28 de jul. de 2008

O tapete encantador

Oi, Gente!

Esta nova história marca uma mudança no blog, a Angelita está com uma nova produção no: http://www.noreinodelandria.blogspot.com/
E eu volto a escrever sem co-autoria, como no primeiro ano do blog. Dia 19 de agosto o blog de Linna Franco completa dois anos de muitas histórias.


Um beijão,
Fernanda


O tapete encantador

Autoria: Fernanda Blaya Figueiró

O tapete encantador

Linna Franco estava “matando tempo”, tinha concluído seu estágio, na TV Educativa, e estava de férias na faculdade. Seu curso ia muito bem, mais um semestre e seria uma Jornalista. Já tinha planos para o futuro, faria especialização em fotografia.
Com tempo sobrando, resolveu ir ao centro, caminhar um pouco e “ver” as novidades. Visitou os museus. Comeu sanduíche na padaria do mercado. Viu as vitrines e as tendências da moda. Fotografou o cotidiano, pessoas e imagens do centro.
Caminhava, distraída, quando viu uma pequena tabuleta: “Antiguidades. Liquidação - 50% de desconto em todos os artigos.” Ela adorava antiguidades, resolveu entrar na loja e bisbilhotar um pouco.
Uma antiga portinhola de madeira esculpida a mão dava para o interior de uma loja muito especial. Linna teve que baixar a cabeça para entra: a portinha acompanhava os Arcos do Viaduto.
O assoalho de madeira rangeu, reagindo a suas pisadas, fazendo com que tomasse consciência do seu andar e pisasse com mais leveza. À primeira vista, a loja parecia sem ninguém. Estava repleta de produtos, dos mais diversos: livros, Cds, móveis, vinis, porcelanas, bijuterias. Tudo muito colorido e variado.
Sobre o balcão havia um sininho e um bilhete: “Toque para chamar o atendente.”
Um aroma de bolor, naftalina e alfazema traziam ao lugar uma aura de coisa antiga. Pequenas etiquetas amarelas continham o valor de cada objeto: o preço antigo riscado com caneta vermelha e o atual, já calculado o desconto.
Um lustre de cristal estava pendurado, num dos cantos da loja. Linna achou o objeto muito parecido com o cristal rosa que usava como uma lente... Assim que estendeu a mão para tocar na peça, ouviu a voz severa de um senhor:
- Não toque! Você procura alguma coisa, menina?
Um homem baixinho, magro e mal humorado olhava, desconfiado, para ela. Usava óculos quadradinhos e um volumoso bigode . Tinha olhos negros e sobrancelhas finas, um vozeirão parecido com os dos antigos locutores de rádio... Estava parado atrás do balcão, e tinha, nas mãos uma cadernetinha de apontamento. Só então a garota ouviu o tango que tocava, dando um ar de mistério ao lugar...
- Eu estava só olhando! - disse um pouco assustada - Uma vez, eu comprei, no brique uma peça muito semelhante a esse abajur... Um cristal rosa...
- Esse lustre pertenceu a uma princesa. - respondeu o senhor – você ainda tem a peça?
- Sim! Outro dia posso trazê-la... O senhor tem muitas coisas especiais aqui.
O homem sorriu, seu rosto se iluminou e Linna percebeu que era um bom sujeito. Aos poucos foi falando sobre os objetos, como tinha adquirido cada um. O quanto havia investido e o que cada um significava para ele.
Linna viu num cantinho enrolado, um tapete colorido. O senhor logo notou seu encantamento.
- Como você se chama, menina?
- Linna Franco. - Respondeu estendendo a mão para ele.- E o senhor?
- Zahir Caled! – Respondeu, segurando sua mão, com gentileza, como se segura a mão de uma dama. Linna estranhou, não estava acostumada com isso, sem sentir flexionou os joelhos e fez uma reverencia com a cabeça levemente inclinada. – Este tapete chamou sua atenção?
-Sim! Achei lindo, posso dar uma olhadinha??
- Mas, é lógico- respondeu Caled – Mas, preste bem atenção... Este é um tapete encantador...
Seus olhos estavam alerta, observando a reação de Linna. Ele segurou o objeto, com muito cuidado e estendeu sobre uma antiga bancada de madeira. Um pozinho brilhante ficou em suas mãos. Com todo o cuidado foi desenrolando o objeto, aos poucos a música mudou completamente, lembrando os antigos castelos medievais e um perfume de rosas invadiu o recinto.
Linna estava encantada! Um belo jardim, uma fonte de pedra e a figura de uma jovem apareciam tecidos em um fio muito fino e delicado. Tudo em meio a um belo jardim ensolarado e florido, com o céu e o mar, no fundo. Muitas cores, emolduradas por um paspatu vermelho com ramos dourados... O tapete era realmente belo... Frente e verso perfeitos e franjas delicadas contornavam a peça.
- Que lindo!- Linna deixou escapar- Acho que nunca tinha visto uma peça tão bela...
- Pois veja bem... Este é o retrato da princesa que era dona do lustre do Cristal Rosa: Haniffe a bela das flores.
Linna notou a admiração nos olhos de Caled. Uma coisa chamou sua atenção, não havia nenhuma etiqueta no tapete. Nem cogitou em perguntar o preço, já que ele parecia estar num outro mundo.
- Tim! Tim! – Alguém tocava o pequeno sino no balcão.
Linna entendeu que Caled precisava trabalhar, olhou no relógio e ficou surpresa, já era tarde. Haviam conversado por horas... !!
Um garotinho brincava, com a campainha, era Mustafá o neto de Caled...
- Vô! – Disse, olhando para ele – Vamos, estou morrendo de fome!
Antes de sair, ela comprou vários incensos. Estavam muito baratos e seu dinheiro andava curto.
- E o Tapete? – indagou Caled.- Não vais levar?
- Eu ando um pouco sem dinheiro... – Respondeu – Notei que não havia etiqueta, então acredito que deva ser muito caro!
- Sim! – disse olhando para ela- Mas, podemos parcelar, negociar.
- Outro dia! – disse Linna- Seria... Mais ou menos ???
- Dez mil! – disse com convicção, Caled sabia pelo perfil da menina que este valor estava fora de seu poder de consumo.- Mas, podemos negociar...
Linna riu, dez mil para ela era praticamente impossível! Se tivesse toda essa grana daria entrada em um apartamento, jamais, em um tapete.
- Acho que, para mim, os incensos estão de bom tamanho... Nem mil eu poderia pagar, quanto mais dez mil...
Caled ficou orgulhoso dela, sabia pechinchar...
- Mil! É um desaforo... Nem pensar, mas,nove mil, parceladinho??
Linna agradeceu a bela tarde que passou em sua companhia e saiu feliz, com seus incensos. Caled sabia que ela voltaria. Ficou muito feliz em encontrar com ela.
Assim que Linna saiu, ele fechou o estabelecimento, com um ar de satisfação. Mustafá ajudou a guardar a tabuleta. Era o fim do dia, mas o início de uma nova história...

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