26 de mai. de 2008

Pi-ju

Oi!

Estes novos capítulos completam os dois últimos posts.
Autoria: Fernanda Blaya Figueiró
Co-autoria: Angelita Soares

Tem alguém aí?

Pi- ju voava, rápido, e sabia exatamente o caminho que deveria seguir; o ponto de luz estava cada vez mais próximo.
- Temos: galinha feliz, ovos frescos, leite puro, mel de abelha, própolis natural, queijo de cabra! – Informava a placa.
Pi-ju pousou,em uma goiabeira.Estava cansado e com fome...!!O aroma adocicado dos frutos maduros convidava para um “lanchinho”! Enquanto comia, avistou uma enorme guabiju, com muitos pássaros pousados, em seus troncos e ramos. As sementes da árvore cobriam o solo,formando um espesso tapete.
-Olá! – Disse, encabulado – Este é o Sítio do Tércio?
- Não! – Respondeu um Bem-te-vi – Aqui é uma granja..Este sítio, que você fala, fica na beira da Lagoa dos Patos.
- Lagoa dos Patos?! O que é isso??
- Uma grande aguada que fica naquela direção. Aquele pontinho brilhante é a luz do sol refletida na lagoa. Mas, porque você quer ir para lá?
- Eu morava na cidade, no pátio de uma casa, que tinha uma guabiju, bem novinha, e muito linda...!Mas os homens derrubaram a minha árvore e a aranha me contou que existe um lugar...
- ... Onde as aranhas tecem teias e os pássaros voam livres, as árvores crescem e a água brilha., o solo é fértil e a gente, mais humana?
- Isso! – respondeu alegremente – Você já esteve lá?
- Não... Eu não acredito nisso!
O sol começava a baixar..!!!Pi-ju precisava completar sua jornada; não queria perder o ponto que o estava guiando... A resposta amargurada do bem-te-vi não tirou sua energia. Com um salto preciso, retornou ao céu aberto.
Bem vindo ao Sítio do Tércio!
Pi-ju estufou o peito de alegria, saudou a todos, com um magnífico trinado. Aparentemente,era apenas mais um lugar com árvores, plantações, gado, ovelha, galinhas, uma casinha com chaminé e antena... Galpões e tratores..Voou até o alpendre e observou o homem que chegava, trazendo uma pequena muda de figueira.Usava calças jeans claras, alpargatas e camiseta. Assoviava uma melodia que lembrava um trinadinho alegre e curto..De dentro da casa, saiu uma mulher de cabelos presos e abrigo esportivo. Pela porta, sentiu um perfume convidativo, com cuidado, entrou pela janela e descobriu uma enorme torta de amores sobre o balcão...!!Estava quase lá, quando alguém acendeu uma luz muito forte e perguntou: - Tem alguém aí?

Fluxo de energia
Pi-ju bateu, com força, a cabeça,contra a porta do armário...Caindo, já desmaiado.
- Pai!! Tem um passarinho quase morto aqui, corre...
Tércio e Eudora correram para a cozinha. Melissa estava com Pi-ju desmaiado, em sua pequena mão. Júnior também correu para a cozinha, jogou um pouco de água na cabeça do passarinho, que logo despertou.
Pi-ju acordou tonto; a luz ofuscava seus olhos, a imagem da família parecia trêmula e ameaçadora! Tércio pegou-o, com muito cuidado.
- Um cardealzinho! – exclamou olhando bem para ele. Perdido, meu amiguinho?
- Que lindo! Posso ficar com ele? – indagou Melissa.
- Cardeais não gostam do cativeiro – respondeu, carinhosamente, Eudora – Mas, acho que, hoje, ele vai ter que dormir aqui...
- Fraco assim, vira uma presa fácil – completou Tércio, colocando o cardeal numa gaiola desativada. Júnior providenciou água e comida para o hóspede.
Pi-ju não entendeu nada, lembrou da aranha e do bem-te-vi. Passou uma noite muito triste, enjaulado...!! As sementes que lhe ofereceram eram gostosas e a água limpinha; aproveitou para restabelecer suas forças.
Com a chegada do sol, a alegria tomou conta dele, novamente, soltou seu canto, como nunca... Tércio apareceu de pijamas, olhos esbugalhados e sem entender nada.
- Calma! Não são seis horas ainda... Domingo, todo mundo dorme até mais tarde.
Pi-ju conseguiu o que queria. Tércio levou a gaiola até a janela da cozinha e abriu a pequena porta. A liberdade esperava por ele, mas Pi-ju não saiu, imediatamente.
Melissa apareceu carregando um gato de pelúcia pelo rabo.
- Pai! Que passarinho barulhento – Eu tô com fome!
- Aham! Vou colocar água para fazer café... Você põe a mesa... Por que será que ele ainda não saiu?
- Acho que ele quer um pedaço de torta - disse a menina, colocando uma migalha pela grade da gaiola.- Viu?
Pi-ju bicou, com cuidado, a iguaria oferecida por Melissa; ainda não tinha voado, pois não queria parecer mal agradecido. Cardeais são muito orgulhosos. Estufou o peito e agradeceu, com uma cantoria que acordou a lagoa inteira... Só Junior continuou dormindo; tinha voltado da festa, no meio da noite, e nada abalaria seu sono.
Eudora preferia suco no desjejum.
Depois da cantoria, Pi-ju fez um voou de reconhecimento. O sítio existia e o ponto iluminado também! Estava muito feliz!
Tércio sorriu. Agora, Piju poderia comer suas sementes e continuar o ciclo vital, tão necessário para a preservação da Vida.Na natureza, tudo se permutava e se perpetuava, em perfeita harmonia. Tércio também estava feliz. Linna e Acauã chegaram, um pouco antes do meio dia. Júnior foi buscá-los na parada do ônibus. Eles tinham adorado receber o convite para auxiliar no plantio da figueira. Em pleno outono, fazia um domingo, de muito calor.
Eudora preparava espaguete caseiro, saladas variadas e um molho todo especial, receita de família, enquanto isso, Tércio jogava dominó com Melissa.
- Que lugar! – Exclamou Acauã.
- Olá! – disse Tércio – Sejam bem vindos... !!!Está é minha esposa, Eudora. E, essa é Melissa, nossa caçulinha.
- Muito prazer! –responderam os dois, ao mesmo tempo.
Acauã trouxe “tijolinhos” de banana, um doce produzido em Maquiné e amplamente comercializado. Seu município tinha sido duramente castigado, no último vendaval. Mas, aos poucos, a vida estava normalizando.
- Estes doces parecem as pedras de dominó... – comentou Melissa. Vocês nem sabem o que aconteceu aqui em casa...!! Ontem , um passarinho entrou na cozinha, bateu a cabeça e acabou desmaiando... !
- Pobrezinho! – disse Linna – E ele ficou bem?
- Ficou ótimo! Tirou todo mundo da cama, de madrugada, cantando como um louco...!
O almoço foi muito tranqüilo; Linna e Acauã se deram muito bem, com todo mundo. Assim como Pi-ju, que passou a manhã inteira batendo papo...!!
Mais, á tardinha, escolheram uma bela coxilha, para plantar a mudinha. O outono era uma época muito boa para plantar. Pi-ju acompanhou toda a movimentação.
- Linna- disse baixinho – Aqui! Na árvore...
-Oi! – respondeu afastando-se um pouco dos amigos. Você é o passarinho que entrou na cozinha? Como você se chama?
- Pi-ju! – Porque vocês estão plantando essa árvore? Ela é especial?
- Sim! Eu ganhei a semente de uma amiga muito querida que já faleceu, Josefina.
- Eu morava em uma guabiju, mas foi derrubada. Por isso, vim morar aqui. Todos dizem que este é um lugar mágico. Mas eu ainda sinto falta de casa...!!
- Eu sinto falta de minha amiga Josefina, mas, ela já tinha mais de cem anos; sua hora chegou. Na natureza, é assim.
- Mas olha lá !!– disse o passarinho apontando para um montinho no chão. – Aquele montinho é o resto do corpo de uma lebre... Algum cachorro do mato comeu só um pedacinho...!!Isso não é certo.
- A gente fica com pena da lebre, mas toda a energia de seu corpo será aproveitada.Além do cachorro, os urubus vão se alimentar, depois as larvas, assim por diante, sucessivamente. A sua guabiju, também, vai ser decomposta, fertilizando o solo, doando energia, para que uma nova vegetação nasça e sirva de alimento para outras lebres, ou insetos. Ou sua madeira será utilizada para fazer papel, servir de combustível... Nada se perde. A energia se transforma, desde sempre.
- Aqui é um lugar legal para morar!- disse Pi-ju com convicção.- A lagoa é uma das imagens mais belas que eu já vi!
- É realmente muito linda! – Você canta muito bem Pi-ju; acho que logo você terá muitos amigos, aqui...!
- Eu já escolhi uma namorada e um bom lugar para montar um ninho... Você me ajudaria a plantar uma semente de guabiju?
- Claro! – Só que precisamos falar com o Tércio. Pois, não adianta plantar, em um lugar que ela não possa crescer.
- Não! Aqui, já existem muitas... Eu queria que fosse na cidade.
- Na cidade! É mais complicado...!!! Mas, posso levar a semente e ver se consigo alguém que tenha um bom pátio. Mas, por que na cidade?
- Por que senão, um dia, as cidades vão acabar ficando sem energia boa...
Pi-ju tinha razão, Linna coletou algumas sementes no chão. A energia que mais fluía na cidade era de dejetos...Uma coisa para ser pensada...
A figueira teria muito espaço para se desenvolver, Pi-ju, uma longa e divertida vida, afinal, a magia da natureza acontecia silenciosamente; um fluxo constante de energia, que Linna identificou, no brilho da lua que aparecia no horizonte...

Um comentário:

João Gabriel disse...

Li os três posts desta história.
Sério mesmo, mãe, está ótima. Eu sou fã da Linna! De carteirinha!
Ela fala com os animais...de onde tu tirou isso? Ela deve ser meio maluca! hehehehehe!

Um beijo e continue com esta produção incrível! Quando eu ganhar dinheiro, vou patrocinar a Linna!

Beijo, João