31 de mai. de 2011

Conto - O bando de Papa Ayuru






Oi, gente!

Sábado comprei um papagaio, artesanato indígena,em frente a um restaurante do Morro Grande. Estranhei muito o fato da peça ser colorida e fiquei intrigada. Então escrevi este pequeno texto para responder as minhas próprias dúvidas. Estava indo a casa de minha amiga Jane Peixoto, no Capão da Porteira. Ela fez um Banner para mim, da Grande Araucária.E o papagaio e o banner parece que foram feitos um para o outro.Deixo aqui meu agradecimento, obrigada, Jane! E aos meninos que vendiam o artesanato.

Dedico este conto as reflexões da "Semana do Meio Ambiente", que inicia em vários lugares. Dia sete vou contar lá na Biblioteca Lucília Minssen como parte das comemorações.
Beijso
Fernanda Blaya Figueiró

O bando de Papa Ayuru




Papa Ayuru era um papagaio diferente que não gostava muito de falar. Era um dos poucos animaizinhos esculpidos pelas crianças indígenas que havia sido colorido, isso fazia dele quase um exemplar único... Curandeiro de primeira linha sempre aparecia quando uma pajelança iniciava. Porém o que mais gostava de fazer era cruzar os céus junto com seu bando. Eles andavam de um lado para o outro, sempre cuidando para não bater em nenhum prédio com grandes vidraças, ou algum avião. Sábios que eram sabiam muito bem se adaptar as mudanças do clima, das engenhocas criadas pelos homens e também ao pouco espaço seguro que restava para se alimentar. Sua ligação com as crianças indígena era muito antiga, quando era pequeno ao pousar em uma tribo para comer gostosas espigas de milho, foi atacado por um levado gato-do-mato. Para sua sorte caiu aos pés do Pajé, que prontamente o socorreu. Papa Ayuru morou um longo período na aldeia e aprendeu tudo sobre a arte de curar o espírito e o corpo. Um dia porém o Pajé o chamou e disse que era hora de partir. Seu coraçãozinho pulou dentro do peito e seu olhar parecia pedir socorro. Na aldeia tinha uma cama boa, farta alimentação e um ainda muitos amigos. O Pajé, homem muito sensível, chamou a pequena ave e lhe contou um segredo

- Papa Ayuru! Cada ser que vem ao mundo tem um caminho para percorrer. Você veio como papagaio e é como papagaio que deve viver. O gato-do-mato veio assim e assim deve continuar.

- Pajé! – disse meio encabulado – Então porque eu vim parar aqui, se agora tenho que ir embora?

- Não sei! - respondeu o Pajé – Mas, dentro do seu coração há um mistério escondido. Aqui na aldeia você nunca conhecerá a vastidão do mundo.

- Aqui eu tenho tudo... - continuou – Tudo o que um papagaio precisa para ser feliz.

- Aproveite o fim do verão e acompanhe o próximo bando que passar... Só então volte e me conte tudo o que você viveu.

Papa Ayuru alçou vôo e seguiu as suas orientações, o bando o recebeu e um longo caminho percorreram. Viu lagos, montanhas, cidades, pomares, o mar... Ele ficou muito contente ao ver as cachoeiras e maravilhado ao conhecer uma linda e amável companheira. Os anos passaram voando e Papa Ayuru voltou para visitar seu amigo, que já não morava mais na aldeia e sim muito além, na longínqua terra de Tupã. O papagaio perdeu a fala ao saber da notícia, mas um jovem Pajé o recebeu de braços abertos e disse para seu pequeno filho.

- Este é Papa Ayuru, ele foi salvo das garras de um gato-do-mato, pelo Pajé, foi curado, aprendeu a curar e agora retornou a nossa casa. O que você tem a dizer, querido amigo?

- O Pajé me ensinou, – disse sem titubear – que meu coração guardava um mistério. Quando sai da aldeia eu queria ser o maior Papagaio do mundo, aquele que tivesse o maior conhecimento, o maior poder sobre os outros, o mais belo, o mais rico, o mais curador... Voei o mundo, amei, tive muitos filhotes, cai algumas vezes... Então descobri que cada um é o maior. Esse é meu grande mistério, não ser o maior, mas aprender a ser eu mesmo. Aprender a ser mais um, a ser especial só pelo mistério da própria vida. Hoje não sou o maior, sou um no bando. Um com todos os outros. Assim encontrei o equilíbrio e queria ter dito isso a meu amigo Pajé.

- Dizendo a mim, está dizendo a ele. - respondeu sabiamente o novo Pajé.

Papa Ayuru voltou para seu bando. O filho do Pajé então resolveu fazer esta pequena homenagem, não a um papagaio, mas a todos os seres, vivos ou não. Animados ou inanimados. A pintura de um animalzinho era um marco, de uma mudança, porque tudo sempre muda.





Fernanda Blaya Figueiró

31 de maio de 2011



Nenhum comentário: