31 de jul. de 2008

Descoberta Arqueológica

Descoberta Arqueológica.

Autoria: Fernanda Blaya Figueiró

Linna encontrou no jornal da manhã uma notícia muito inesperada, o Tapete da Princesa Haniffe havia sido encontrado num sítio arqueológico no Iraque. A nota informava que em meio à guerra e os inúmeros problemas que a região vinha enfrentando, a descoberta arqueológica era muito importante, pois trazia esperança para a população. Junto ao tapete estava um belíssimo lustre de cristal rosa. Sorriu imaginando que Caled havia concluído sua missão. Pensou em entrar em contato com o repórter do jornal e contar da carta que estava com ela. Seria difícil explicar a sua origem. Resolveu então, enviá-la para o museu que guardaria o patrimônio cultural recém descoberto.
Lembrando da história de Caled mandou a encomenda como carta registrada. Aquela bela mensagem não pertencia a ela, era parte do Encanto do Tapete. Era como se a princesa tivesse levendo um pouco de paz, para o meio da guerra.
Linna passaria uns dias na casa dos pais, depois em Maquiné com Acauã. Suas férias estavam no fim, precisava guardar energia para o trabalho de conclusão do curso. Já vinha preparando sua monografia: O papel da Imprensa na Construção da Paz. Um assunto realmente difícil.
Seria um semestre de muito trabalho para ela.

29 de jul. de 2008

O Cristal Rosa

Este post conclui a História.

boa leitura!

O Cristal Rosa

Autoria: Fernanda Blaya Figueiró

Linna vasculhou suas gavetas, em busca da peça de cristal rosa. Estava guardada, junto com sua correspondência e alguns documentos. Retirou, com cuidado, o pó, e levou, até a janela,para conferir se estava bem limpa.
Os raios do sol da manhã passaram pelo cristal, sendo refratados em vários feixes de luz. O apartamento ficou repentinamente iluminado. Linna sempre achou que a peça era uma lente, pois olhando, por ela, as coisas ficavam bem mais bonitas. Mas seu formato indicava que era parte de um outro objeto. Ela sempre imaginou um abajur, destes de cabeceira. Só que, quando viu o lustre pendurado na loja de Caled, ficou com a impressão imediata de que o cristal rosa fazia parte dele.
O lustre não era muito grande: quatro braços de prata sustentavam os bojos de cristal rosa; dentro dos bojos, havia um lugar para fixar velas, uma corrente, também, de prata, suspendia o objeto. Na parte inferior, havia uma lacuna, exatamente do tamanho da peça que Linna chamava de Lente de Cristal.
O lustre devia ser muito caro; ela precisava saber o que pretendia. Não teria condições de comprar a peça, mas, também não queria se desfazer da lente... Que estava jogada numa gaveta, isso era bem verdade...!
Parou. Devia ou não ir até a loja??
O que era mais importante? Seus desejos ou a reconstituição de um objeto que tinha, no mínimo, quinhentos anos? Que pergunta sem sentindo! Pensou. Pegou sua bicicleta, colocou a lente, na mochila, e não pensou em mais nada...
Chegando lá, a pequena tabuleta estava no mesmo lugar. Mustafá vendia livros para um casal e Caled não estava por ali. Nem o tapete, nem o lustre.
- Bom dia, Mustafá !!- disse Linna- Seu avô está aí??
- Bom dia! – respondeu o garoto – Que bom que você voltou! Quer mais incensos??
- Não! – respondeu, estranhando a pergunta - Eu trouxe o cristal rosa... Lembra, combinei com o senhor Zahir Caled...
Do fundo da loja, veio uma senhora rechonchuda, olhou meio assustada para Linna e disse:
- Zahir Caled???- Do que você está falando???
Mustafá fez um sinal para ela. Concluiu a venda de livros que estava fazendo e disse que havia contado para Linna a história do Tapete Encantador e do Lustre de Cristal Rosa. A senhora ficou satisfeita e voltou para o fundo da loja, resmungando:
... Lendas! Lendas de piratas e princesas... !!
A princípio, Linna não entendeu nada. Mustafá encostou, levemente, a porta de madeira e sussurrou para ela:
- Zahir Caled! Era o mensageiro...
- O Mensageiro...? Da princesa Haniffe?
- Sua alma anda perdida... Por que...
Linna interrompeu a fala de Mustafá
- A encomenda nunca chegou! – Linna estava arrepiada- Mas, ontem eu vi ele...
Mustafá acendeu um incenso de rosas e a atmosfera mudou, completamente. A mesma música tocava, com suavidade. Caled apareceu, com o pozinho do tapete nas mãos.
- Tudo o que eu preciso, para descansar, é unir o lustre e o tapete e entregá-lo, no seu destino. Foi assim que tudo aconteceu: Haniffe era a mais bela princesa do mundo, naquele tempo. Seu amado, o mais corajoso guerreiro. Eu, o mais confiável mensageiro. Porém, um ganancioso pirata, que nem o nome deixou na história, assaltou-me assim que parti. Eu nunca havia perdido uma encomenda, passei o resto de meus dias procurando...
- O lustre estava bem enrolado no tapete. Quando atravessou o mar, chegando a este continente, um marchand os separou. Vendeu o tapete para o norte; o lustre para o sul. Segui o tapete, pois, nele, estava a imagem da bela princesa, a quem eu servia. De que adiantaria um tapete, sem luz para admirá-lo?
O tapete e o lustre estavam sobre o balcão. Mas, só Mustafá e Linna viam. Caled parecia uma visão. Linna retirou, da mochila, a lente e aproximou-se, com cuidado, do lustre. Com a ajuda de Mustafá, encaixou, com toda a delicadeza, a lente, na base do lustre.
Neste instante, as paredes da loja tomaram o contorno da moldura do paspatu do tapete. Linna e Mustafá estavam nos jardins encantados de Paris... Haniffe entregava a encomenda para Caled...
- Tim!Tim! – A campainha tocou. Linna estava surpresa. A mãe de Mustafá olhava desconfiada para ela.
No sorriso da princesa, Mustafá e Linna encontraram a Paz. Caled havia cumprido sua missão.
A loja estava, novamente, com cheiro de bolor e alfazema. O lustre o e o tapete haviam desaparecido, junto com a lente.
- A final, o que você procura?– perguntou, irritada, a mãe de Mustafá.
- Aqui está sua encomenda. – Interrompeu Mustafá – São cinco reais.
Linna pagou o que o menino pediu, despediu-se e pegou a encomenda. Pegou sua bicicleta e sumiu...
Quando chegou em casa, abriu o pequeno envelope, dentro, havia um cartão muito amarelado, no qual estava escrito: “ O amor sempre vence! Princesa Haniffe!” A inscrição tinha o mesmo paspatu vermelho do tapete e as letras estavam escritas em tinta dourada.



Fernanda

O encanto de Haniffe

Continuação do post: O tapete encantador

O encanto de Haniffe

Autoria: Fernanda Blaya Figueiró


Mustafá, Caled e o tapete não saiam do pensamento de Linna. Assim que chegou em casa, resolveu pesquisar sobre a arte da tapeçaria. Descobriu que era uma tradição muito antiga, praticada por persas, gregos, romanos e muitas outras culturas.
Lembrou de Caled dizendo que aquele era um tapete que havia sido tecido, no interior da França, no século quinze.
A princesa Haniffe era, realmente, muito bonita. Suas feições eram alongadas e a pele levemente escura, tinha longos cabelos castanhos, caindo sobre os ombros. Linna lembrou que, no retrato, ela usava um vestido verde escuro, com detalhes em branco. Aparecia, em meio a um belo jardim, com muitas flores, e seu sorriso era muito pacificador.
Enquanto pesquisava, Linna acendeu um incenso e tentou se imaginar naquele ambiente. A delicadeza dos detalhes e a perfeição do desenho indicavam muita habilidade e paciência.
Caled contou que a princesa havia saído muito jovem, de sua terra natal, por causa de uma terrível guerra. Mas acabou deixando, lá, um grande amor. Para passar o tempo e evitar o sofrimento da separação, teceu o tapete, com a ajuda de suas tias e primas. Ele deveria ser um presente para seu bem amado.
A confecção levou muito tempo. Haniffe escolhia a urdidura, tingia cada fio e tramava com paciência e dedicação. Sempre, imaginando que um dia o tapete levaria seu encanto para junto de seu bem amado.
As notícias de sua tribo não eram as melhores, guerras, saques, dominação. Haniffe conclui a bela obra e confiou a um bom mensageiro. Mas os tempos eram muito turbulentos e o artefato acabou caindo, nas mãos de um pirata ambicioso.
A princesa esperou, em vão, saber o que seu amado havia achado do tapete. O tempo passou e ela, desiludida, achou que havia sido esquecida. Perdendo seu encanto...
Ninguém soube dizer o que aconteceu com a bela princesa. Uns dizem que retornou para sua tribo, outros, que morreu de tristeza. Caled preferia a estória que dizia que, um dia, encontrou seu grande amor, num belo jardim.
O tapete? Seguiu enrolado, no porão de um navio, levando o encanto e o amor da bela Haniffe. Em terras muito distantes, foi trocado por ouro e prata. Serviu de ornamento e de agasalho. Passou por palácios e sacristias. Hoje, aguarda na loja de Caled.
Linna estava cansada, mas muito feliz. No dia seguinte, levaria a lente de cristal até a loja, para ver se era do lustre. Mas, como Caled sabia que as duas peças eram da mesma princesa?

28 de jul. de 2008

O tapete encantador

Oi, Gente!

Esta nova história marca uma mudança no blog, a Angelita está com uma nova produção no: http://www.noreinodelandria.blogspot.com/
E eu volto a escrever sem co-autoria, como no primeiro ano do blog. Dia 19 de agosto o blog de Linna Franco completa dois anos de muitas histórias.


Um beijão,
Fernanda


O tapete encantador

Autoria: Fernanda Blaya Figueiró

O tapete encantador

Linna Franco estava “matando tempo”, tinha concluído seu estágio, na TV Educativa, e estava de férias na faculdade. Seu curso ia muito bem, mais um semestre e seria uma Jornalista. Já tinha planos para o futuro, faria especialização em fotografia.
Com tempo sobrando, resolveu ir ao centro, caminhar um pouco e “ver” as novidades. Visitou os museus. Comeu sanduíche na padaria do mercado. Viu as vitrines e as tendências da moda. Fotografou o cotidiano, pessoas e imagens do centro.
Caminhava, distraída, quando viu uma pequena tabuleta: “Antiguidades. Liquidação - 50% de desconto em todos os artigos.” Ela adorava antiguidades, resolveu entrar na loja e bisbilhotar um pouco.
Uma antiga portinhola de madeira esculpida a mão dava para o interior de uma loja muito especial. Linna teve que baixar a cabeça para entra: a portinha acompanhava os Arcos do Viaduto.
O assoalho de madeira rangeu, reagindo a suas pisadas, fazendo com que tomasse consciência do seu andar e pisasse com mais leveza. À primeira vista, a loja parecia sem ninguém. Estava repleta de produtos, dos mais diversos: livros, Cds, móveis, vinis, porcelanas, bijuterias. Tudo muito colorido e variado.
Sobre o balcão havia um sininho e um bilhete: “Toque para chamar o atendente.”
Um aroma de bolor, naftalina e alfazema traziam ao lugar uma aura de coisa antiga. Pequenas etiquetas amarelas continham o valor de cada objeto: o preço antigo riscado com caneta vermelha e o atual, já calculado o desconto.
Um lustre de cristal estava pendurado, num dos cantos da loja. Linna achou o objeto muito parecido com o cristal rosa que usava como uma lente... Assim que estendeu a mão para tocar na peça, ouviu a voz severa de um senhor:
- Não toque! Você procura alguma coisa, menina?
Um homem baixinho, magro e mal humorado olhava, desconfiado, para ela. Usava óculos quadradinhos e um volumoso bigode . Tinha olhos negros e sobrancelhas finas, um vozeirão parecido com os dos antigos locutores de rádio... Estava parado atrás do balcão, e tinha, nas mãos uma cadernetinha de apontamento. Só então a garota ouviu o tango que tocava, dando um ar de mistério ao lugar...
- Eu estava só olhando! - disse um pouco assustada - Uma vez, eu comprei, no brique uma peça muito semelhante a esse abajur... Um cristal rosa...
- Esse lustre pertenceu a uma princesa. - respondeu o senhor – você ainda tem a peça?
- Sim! Outro dia posso trazê-la... O senhor tem muitas coisas especiais aqui.
O homem sorriu, seu rosto se iluminou e Linna percebeu que era um bom sujeito. Aos poucos foi falando sobre os objetos, como tinha adquirido cada um. O quanto havia investido e o que cada um significava para ele.
Linna viu num cantinho enrolado, um tapete colorido. O senhor logo notou seu encantamento.
- Como você se chama, menina?
- Linna Franco. - Respondeu estendendo a mão para ele.- E o senhor?
- Zahir Caled! – Respondeu, segurando sua mão, com gentileza, como se segura a mão de uma dama. Linna estranhou, não estava acostumada com isso, sem sentir flexionou os joelhos e fez uma reverencia com a cabeça levemente inclinada. – Este tapete chamou sua atenção?
-Sim! Achei lindo, posso dar uma olhadinha??
- Mas, é lógico- respondeu Caled – Mas, preste bem atenção... Este é um tapete encantador...
Seus olhos estavam alerta, observando a reação de Linna. Ele segurou o objeto, com muito cuidado e estendeu sobre uma antiga bancada de madeira. Um pozinho brilhante ficou em suas mãos. Com todo o cuidado foi desenrolando o objeto, aos poucos a música mudou completamente, lembrando os antigos castelos medievais e um perfume de rosas invadiu o recinto.
Linna estava encantada! Um belo jardim, uma fonte de pedra e a figura de uma jovem apareciam tecidos em um fio muito fino e delicado. Tudo em meio a um belo jardim ensolarado e florido, com o céu e o mar, no fundo. Muitas cores, emolduradas por um paspatu vermelho com ramos dourados... O tapete era realmente belo... Frente e verso perfeitos e franjas delicadas contornavam a peça.
- Que lindo!- Linna deixou escapar- Acho que nunca tinha visto uma peça tão bela...
- Pois veja bem... Este é o retrato da princesa que era dona do lustre do Cristal Rosa: Haniffe a bela das flores.
Linna notou a admiração nos olhos de Caled. Uma coisa chamou sua atenção, não havia nenhuma etiqueta no tapete. Nem cogitou em perguntar o preço, já que ele parecia estar num outro mundo.
- Tim! Tim! – Alguém tocava o pequeno sino no balcão.
Linna entendeu que Caled precisava trabalhar, olhou no relógio e ficou surpresa, já era tarde. Haviam conversado por horas... !!
Um garotinho brincava, com a campainha, era Mustafá o neto de Caled...
- Vô! – Disse, olhando para ele – Vamos, estou morrendo de fome!
Antes de sair, ela comprou vários incensos. Estavam muito baratos e seu dinheiro andava curto.
- E o Tapete? – indagou Caled.- Não vais levar?
- Eu ando um pouco sem dinheiro... – Respondeu – Notei que não havia etiqueta, então acredito que deva ser muito caro!
- Sim! – disse olhando para ela- Mas, podemos parcelar, negociar.
- Outro dia! – disse Linna- Seria... Mais ou menos ???
- Dez mil! – disse com convicção, Caled sabia pelo perfil da menina que este valor estava fora de seu poder de consumo.- Mas, podemos negociar...
Linna riu, dez mil para ela era praticamente impossível! Se tivesse toda essa grana daria entrada em um apartamento, jamais, em um tapete.
- Acho que, para mim, os incensos estão de bom tamanho... Nem mil eu poderia pagar, quanto mais dez mil...
Caled ficou orgulhoso dela, sabia pechinchar...
- Mil! É um desaforo... Nem pensar, mas,nove mil, parceladinho??
Linna agradeceu a bela tarde que passou em sua companhia e saiu feliz, com seus incensos. Caled sabia que ela voltaria. Ficou muito feliz em encontrar com ela.
Assim que Linna saiu, ele fechou o estabelecimento, com um ar de satisfação. Mustafá ajudou a guardar a tabuleta. Era o fim do dia, mas o início de uma nova história...

25 de jul. de 2008

Blog da Angelita

Oi Gente!

A Angelita Soares está lançando um blog próprio: http://www.noreinodelandria.blogspot.com/

Nossa parceria continua, vamos uma colaborar com a produção da outra, mas sem co-autoria. Vai ser bom, assim teremos mais histórias... Eu volto a criar sozinha como no início das Aventuras de Linna Franco.
Os personagens que ela criou durante a co-autoria que são: Bibi, Monalisa, Anelise e Géa a menina azul serão mantidos em sua nova produção.
As histórias estão ótimas, eu tenho lido e estou adorando.

Um beijão

Seja bem vinda ao mundo dos blogs Gita...

Fernanda Blaya Figueiró

24 de jul. de 2008

O crime na Composteira


















Foto: Pi-ju, o cardeal cantador
Oi Gente!!
Estas fotos fiz no pátio aqui de casa. Mas, o Pi-ju, o cardeal cantador, assina. Já que ele fez umas bem parecidas, confira a história!!
Beijos,
Fernanda




O Crime na Composteira
Autoria: Fernanda Blaya Figueiró
Co-autoria: Angelita Soares

Nem tudo são flores no jardim... O famoso “Crime na Composteira”, como ficou internacionalmente conhecido, aconteceu, num verdadeiro paraíso, ás margens da Lagoa dos Patos: O Sítio do Tércio.
Eu, como fui uma das principais testemunhas, gostaria de contar para vocês como tudo aconteceu. Meu nome? - Pi-ju, o cardeal cantador, amigo de Linna Franco, a jovem estagiária de jornalismo, conhecida de todos.
Pois bem! Vamos aos fatos: Local do crime: A composteira. Horário: Logo após o café da Manhã. Motivo: as disputadas “Casquinhas de Mamão”. Envolvidos: Os dois sabiás: Jack e Mad. O crime: Uma acirrada briga, fora das normas de boa convivência do sítio, criadas por nada mais, nada menos, de que: A Mãe Natureza.
Era um lindo dia, lembro bem. Tudo começou exatamente como sempre...O galo cantou, o sol nasceu. A luz da cozinha acendeu. Pássaros, galinhas, gado, ovelhas, todo o mundo já estava acordado, fazendo alongamentos, xixi, tomando água... Tudo isso na maior Paz!
Um aroma de café no ar, barulhinho de pão crocante sendo mastigado, cadeira arrastada. Dente escovado, banho tomado. Tércio, Melissa e Júnior saindo correndo, como sempre...!
Eudora! Prestem bastante atenção: - Ela prefere suco, no desjejum. Naquela manhã: mamão. - Todo mundo já sabia o que iria acontecer... Eudora sempre raspava pouco as cascas, Tércio sempre dizia: - É um desperdício. Novo suco! E ela sempre deixa um pouquinho na casca. Aquela polpa laranja, saborosa, perfumada... Tudo de bom...!! O que acontecia? O resto - ela jogava na composteira. Um de nós ia, lá, dava uma bicada, tirava um bocadinho. Depois ia outro, e assim era festa, o dia inteiro.
Só que, naquela fatídica manhã, Jack e Mad resolveram ir comer, exatamente, no mesmo momento. Pronto! Começou toda a confusão!
Eudora abriu a porta da cozinha... Caminhou até a composteira... Jogou as casquinhas... Conversou com os cachorros e virou-se, para ver se a água deles estava limpa.
Jack deu um rasante na composteira, identificou a iguaria. Mad fez o mesmo e os dois sabiás ficaram frente a frente. Eu? Estava no telhado do alpendre esperando um momento bom, não que eu seja covarde, só pacifista, entenderam, não é???
Peito estufado, músculos a mostra, cara amarrada, dos dois lados. Eudora ainda brincou com eles: - Bom dia! Vieram comer as sobrinhas... Que bonitinhos!!
Bonitinhos?? Os caras estavam, ali, no maior clima, e ela achando bonitinho!! Os bons passarinhos: Jack e Mad???
Tá Louco, meu!! Os pássaros mais durões do sítio!! Eudora não tinha maldade no coração... E o Clima foi ficando feio...!! Ninguém se aproximava, ninguém se afastava. Nem um Piu. O pátio foi ficando quieto. Os cachorros botaram o olho. Isso é ruim, pensei comigo. Um vôo ameaçador de Mad e começou a perseguição, em pleno ar. Eu??? Voei para uma laranjeira e fiquei só olhando, aproveitei e fotografei para minha amiga Linna. Quando Jack pousou na composteira e bicou as casquinhas, Mad atacou... Coisa muito feia!! Acha que ele se mixou??? Que nada !! Foi bicada pra tudo que é lado, garras nas asas, golpe baixo, perto do olho e tudo..... Até que Eudora foi lá e acabou com a briga... Enterrou as casquinhas e fechou a cara. Gente!!! Ficou furiosa! – Que vergonha!! Disse ela com as mãos na cintura. – Brigar por tão pouco e bla,bla, bla, bla... Maior sermão.
Punição: Não tem mais casquinha. A composteira vai ser fechada. Eudora contou tudo para Tércio, Melissa e Junior. A família resolveu que isso não podia voltar a acontecer. Tércio aproveitou para falar que Eudora sempre deixava...
Comida aqui no sítio é o que não falta... Agora, as casquinhas eram um ritual, sabe? Uma coisa meio “sagrada”, um momento de interação da gente com a Eudora... Aquele clima de amizade, de respeito e cuidado. A gente sentiu falta.
Resolvemos, então, levar ao conhecimento de quem???
Mãe Natureza. Ela, é claro, já sabia de tudo.
Em sua sabedoria, disse que deveríamos esperar. Pois Eudora esqueceria o fato, logo, voltaria a comprar mamão, já que os do sítio estavam verdes ainda. E lógico que continuaria deixando um pouquinho de polpa na casca...
Agora, quanto a Jack e Mad???
Foram mandados para a Sabiá Terapia. Onde estão discutindo seus impulsos e sua necessidade de extravasar as emoções mais agressivas. Para resolver isso, Mãe Natureza instituiu os Jogos Olímpicos. Onde eles poderão medir sua força,sem brigar...!
Linna vai publicar minhas fotos,em seu blog...
Tô louco pra ver... Acho que minha reportagem também...
Direto do Sítio do Tércio para vocês: Pi-ju o cardeal cantador

23 de jul. de 2008

As Feiticeiras

Oi Gente!

Este texto é uma continuação do Texto: Os Sinais.

Boa Leitura

As feiticeiras

Autoria: Fernanda Blaya Figueiró
Co-autoria: Angelita Soares

Linna fez um sinal para Anelise; o parque estava muito cheio e ela não conseguiu ver. Enquanto se aproximava dela, percebeu um belo arco-íris no céu, ligando dois mundos. De um lado, Anelise, do outro, Josefina...
O parque, aos poucos, foi se tornando um bosque encantado. Sumiram as tendas de artesanato indígena, as bancas de verduras orgânicas, ficando só a rua calçada e os prédios vazios... Onde estavam todos???
- Linna! – chamou,suavemente, Josefina. – Venha! Não tenha medo! Estamos em uma outra dimensão.
Josefina estava coberta por uma irradiante luz dourada, sua voz era meiga e doce e o toque de suas mãos quase imperceptível, de tão suave. Exalava um perfume de flores e estava rejuvenescida.
Anelise usava um longo vestido de seda azul, tecido pelas mariposas. Nos cabelos, uma coroa tramada com pétalas de rosas. Tinha o sorriso claro e calmo. No rosto, uma ternura e um olhar brilhante.
Linna ficou encantada com tudo aquilo. Como era possível?
- Tudo é possível !– Respondeu Anelise- No mundo dos sonhos...
- Tudo é possível.- continuou Josefina – Para um coração puro...! Linna, você não vai me dar um abraço??
Linna estava perplexa; abraçou Josefina e Anelise. Lágrimas de alegria inundaram seu rosto... Estava muito feliz!!!
Quando abriu os olhos, tudo havia retornado ao seu lugar, as bancas, as tendas... Estava abraçada em Anelise que, surpresa, não entendia a reação emotiva da amiga.
- Eu tenho um presente para você. – disse, alcançando-lhe o pequeno envelope. – Encontrei lá em casa hoje....
- Um bilhete de Josefina!! Linna... Nossa!!! Você a conhecia??
- Claro!! Josefina era a minha melhor amiga...
Anelise sorriu com o pacotinho nas mãos ....
- Sementes!! Passei o dia recebendo sinais.... Nunca imaginei que fosse uma mensagem dela. Agora, mesmo, estava lembrando de quando a conheci e pensando em você, também... Que coisa incrível!
Que coisa! Como ali, todo mundo era meio maluco, ninguém estranhou o jeito das duas...!! Linna percebeu que sua amizade com Anelise iria crescer, cada dia mais, como as sementes de Josefina. Seria ela também uma feiticeira??
Anelise tinha se surpreendido com a reação de Linna...Porque tinha tido uma Visão. Ela, Josefina e Linna num Lugar mágico...Colorido...!! Todas integradas num mesmo Vínculo...E sentiu...A Outra Presença...Sensível.Amorosa!! Irradiando uma energia sutil, levíssima, rosada,sobre as três amigas, abraçadas, no mesmo Afeto.
Tudo bem, Linna!!! Estamos aqui...!!! Unidas para sempre...!!Sussurrou, carinhosamente, no ouvido de Linna.
Linna olhou para Anelise e percebeu uma Ternura e um entendimento profundo do ser humano, que ultrapassava sua pouca idade.
_Há tantas coisas que poderiam ser melhores,Anelise, se as pessoas se unissem...!!!Comentou Linna, fitando o rosto calmo da amiga.Porque não é assim??
_É verdade, Linna, mas tudo isso passa pelo respeito ao outro, ao que o outro é; tudo isso passa pela consciência de que partilhamos da mesma humanidade, dos mesmos temores e incertezas, mas também dos mesmos sonhos e ideais...!!!Como diz um provérbio” Tudo tem seu tempo oportuno debaixo do sol.”.Nem todos têm o mesmo ritmo de evolução, de entendimento, de discernimento.A ampliação da consciência depende de vários fatores, alguns determinados pelo contexto sócio-cultural, outros, da própria pessoa e estes últimos, dependentes da liberdade e vontade de cada um. Somos elos de uma mesma corrente, fios da mesma teia; o que quer que façamos, livre e voluntariamente, atinge todos os demais e acaba retornando, no mesmo fluxo de energia:compreensão, raiva, intolerância, compaixão, amor, ódio...Alguns querem que a corrente fique mais forte, do seu lado, esquecendo que isso pode enfraquecer o restante, forçando os outros elos, mais frágeis, que podem, por isso mesmo, mais facilmente rompidos, quebrando a corrente. Isso fará com que a energia retorne, num ciclo de divisão, de desajuste, pois a corrente não será mais a mesma, sem a energia original, e pode ter certeza, a Energia Original sempre foi e será da Harmonia, da Sintonia.Além disso, alguns usam sua própria Energia desgastada, no afã de reenergizarem-se , desequilibrando a Energia dos outros, gerando desavenças, desentendimentos, discórdias, por isso, parece que até sentem prazer em provocar intrigas, desavenças, entende??
_Acho que estou começando a entender, sim...Como você sabe tudo isso? Pergunta Linna, intrigada, com o sorriso calmo da amiga.
_Ah, é uma história muito longa, mas basta dizer que tudo começou , quando conheci Josefina...Termina Anelise, sorrindo.

22 de jul. de 2008

Nuvens no Céu

Nuvens no céu.

Autoria: Fernanda Blaya Figueiró
Co-autoria: Angelita Soares

Linna e Acauã chegaram, de Florianópolis, trazendo muitas coisas boas, na bagagem. O curso de fotografias que Linna fez tinha sido fantástico. Acauã aprendeu muita coisa sobre o “Sambaqui” e a cultura dos primeiros habitantes do litoral. Assim que chegou, foi para Maquine; estava louco de saudades de sua família.
Linna foi, direto, para seu apartamento. Desfez as malas e olhou a correspondência. Por uma incrível coincidência, havia várias notícias, sobre as sementes de Josefina...!!Lembrou do dia em que ela distribuiu os envelopes: “ Josefina, a Feiticeira Centenária, distribuiu, criteriosamente, os pequenos pacotinhos contendo as sementes. Ela conhecia a mata e seus segredos. Cada semente guardava em si aquilo que era. Seus dias, junto a turma, estavam chegando ao fim e ela queria que cada um encontrasse sua própria essência. Como as sementes, todos somos dotados de um conhecimento empírico e devemos recorrer a esse conhecimento, nas horas boas e ruins.”[1] Josefina havia espalhado paz e esperança, em pequenos envelopes, e essa boa energia circulava, renovando várias partes do mundo.
Linna abriu bem a janela e, da sua pequena sacada, viu o parque. Como sentiu falta daquela paisagem! Adorou Florianópolis, mas não tinha sensação melhor do que a de voltar para casa. O sino da Igreja tocou e uma enorme alegria invadiu seu coração! O céu estava claro, as nuvens pareciam desenhar uma mão carinhosa e fofa, como a que Josefina viu num memorável fim de tarde: “Assim que o sol se pôs, uma alegria infinita invadiu seus corações; as nuvens do céu de Porto Alegre ganharam um tom de rosa claro...O mesmo do granito das pedras de Itapuã. Uma mão parecia esculpir imagens nos flocos de nuvem... “ - Vi a mão! - Indagou Josefina – E vocês viram?
- Que mão? – indagou Tadeu.
- Eu estou vendo – disse Acauã – Uma mão desenhando uma pessoa e um inseto.
- Princesa Li e nós – indagou Linna – Mas por que uma pessoa?
- Por que é um símbolo. - Disse Muray.- E nós, achando, que viraríamos pedra...!
- Um símbolo de união entre pessoas e animais. – disse Josefina – Olhem! Agora está aparecendo uma flor, como a que Acauã deu para Linna, lá em Maquiné. Deve simbolizar as plantas.
A turma sentou para conversar, fizeram uma pequena fogueira. E riram, cantaram e dançaram até tarde...! Estavam com saudades uns dos outros.”[2] Linna lembrou de Maria, pensou no quanto foi bom conhecê-la e o quanto aprendeu sobre a alegria de viver.
A Mão de Deus, parecia desenhar símbolos e sinais no céu de Porto Alegre. Era suave e bela, por que Deus é bom e nos ama muito. Sua energia é infinita e constante, seja ele quem for. Estava pronta para sair, quando viu um pequeno envelope caído no canto do armário. Um pacotinho das sementes de Josefina, com um pequeno bilhete...


“ Para Anelise!
Nunca perca a esperança!
Josefina ”

Linna sentiu um forte aperto, no coração! Não sabia que Josefina conhecia Anelise. Como nunca tinha encontrado este pequeno envelope???
Tratou de ligar, imediatamente, para ela, marcando um encontro na feirinha de sábado. A imagem de Josefina apareceu nas nuvens do céu: “ Linna! A força Branca. É a energia da Paz, não esqueça, criança!!!”. O vento fazia espirais e brincava com as folhas secas do parque. Fadas, gnomos e duendes enfeitavam a avenida, borboletas, pássaros e cachorros passeavam entre pessoas e objetos. A vida do parque, a vida da cidade. Linna assistiu a uma peça de teatro de rua, ouviu poemas de um jovem artista, comeu tapioca. No meio da multidão, viu Anelise sorrindo...O sol batia nela e embaralhava sua imagem; Linna achou que viu Josefina, a Feiticeira Centenária, ao seu lado...!!O que estaria acontecendo??

1-2 - Fragmentos de Textos As Aventuras de Linna Franco
Autoria: Fernanda Blaya Figueiró
Co-autoria: Angelita Soares

Os Sinais

Oi, Gente!

Está inciando uma nova aventura.

Boa Leitura
Fernanda

Os Sinais

Autoria: Angelita Soares
Co-autoria: Fernanda Blaya Figueiró

Pela manhã, Anelise tinha encontrado Bibi e mais duas borboletas.
_Borboletas são sinais de mudanças...Pensou. Por virem...
Olhou para o céu; nuvens em forma de mãos...
Hum, é preciso agir; alguma coisa está por acontecer.Pressentiu.
De repente, sente uma mão em seu ombro...Ar. Vento. Eólis queria dar seu recado.
As sementes estão crescendo...Ouve o sussurro.Ouça o Silêncio do Tempo, no vento..E veja como respeitam seu leito, sua própria natureza...!
Visão. Três cogumelos. Dentro deles, gnomos, fadas, silfos e salamandras numa Confraria...Decidindo o futuro dos homens.
Ouve o sibilo da cascavel...Indicando a Presença de Outras Energias. Outras Inteligências. Serpentes não eram somente perigosas...Indicavam Reverência a uma Outra Presença.
Viu três louva-a-deus, duas aranhas, as folhas no chão formando um circulo.
Hum, que mensagem difícil...!!!Pensou, confusa.
È preciso repensar o destino humano...!!Ciciou Eólis. Respeito. Responsabilidade. Retorno. Essa é a mensagem...!!
De repente, rodamoinho de folhas mortas...Aspiral. Círculo. Foice.
Por Merlin!!! Estamos criando uma Energia de estagnação cada vez maior!!!E o Universo vai ter de podar tudo, senão fizermos alguma coisa...!!!Se não interrompermos esse ciclo, tudo vai ser eliminado,sem seleção...!!
Na areia_Grão, trigo, pão.
Ufa, vamos ter de trabalhar, muito, as mudanças, para convertermos as sementes em fartura e partilha!!!Mas é possível!
Nas nuvens_ pássaro, flecha, globo.
Leve a mensagem para todos!! Terminou Eólis.
Anelise sorri. Eólis, a Sílfide dos Ventos, sempre aparecia, quando o recado era importante. E era mesmo!!Pensou.
Onde você estiver,amiga,é bom se preparar, vamos ter muito trabalho!!!Sorriu, pensando em Linna.

21 de jul. de 2008

Amaru

Amaru

Autoria: Fernanda Blaya Figueiró

Nada foi em vão...
Amaru andava silencioso sobre as cinzas do vulcão.
Do alto podia ver, ser e sentir a cordilheira. Que segredo seu silêncio continha? A longa cadeia de montanhas nada respondia.
A fumaça dançava no céu limpo e claro. O condor voava livre. A lhama buscava pasto entre cinzas e pedras.
Sozinho tocava! Sua música percorria vales e montanhas... Contornava e transpassava os corpos... Ecoava!
Amar!
Cada pedra, cada cinza, cada grão sabia.
As palavras contêm todos segredos do Universo.
Amaru sabia...
Quando as asas do condor movem o ar e as patas da lhama pisam o solo, não há limites, nem fronteiras. Vida e morte. Verso e reverso da mesma palavra.
Antes de o vulcão acordar não havia cinzas no chão. Agora há.
Amaru pisou sobre elas com alegria e respeito. Não há o que temer...
As cinzas agora são parte da paisagem. Não há mistério.
As cinzas são vulcão... São Terra!
Quando Amaru caminhava a vida continuava... Quando Amaru tocava a morte continuava. Quando o vento soprava Amaru desaparecia... Encontrando o vento com a montanha, Amaru retornava...
Foram tantos caminhos e descaminhos que as cinzas...
Mulher forte Consuelo! Bela menina... Maria.
A cordilheira nada respondia... O condor no céu voava...
Amaru compreendia...Amaru




O Sonho

Autoria: Angelita Soares

Anelise dormia...E sonhava. Era pó do pó...Estava nas cinzas do Vulcão.E sentia a força dos ventos...Do Ar. Da Terra. Do Fogo. Havia uma leveza em tudo; uma liberdade jamais sentida. Livre.Leve.
Do fundo da canção de Amaru, ouvia:
Leve o Recado dos Elementos aos seres humanos. A Unidade precisa ser refeita. Os Elos precisam ser reencontrados. È preciso reinventar o Humano.
A força do Ar fazia Anelise deslocar-se, de um lado a outro, sem cessar, num bailado exótico, em que as próprias cinzas do Vulcão desenhavam imagens. Do Âmago da Terra, vinha uma vibração sutil, misteriosa...Amorosa!
Anelise, extasiada, deixou-se ser levada por aquela Magia...Foi ao céu. Tornou-se estrela. Cometa. Raio. E chuva. Dentro do Oceano, tornou-se alga.Plâncton.Peixe. Fenecida. Tornou-se húmus. Semente. Grão. Trigo.Pão. Recebeu o calor das mãos. Do forno. Foi partilhada. Degustada. E redescobriu, novamente....O amor!
Era,novamente, cinza...Livre.Leve. Pôde ouvir o lamento asfixiado dos peixes cobertos de veneno. Dos pingüins revestidos de óleo. A tristeza de milhares de árvores derrubadas, em nome de coisas...Fúteis.O estertor agonizado da Vida pedindo socorro. Suplicando: Transforme nosso Pranto em Poesia para que nossa morte não seja vã!
Anelise acorda, suando. Precisava contar para alguém...Mas quem??

20 de jul. de 2008

Feliz Dia do Amigo

Oi Gente!!

Linna ganhou uma bolsa de estudos em fotografia, graças ao documentário: "As Cinzas do Vulcão!". Angelita e eu escrevemos esta troca de mensagens entre ela e sua nova amiga Anelise

beijos

Fernanda

Carta

Autoria: Angelita Soares

Querida Linna

Oi, amiga!!Tudo bem com você?Sei que estamos meio distantes, agora, mas mesmo assim, acho que chegou a hora de abrirmos nossos corações...!
Linna, você é uma garota muito especial; senti isso, desde o começo e sabe porquê? Porque temos algo em comum: a conexão com o Universo!Sei que você fala com animais, eu também falo...Até com plantas, ás vezes...!!Na verdade, amiga, eles é que vêm falar comigo!
No começo, fiquei assustada, como aquilo podia estar acontecendo? Eu estava enlouquecendo?Nada disso!! Eu já tinha começado a me perguntar sobre o que fazer com meus escritos e minha vontade de mudar o mundo, mas te confesso, amiga, me sentia terrivelmente sozinha pra cumprir essa missão...!!Até que conheci você!!Tão linda!Tão cheia de vida!!!E de sonhos!!Finalmente, eu tinha encontrado alguém sintonizado com meu coração!!
Sabia que sou apaixonada pela Lenda da Excalibur, do Rei Artur? E sabia que o nome do meu Mentor, para outras conexões, se apresenta como ninguém mais,ninguém menos do que o próprio Merlin???Foi ele quem me falou sobre Todos Somos UM...Lembra disso??
Amiga, você tem uma energia maravilhosa; não importa quantas vezes seja incompreendida, você deve sempre lutar pelos seus sonhos!!!
Quando penso em quantas coisas já fizemos juntas, me sinto tão feliz, Linna!!Somos amigas, companheiras e colegas!!!
É por compreender você, que, ás vezes, atenuo seu jeito agitado para a equipe; sei que eles não vão compreender e ainda vão achar que somos duas malucas!!O mais importante é que sabemos porque estamos aqui...!!!O resto não é tão importante como parece...!!
Sim, amiga, esse vai ser, a partir de agora, o nosso segredo:possuímos o dom de nos conectarmos com o Universo, através de animais, plantas, e tudo o mais que queira mudar para melhor esse nosso planeta...!!
Por isso, não se aborreça mais com quem não te compreende, lembre-se, sempre, que estou aqui, pro que der e vier...
Aliás, estou com saudades!!!Quando você volta???Depois que comecei a escrever, as idéias começaram a brotar...hihihi


Carta – resposta

Autoria: Fernanda Blaya Figueiró

Oi, Anelise!!!

As coisas aqui vão muito bem...!Acabei pensando melhor e optando por fazer um curso em fotografia, em Florianópolis. Acauã veio comigo, está estudando o Sambaqui, para um projeto cultural; descobri que não existe fronteiras, para ele.... Quase tudo que sei, sobre fotografia, foi Armando quem me ensinou, e acredite, se quiser, descobri que ele foi um ótimo professor, uso conceitos que nem sabia...!
Quanto a minha conexão com os animais e o universo, acho que é nata... Pelo menos, é assim que sinto; é meu jeito de olhar a vida... Não sei porquê, mas Merlin me remete a Walt Disney, digam o que quiserem: - Sempre fui fã dele; acho que poucas pessoas, no mundo, entenderam tão bem a arte de fantasiar e de encantar...! Sem falar na beleza. Talvez ele tenha criado conceitos e ideologias que ajudaram a padronizar um estilo de vida globalizado, mas, e daí? Hoje, podemos ver isso, de uma forma mais aberta, mais flexível e criar novos paradigmas, afinal, tudo muda...
Muita coisa aconteceu nestes dois anos de blog; está sendo bem legal mudar um pouco de ares. Estou curtindo um monte!!! Levando a vida um pouco mais light. Ah, antes que me esqueça, Che-ma mandou um recadinho por um pombo correio: - O vulcão já voltou a dormir e Maria voltou para a escola. Ufa! Que alívio, estava chateada de ter deixado eles lá... !
Meu tempo está curto; estou fazendo um estudo sobre as diferenças. Olha que lindo pensamento: “Somos todos interligados, interdependentes, em relação constante uns com os outros. Somos responsáveis pela felicidade e pela infelicidade da humanidade.” Sábias Palavras do Dalai- Lama.
Foi muito legal receber a sua cartinha, amiga, prometo,sempre que tiver um tempinho de sobra, manter contato.
Um beijão a todos daí e diga que estou com saudades...!!
Linna Franco

11 de jul. de 2008

Uma grande amizade






Oi Gente!!!





A Angelita gostou tanto da personagem Anelise, que deu continuidade a história...

Essa lhama eu e minha filha conhecemos na Páscoa, não lembra Che-ma?
Foto: Lou Salzano





Boa Leitura
Fernanda






Uma grande amizade

Autoria: Angelita Soares
Co-autoria: Fernanda Blaya Figueiró

Com seus cabelos cor de mel curtos e repicados e seus olhos amendoados, vestindo seu jeans surrado preferido, Anelise relembrava seu primeiro encontro com Linna. Tinham se conhecido, num barzinho, chamado Sarau. Era um lugar, onde se ouvia música, literatura e se encontrava gente que gostava de pensar...!!!Anelise tinha se surpreendido com aquela garota exuberante e cheia de idéias!!!Logo, as duas estavam trocando idéias e experiências, então, Linha tinha sabido que Anelise estava fazendo Letras, na mesma universidade, e, também tinha lido alguns textos seus. Por causa disso, Linna convidou-a para fazer uma ficha e uma entrevista com a equipe da TV Universitária. No começo, Anelise tinha achado que o entusiasmo de Linna,com os seus escritos, era só passageiro, mas, no final, foi chamada para fazer parte da equipe.Sorriu, lembrando esse começo.O mais importante é que Linna tinha a mesma vontade de mudar o mundo que ela; isso tinha feito toda a diferença para Anelise, que logo, se sentiu á vontade com a nova amiga e colega.Ás vezes, Linha era impetuosa demais; já tinha dito a ela que, nem sempre isso era bom...!!!E mais, sabia, daquele dom especial da amiga, da conexão com o Universo e com os animais...Sabia, porque também tinha o mesmo dom...
Ela e Bibi, a borboleta, já tinham conversado muito, e ambas partilhavam de uma grande afeição e admiração pelo entusiasmo revolucionário de Linna.
_Ela é muito legal, Anelise!!Dizia Bibi, voejando ao seu redor, entusiasmada. Ela sabe que Todos Somos UM. E ela quer um mundo melhor para todos!!!
Anelise tinha sorrido. Aquela borboleta era muito especial. Sentia isso.
_Concordo com você, Bibi! Linna é uma garota muito especial, como você. Infelizmente, pessoas, como nós, nem sempre são bem compreendidas, mas o que importa é que acreditamos no poder das Mudanças, das Transformações. E que tudo, sempre, pode melhorar.
_Puxa, a chefe dela não precisava ter dado tanta bronca!!!Afinal, ela é uma ótima repórter!!!E só quer ajudar e dar o melhor. Reclamou Bibi, pousando num hibisco vermelho,do jardim da casa de Anelise.Isso é errado!!!
Anelise riu muito da veemência de Bibi.
_Não, Bibi, não é errado, mas nem todos vêem o que alguns de nós vêem, entende? Alguns só vêem o que podem ou querem ver. E é difícil fazer com que olhem para além daquilo que é óbvio.Mas continuamos tentando...
Anelise recordava isso, com carinho. Pensava que jamais encontraria alguém que tivesse o mesmo Sonho que ela, nem que tivesse aquele mesmo dom.Ainda não tinha falado sobre isso, com Linna, mas sentia que estava chegando a hora de revelar seu Segredo.Era por isso, que quando todos ficavam contra a amiga, ela sempre procurava atenuar. Embora, ás vezes, Linna pensasse que ela também não a levava a sério, era justamente o contrário...!!Entendia muito bem o que acontecia com Linna, assim como sabia, que aquilo era algo pra ser revelado a muitos poucos...Infelizmente...!!
O episódio nos Andes tinha mostrado isso. Tinha visto o desapontamento da amiga, quando usaram suas idéias, mas, ás vezes, a vida era assim:perder um pouco aqui, para ganhar mais adiante.Uma coisa era certa: Linna era a pessoa que deveria encontrar; aquela que teria a Conexão direta com o Universo.
Lembrou-se de outro dia. Ela costumava jogar baralho cigano; não como método de adivinhação, mas de autoconhecimento. Então, o Mago, a Papisa e o Mundo, saíram, um após o Outro, e aquele flash, invadindo sua mente, lançando-a num outro tempo e espaço:Todos Somos Um. Encontre essa pessoa e você terá encontrado várias respostas para suas perguntas_Ressoou a voz de Merlin.Sorriu novamente. E, desde que tinha conhecido Linna tinha sido assim. Não se sentia mais tão sozinha, nem tão...Excêntrica. E quanto mais tinha observado a amiga, mais tinha percebido o quanto ela estava conectada com Tudo e com Todos.A energia de Linha funcionava como se fosse um Portal.E era linda! Ondas lilases e rosadas gerando uma energia metamorfásica.Via isso, embora nunca houvesse dito á amiga. Uma energia tão intensa e, ao mesmo tempo, tão translúcida, que abria vários canais de comunicação. A energia de Linna era muito maior do que a de qualquer Emissora ou Transmissora de Tevê...!!!E atingia qualquer coisa, dentro do Tempo e do Espaço.
Che-ma tinha lhe perguntado sobre Linna e ela tinha dito que Linna era a pessoa certa.
Abriu seu baralho. Embaralhou. Tirou uma carta.O Sol.
Sorriu. Agora, tinha a certeza. Estava na hora de revelar seu segredo á amiga.

10 de jul. de 2008

Cinzas do Vulcão

Oi Gente! Olha só essa nova aventura...



Autoria: Fernanda Blaya Figueiró

Co-autoria: Angelita Soares


Cinzas do vulcão
Linna Franco estava pronta para conhecer a Cordilheira dos Andes. Participaria da produção de um documentário sobre um vulcão que desapertara e estava em plena atividade.
Celular devidamente habilitado para funcionar em outro país, cartão de Crédito, mochila e muito otimismo faziam parte de sua bagagem - era o que Linna pensava, entusiasmada com a nova aventura.
Linna chegou ao aeroporto, às 3:30 h. Anelise, a repórter do grupo, falava sobre suas expectativas em relação a viagem: Quantas vezes, as pessoas também não expressavam seus sentimentos com a intensidade de um vulcão??Aliás, isso só acontecia, porque deixavam seu Vulcão interior, completamente fechado, enquanto, lá dentro, as lavas e o magma das emoções fervilhavam, borbulhavam, querendo extravasar, para poder, novamente, voltar ao seu estado de dormência e quietude...!Demonstrar sentimentos não era devastar tudo; era expressar e comunicar o que cada um tem em seus próprios Vulcões...!!! Tudo é movimento...!!! Tudo que começa, um dia, também, acaba!!!
Linna ouviu atentamente a amiga; era bom ver as coisas por esta perspectiva. Lembrou das cinzas sobre o capô dos carros. Imaginou os rios de lava correndo, no interior do planeta. Caminhamos sobre uma bola incandescente – pensou. Linna era fascinada pelo fogo, achava belo e misterioso.
O vôo transcorreu sem maiores problemas. Além de Anelise e Linna, a equipe era composta por Ronaldo, o cameraman, Daniela, colunista de um diário e de Tânia, que cuidaria de toda a parte administrativa e dirigiria o documentário.
Cinco horas de Jipe por estradas acidentadas, completaram a jornada. As cinzas voavam por toda a parte e um grande bloco de fumaça saia da abertura do vulcão, cobrindo o céu... A vista era um espetáculo! Estavam cansadíssimos, mas as fotos e gravações começaram imediatamente. Linna queria colher a primeira impressão que estava tendo. A vegetação rala coberta de cinzas, a fumaça deixando transparecer a vida interior da terra, seu suor, sua transpiração. Um ar de abandono e “susto”.
Muitas pessoas ainda estavam lá, orientadas por autoridades, mantinham uma distância segura. Linna estava explorando a paisagem quando uma lhama branca se aproximou dela.
- Atchim!
- Saúde – respondeu Linna – Você está bem?
O animalzinho espirrou, mais duas vezes, e lágrimas pareceram correr no canto de seus olhos.
- São as cinzas! Vocês estão chegando agora...! Protejam seus rostos, a poeira já está baixando, mas ainda é perigoso...!
Linna cobriu o nariz, com a gola da blusa. Os outros acabaram fazendo o mesmo por imitação. Não tinham pensado nisso, assim que chegassem a pousada procurariam lenços e mais informações.
- Como você se chama?
- Che-ma – Você é Linna Franco?
- Sim! – Como você sabe?
- Um passarinho soprou no meu ouvido.
Che-ma estava com o pêlo bem longo, o frio era intenso e uma garoa começava a cair, com mais intensidade.
- Uma nevasca! – disse a lhama - Isso vai ser ótimo. Assim as cinzas param de flutuar e caem no solo.
- Posso fotografá-la?
- Claro – respondeu vaidosa – Pega o vulcão?
- Sim!... – Linna tirou várias fotos da nova amiga...- Nós vamos para a pousada agora..Onde posso encontrar você?
- Eu trabalho na pousada. – respondeu. Não existem lhamas livres nesta região. Provavelmente, vou acompanhar o seu grupo... – Vocês vão se aproximar do Vulcão?
- Sim! Temos uma autorização para fazer um documentário...
As duas foram caminhando lado a lado, a equipe estava tão embevecida e cansada, que nem notou que Linna falava com um animalzinho.




Perdida na neve.
Che-ma andava seguindo os sulcos que formavam a trilha. O solo pedregoso das cordilheiras mal aparecia sob a pequena camada de neve. Um guia conduzia a equipe. Linna parou, alguns minutos, para fotografar um grande Condor que voava próximo a eles. Não percebeu que perdeu contato visual com o guia. A lhama resolveu esperar; Linna queria registrar a cor mágica do crepúsculo andino. Mas a noite escura desceu logo e as duas acabaram desviando a rota.
Che-ma sabia o que fazia. Linna Franco devia documentar outras coisas, não aquilo que era evidente. O Invisível, como ela gostava de chamar. Estava em segurança, mas não podia saber disso.
Os outros membros da equipe estavam tão cansados, ao chegarem a pousada, que não perceberam que Linna não estava no grupo. Comeram um caldo grosso, preparado a base de milho e servido com abacate, pão e um maravilhoso vinho, especialidade da casa. Depois, dormiram pesadamente.
Linna e Che-ma chegaram bem perto do Vulcão.
Flauta. Violão. Alegria.. Silêncio. Um profundo e raro silêncio !
Uma pequena de olhos vivos sorria. Olhando para o espanto de Linna. Pernas fortes e roliças, cabelo liso e uma certeza de verdade.
- Quem é você?
- Eu? Linna Franco, a pequena. Ela, apontando para uma velha senhora que cardava – Linna Franco, a mais antiga. Esta canção: Os sons do Silêncio.
Nessa hora, que parece tão tardia, seus amigos dormem, Linna! Dormem e fazem bem. Um dia, acordarão, como o vulcão. E voarão nas asas do Condor e sentirão a aridez do solo como a lhama. Tarde não existe. Você está pronta para: Amar! Incondicionalmente! Como disse o sábio Pelicano Solito.
Agora! Linna, tudo já foi guardado em seu coração! O universo inteiro cabe em você! E isso, não é nada! Simplesmente nada...!
Nada
Olhe o milagre do Vulcão, com suas cinzas e sua majestosa presença... O fogo que arde e fascina. Como se fosse poesia!
Quando voltar para casa, perceba que o vulcão é tão magnânimo, quanto a pequena flor amarela que traz os segredos do mundo, em seu nascer. Em seu viver. Ela acorda, neste momento, na sala de sua casa. Abre-se para a vida.. Ávida!
Com os lábios roxos de frio e as pontas dos dedos duras, Linna não sabia o que estava acontecendo..!Apenas sentia...Paz.E Plenitude.
Nada é extinto e tudo é recriado! Nesse exato momento, você também faz parte de um sonho. Na pousada, Anelise sorria, sonhando que Linna e ela, dançavam, abraçadas, dentro do Vulcão...
A menina chegou mais perto de Linna e puxou-a pela mão. Entraram em uma cabana, onde a avó da menina cardava a pele de uma lhama. Che-ma ficou no alpendre, próximo a porta, precisava descansar.
A senhora serviu um prato de creme de milho quentinho, para ela, e uma caneca de leite de cabra. A cabana era pequena e confortável. Um fogão aquecia o ambiente. Tudo era muito bonito e colorido; havia tapetes e cortinas, tecidas a mão, por todo o lado. Sentado, num banco tosco de madeira, um senhor tocava a flauta que Linna havia ouvido.
- Você errou a trilha!- Disse tranqüilamente – Não tenha medo.
- Obrigada! - Disse, fazendo um sinal de agradecimento - Onde estamos? Vocês moram aqui?
- Moramos! – respondeu a menina – O governo quer que a gente migre. Mas não queremos deixar nossa terra. Quase todo mundo foi embora e os animais ficara sozinhos: cães, gado, lhamas... Eles vivem na companhia das pessoas, há muito tempo; não sabem procurar comida, água.... As cinzas estão cobrindo os campos, junto com a neve! Eu sou Maria, esta é vó Consuelo. Aquele é Amaru.- disse olhando com muito respeito para o senhor.
- O que ele está fazendo? – Linna sussurrou para Maria ..
- Conectando-se com as forças do universo...!!!Você nunca tinha visto?
Amaru usava um colorido agasalho, enrolado ao corpo, e entoava uma cantiga, enquanto queimava ervas no fogo e movia o tronco para frente e para trás num ritmo constante. Linna entendeu que orava e, sem perceber, caiu no sono.
Consuelo acordou-a, assim que o sol nasceu, serviu um chá forte e biscoitos redondos. Maria ainda dormia e Amaru tratava de Che-ma.
- Você deve ir !– Basta seguir os sulcos; a neve foi fraca e a lhama vai conduzi-la, em segurança. Não conte a ninguém sobre nós. Não queremos ser encontrados! Cuide-se!! Nunca deixe o desalento tomar seu coração... Conte para os povos sobre a beleza dos Andes e a sabedoria renovadora do Vulcão. Sua amiga repórter disse que tudo se transforma... Palavras de muita sabedoria, para alguém ainda tão jovem!
- Mas não é perigoso ficar aqui?
- Amaru sabe o que faz; jamais colocaria Maria e eu em apuros. Nós confiamos em nosso líder. Em quem você confia, Linna?
- No amor! – respondeu sem pensar - Obrigada, Vó Consuelo!
Virando-se, chamou Che-ma, que já estava pronta.
- Não quero que notem minha ausência. – Linna queria falar com Amaru, mas entendeu que seu silencio era precioso e parte de sua pessoa, ela tinha aprendido a respeitar isso. – A senhora entrega isso para Maria? – Linna alcançou, para a senhora, a pequena flor que havia ganhado de seu namorado, Acauã, quando se conheceram. Era a única coisa significativa que tinha, mas soube que ela receberia com carinho e que não precisava mais daquele símbolo do amor de Acauã por ela, pois o sentia profundamente enraizado em seu coração.
Olhando-a, serena e carinhosamente, vó Consuelo abraçou-a e sorriu. Nos seus olhos Linna percebeu um profundo respeito pela vida. Estavam bem mais longe da pousada do que imaginavam, e muito longe do vulcão. Chegando ao topo da montanha Linna teve uma grata surpresa: estavam próximas de uma praia do Oceano Pacífico. A paisagem era simplesmente deslumbrante.
- Che-ma! Eu não esperava por isso – Como é lindo!
Próximo a praia aparecia a cidade abandonada, com as ruas vazias tomadas pelas cinzas e pela neve. Um estranho abandono, cheio de magia e ensinamento. A fumaça saia da boca do vulcão como se fosse de uma chaminé. Não havia rios de lavas, nem explosões como ela imaginava.
- A gente acha que ele está apenas “roncando”. – disse Che-ma - Não está totalmente desperto.
Linna retirou a máquina da mochila captava todas aquelas imagens espetaculares, quando um patrulheiro se aproximou. Pediu seus documentos e perguntou o que fazia ali. Ela explicou, num tipo de portunhol, que havia se perdido de sua equipe e que procurava a pousada. O policial não gostou muito de sua história. Ela e Che-ma foram conduzidas para a pousada, onde Tânia esperava aflita.
- Linna! – disse Tânia aliviada – Quem bom que você está bem... Quase morremos de susto. Onde você passou a noite, menina?
- Procurando a pousada.... Errei a trilha.- Ela percebeu que sua história não estava colando – Essa lhama ficou o tempo inteiro comigo.
- Ela é esperta – disse o dono da pousada, puxando-a para um galpão.– Não entendo como se perdeu, Che-ma. Você quer um chá.
- Sim! Estou morrendo de fome. - disse – Quando começam as gravações?
- Ronaldo e Anelise já foram preparar o equipamento e coletar alguns dados. Daniela está preparando uma coluna, hoje já quer mandar a primeira matéria para o jornal. O Vulcão está calmo, mas, acho que não poderemos chegar muito perto. As autoridades estão procurando “evitar acidentes”. Essa noite houve um pequeno tremor de terra.
- Eu fiz fotos fantásticas... Se ela quiser já posso editar.
- Será ótimo... No telejornal da noite faremos uma matéria ao vivo, se couber na pauta... Agora, preste atenção, não se separe mais do grupo. Você tem que ter responsabilidade, trabalho de equipe é uma coisa muito séria...
Linna sabia que merecia o sermão, ouviu e não retrucou. Era apenas uma estagiária, tinha sido uma grande conquista ser selecionada para aquela aventura, não queria ser “desligada”.
Tânia estava super brava até ver o material de Linna. Seus olhos brilharam, as fotos tinham vida. Tratou imediatamente de conseguir uma conexão e mandar tudo para a redação via e-mail...Show!!! Foi a resposta. A TV Universitária faria história.



A matéria
Linna viu que Tânia estava nervosa, as coisas haviam fugido ao seu controle. Ela tinha planejado em detalhes sua ação e as metas que pretendia atingir. Coisas que Linna praticamente ignorava: Planejamento e objetivos, já que agia por impulso. O tremor de terra da noite tinha adiado os da equipe. Nenhum jornalista podia sair da pousada e talvez eles tivessem que retornar sem se aproximar do vulcão, como o planejado.
Enquanto esperavam autorização para sair ficam reunidos na sala batendo papo e se aquecendo próximos ao fogo. Linna viu que o quadro sobre a lareira estava torto. Uma rachadura perto da porta mostrava a força do tremor. Como ela não havia sentido nada na cabana de Vó Consuelo?
- Engraçado! – disse Anelise para ela– Eu sonhei que estávamos as duas dançando abraçadas dentro do vulcão, coisa doida.
- Será que tem como ver a boca do Vulcão? – perguntou Linna.
- Não! – respondeu Ronaldo- Eu perguntei para os guardas... Antes dele acordar ali era um solo pedregoso... Agora o calor e a fumaça não permitem que se veja nada, muito menos que entre e dance nele. Não há rios de lava, mas muito material sendo expelido. – concluiu.
- Esta parte do Planeta Terra está mudando – disse enfática Linna- Um grande bloco de gelo se desprendeu há poucos meses, alguns vulcões estão acordando... Parece que a Terra quer nos dizer algo. Como se estivesse reagindo.
- Que imaginação! – disse Ronaldo – Parece coisa de criança...
Tânia invadiu a sala gritando: Preparem-se! Consegui a autorização.
A equipe estava pronta Tânia não deixou que Linna fosse junto. Fariam a matéria, as imagens e voltariam antes do tempo previsto para Porto Alegre. A edição e montagem do documentário seriam feitas no estúdio.
Linna ficou hiper chateada, entendeu que havia pisado na bola. Mas, não tinha agido intencionalmente. Se bem que, com o tremor eles não poderiam chegar muito perto mesmo, não faria fotos melhores das que ela já tinha.
Resolveu ver como estava Che-ma, o Condor sobrevoou novamente a pousada. Fez fotos esplendidas dele e da pousada. Pegou pequenos detalhes e grandes imagens. O vulcão parecia estar presente em tudo. Na cinzas no chão, nas marcas de terremoto e no olhar de medo dos animais.
- Sua chefa ficou bem braba, né! – disse a lhama - Você está de castigo?
Linna riu, parecia mesmo que estava de castigo. Ficou pela pousada,conversando com o pessoal, descansando e bisbilhotando. Não esquecia a imagem do mar, o estrondo das ondas e o cheiro forte da areia. Bem diferente do que conhecia. Che-ma passou o tempo inteiro em sua companhia.
A equipe voltou frustrada, a densa fumaça e a nevasca não permitiram que fizessem grandes imagens. Reuniram todo o material e precisavam montar a primeira matéria para o telejornal da noite. Daniela sugeriu abrir a matéria assim: Falamos direto da cordilheira dos Andes, ao pé do Vulcão que despertou esta semana, como vemos na imagem, há uma densa fumaça saindo de seu interior. A sensação que fica é de que esta parte do Planeta está mudando. Parece que ela, a Terra, quer nos dizer algo. Como se estivesse reagindo!- Adorei! - disse Tânia.
As “criancices” de Linna. Eles nem disfarçaram para usar suas idéias, ficou desapontada.
Entendeu mais ainda o silêncio de Amaru.
A Terra tremeu mais uma vez! Linna tomou um susto. Uma viga do galpão caiu provocando um estrondo.
Correu para ver Che-ma, mas ela estava bem. Depois ouviu um novo estrondo, seguido de uma grande golfada de cinzas... Ronaldo registrou o momento exato da golfada de lava. Linna fotografou o desespero dos animais fugindo em disparada: a luta pela sobrevivência. A lava caia longe do vulcão.
Pensou em Maria, vó Consuelo e Amaru. Estariam bem?





O espírito da natureza..
A expedição parecia que estava chegando ao fim...! Com o novo tremor e uma chuva de lava, as autoridades fecharam todo e qualquer acesso ao local...
Cinqüenta quilômetros de diâmetro seriam totalmente evacuados, para garantir a segurança. A equipe de Linna foi uma das últimas a deixar a pousada. Che-ma ficou para trás... Primeiro retirariam o resto da população e os jornalistas. Só num outro momento recolheriam animais de estimação e de criação. As novas amigas mal conseguiram se falar:
- Adeus ! – Disse a lhama, olhando para ela .- Não se preocupe, nós vamos ficar bem.
- Cuide-se! – respondeu Linna, acenando para ela.
O Condor sobrevoou a cidade deserta. Linna compreendeu que eles eram dali. Tinham grandes chances de sobreviver e de suportar o que estava por vir. Entendeu que era um privilégio viver uma época de grandes mudanças. Do interior da Terra., viriam as melhores e verdadeiras transformações...!! Amaru, Vó Consuelo e Maria haviam optado por ficar, numa aposta com o destino. Não eram comandados pelas autoridades e, sim, espíritos livres, que eram dali, como o Condor e Che-ma. O inverno seria longo e intenso para eles, mas não cabia, em suas vidas,outra forma de viver..
Uma parte da família de Vó Consuelo havia saído da Espanha, há mais de quatro séculos. A família de Amaru era de andarilhos da cordilheira. Sempre viveram nas montanhas, entre lagos, vulcões e o mar. Para eles, não havia mistério ali.
Maria era neta de vó Consuelo, filha de sua filha e bisneta de Amaru, filha de seu neto. Todos partiram, em busca de um sonho que eles mesmos não compreendiam.... Queriam uma língua estrangeira, roupas estranhas, carros e um conhecimento importado. Para depois, morarem, no cinturão da miséria das grandes metrópoles.
Amaru transmitia, para Maria, as tradições mais longinquas....Aquelas que não deixariam sua cultura ser enterrada, pelas areias do tempo, e pelos tempos modernos. Vó Consuelo, o gosto pela boa vida... Seria possível viver em paz?
Amaru, Che-ma e o Condor estavam felizes com este longo perímetro de Liberdade. Há muito tempo esperavam por um momento tão belo assim...!! Estavam prontos, para viver, intensamente, esta época...! Até o momento em que suas cinzas estiverem voando, junto com as cinzas do vulcão, na renovação da energia. Então, viverão, novamente, como pó, ou como pão, ou pasto.. E, novamente, como condor, ou lhama ou Amaru.
O jipe que levava a equipe da TV Universitária quebrou, a cinco quilômetros da pousada deserta e a vinte, de qualquer ajuda. O motorista entrou em pânico...!! Caía a noite e, com ela neve, frio e deserto. Sem abrigo e sem comunicação...! E, dessa vez, a culpa não foi da estagiária...!
Parecia que algo ou alguém estava querendo dar outro recado para eles...Qual seria, dessa vez???


Clarão na noite
Ronaldo assumiu o controle da situação, tentando acalmar a turma. Não podiam retornar, pois caminhar cinco quilômetros no deserto, com cinzas e neves, seria fatal para eles. Não podiam ficar ali, morreriam de frio. Lembrou-se de seus ensinamentos de escoteiro; a primeira coisa que precisavam era procurar abrigo e fazer uma fogueira.Estava expondo sua opinião, quando o Condor cruzou o céu. Linna sabia que ele não falaria com ela, mas percebeu que estava disposto a ajudar.
- Ronaldo! Pode parecer uma idiotice, por favor, não ria, antes de eu completar... – Vamos seguir o Condor?
Ronaldo soltou os braços e uma grande gargalhada... – Fala Sério, Linna!
- Por que ? - perguntou,pragmática, Tânia.
- Por que a lhama me manteve segura... – Ponderou Linna – Esses animais são daqui, eles sabem o que fazer!
- Voar, por exemplo? – Indagou o rapaz –E se ele alçar vôo? Ficamos longe do jipe, sem contato, sem abrigo e sem comida e água...
- Eu soube.... – continuou. Enquanto vocês saíram, ontem, para gravar... Que existem cavernas, com águas termais próximas ao vulcão.
- Isso! – Interrompeu o motorista, já mais calmo -.. Mas é muito perigoso seguir, em direção ao vulcão...!
- E ficar aqui? – Perguntou Anelise .
- Pela Virgem..!- O homem estava com medo e tinha razão nisso. - Nem sei...
O Condor deu mais uma volta e seguiu em direção ao vulcão.
- Vamos ! – disse Ronaldo – Se todo mundo concordar! Agora, temos realmente que agir com união!
Eles pegaram só o que era necessário e puseram-se a caminhar.
Com o cair da noite, as descargas elétricas proporcionavam um espetáculo singular...! Entre a cratera e o céu, clarões de energia provocavam grandes explosões e uma dança de eletricidade. Era lindo e assustador...! Linna fez ótimas fotografias deste fenômeno. Ronaldo Gravou tudo, o documentário ganharia mais veracidade do que nunca com aquelas potentes imagens.
O Condor levou-os, em segurança, até a entrada de uma caverna vulcânica... Ronaldo foi logo acendendo uma fogueira. Tânia, Daniela e Anelise estavam em estado de choque e o motorista, aliviado. Um lago de águas termas aquecia o ambiente. Nas paredes da caverna, tudo estava limpo e intacto.
Linna ficou para trás; queria agradecer ao Condor, fez um aceno com a cabeça e não disse nada.
Ele apenas voou, silenciosamente, sabedor de sua gratidão.
Mesmo com a fogueira e com o vapor da água termal, a temperatura era muito baixa...! Eles dividiram os biscoitos que o motorista havia trazido e alguns goles de água mineral.. Não sabiam se a água do lago era potável.
Para manter o calor, tiveram de se abraçar e cobrir o corpo com seus agasalhos.. Não podiam fazer mais nada.Linna sentia-se, como um urso hibernando. Pensava em Che-ma sozinha. Amaru deve ter recolhido os animais...! Pensou.
Anelise disse que, amontoados assim, eles pareciam os pingüins de um filme que havia visto.
- Podemos imaginar que estamos no filme...!Brincou Daniela.
Eu já acho que parecemos uma baleia. Disse Ronaldo.
Todos riram e acharam estranha a idéia. Mas, pareciam, sim, um só ser. Aos poucos, movidos pelo cansaço, caíram num profundo sono... Menos Linna que resolveu explorar a caverna...! Seguiu um som familiar e lá estavam Amaru, Maria e vó Consuelo...! Che- ma, sentadinha, na porta da cabana. Lá fora, a Cordilheira, os raios e o Vulcão. E, novamente um profundo silêncio.



Unidade
Vó Consuelo sorriu, ao ver Linna bem.. Seus olhos brilharam de alegria...! Maria correu ao seu encontro, com a pequena flor, confeccionada em folhas de bananeira, pelas hábeis mãos de Acauã, transformada em um lindo e colorido colar.
Che-ma saltava de alegria. Amaru permaneceu silencioso.
- Estamos no interior do Planeta Terra.... – Deixou escapar Linna- Como se fosse no útero dela...
- Mas ainda estamos na superfície... – Brincou vó Consuelo – Para irmos mais fundo, devemos ir, em pensamento, como faz Amaru. Linna, o silêncio nunca deve ser quebrado com bobagens... O Vulcão estava adormecido, há mais ou menos nove mil anos... !
- Nove mil anos! – Repetiu Linna – É muito tempo...!!
- O que você veio buscar aqui? – Indagou vó Consuelo.
- Informações, talvez... – Respondeu, um pouco insegura – Aventura, conhecimento... Aproveitar uma oportunidade; na minha terra tem um ditado que diz que o cavalo selado só passa, uma vez, na nossa frente.Então, precisamos aproveitar a montaria ou vamos seguir a pé... Acho que, apenas, segui a minha intuição, vó Consuelo.
- O que você acha que o vulcão está nos dizendo, com sua atividade?
- Que as coisas estão mudando... Que a natureza está viva, em constante transformação e movimento. Hoje, acho que compreendo melhor a unidade entre todas as coisas e a individualidade também. A história é sempre a mesma: vulcão, pessoa, animal, não tem diferença.
- Isso, garota! – Sonho e realidade tem a mesma composição...!
- Linna! –Interrompeu Maria- Che-ma me deu um pouco de sua lã e eu fiz essa mantinha para você levar para Acauã...Maria tinha, nas mãos, uma comprida manta colorida. Os olhos de Linna não contiveram as lágrimas de alegria.
- Que linda! – Exclamou – Ele vai adorar... !
Amaru fez um sinal, pedindo silêncio. Vó Consuelo pediu a Linna que voltasse, para seu grupo, e mantivesse, com eles, uma verdadeira união, entendendo que cada um tinha seus defeitos e suas qualidades. Sua ignorância e sua sabedoria. E que, para retornarem,em segurança, deveriam ter muito respeito e amizade.
O condor entrou na caverna, sobrevoou a entrada da cabana e sentou ao lado de Amaru. Che-ma, Maria e Vó Consuelo sorriram. Linna regressou ao seu grupo, não sabia bem o quanto era real aquela imagem: Uma família vivendo em uma cabana, dentro de uma caverna. Onde estavam?
Recordando a imponência majestosa daquele lugar, pôde entender, profundamente, a verdade da máxima popular que tanto usava: Todos somos um.Pela manhã, a equipe de resgate encontrou-os, assustados, mas seguros.
Partiram da Cordilheira dos Andes, trazendo, em seus olhos, um belo espetáculo. E um profundo respeito pela força da natureza.
O documentário fez muito sucesso! E toda a equipe foi recompensada, com uma nova sabedoria, além de muita alegria e paz...! Poucos meses depois, as pessoas retornaram para suas casas, enquanto o vulcão voltava a sonhar por mais um longo período de tempo...!! Acauã adorou o artefato que Linna trouxe de presente para ele, uma linda manta colorida.

3 de jul. de 2008

Uma boa matéria

Uma boa matéria

Autoria: Fernanda Blaya Figueiró
Co-autoria: Angelita Soares

Linna quase morreu, chorando de emoção, ao receber a notícia de que uma refém que estava presa há seis anos foi libertada
A alegria tomou conta da Faculdade de Comunicação; não era todo dia que algo assim acontecia. Em meio ao pessimismo e a uma profusão de coisas ruins, um sopro de esperança brotava. Por que só alguns conseguiam?
Linna não sabia de que eram constituídos os finais felizes. Nem o que levava aos trágicos. Uma boa rima para as duas coisas seria talvez: mágicos. Mas como diria o grande poeta Carlos Drumond: seria uma rima e não uma solução!
Um pouquinho de paz entraria na vida das pessoas, pela Internet, jornal, rádio, televisão... Liberdade dolorida, mas liberdade.
Passeou pelo campus, como se todo o sofrimento do mundo houvesse acabado. Simples assim.
Ao chegar no estacionamento, os carros estavam cobertos por uma leve camada de cinzas, de um vulcão andino, trazidas pelo vento...