- Ou de “nega maluca” ... Eu adoro nega maluca...

João
- Crianças! Ouçam bem o que eu vou dizer, não comam nada feito pela Casca Vel... Ela só quer enrolar vocês. Agora vão para a nova escola. Mas, cuidado com os “bondes e as gangues!!!!”... E... Não esqueçam vocês são novos na escola, não procurem confusão, sabem bem o caminho? É muito mais longe.

Mariazinha
-O caminho? Claro!

Joãozinho
- Tá tá tá... Tchau pai!

João
- Mariazinha! Na volta passa na venda e traz um rolo de fita para dar o acabamento nestas peças, ontem vendi tudinho, na feira, não sobrou nenhuma.

Mariazinha
- Que cor?

João
- Verde escuro!

Joãozinho
- Vamo guria...

Mariazinha
- Calma! Oh Joãozinho, tu sabe bem o caminho?

Joãozinho
Bem, bem, não... Essas ruas são tão iguais, quem sabe a gente solta um pedacinho da nossa merenda, para marcar o caminho.

Mariazinha
- Acho melhor... Isso parece uma floresta de edifícios...

Joãozinho
- Olha a onça!!!!

Mariazinha
-Onde???

Joãozinho desata a rir... Eles soltam alguns pedaços de merenda, só que um mendigo come tudo. Depois o mendigo deita e sacode a barriga.

As crianças se afastam e Casca aparece no fundo da cena cobrindo a entrada da casa com doces e fitas coloridas. As crianças saem de cena. Anoitece e eles estão perdidos entre os edifícios, pois não encontram os pedacinhos de merenda.
Mariazinha e Joãozinho vêem de longe a casa toda ornamentada, estão morrendo de fome e loucos de medo.

Joãozinho
- Não será aquela a nossa casa?

Mariazinha
- Sei lá!!! Parece e não parece!!! Vamos lá dar uma olhada!

Eles se aproximam vagarosamente e olham para a casa. A Casca está usando um longo vestido de festa e uma flor presa numa peruca loira.

Casca
- Olá! Vocês estão procurando alguma coisa?

Joãozinho
- Nossos pais! Hoje fomos a uma nova escola e nos perdemos deles.

Mariazinha
- Que nº é essa casa?

Casca
- Ora, menina, esta casa é minha, moro aqui há mais de vinte anos. Vocês não querem entrar e tomar um refresco?

Joãozinho
- Como a senhora se chama??

Casca
- Verusca... Mas podem me chamar de Vel. Entrem!! Entrem!! Meu mordomo já vai lhes trazer algo para comer!

Mariazinha
Mordomo!!!!! Que coisa chique!!! Eu sempre quis ter um mordomo, um motorista uma cozinheira, uma personal treinen... Tudo só para mim!

Casca
- Eu tenho! Tudo isso e mais um pouco... Quer ver, queridinha?

Joãozinho
- Acho que nós já vamos... A senhora é muito querida, mas a gente está com presa.

Mariazinha
- Meus pés estão com bolha de tanto caminhar. Não custa nada descansar um pouquinho.... Vamos, Joãozinho!!

Casca
- Isso! Só um pouquinho!

As crianças entram e Casca bate a porta e passa um grande cadeado.

Casca
_ Ah! Ah! Ah! Seus pestinhas.... Vocês não sabem com quem se meteram!!! Eu vou mostrar o que é bom pra tosse.

Ela tira a peruca e eles soltam um grito, juntos
- Casca... Vel!!!!!!!!!!

Casca
- Vocês agora são meus escravos!!!

E dizendo isso ela prende Joãozinho numa gaiola e o amarra com uma corrente. Obriga Mariazinha a cozinhar, lavar, passar, esfregar o chão, sempre resmungando.

Mariazinha
- Onde estão nossos pais???

Casca
- Que pais o que!!! Aqueles dois fugiram!! Foram pra os cafundó onde Judas perdeu as botas, só pra se livrar de vocês.

Joãozinho
- Isso não é verdade!!!

Casca
- Agora, Joãozinho, tu vai comer que é para poder pegar no pesado sem fraquejar... Tu vai trabalhar de meu escravo fazendo aquelas peças de artesanato que teu pai fazia. Eu comprei tudo dele... O estoque inteirinho!

Mariazinha
- Tu deve é ter roubado. Isso sim!

Casca
- Cala boca e vai pro fogão, agora mesmo. E tu dá esse dedinho aqui... Olha ! Coisa feia parece um palito. Mariazinha serve um frango com polenta pra esse desmilinguido. Eu comprei esse franguinho com polenta... Só pra ti engordar!

O tempo passa, Casca senta e usa um leque para se abanar enquanto Joãozinho come e Mariazinha trabalha. Ela vai ver de novo o dedo de Joãozinho.

Casca
- Dá o dedinho Joãozinho... Coisa ruim, que não engorda!

Cansada ela dorme.

Joãozinho
- Mariazinha!!! Me ajuda aqui, sem fazer barulho, para Casca não acordar, eu usei esse ossinho e consegui soltar o cadeado... Me ajuda aqui!!

Mariazinha
- Tu tá sentindo esse cheiro??

Joãozinho
- Tô. O que será?? Parece que tem um defunto escondido por aqui....

Mariazinha
- Não brinca!!!! Essa maluca que nunca limpou a casa, pior que banheiro público....

Joãozinho
- Mas, olha essa é a nossa casa. Ela que transformo nessa pocilga. Mariazinha, você está ouvindo?

Os dois fazem silêncio e são ouvidas umas batidas.

Mariazinha
-Vem do sótão.

Joãozinho
- Fica de olho nela que eu vou subir e ver o que tem lá!

Casca ronca e baba. Mariazinha fica apontando uma vassoura em sua direção. Mariazinha aponta uma lanterna para o teto e Joãozinho sai de cena. Retorna logo em seguida com o pai e a mãe... Os quatro se abraçam, em silêncio.

Maria
- Meus filhos, amados, que bom que vocês estão bem!!! Eu estava morrendo de preocupação...


João
- Essa maluca nos prendeu no sótão, porque queria vender a casa. Vieram umas pessoa aqui e saíram apavoradas com o fedor e a bagunça que a casa dela estava... E ainda disse que o nosso pátio era dela.

Maria
- A gente tinha que se livrar dela de algum jeito!!!

Joãozinho
- Quem sabe pregamos uma peça nela...

Mariazinha
- Uma peça, mas como?

João
-Vamos bolar um plano.

Mariazinha

- E esse cheiro de podre?

Maria
- É da geladeira, ela não pagou a conta a luz foi cortada... Estragando tudo... Para disfarçar esse cheiro ruim, hoje pela manhã ela esquentou um tacho de doce que só tinha uma rapinha...

Joãozinho
- Já sei! Vamos espalhar as coisas da geladeira pela casa e fingir que foram uns fantasmas.

Mariazinha
- Ela, que já é maluca, vai acabar fugindo de vez.

Eles colocam o plano em ação

Joãozinho começa a arrastar as correntes, João bate as persianas das janelas e solta gritos horrendos . Maria grita e uiva e Mariazinha geme e bate os pés no chão,
Casca acorda assustada.

Casca
- Quem está aí!!! Ai, Ai, serão fantasmas !!!

Joãozinho
-BUUUUUUUUUUU, BUUUUUUUUUU, BUUUUUUUUUU. Que fedorão é esse?? Tem bicho morto nessa casa????

Casca
- Não! Foi a luz que faltou e...

Maria joga uma vassoura nela.

Joãozinho

- Limpa essa sujeira!!!

Casca
- Socorro! Não me machuquem! Eu vou me comportar!!! Socorro!!!!!!!

Joãozinho
- Casca! Casca ... Vel !! Volte para sua antiga casa e arrependa-se de suas maldades.!!!

Casca
- Ele sabe até meu nome!!! Essa casa está amaldiçoada!!! Fantasma doido!! Socorro, eu vou, eu vou embora e nunca mais vou voltar....

Casca sai correndo e a família comemora aliviada.

João
- Já vai tarde!!! A Casca Vel, virou uma minhoquinha assustada.

Maria
- Coitada!!! Tomara que ela encontre algum lugar para ficar...

Mariazinha
- Nunca mais vou reclamar de ajudar a lavar a louça

Joãozinho
- Nem eu de arrumar meu quarto.

João
- Ainda bem que tudo acabou bem.

Maria
- Agora vamos arrumar essa bagunça e arejar a casa. Chega de confusão.

Todos arrumam a casa e entoam essa cantiga


Melô da Casca Vel

Mariazinha, foi presa na cozinha
fazendo chocolate para o Joãozinho

Mamãe Maria, apavorada,
Deu uma vassourada na Casca vel malvada

Papai João, o artesão,
Assustou a cobra com um gritão

A Casca Vel que era malvada
Virou uma minhoquinha muito assustada

Correu, correu a cobra danada
Tanta maldade não deu em nada

Assim termina nossa história
Com a casa limpa, uma vitória

Fernanda Blaya Figueiró

04/12/2009



O pepino feioso


Personagens:
Pepino
Cenoura
Alface
Milho
Tomate


Sinopse: O pepino feioso mora em Pepinópolis , uma micro cidade que fica dentro de uma biblioteca. Ele vive sozinho e resmungando porque se acha muito feio, além disso tem muito medo de seu rival: um repolho amarelo que usa cueca roxa e tem asas cor de rosa.

Cenário: uma biblioteca, com prateleiras e livros, um quadrado, imitando um jogo de encaixe, onde estão o milho invisível, a cenoura voadora o tomate forte , a alface do poder e o pepino feioso. ( pode ser feito em papel pardo e celofane no desenho dos personagens, ou com sombras. )


Cena

As cortinas abrem e os personagens estão em seus lugares, menos o milho ( pois é invisível) ficando apenas um lugar vazio em seu formato. A luz está apagada. um foco de luz vai iluminando primeiro o pepino, depois os outros personagens.

Pepino
- Ufa! Como demorou para acabar este dia... Não via a hora de poder me esticar todo!... A biblioteca ficou cheia o dia inteirinho... Que silêncio!... Cenoura!!!!! Acorda!!!!!!

Cenoura
- Tá maluco, Feioso?? Assim os guardas vão aparecer!!

Pepino
- Você não está achando estranho esse silêncio todo???

Cenoura fica quieta e põe a mão no ouvido... o Tomate acorda

Tomate
- O que vocês estão fazendo??? Eu não estou ouvindo nada

Alface acorda

Alface
- Será o Repolho?

Pepino
- Não, o repolho não! Eu morro de medo deste repolho malvado... Ele quer transformar todo mundo em monstros....

Milho (só a voz)
- Calma gente! Sou eu, o milho invisível... Estou procurando um livro...

Todos
- Um livro??

Milho
_ Isso! Um livro... Não estamos em uma biblioteca?

Pepino
- Mas, você saiu de Pepinópolis?

Milho
- Sim, estou na prateleira da biblioteca!
Cenoura
- Ai, ai, ai Você não tem medo?

Pepino
- Isso não vai dar certo!

Tomate
- Milho! Porque que você quer um livro?

Alface
- Vai ver que é para te esmagar, seu tomate maduro... O milho quer um livro para ler...

Milho
- Isso! Só que eu quero um livro que tenha o valor dos vegetais.

Cenoura
- Valor? O que é isso?

Alface
- Valor é o quanto nós valemos, em termos nutricionais, em termos econômicos, qula nossa função no sistema de vida do planeta... Etc...

Pepino
- Agora é que não entendi mais nada... Eu vim parar em Pepinópolis porque todo mundo lá na horta me achava feio... Eu não atendia ao padrão do mercado... Era muito torto e tinha umas pequenas manchinhas de ferrugem...

Milho
- Eu era tão sem cor que acabei invisível. As outras espigas eram muito mais amarelas e tinham os grãos mais robustos.

Tomate
- Eu vim porque tinha o gosto muito forte, muito ácido para o molho, ou para a salada.

Alface
- E eu??? Vim para aqui porque tenho muitas folhas... Disseram que eu era quase um... re.......

Cenoura
- Bobagem!!! Nós estamos aqui para que as crianças aprendam nossos nomes...

Pepino
- Quem te disse isso?

Cenoura
- Eu ouvi... Tá! Ouvi a bibliotecária falando para uma das crianças, nossos nomes e como ela deveria nos encaixar cada um no seu lugar. Além das nossas cores...

Tomate
- Pois eu ouvi foram poesias...

Pepino
- Eu ouvi: “ Como esse pepino é feio”

Alface
- Eu ouvi “ Que alface mais repolhuda”.Buuuuuuuuuaaaaaaaaaaa Buaaaaaaaaaa... Eles acham que eu sou gorda...

Milho
- Calma! Encontrei! As plantas são seres vivos, que pertencem ao Reino Vegetal.

Cenoura!
- Isso! Somos seres vivos!

Tomate
- Reino Vegetal??? Mas, isso deve ser muito importante... Um reino tem um Rei

Alface
- E uma rainha

Pepino
- Não sei! Existe o rei Leão, a Rainha Leoa nunca ouvi falar...

Cenoura
- Então a gente inventa... Espertinho!

Milho
- Somos a base da cadeia alimentar de muitas espécies...

Tomate
- Opa! Isso não parece muito bom...

Cenoura
- Que livro é esse?
Milho
- Um livro de ciência natural... Contemos muitos nutrientes, somos saudáveis e embelezamos o planeta...

Pepino
- Viu!!!! Eu não sou feio! Eu sou um embelezador do planeta!

Alface
- Viva! O Reino Vegetal...

Milho
- Os reinos animal, vegetal e mineral tem que viver em harmonia, para o bem do planeta Terra.

Batem na porta. Os vegetais ficam quietos. com muito medo o Pepino vai até a porta e gira lentamente a maçaneta, a por range. O pepino treme.... Ouvesse um forte estampido e o pepino é jogado contra a prateleira.

Entra o repolho, com as cuecas roxas e asas cor de rosa, levando uma mochila nas costas.

Todos
- O Repolho Monstro!!!
Os personagens correm de um lado para o outro, estabanadamente.

Pepino
- Vá de retro seu Malvado !!

Milho
- O que você quer aqui? Não nos transformará em monstros...

Repolho( com os olhos em lágrimas)
- Eu vim em Paz!!!!

Cenoura
- Em Paz?? Então que cheiro é esse?

Repolho
- De chucrute! Eu estava preso em um vidro de conserva... Embebido em vinagre, sal e azeite... Mas o vidro caiu no chão e eu sai rolando... Essa cueca e essas asas foram colocadas em mim para enfeitar a salada do bufe...

Pepino
- Então você não é malvado?

Repolho
- Não! Eu sou fedorento...
Cenoura
- Isso a gente já sentiu... Mas, quem sabe se você toma um banho de água mineral essa “nhaca” não passa?

Repolho
- Posso morar aqui?

Tomate
- Acho que pode.

Alface
- Só que: onde o repolho vai ficar quando a biblioteca abrir ?

Cenoura
- Ele pode se fingir de morto...

Pepino
- Não! Dai vão colocar ele no lixo!

Milho
- Ele pode fingir que é um Globo Terrestre.

Alface
- Um globo todo torto e mal cheiroso? Será que alguém vai acreditar nisso?

Repolho
- É só escrever uma etiqueta assim: “ Arte Moderna!” ou “Cuide da Natureza!”

Alface
- Será que isso vai dar certo?

Pepino
- Quem sabe: “ Isso é o que pode acontecer se os reinos não se unirem!”

Tomate
- Meio radical, vão achar que há uma guerra...

Repolho
- Já sei! “Cuidado! Experiência Secreta!”

Milho
- Acho melhor você pular a janela!!!!

Todos
_ Pular a janela???? Ficou Maluco???????

Milho
- Ele vai cair no jardim...

Repolho
- Seria ótimo viver a vida do campo... Sem a correria dos restaurantes e supermercados...

Pepino
- A biblioteca já vai abrir... Rápido todos para seus lugares...

O repolho salta para fora do palco e todos os personagens voltam para seus lugares...

Uma voz reclama
- Nossa!!! Que cheiro? Será que o esgotou vazou???????

Os personagens pedem silêncio ao público...

Os personagens pedem silêncio ao público...
Uma menina entra e brinca de fazer o casamento do Pepino com a Cenoura.
Depois mistura tudo e faz uma grande e nutritiva salada.



Fernanda Blaya Figueiró

Escrito na Biblioteca Lucília Minssen com co-autoria de Carmem Henke e seus alunos de oficina.





O Lago dos Cisnes Negros – Uma releitura do Clássico


Texto para dramaturgia.
Um roteiro de Fernanda Blaya Figueiró

Co-autoria com a Turma da Tarde da AFASO -Alexandre Jr, Gilmar Oliveira Ferreira, Luciano da Silva Costa, Wagner Souza Mello, Aline Costa, Karine da Silva Rosa, Aline Rosa, Kely da Silva e Daiane dos Santos.
Escrito para o Instituto Elluz, para um trabalho educativo com a turma da AFASO.

Cenário: Colcha de retalhos azul para o lago, verde para o campo aberto. Caixas transformadas em pedras.
Ponte: Cordas presas com pedestais

Personagens

Tchai – A Tartaruga Sábia

Kow – O Rei Cisne Negro

Sky – A Rainha Cisne Negro

Tupi – O Lagarto Imperador

Téu Téu – Rei Quero- quero

Teon – Rainha Quero- quero

Primavera – Flor encantada que traz a estação.

Guerreira - Raio da Lua

Guerreiro - Raio do Sol



Sinopse: Em um lugar encantado do pequeno Planeta Terra reinam Kwo e Sky, os belos Cisnes Negros. A paz do reino é abalada por que o Lagarto Imperador, Tupi, atacou o Ninho dos reis, Teu Téu e Teon, sendo banido pelos guerreiros Raio da Lua e Raio do Sol. Ofendido Tupi aprisiona a Primavera. Os cisnes partem em busca de uma solução para o conflito.











1ª Cena – O Lago
A tartaruga entra caminhando lentamente. Pára, olha para um lado, para o outro, estica o pescoço e diz:

Tchai
- Em um lindo e pequeno planeta chamado Terra, existe um lugar encantado: O lago dos Cisnes Negros. Suas águas são cobertas por marrequinhas, peixes, sapos, tartarugas e muitos outros animaizinhos e plantas. Ali reinam, com paz e sabedoria, Kwo e Sky, o mais belo casal de cisnes negros do planeta.

Entram os dois cisnes

Tchai
- Seu poder vem de uma força sobrenatural e intangível: o amor!

Kwo
- Tchai, sábia tartaruga, precisamos muito de seus conselhos...

Sky
- A paz do lago anda ameaçada. Os conflitos dos reinos vizinhos podem nos atingir.


Kwo
- Soubemos que Tupi, o Lagarto Imperador do Reino de Pedras, atacou o ninho dos quero-quero: Téu Téu e Teon, os Reis do Campo Aberto.

Sky
- Tememos que a discórdia entre eles afete nossa tranqüilidade. Conte-nos o que aconteceu.

Tchai
- Em uma tarde muito quente e ensolarada, Tupi invadiu o Campo Aberto, pretendia devorar os ovos do ninho, mas foi impedido pelos guerreiros Raio de Sol e Raio de Lua. Ele apenas seguia seus instintos e sentiu-se injustiçado. Ofendido aprisionou a bela Primavera, flor encantada que abre a nova estação. Nuvens tomaram conta do céu, um vento forte soprou sem cessar e os raios de sol e de lua enfraqueceram.
Um intenso frio não permitiu mais que a vida se renovasse.

Kwo
- Como podemos ajudar?

Tchai
- Libertando Primavera do feitiço que a prende...

Sky
- E como fazemos isso?

Tchai
- O feitiço só se quebrará quando Tupi aquecer seu coração.

Sky
- Os lagartos tem sangue frio...

Tchai
- E Tupi mais ainda, pois daquele dia em diante nunca mais tomou seu banho de sol.

Kwo
- Tudo na natureza é perfeito, sem a chegada da primavera haverá muito sofrimento. Hoje mesmo partiremos em direção ao Reino das Pedras.

Tchai
- Tomem muito cuidado, nobres soberanos, na travessia do Campo Aberto. Téu Téu e Teon ainda não perdoaram Tupi. Eles atacam qualquer ser que se aproxime de seu ninho, com terríveis vôos rasantes. Há quem diga que viraram os guardiões da vida e da morte.

Kwo

- Tchai! Não esqueça de nunca permitir que a ponte seja cruzada por qualquer ser que pense em destruição. Isso seria o fim da alegria que hoje reina entre nós.


Os cisnes deslizam pelo lago, a tartaruga caminha lentamente, olhando para todos os lados.

Tchai fica na ponte observando. Os cisnes saem do lago.

Tchai
- E assim partiram Kwo e Sky, em busca da harmonia perdida. Todos no lago ficaram apreensivos, mas tomaram muito cuidado para que seus pensamentos não fossem contaminados pelo medo. Sabiam que em breve eles retornariam trazendo uma boa notícia.
Tchai se encolhe, como se tivesse dentro do casco, depois sai disfarçadamente.








.









2ª Cena – O Campo Aberto

Kwo e Sky encontram com os guerreiros

Kwo
- Guerreiro Raio de Sol, procuramos por Tupi, o Lagarto Imperador.

Raio de Sol (fazendo uma reverência)
- Kow, Rei do Lago dos Cisnes Negros, lastimo informar que Tupi encontra-se exilado no Reino das Pedras, tendo como sua prisioneira Primavera...

Sky

- A sábia tartaruga Tchai nos contou como tudo aconteceu... Resolvemos procurar por ele, para libertar Primavera.

Raio de Lua
- Nós agimos com imparcialidade, os raios do Sol e da Lua são os mesmos para todos os seres vivos. O que afugentou Tupi foi o reflexo de nossos raios no pequeno espelho que havia no chão, nele viu refletido o seu interior.

Kwo
- Teu Téu e Teon nos permitiriam atravessar o Campo Aberto?

Raio de Sol
- Podemos partir na frente e indagar a eles. A nova estação precisa chegar.

Raio de Lua
- Nobre soberano e a ponte? Como ficará sem a sua presença?

Sky
- Tchai ficou de proteger a ponte, ninguém se atreverá a desobedecer a sábia tartaruga.

Raio de Lua
- Peço sua permissão para ir até o lago e ficar com ela. São muitos os perigos que os pensamentos destrutivos podem trazer para o mundo...

Kwo
- Tens minha permissão, Raio de Lua. Agora vamos! Cada minuto perdido é uma parte da vida que deixa de se renovar.

Raio de lua sai de cena. Kwo, Sky andam vagarosamente e raio de sol parte na frente deles. Logo em seguida Raio de Sol encontra os quero-queros, aqui teremos cinco personagens em cena, mas a atenção tem que se voltar para Raio de Sol, Kow w Sky podem andar em círculo no limite da colcha de retalhos.

Raio de Sol
- Téu Téu !Teon ! Venho em missão de Paz!

Téu Téu
- Aproxime-se!

Teon
- Guerreiro Raio de Sol, seja bem vindo ao Campo Aberto.

Téu Téu
- Kow e Sky, preocupados com o seqüestro de Primavera pedem permissão para atravessar o Campo Aberto. Pretendem convencer Tupi a libertá-la.

Téu Téu
-Que sejam bem vindos. Mas, e a ponte?

Raio de Sol
- A ponte ficou protegida por Tchai. Raio de Lua foi ajudá-la.

Teon
- O Campo Aberto está secando, em pouco tempo não mais teremos alimentos. Tupi sabia que não deveria atacar nosso ninho.

Raio de Sol
- Kwo e Sky buscam o equilíbrio...

Téu Téu
- Raio de Sol, retorne e informe a eles que tem nosso apoio. Podem cruzar o campo e se precisar podem contar com nossa ajuda. Não queremos mal a Tupi, apenas vamos continuar defendendo nossos filhotes.

Raio de Sol
- Obrigado!

Raio de sol retorna, os quero-queros saem de cena. Os três personagens atravessam a colcha chegando ao Reino de Pedras.

















3ª Cena – O Reino de Pedras
Os três personagens param e olham para as pedras.

Sky
- Que lugar lindo!

Kwo
- Raio de Sol, você consegue atravessar os espinhos dos cactos e chamar Tupi?

Raio de Sol
- Há muitas sombras aqui... Prefiro me afastar

Raio de Sol sai de cena.

Sky
- Eu colhi frutas frescas para oferecer a ele...

Kow
- Tupi!... Tupi!... Precisamos falar com você... Apareça!

Depois de um breve silêncio o lagarto sai de trás das pedras. Caminha desconfiado, olhando para os lados e colocando a língua para fora.( tem um dos meninos que imita igualzinho)

Kow
- Caro Imperador! Viemos em missão de Paz...

Tupi
- Sei!... Missão de Paz... Sei!... Que conversa fiada... ( bate os dedos numa pedra)... Kow, Sky, os Reis queridinhos de todo mundo!... Missão de Paz... E essas frutas? Vocês acham que o Grande Imperador é bobo?

Sky
- Não! São uma oferenda, um sinal de amizade. De respeito.

Tupi pega uma fruta.

Tupi
- Amizade! Sei... Cês tão é tudo com medo... Eu estou côa Primavera!... Uma chata, por sinal, passa choramingando. ( para o público).

São ouvidos soluços e um chorinho.

Sky
- Precisamos que a Primavera chegue... Restabelecendo a harmonia... Se não, todos nó morreremos, até você.

Tupi
- Sei!... Nem o cacto tem flores mais... Ultimamente tenho passado fome, olha como to magrinho... De mim ninguém tem pena... E ando passando um frio... Bruuuuuuum, muito frio.

Kow
- O que você quer para soltar a Primavera?

Tupi
- Quero?? – Deixa pensar??... Que os raios do sol voltem a me aquecer.

Sky
- Providenciaremos isso. Mas, você vai prometer que não vai mais atacar o ninho dos quero quero.

Tupi
- Não mesmo, eles que cuidem de seu ninho... Eu não vou prometer coisa que não posso cumprir.

Kow
- É justo! De hoje em diante os quero-quero cuidam de seu ninho. Você toma seu banho de sol todos os dias e a primavera retorna.

Tupi
- Combinado... Mas, e a ponte??

Sky
- Tchai ficou guardando a ponte, com a ajuda de Raio de Lua.

Entra a Primavera está muito triste, mas aos poucos começa a sorrir e de uma cesta retira pétalas de flores que joga nas pedras.

Tupi
- Vai! Vai! Não agüento mais choramingos... Vou ficar aqui tomando meu banho de sol.

Raio de sol retorna e fica com Tupi. Kow, Sky e Primavera voltam pelo campo aberto , passam por Téu Téu e Teon retornando ao lago.














4ª Cena – A ponte

Kow, Sky e a Primavera chegam ao lago.

Kow
- Tchai, Sábia Tartaruga, onde você está? Raio de Lua apareça!

Sky
- Kow, olhe o lago! A água quase secou...

Primavera solta pétalas no lago.

Kow
- Tchai!!!

A tartaruga entra olha para os lados e diz

Tchai
- Tudo ia muito bem, até que um único pensamento destrutivo conseguiu atravessar a ponte. Foi horrível! Nele a Terra estava incandescente, um grande incêndio acontecia... Usamos parte da água do lago para apagar o fogo.

Sky
- Onde está Raio de Lua?

Tchai
- Raio de Lua expulsou este pensamento para o outro lado da ponte, só que ficou presa lá. Logo em seguida sentimos a chegada da Primavera, a alegria voltou. Mas, Raio de Lua não voltou mais.

Kow
- Nunca esqueceremos de Raio de Lua e nunca mais deixaremos o lago.

A primavera solta pétalas na ponte.

Sky
- Olhem! As águas voltaram e nelas há uma imagem refletida.

Kwo
- Raio da Lua!

Tchai ( olhando para o público)

- Deste dia em diante, Raio de Sol e Raio de Lua nunca mais se encontraram. Um foi habitar o Dia e o outro a Noite. E a ponte ainda existe ligando os dois lados e impedindo que os pensamentos destrutivos cheguem até a Terra.

Fim

Viamão, 11 de outubro de 2008.







Projeto Conte Outra Vez – ONG Cataventus
Novo Lar de Menores Viamão
Texto produzido na oficina
A Figueira Encantada

Autoria: Luan, Felipe, Michele, Daniela, Daiane, Andressa, Jairo, Elisandra, Normélia, Marcos, Bruno e Fernanda Blaya Figueiró.

Era uma vez uma figueira encantada...
Tudo aconteceu quando a fada madrinha, que se chamava Dani, viu uns meninos malvados escrevendo com um prego na pobre figueira. A árvore ficou tão triste que a fada resolveu botar um feitiço: toda vez que alguém se aproximar desta figueira vai se tornar um grande amigo da natureza.
Pronto! O feitiço estava feito...
Um belo dia um menino muito bonzinho chamado Lutz, sentou na sombra da figueira e ficou um grande amigo da natureza. A fada madrinha ficou muito feliz com isso.
O tempo passou, o menino cresceu e virou um ecologista. Um dia passeava por Viamão, perto da figueira, em um lugar maravilhoso, estonteante, chamado Itapuã. E descobriu que lá estavam destruindo a mata, para extrair uma pedra muito valiosa o Granito Rosa.
Indignado Lutz2 e seus amigos, brigaram com todo mundo, não com soco, mas com palavras. E conseguiram transformar o lugar numa reserva ecológica.
A Mãe Natureza reconstituiu tudo: as árvores cresceram novamente, os pássaros fizeram ninhos, os bugios espalharam sementes, os peixes povoaram as lagoas.
O povo de Viamão ajudou, cuidando da reserva. A fada madrinha Dani acompanhou tudo.E, a figueira encantada, majestosa, continua lá, ensinando para as crianças tudo o que é de bom..





Projeto Conte Outra Vez – Novo Lar de Menores Viamão
Roteiro baseado em texto produzido na oficina
A Figueira Encantada
Autoria Texto: Luan, Felipe, Michele, Daniela, Daiane, Andressa, Jairo, Elisandra, Normélia, Marcos e Fernanda.
Exterior – Dia – Ao pé da figueira
ZENA
Era uma vez uma figueira encantada... A nossa história começou quando Dani, uma Fada Madrinha, viu uns meninos malvados escrevendo com um prego na pobre figueira.

Entram a fada madrinha (Normélia), e os meninos Jairo e Bruno
(entram implicando um com o outro). Com um objeto pontiagudo riscam seus nomes na árvore.

JAIRO
Agora meu nome vai ficar para sempre marcado nesta árvore...
BRUNO
O meu também!
A fada madrinha observa. Os meninos saem encabulados pelo que fizeram a árvore. A fada aproxima-se da figueira.


ZENA
A árvore ficou tão triste que a fada resolveu colocar um feitiço!
FADA
Toda vez que alguém se aproximar desta figueira... Vai se tornar um grande amigo da natureza.
A fada passeia e observa a entrada do menino( Luan).
ZENA
Pronto! O feitiço estava feito...
Um belo dia um menino muito bonzinho chamado Lutz, sentou na sombra da figueira e ficou um grande amigo da natureza. A fada madrinha ficou muito feliz com isso.

O menino (Luan) entra caminha e senta perto da árvore, observando-a com admiração. A fada solta um pozinho nele.

ZENA
O tempo passou, o menino cresceu e virou um ecologista. Um dia retornou ao mesmo lugar: Itapuã. Achou tudo muito bonito e estonteante.
Entra Lutz adulto( Felipe)


ZENA

Só que estavam destruindo a mata, para extrair uma pedra muito valiosa o Granito Rosa.
FELIPE
Estão destruindo tudo! O que eu posso fazer? Já sei, vou chamar meus amigos!
O grupo reúne-se e combina... A fada solta o pozinho neles.
ZENA
Indignado Lutz3 e seus amigos, brigaram com todo mundo, não com soco, mas com palavras, até conseguir transformar o lugar numa reserva ecológica. A Mãe Natureza reconstituiu tudo: as árvores cresceram novamente, os pássaros fizeram ninhos, os bugios espalharam sementes, os peixes povoaram as lagoas, as lebres correram pelo mato.
Enquanto a narradora nomeia os alunos vão entrando...
ZENA
O povo de Viamão ajudou, cuidando da reserva. A fada madrinha Dani acompanhou tudo. E, a figueira encantada, majestosa, continua lá, ensinando para as crianças tudo o que é de bom..
O grupo forma uma roda em volta da figueira e todos juntos dizem:
Viva Lutzemberger!!!
Fim