29 de set. de 2008

Oráculo

Oráculo


Na manhã seguinte ao show, a mesma equipe de homens veio desmontar o palco. Sibile ainda estava exausta, o silêncio foi rompido pelo barulho da jamanta que chegava. A cobrinha, que era muito curiosa, resolveu ir ver, de perto, o local onde o Deus do Rock havia estado, pessoalmente.

O campo estava coberto de copos, papéis e restos de comida. Sibile deslizou por aquela sujeira toda, aproximando-se, com cuidado.Subiu a enorme montanha de ferro e chegou, até o palco, só que não havia nenhum vestígio do Deus.

Da jamanta, desceram os mesmos trabalhadores do dia anterior. Sibile achou que estava segura, pois imaginou que eles recolheriam o lixo. Só que eles começaram, imediatamente, a desmontar a grande armação. Ela estava bem no meio do palco, sem ter como se esconder.

- Uma cobra! – Gritou um dos homens – Mata! Mata!

- Cuidado! – Disse um outro – É uma coral e verdadeira...

Todos os trabalhadores resolveram se armar e investir contra Sibile... Para sua sorte, o palco desabou, com o peso deles. Sibile foi jogada para longe e bateu a cabeça, perdendo os sentidos.

Acordou horas mais tarde, com a visão turva e o corpo dolorido.Estava no meio do mato. Havia anoitecido e a luz da lua iluminava uma grande fonte esculpida em pedra. Da boca de um poderoso oráculo, corria um filete de água pura.

- A Fonte da Sabedoria! – exclamou Sibile.

No outro lado, estava esculpida a figura da rainha das cobras, a Naja Sofia.

Sibile endireitou o corpo, baixou os olhos e bebeu um pouco da água sagrada, purificando o espírito. A escultura contava a história do encontro de Sofia com o grande oráculo.

Segundo a lenda, tudo aconteceu nas montanhas geladas da Índia.Cansada de viver com um encantador de serpentes, a grande Naja subiu o pico mais alto, em busca de resposta as sua angustias. Na reclusão, encontrou a magnífica escultura de um oráculo coberto de neve e esmeraldas. Ao aproximar-se,sentiu, vindo das entranhas da terra, a força do oráculo.

– Quem ousa se aproximar da Fonte da Sabedoria?

Sofia não respondeu, demonstrando respeito. Em seguida, ergueu o corpo e a cabeça, em sinal de força e coragem. Fitou os olhos do oráculo, como fazia com o encantador de serpentes, demonstrando superioridade.

– O que desejas saber! Oh, grande Naja! – Indagou o Oráculo. – Porque os homens não gostam das cobras? – Respondeu, ela, imediatamente. O oráculo silenciou, por alguns instantes, e logo projetou, na neve, uma sucessão de imagens: Eva, Agar, encantadores de serpentes, navegadores assustados, adoradores e adorados. Cobras e serpentes de todos os tempos. – O Homem teme aquilo que não domina. – Explicou o grande oráculo. Uma nevasca cobriu tudo e Sofia retornou, para contar ao mundo o que descobriu. O segredo foi transmitido de geração para geração, chegando a Sibile.

A cobrinha retornou, tranquilamente, para sua árvore; não precisava temer os homens e nem idolatrar seu Deus do Rock.



Viamão, 29 de setembro de 2008.

Fernanda Blaya Figueiró

Nenhum comentário: