11 de abr. de 2008

A volta

A volta
Autoria: Fernanda Blaya Figueiró
Co-autoria: Angelita Soares

Tudo aparentava uma profunda tranqüilidade.Linna quis voltar para a praia; gostava de caminhar, na areia molhada pelo sereno da noite..!!
_ O mar parece mais misterioso ainda...! Disse, olhando para o oceano.
Uma luz brilhante indicava que alguém navegava na costa.
- Engraçado... - disse Acauã – Lembrei de Celeste e Lodo... Nunca mais encontramos os dois...
Linna sorriu e comentou:
- Parece que estou ouvindo Sr. Tempo dizendo: “São seres universais, que vivem, além da Terra. Mas...Estão sempre conosco. Nunca deixaram de estar aqui ou em qualquer outro lugar. São forças cósmicas que assumem a forma que podemos ver. Muito sinistro... Pensar que compartilhamos a força do universo... Com outros seres. Outras energias. Outras formas...!! Sinto-me presa, vigiada...!!
- Eu me sinto livre... Único! E, ao mesmo tempo, uma partícula...
- Como assim??
-Sei lá...! Existe algo muito, muito maior, e somos parte disso. Nossos conflitos são pequenas reproduções de coisas que já aconteceram; nossas idéias e pensamentos são ondas de informações, de outras coisas, mais abrangentes...
- Então, por que as coisas ruins não cessam?
- Elas cessam... No momento, em que a gente aceita que cessaram .Mouppu não gostou de nossa amizade com Onc... E ele tem razão... Ele é um guerreiro, um caçador e uma presa. Ele usa um padrão: homens são caçadores, inimigos, uma ameaça. Eu já vivi tempos muito difíceis, em que faltava comida e terra para a aldeia. Estávamos sem rumo, sem perspectiva e, depois, tudo foi passando, se acomodando.Aceitamos as mudanças e, principalmente, compreendemos a Evolução. Crescemos como povo, com dignidade e sabedoria. Nossos irmãos que nascem, hoje, têm outros desafios. E muito, da angústia que nos assolava, tornou-se a energia para a transformação...
- Você acha que os problemas, que o planeta vem vivendo, vão ser “a força motriz” para melhorar?
- Acho! E também acho que isso tudo tem de acontecer...
Naquela noite, Mouppu foi atingido por uma hélice do navio, que cortava a costa. Onc procurou Linna, mas foi Acauã quem entrou no mar, para socorrê-lo.
Celeste e Lodo apareceram na areia...
- Histórias de heróis...- zombou Lodo – Por que as pessoas não pensam em outra coisa. – Duvido que o índio consiga acalmar aquela foca maluca...! Além disso, uma foca a mais ou uma a menos, que diferença faz?
Linna viu a tristeza, nos olhinhos pretos de Onc... Lodo sabia ser cruel...!!
- Vai ficar tudo bem...!- disse Celeste – Mouppu vai aceitar a ajuda de Acauã... Podemos fazer uma corrente de bons pensamentos...! Vamos?
Lodo afastou-se do grupo... Torcia contra. Onc acompanhou o amigo, estava ansiosa e desorientada.
A água estava gelada e Acauã não sabia exatamente o que fazer... Mouppu urrava de dor e estava cansado. Entendeu a aproximação, como um desafio... Os tubarões já se aproximavam... O cheiro doce de sangue fresco era um convite.
Acauã precisava tirar Mouppu da água; na areia, teria mais chances de sobreviver.
- Mouppu! - disse – Eu venho em paz...!! Vamos para a areia..!!
- Não se aproxime de mim!! – gritou, ameaçador. Mesmo ferido, ele era forte e agressivo.
O amuleto de Acauã brilhou, na luz das estrelas...
Uma ave de rapina_Pensou Mouppu e, cansado, perdeu os sentidos.
Já era madrugada e tudo estava vazio... Linna e Acauã improvisaram pontos e mantiveram o machucado, coberto pela água salgada. Onc deitou ao lado de Mouppu, aquecendo seu corpo.
Celeste observava, atentamente... Lodo sumiu, com o primeiro raio de sol, no horizonte.
- Não é verdade! – disse Celeste...
- O que? – perguntou Linna.
- Aquilo que Lodo disse...
Celeste, também, sumiu.
Linna compreendeu que deveria lutar pela vida de Mouppu. Que cada um tem o direito de estar aqui e de viver cada segundo...Aqui!
Fernanda Blaya Figueiró

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