29 de jul. de 2008

O Cristal Rosa

Este post conclui a História.

boa leitura!

O Cristal Rosa

Autoria: Fernanda Blaya Figueiró

Linna vasculhou suas gavetas, em busca da peça de cristal rosa. Estava guardada, junto com sua correspondência e alguns documentos. Retirou, com cuidado, o pó, e levou, até a janela,para conferir se estava bem limpa.
Os raios do sol da manhã passaram pelo cristal, sendo refratados em vários feixes de luz. O apartamento ficou repentinamente iluminado. Linna sempre achou que a peça era uma lente, pois olhando, por ela, as coisas ficavam bem mais bonitas. Mas seu formato indicava que era parte de um outro objeto. Ela sempre imaginou um abajur, destes de cabeceira. Só que, quando viu o lustre pendurado na loja de Caled, ficou com a impressão imediata de que o cristal rosa fazia parte dele.
O lustre não era muito grande: quatro braços de prata sustentavam os bojos de cristal rosa; dentro dos bojos, havia um lugar para fixar velas, uma corrente, também, de prata, suspendia o objeto. Na parte inferior, havia uma lacuna, exatamente do tamanho da peça que Linna chamava de Lente de Cristal.
O lustre devia ser muito caro; ela precisava saber o que pretendia. Não teria condições de comprar a peça, mas, também não queria se desfazer da lente... Que estava jogada numa gaveta, isso era bem verdade...!
Parou. Devia ou não ir até a loja??
O que era mais importante? Seus desejos ou a reconstituição de um objeto que tinha, no mínimo, quinhentos anos? Que pergunta sem sentindo! Pensou. Pegou sua bicicleta, colocou a lente, na mochila, e não pensou em mais nada...
Chegando lá, a pequena tabuleta estava no mesmo lugar. Mustafá vendia livros para um casal e Caled não estava por ali. Nem o tapete, nem o lustre.
- Bom dia, Mustafá !!- disse Linna- Seu avô está aí??
- Bom dia! – respondeu o garoto – Que bom que você voltou! Quer mais incensos??
- Não! – respondeu, estranhando a pergunta - Eu trouxe o cristal rosa... Lembra, combinei com o senhor Zahir Caled...
Do fundo da loja, veio uma senhora rechonchuda, olhou meio assustada para Linna e disse:
- Zahir Caled???- Do que você está falando???
Mustafá fez um sinal para ela. Concluiu a venda de livros que estava fazendo e disse que havia contado para Linna a história do Tapete Encantador e do Lustre de Cristal Rosa. A senhora ficou satisfeita e voltou para o fundo da loja, resmungando:
... Lendas! Lendas de piratas e princesas... !!
A princípio, Linna não entendeu nada. Mustafá encostou, levemente, a porta de madeira e sussurrou para ela:
- Zahir Caled! Era o mensageiro...
- O Mensageiro...? Da princesa Haniffe?
- Sua alma anda perdida... Por que...
Linna interrompeu a fala de Mustafá
- A encomenda nunca chegou! – Linna estava arrepiada- Mas, ontem eu vi ele...
Mustafá acendeu um incenso de rosas e a atmosfera mudou, completamente. A mesma música tocava, com suavidade. Caled apareceu, com o pozinho do tapete nas mãos.
- Tudo o que eu preciso, para descansar, é unir o lustre e o tapete e entregá-lo, no seu destino. Foi assim que tudo aconteceu: Haniffe era a mais bela princesa do mundo, naquele tempo. Seu amado, o mais corajoso guerreiro. Eu, o mais confiável mensageiro. Porém, um ganancioso pirata, que nem o nome deixou na história, assaltou-me assim que parti. Eu nunca havia perdido uma encomenda, passei o resto de meus dias procurando...
- O lustre estava bem enrolado no tapete. Quando atravessou o mar, chegando a este continente, um marchand os separou. Vendeu o tapete para o norte; o lustre para o sul. Segui o tapete, pois, nele, estava a imagem da bela princesa, a quem eu servia. De que adiantaria um tapete, sem luz para admirá-lo?
O tapete e o lustre estavam sobre o balcão. Mas, só Mustafá e Linna viam. Caled parecia uma visão. Linna retirou, da mochila, a lente e aproximou-se, com cuidado, do lustre. Com a ajuda de Mustafá, encaixou, com toda a delicadeza, a lente, na base do lustre.
Neste instante, as paredes da loja tomaram o contorno da moldura do paspatu do tapete. Linna e Mustafá estavam nos jardins encantados de Paris... Haniffe entregava a encomenda para Caled...
- Tim!Tim! – A campainha tocou. Linna estava surpresa. A mãe de Mustafá olhava desconfiada para ela.
No sorriso da princesa, Mustafá e Linna encontraram a Paz. Caled havia cumprido sua missão.
A loja estava, novamente, com cheiro de bolor e alfazema. O lustre o e o tapete haviam desaparecido, junto com a lente.
- A final, o que você procura?– perguntou, irritada, a mãe de Mustafá.
- Aqui está sua encomenda. – Interrompeu Mustafá – São cinco reais.
Linna pagou o que o menino pediu, despediu-se e pegou a encomenda. Pegou sua bicicleta e sumiu...
Quando chegou em casa, abriu o pequeno envelope, dentro, havia um cartão muito amarelado, no qual estava escrito: “ O amor sempre vence! Princesa Haniffe!” A inscrição tinha o mesmo paspatu vermelho do tapete e as letras estavam escritas em tinta dourada.



Fernanda

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