Oi Gente!
Escolhi quatro contos para republicar.
Um beijão,
Fernanda
A Terra e o Tempo
Autoria: Fernanda Blaya Figueiró
Ao longo de uma estrada andavam lado a lado a Terra e o Tempo.
Ela estava cansada... Tinha poucas flores coloridas nos cabelos e profundas chagas nas mãos e no rosto... Olhando nos olhos dele pediu:
- Senhor! Por favor, preciso de ajuda.
- Preciso atravessar o rio.
Não era um problema dele, o Tempo pensou em seguir o seu caminho... Mas, os olhos dela! Aqueles olhos despertavam compaixão... Aproximou-se e viu melhor a gravidade de suas feridas.
O Tempo trazia um importante documento: uma carta de intenções generosas da humanidade. Imaginou que as feridas dela podiam contaminá-lo. Mas, mesmo assim resolveu acompanhá-la.
O rio era raso, a água pura e doce, ela parou na margem e calmamente foi entrando, ele colocou a mão em sua cintura e juntos iniciaram a travessia. A força da correnteza tornava a marcha lenta e pesada, cada passo podia ser sentido. Mas, no rosto dela o Tempo via serenidade em seus movimentos leveza. O rio murmurava:
- Reciclar!Reciclar!
A água tocou o rosto dela levando as chagas, nele tocou o coração enchendo de paz, de alegria e de ternura.
Quando chegaram a outra margem ele havia perdido o seu precioso documento. Ela as dores.
Vendo a aflição do Tempo, a Terra agradeceu:
- Amigo, obrigada!
O tempo desceu, então, o leito do rio. A terra subiu.
Constrangido ele achou que havia falhado em sua missão. Os sábios que esperavam o documento estavam todos reunidos em volta da fogueira, entoando uma canção, que lembrava o murmúrio do rio: -Reciclar! Reciclar!
O mais velho dos mestres perguntou o que havia acontecido, ele disse que trazia as mãos vazias... Os sábios compreenderam e responderam com o silêncio: a Carta da Terra havia chegado até ela. Aliviado ele adormeceu.
O sol lentamente apareceu no firmamento, seus primeiros raios iluminaram o ancião estava sentado ao lado do Tempo. Eles olharam para o rio que corria lentamente.
Os olhos do Tempo encontraram-se com os do Ancião, e a humanidade enfim compreendeu. O dia passou, o rio correu. O tempo mudou. A terra girou sem chagas e com flores nos cabelos.
Texto preparado para o II Encontro Diálogos de Budismo e Ecologia.
Agradecimento especial a Taís, Ilson Fonseca e as crianças do Castelinho por sua valiosa colaboração.
Um conto sem fadas?
Autoria: Fernanda Blaya Figueiró
Co-autoria: Angelita Soares
Julieta guardou com carinho suas sapatilhas douradas. Ela acreditava que, um dia,uma bela fada sairia delas e resolveria todos os problemas do mundo...!
- As fadas se alimentam dos bons pensamentos das crianças. – Foi o que seu Antônio, o Senhor dos Sacos, um dia, havia lhe dito - Só que as crianças de hoje, tem poucos bons pensamentos.
Seu Antônio não tem casa... - Coitadinho! Ele dizia, e no seu mundo colorido ia juntando, um papelzinho, uma embalagem, a foto de uma bela casa, na calçada da Caixa. Ganhava um churrasquinho e contava histórias.
Julieta falou das fadas para as crianças que brincavam de pula;r as poças formadas pela chuva.
- Fadas não existem! - Dizia um.
E o outro:Só nos grandes castelos, onde vivem príncipes e princesas, onde tem dragões e espadas. Ou, nas florestas,escondidas, nas flores.
A roda pesada do ônibus atravessou a poça, jogando água e barro, para a alegria da criançada.
Algumas mães voltavam do trabalho e pisavam, com todo o cuidado, nas ruas descalçadas, para não sujarem as botas. E, com olhos severos, recolhiam a criançada.
-Julieta! - chamou um menino gordinho, de olhos vivos e brilhantes- Como são as fadas?
Ela não sabia, mas precisava de uma resposta rápida.
- As fadas... São invisíveis...!! Elas se escondem nas palavras e nos cantos dos becos... Quer ver? Fa - Vê - La - Uma fada que se esconde numa vela. Vi- La - Uma fada que Vi lá. Fa Do , um fado, que dança desengonçado.
-Fado?
As crianças riram das maluquices de Julieta. Passaram a procurar fadas por todos os lados. Dr. Fiodor devia ter uma fada_Para a dor. Dona Ana, uma fada bacana! Seu João, uma fada do Pão! Dr. Clemente_ uma fada que consertava os dentes...!
As frestas das casas de madeira precisavam de fadas tecedeiras... Nos corredores_Fadas de cores...!! Imagina a rua_Toda colorida com fitas...E uma fada bonita!! E, para o banheiro , uma fada de cheiro...!!
A brincadeira durou a semana inteira. Escondidas, as crianças procuravam ver fadas e duendes...
No domingo, Julieta calçou suas sapatilhas douradas.A fada adorada apareceu...No meio da calçada.!Seu Pedro sentava pedras com a ajuda de toda a vila, o beco brilhava, com as fadas encantadas...Escondidas!!! E o conto ganhou amadas fadas!As mais variadas!!
Aos olhos da sapa
Autoria: Fernanda Blaya Figueiró
Co-autoria: Angelita Soares
Aos olhos da sapa
O sapo parecia um príncipe. Pobre sapo_Tão difícil ser príncipe! Um belo e imponente cavalo branco, uma promessa de grandes feitos e beleza infinda. O problema maior foi que o sapo acreditou nisso tudo, mais até do que a sapa, que não era nenhuma princesa de longos e lisos cabelos loiros, enfeitados com tiara de diamantes...
- A vida é só isso? – Exclamou um dia, olhando para ela.
Os olhos dela não queriam acreditar no que os ouvidos haviam escutado. O nariz sentiu um ranço... A pele, um frio glacial e a boca, um gosto de charco mofado.
Pula, pula, pula. Daqui pra lá, de lá pra cá... Numa pedra, escorrega. Noutra, tropeça. Bate cabeça, come poeira.
Quando o sapo voltou... Onde estava a sapa?
Busca daqui, busca dali. Pergunta e ninguém responde... Desce noite, sobe dia.
Que agonia!Coaxou a saparia! O charco inteiro respondeu,
Pulando de alegria,
Na maior cantoria: A sapa tá, na lagoa, lavando a pata... !!
E o sapo descobriu: O sapo não lava o pé, por que não quer... !
A bruxinha que não sabia ler.
Autoria: Fernanda Blaya Figueiró
Co-autoria: Angelita Soares
Sneed era uma bruxinha muito esperta e querida, ela vivia num pedaço da mata atlântica brasileira, um lugar mágico e encantador, que estava sendo destruído por homens gananciosos e sem consciência.
A pequena tentava proteger a mata da destruição, fazendo encantamentos e feitiços de lua nova. Sneed não são sabia ler! Quer dizer, não sabia a linguagem daqueles homens. Só ouvia o lamento da Mãe Natureza. Via o assombro dos animaizinhos, que fugiam sem saber bem pra onde.
Os homens traziam papéis com muitas coisas escritas. Cheios de razão, ateavam fogo na mata. Jogavam veneno nos rios. Escalavravam a terra com pesadas máquinas. Largavam sementes estranhas nos sulcos. E as pobres plantas? Se não dessem o que eles queriam... Foice no pé.
Um dia estava preparando uma oferenda de lua cheia e encontrou um filhote de homem. Assustada ela se escondeu no tronco de uma grande árvore. O menino sentou pertinho dela, tinha nas mãos um livro cheio de coisas escritas e desenhadas.
Sneed tirou o chapéu, o lenço que usava no pescoço e fingiu ser uma menina. Aproximou-se dele e, como quem não queria nada, foi logo perguntando:
- O que você está fazendo?
- Lendo! – respondeu intrigado – O meu nome é Francisco, e o seu?
Ela precisava pensar rápido, um humano nunca pode saber o verdadeiro nome de uma bruxa. Lembrou da mata.
- Atlântica! – disse com firmeza.
Francisco não agüentou e desatou a rir. Logo pediu desculpas, disse que nunca tinha conhecido alguém que tivesse o nome da mata.
Sneed mostrou a ele toda a beleza e riqueza que havia bem a sua frente. Francisco leu para ela uma parte do livro que falava sobre a preservação da natureza. Os dois ficaram muito amigos. A bruxinha aprendeu a ler e descobriu que muitos homens estavam preocupados com a mata, com a vida dos animais e das águas.
Numa noite de lua crescente ela leu uma oração de um outro Francisco, que pedia proteção para os animais. Como a lua a oração cresceria no coração das pessoas.
Mas, foi numa lua minguante que a grande mágica aconteceu! Como encantamento a mata foi cercada e protegida. Francisco sorria com um papel na mão, onde tudo foi bem escrito. Sneed viu um círculo mágico de luz se formando e do papel surgiram às palavras: Reserva Nacional da Biodiversidade. E Francisco nem precisou explicar...
Hoje quem caminha pela mata fica encantado... Em qualquer lua!
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