30 de mar. de 2013

Expedição Páscoa


Expedição Páscoa

Para minha filha Luiza, com carinho!
Mestre Carota, uma coelhinha cor de rosa, pegou carona numa mochila de algodão cru e foi de Viamão até o antigo povoamento de Rio Grande, passando por Porto Alegre, cidade que recentemente havia completado 241 anos. As marcas da antiguidade estavam por todos os lados, vivendo em harmonia com a modernidade.

Mestre Carota era especialista em tamborilamento e estava em busca de um som que pudesse marcar a nova era pascal. Para os pouco informados, pela primeira vez na história da humanidade o Papa era um devoto de São Francisco, o protetor dos animais.

Bem, o fato exigia que até o domingo de Páscoa o mundo animal fizesse um agradecimento a ele. Mestre Carota era da tribo de Israel, descendente direta da Casa de Davi. Alguém pode perguntar: "Existem coelhos e cenouras no deserto?". Devemos aqui lembrar que todos os eventos da Páscoa estão relacionados ao deserto e a vida de Jesus Cristo, então um Coelho de Páscoa não precisa ter coerência com o mundo real. É parte do mundo fantástico. Voltando então aos fatos, Mestre Carota era descendente direta do velho e bom Coelho da Páscoa. Sabia de todos os seus segredos e estava na orla à procura de um instrumento vindo de Navio do velho continente. Sozinha nada poderia fazer, então, assim que chegou ao solo riograndino batucou com suas potentes patas na calçada mais antiga: Tumturumtumtum... Tumturumtumtum...

Poucos minutos depois todo o Universo já sabia de sua missão, iniciando assim a Expedição Páscoa. Nos ares, a Expedição era coordenada pelo Capitão Quero-quero; no solo, pelo Coronel Cão do Mercado; e no mar, pela Almirante Toninha Franciscana. Com tudo acertado, Mestre Carota tinha que resolver um problema: - em que embarcação o instrumento estava? O Cordeiro Mór não havia mencionado este detalhe para proteger a nau. Pois saibam que um instrumento antigo é de muita valia no mercado negro e que as forças do mal fariam de tudo para capturá-lo. O maior problema é que as sombras também estava em estado de alerta e haviam ouvido o Tumturumtumtum... Tumturumtumtum... Então sabiam de sua chegada.

O Bem e o Mal, como poderíamos fugir a este velho paradigma? Seria muito complicado. Na natureza não há este conceito tão humano. Infelizmente, devemos dizer que quem queria o velho instrumento era nada mais nada menos do que Lobo do Mar, um marinheiro gordo e malvado que havia deixado a marinha para trabalhar no tráfico de mercadorias. Era alto, forte, mal encarado e muito ambicioso.

Como estratégia ficou definido que Coronel Cão do Mercado iria cuidar deste desprezível ser. Lobo do Mar era muito conhecido nas sombrias ruas do antigo porto e muito, muito temido. Mesmo as más pessoas tem bons amigos, e Lobo do Mar andava sempre rodeado de Don Ratón, um temido roedor de cidade. Navios de todas as partes do mundo estavam ancorados, de todos os tamanhos e contendo a maior diversidade de objetos que se possa imaginar.

Mestre Carota tinha pouco tempo e muita coisa para resolver. Assim, convocou  a Iª Conferência Pascal de Apoio a Papa Francisco. Foi um evento aberto a todos os grupos e credos, porque sua temática era de ampla abrangência. Don Ratón participou, vigiado de perto pelo grupo. O evento deveria principalmente definir, mais uma vez, o que a Comunidade Viva do Planeta Terra esperava da Humanidade. Muitas promessas tem sido feitas e muitas ações concretizadas para estabelecer uma relação de confiança entre o animais homens, os animais não homens, os seres vegetais e minerais. Mas é preciso entender melhor a natureza das relações inter-reinos. Enquanto os conferencistas conversavam uma pequena pulga chamada Velocista fez um sinal para Mestre Carota e informou:

- Eu sei! -  As pulgas são seres muito temidos pelos outros e foi preciso garantir uma certa distância. Mas mesmo assim ela foi ouvida com muita atenção. - Eu vim no navio com ele.

Essa era uma informação realmente preciosa. Para evitar chamar a atenção de Don Ratón sussurraram em códigos. Mestre Carota indagou:

- Como é e como se chama?
- É um cargueiro de Bandeira Branca.
- Como se fosse um pirata do Bem?- Exclamou Almirante Toninha Franciscana.
- E isso existe? Indagou Mestre Carota.
- Só em casos muito especiais- continuou - Quando o objeto transportado é de Patrimônio da História, mas o que seria?
- É um...
- Não! - advertiu Capitão Quero-quero. - Não diga! Pode ser muito perigoso.
- Onde está ancorado? - Perguntou Coronel Cão do Mercado.
- Fora do Porto- respondeu a pulga – lançou âncoras perto dos Molhes e parte ainda hoje.

O tempo ficava cada vez mais apertado e Don Ratón já havia percebido no ar a importância da pulga Velocista. Com sua pelo gorduroso aproximou-se bem dela e sem que percebesse o grande mal que a cercava, a pulguinha pulou para se alimentar e dar um pequeno cochilo, tocando o pavor nos seus novos amigos, que não sabiam mais onde ela estava.

Almirante Toninha Franciscana emitiu um alerta geral para que a embarcação fosse identificada e em poucos minutos todos estavam se dirigindo para lá. Um enorme navio de nome Expedição Páscoa, com uma bandeira branca estava ancorado no canal dos molhes, atravancando um pouco o caminho das outras embarcações. O Capitão do navio acenava indicando que levantaria as âncoras e partiria rumo ao sul.

Don Ratón já havia contado tudo para Lobo do Mar, ele usou seu pequeno pesqueiro para se aproximar do grande Navio, observou que no lugar de uma carranca tinha uma lanterna e na lateral estava gravado Expedição Páscoa. A Bandeira Branca tremulava em contraste ao céu avermelhado do fim da tarde e um apito soou como uma despedida. Estaria rumando a Ilha de Páscoa? O som do novo mundo passaria pelo extremo sul? O Grupo precisava correr e encontrar o objeto antes que Don Ratón.

A pulga Velocista acordou dentro do pesqueiro e entendeu que havia caído numa armadilha. Se fingiu de desentendida quando o velho roedor pulou para a corda do navio subindo a bordo e foi junto. Neste momento todos os seres do mar, do ar e da terra aguardavam apreensivos que som o novo mundo teria. Mestra Carota não podia subir no Expedição Páscoa então confiou a tarefa a Almirante Toninha, só que os seres do mar não podem entrar nos navios e o pelotão do Coronel Quero-quero assumiu a missão: entrariam pelo ar e lá vasculhariam cada canto mas a procuro do que exatamente? Só uma pessoa sabia: Velocista, a pulguinha.
Os marinheiros ficaram muito espantados em ver um grande grupo de quero-queros dentro do navio. A abordagem não fazia o menor sentido. Ratos e pulgas são habitantes normais dos cargueiros, mas não quero-queros. Além disso, cardumes de peixes, de toninhas e de outros seres do mar rodeavam o navio e uma matilha de cães uivava ensurdecedoramente.

Nada parecia normal nas águas do canal. Um pescador mal encarado fazia sinal de que queria embarcar, era o velho Lobo do Mar. Velocista, a pulga, chamou a atenção do Capitão Quero-quero e disse:

- Está aqui!

Sem entender nada ele se aproximou da pulga e falou:

- Mas isso não é um instrumento.
- Mas é de onde virá o som! - respondeu enfaticamente.

Com seu bico,Capitão Quero-quero coletou o objeto e voando levou para terra firme. O navio desapareceu no ar como se nunca houvesse existido, diante do olhar assustado do velho Lobo do Mar.

Ao chegar ao continente, Capitão Quero-quero entregou o pequeno objeto a Meste Carota. Um clima de suspense imperou entre eles. O objeto era um pequeno pedaço de madeira muito antiga. Seria um pedaço de oliveira ou de um carvalho?

Mestre Carota tocou com a pontinha do pé no pequeno pedaço compacto. O som que saiu foi de uma beleza jamais alcançada. Era o Som da Cruz, o som do amor e do perdão. Era ancestral e divino. Humano e não-humano. Real e irreal...

Depois de tudo isso veio o domingo, e era de Páscoa. Numa era de energias boas, o som do Novo Mundo era o Som da Paz.


Fernanda Blaya Figueiró 



Algumas fotos que comprovam essa aventura:





Mestre Carota



Coronel Cão do Mercado


Capitão Quero-Quero





No mar, está a Almirante Toninha Franciscana. Mesmo que você duvide.

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